quinta-feira, 7 de março de 2013

IL TROVATORE, METropolitan OPERA, Outubro / October 2012



(review in english below)

 Il Trovatore é uma ópera das mais conhecidas de G. Verdi, com libreto de Salvadore Cammarano e Leone Emanuele Bardare, que exige cantores de elevada qualidade para ser cantada convincentemente. O enredo pode ler-se aqui.


 Também já tinha visto esta produção do Met na temporada passada e, como aconteceu com a Carmen que vi na véspera, esta récita era interpretada por cantores desconhecidos para mim, com excepção da Azucena de Dolora Zaijick.


 A encenação de David McVicar não é muito do meu agrado porque é um pouco ambígua. Utiliza um palco rotatório mas o efeito fica aquém do esperado. Umas escadas estreitas, colocadas em toda a altura da parede que gira, causam dificuldades aos cantores que ficam em equilíbrio menos estável. As diferentes cenas passam-se em locais idênticos e, em fundo, aparecem um Cristo na cruz e uns enforcados, sem trazerem qualquer mais valia significativa à encenação.





 O maestro foi o italiano Daniele Callegari que teve uma direcção desastrada, com inúmeros desencontros instrumentais e entre os cantores. Orquestra e Coro do Met devem já ter interpretado esta ópera centenas de vezes mas penso que, em poucas, os desacertos foram tantos.


 Quanto aos solistas, as diferenças foram assinaláveis, e as senhoras levaram a melhor!

O jovem soprano chinês Guanqun Yu, vencedora em 2012 do concurso Operália promovido por Plácido Domingo, foi uma Leonora excelente. Tem voz potente, bonita e afinada. Talvez ainda ligeiramente dura no registo mais agudo. Mas foi muito credível na personagem. Reagiu com grande emotividade aos aplausos (que foram muitos e frequentes), o que a desconcentrou um pouco quando teve que voltar a cantar. Mas, no computo final, muito bem.


 Já o mesmo não poderei dizer do tenor galês Gwyn Hughes Jones que cantou o Manrico. Tem uma voz pequena, o timbre não é feio, mas foi monótono ao longo de toda a récita e, quando subia aos agudos, por muito que se espremesse, era notória a perda de qualidade vocal. Na famosa ária Di quella pira quase não se ouviram as notas finais (mas não deixou de ser aplaudido por isso). Para mim, não tem qualidade para cantar este papel num teatro como o Met.


 O Conde di Luna foi interpretado pelo barítono espanhol Àngel Òdena. É um cantor com uma voz muito respeitável e capaz de lhe imprimir variações interessantes consoante o que canta. Ouvia-se sempre em todos os momentos, mas a representação foi fatal numa coisa – não descolava os olhos do maestro, o que resultou numa má presença em palco porque não olhava para as personagens com quem contracenava. Parecia que não tinha ensaiado. Uma pena.



 Dolora Zajick, apesar de ter uma infecção viral (como nos foi comunicado imediatamente antes do início da récita), impôs-se como a melhor cantora da noite e uma das melhores intérpretes da Azucena. Foi arrebatadora! Voz poderosíssima, de grande beleza, com um registo grave de fazer tremer o chão, mas também óptima em todos os outros. Para além de cantar, também representou o papel o que a diferenciou positivamente dos seus colegas em palco. Espantosa!



Os papeis secundários foram cumpridos pelo baixo Morris Robinson como Ferrando (com um registo médio menos eficaz), o soprano Maria Zifchak como Inez (também nem sempre segura) e o tenor Hugo Vera como Ruiz.


 Um trovador em que só brilharam as Senhoras.






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IL TROVATORE, METropolitan OPERA, October 10/18/2012

Il Trovatore is one of the best known operas by G. Verdi, with libretto by Salvadore Cammarano and Leone Emanuele Bardare, which requires high quality singers to be sung convincingly.
The plot can be read here.

I had also seen this production at the Met last season and, as with Carmen that I saw the day before, this performance included singers unknown to me, with the exception of Dolora Zaijick.

I do not like the staging by David McVicar because it is a bit ambiguous. It uses a rotating stage but the effect is weaker than expected. Narrow stairs placed throughout the wall height that rotates, cause difficulties to the singers who are in less stable equilibrium. The different scenes occur in identical locations and, at the background, there is a Christ on the cross and some hanged men, without bringing any significant added value to the staging.

The Italian conductor Daniele Callegari was responsible for a clumsy direction, with numerous instrumental displacements, as well as with the singers. The Orchestra and  the Chorus of the Met should have already interpreted this opera hundreds of times but I think in a few, the mistakes were so many.

As for the soloists, the differences were remarkable, and the ladies took the best!

The young Chinese soprano Guanqun Yu, the winner of the Operália contest in 2012 promoted by Placido Domingo, was an excellent Leonora. She has a powerful, beautiful and refined voice. Perhaps still a little stiff on the higher range. But her character was very credible. She racted with great emotion to the applauses (which were many and came often), what mignt have distracted her a bit when she had to sing again. But overall she was very good.

The same I can not say of Welsh tenor Gwyn Hughes Jones who sang Manrico. He has a small voice, the timbre is not ugly, but he was monotonous throughout the recitation and, and in the top notes, even very “squeezed”, it was noticeable loss of voical quality. In the famous aria Di quella pira  his final words were hardly heard (but that did not prevent him of receiving a big applause) For me, he has no quality enough to sing this role in a theater like the Met.

The Count di Luna was interpreted by Spanish baritone Àngel Òdena. He is a singer with a respectable voice, able to express interesting variations according to what he sings. He could be always listened throughout the performance but his artistry was a fatal in one aspect – he did not take off his the eyes from the conductor, which resulted in a poor acting on stage, because he did not face the other singers he was playing with. It seemed that he had not rehearsed. A pity.

Dolora Zajick, despite having a viral infection (we were informed immediately before the performance), has established herself as the best singer of the night and one of the best running interpreters of Azucena. She was breathtaking! Her voice is powerful and of great beauty, with a low record capable of vibrating the floor, but she is also optimal in all other registers. Apart from singing, she also played the role which positively differentiated her from her peers on stage. Astonishing!

The secondary roles were fulfilled by bass Morris Robinson as Ferrando (with a medium register less effective), soprano Maria Zifchak as Inez (also not always secure) and tenor Hugo Vera as Ruiz.

It was an Il Trovatore in which only the ladies shone.

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1 comentário:

  1. As usual,
    a perfect "objective" recense!
    "Warm" greetings from Gent (-2°Celsius)
    Willy

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