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domingo, 8 de abril de 2012

MANON — Jules Massenet — MetLiveHD, 7 de Abril de 2012, FCG

(review in English below)


Manon é uma ópera comique em cinco actos do compositor francês Jules Massenet e foi estreada a 19 de Janeiro de 1884 na Ópera-Comique em Paris. Baseada no romance L’Histoire du chevalier des Grieux et de Manon Lescaut de Abbé Prévost escrito em 1731, teve o libretto a cargo de Henri Meilhac e de Antoine Philippe Gille e é um dos ícones da belle-époque parisiense.



(algumas fotografias/photos Met Opera)

É a segunda ópera mais representada de Massenet — só superada por Werther — e foi, entre 2005 e 2010, a 89.º ópera mais representada internacionalmente (fonte: operabase.com).

A história é um romance de amor que acaba, como habitualmente na época, na morte trágica da heroína, uma adolescente ávida de prazer, dinheiro e luxo que se tornam os catalisadores da sua morte prematura na penúria. Para uma sinopse detalhada, veja-se, por exemplo, o programa de sala disponibilizado pela Fundação (http://www.musica.gulbenkian.pt/2011_2012/files/00000000/00000120_0015.pdf)



A encenação de Laurent Pelly que o Metropolitan repôs hoje em cena, é simples, mas eficaz. Como uma boa direcção de actores, Pelly faz-nos passar pelas diversas cenas e actos sem nunca nos sujeitar a interpretações rebuscadas. 


Apesar de um ou outro pormenor menos coerente — transporta-nos para o século XIX, mas na segunda cena do 3.º acto apresenta-nos lâmpadas fluorescentes... —, os cenários foram muito bem conseguidos, com destaque para a pobreza, profundidade e penumbra do cenário do 5.º e derradeiro acto, o que é totalmente condizente com o despojamento a que Manon se vê obrigada pela sua condenação ao exílio, e à imposição de uma doença que se revelaria letal e que contrasta com a riqueza material que esta almejava e que chegou a alcançar.


Esta mesma encenação já foi presenciada ao vivo pelo nosso Fanático_Um que aqui deixou o seu testemunho e do qual, naturalmente, aconselho nova leitura (http://fanaticosdaopera.blogspot.pt/2010/07/manon-royal-opera-house-londres-julho.html). De notar que a récita a que assistiu em Julho de 2010 na Royal Opera House em Londres foi por este considerada a melhor da temporada.


A direcção da Orquestra do Metropolitan esteve a cargo de Fabio Luisi, actual director do MET. Apesar de ser a sua estreia em Manon, Luisi não teve de cerrar os dentes para nos dar uma boa interpretação, plena de brilho e de energia. Curiosamente, Luisi batia hoje um record: dirigiu 20 récitas num só mês! É obra! Questionado, sobre esse facto, por Deborah Voigt — hoje no papel de apresentadora —, o maestro mostrou-se humilde e enalteceu a qualidade dos músicos e a relação de confiança que mantém com os diversos elementos da orquestra.


O soprano russo Anna Netrebko foi, obviamente, a figura de maior destaque, não só pelo próprio papel de heroína que desempenhava, como por ser uma das mais cintilantes divas da ópera actual. Uma vez mais confirmou a sua enormíssima qualidade: é uma cantora com uma voz muito madura, de uma potência incrível, com um timbre muito bonito e só seu, capaz de uns agudos perfeitos a que sabe aliar (como poucas!) uma presença em palco assombrosa e de uma entrega ímpar. Esteve avassaladora na ária “Adieu, notre petite table”. Brilhante!


O tenor polaco Piotr Beczala foi o Chevalier des Grieux, papel que constituiu não só a estreia na ópera Manon, como a cantar Massenet. Apresentou a sua voz muito cuidada, de timbre único e muito belo, com uns agudos muito bonitos e equilibrados, e foi, cenicamente, muito seguro, entregando-se totalmente ao papel e transmitindo a emoção própria da personagem de um modo extremamente coerente. Foi excepcional em “Ah, fuyez douce image”.

Creio ser de destacar a belíssima interacção entre Netrebko e Beczala: foram um par intenso e que nos proporcionaram belíssimos duetos, com destaque para os do final do 2.º e 5.º actos. Uma maravilha!

O barítono brasileiro Paulo Szot foi Lescaut. Famoso dos espectáculos da Broadway esteve em muito bom plano quer vocal, quer cenicamente. O baixo americano David Pittsinger foi um Comte des Grieux eficaz, intervindo sempre com segurança. O tenor francês Christophe Mortagne foi um Guillot de Morfontaine cómico, sempre a perseguir todas as damas: cumpriu bem o papel e, como francês que é, teve uma óptima dicção. O baixo-barítono americano Bradley Garvin foi de Brétigny e também se apresentou sem reparos. Anne-Carolyn Byrd (Pousset), Jennifer Black (Javotte) e Ginger Costa-Jackson (Rosette) formaram o trio de cortesãs e cumpriram bem com as poucas exigências dos seus papéis.

Em suma, assistiu-se a mais um óptimo espectáculo com qualidade acima da média e das quais se destacam Netrebo e Beczala como as estrelas mais cintilantes. “Et c'est là l'histoire de Manon Lescaut”.

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(review in English)

Manon is an opera comique in five acts by the French composer Jules Massenet, premiered at January 19, 1884 at the Opera-Comique in Paris. Based on the novel L'Histoire du chevalier des Grieux et de Manon Lescaut by Abbé Prévost and written in 1731, the libretto is by Henri Meilhac and Antoine Philippe Gille, and it is one of the icons of belle-époque.

(Some photos / photos Met Opera)

It is the second most represented Massenet opera - only surpassed by Werther - and it was between 2005 and 2010, 89th more internationally represented opera (source: operabase.com).

The story is a common love story that ends up, as usual at the time, in the tragic death of the heroine, a young girl eager for pleasure, money and luxury that finally become the catalyst for his premature death in penury. For a detailed synopsis, see, for example, the program available at Gulbenkian Foundation site (http://www.musica.gulbenkian.pt/2011_2012/files/00000000/00000120_0015.pdf).

The staging by Laurent Pelly that the Metropolitan put back on the scene is simple, but effective. With a good actors direction, Pelly makes us go through the various scenes and acts without ever subject us to elaborate interpretations. Although a one or another less coherent detail — he takes us to the nineteenth century, but in the second scene of the third act he presents us with fluorescent lamps... — the sets were very good, with emphasis on the poverty, depth and gloom scenario of fifth and final act, which is fully consistent with the simplicity Manon is forced into by her conviction to exile, and by the imposition of a condition that would prove to be lethal for her, and which contrasts with the wealth that she desired and had achieved.

Fanático_Um witnessed once this same production that he left here his own testimony (http://fanaticosdaopera.blogspot.pt/2010/07/manon-royal-opera-house-londres -julho.html). That Manon he attended in July 2010 at the Royal Opera House in London was considered by him the best opera of the season.

Fabio Luisi, the current director of the MET, conducted the Metropolitan Orchestra. Although this was his debut in Manon, Luisi did not have to grit his teeth to give us a good interpretation, full of brilliance and energy. Interestingly, Luisi hit a record today: 20 recitations addressed in one month! Asked about that fact, by Deborah Voigt – today in the role of presenter - the conductor showed up humbly and praised the quality of the musicians and the trust it has with the various elements of the orchestra.

The Russian soprano Anna Netrebko was obviously the most prominent figure, not only by the heroine role she played. She is one of the most sparkling divas of opera today. Once again confirmed its outstanding quality: she is a singer with a very mature voice with an incredible power, a beautiful tone that is only hers, she allies with an amazing stage presence and unique commitment. She was overwhelming in the aria "Adieu, notre petite table". Brilliant!

The Polish tenor Piotr Beczala was the Chevalier des Grieux, a role that represented not only his debut singing Manon, but also singing a Massenet opera role. He presented his very watchful voive, unique and beautiful tone, sharp and balanced high, and was scenically very safe, surrendering completely to the role and conveying the emotion of the character in an extremely coherent manner. He was great in "Ah, fuyez douce image".

I think it is worth noting the wonderful interaction between Netrebko and Beczala: they were an intense couple who provided us with beautiful duets, especially that on the end of the second and fifth acts. A wonder!

The Brazilian baritone Paulo Szot was Lescaut. The famous Broadway singer was in very good plan either vocal or scenically. The American bass David Pittsinger was a Comte des Grieux effective, intervening with secure manner every time. The French tenor Christophe Mortagne was a humorous Guillot de Morfontaine, always chasing all the ladies, that, as a Frenchman, had a great diction. The American bass-baritone Bradley Garvin was Brétigny and he also performed well and with no repairs. Anne-Carolyn Byrd (Pousset), Jennifer Black (Javotte) and Ginger Costa-Jackson (Rosette) formed the trio of courtesans and complied well with the few demands of their roles.

In short, there was another great opera show with above average quality staring Netrebo and Beczala as the brightest stars of the evening. "Et c'est là l'histoire de Manon Lescaut".