(review in english below)
Alcina é uma
ópera de Georg Friedrich Händel com libretto de Antonio Fanzaglia segundo a ópera L’isola di Alcina de Riccardo Broschi, a partir do poema épico Orlando Furioso de Ludovico Ariosto.
A feiticeira Alcina transforma homens em animais na sua
ilha. Está apaixonada pelo mais recente prisioneiro, Ruggiero. Bradamante, a
sua noiva, chega à ilha disfarçada de homem (Ricciardo), acompanhada do seu
guardião, Melisso. O feitiço de Alcina faz com que Ruggiero esqueça Bradamante.
Morgana, serva de Alcina, apaixona-se por “Ricciardo”, para desespero de
Oronte, o seu amado, também servo de Alcina. Oronte, enciumado, convence
Ruggiero que Alcina ama “Ricciardo”. Alcina fica dilacerada quando descobre que
Ruggiero a traiu e planeia fugir da ilha e, ainda, verifica que a sua varinha
mágica perdeu os poderes. Todas as personagens principais revelam as suas
verdadeiras identidades, Morgana e Oronte, e Ruggiero e Bradamante juntam-se no
amor e destroem o poder e o palácio de Alcina que se afunda no mar. Alcina
desaparece e os animais transformados retomam a forma humana.
A encenação Christof
Loy é vistosa mas difícil de entender. Começa com a representação
(magnífica) de uma ópera barroca num teatro rococó na parte superior do palco,
enquanto na parte inferior se vêem os bastidores e os animais transformados por
Alcina. Aparece um cupido muito idoso, uma ideia muito interessante.
A acção avança mais de um século e, na ária mais introspectiva
de Alcina do 2º acto, aparece-lhe a sua imagem como idosa (a mesma personagem
que faz de cupido). Este acto passa-se numa espécie de residência para doentes
psiquiátricos, sem ter sido claro para mim o significado da encenação.
No último acto vêem-se
os escombros do teatro, muito fumo (possivelmente terá ardido) e cai um grande
lustre (uma réplica do lustre da ópera de Zurique). A maioria dos participantes
está vestida como nos tempos actuais, mas Alcina aparece novamente com um
vestido “barroco”, antes de desaparecer.
O maestro (e
flautista) Giovanni Antonioni
dirigiu superiormente a excelente Orquestra
barroca La Scintilla. A
interpretação foi fantástica, tirando o máximo partido da sonoridade própria
dos instrumentos da época.
O elenco de solistas foi de primeiríssima água:
Alcina foi interpretada pelo mezzo italiano Cecilia Bartoli. Confesso que foi ela
que me fez ir a Zurique e … não me arrependi. Bartoli é uma daquelas (poucas)
cantoras líricas que é muito melhor ao vivo do que em gravações. A
expressividade dramática que empresta às personagens é única e aqui, mais uma
vez, assim foi. Para além de ouvi-la, vê-la é um assombro. Todas as suas árias
(seis no total) foram fantásticas, a voz é única, sempre primorosamente bem
colocada e de uma beleza avassaladora. Na ária principal do 2º acto, Ah mio cor, ofereceu-nos uma
interpretação divinal, a voz chorava e a interpretação foi comovente. Um
privilégio único e raro poder apreciar ao vivo uma das melhores cantoras de
sempre.
Sensacional foi o mezzo sueco Malena Ernman como Ruggiero. Antes do início do espectáculo fomos
avisados que não estaria na sua melhor forma devido a uma infecção
respiratória. Mas nada transpareceu dessa limitação porque nos ofereceu uma
interpretação de excepção. É uma artista completa. Fisicamente parecia um
homem, a agilidade em palco foi estonteante, incorporou sem destoar o corpo de
bailarinos no 3º acto e até cantou a fazer flexões (!). Para além de todos
estes atributos físicos e cénicos, a voz tem um timbre lindíssimo, uma potência
invulgar e a coloratura foi imponente. Maravilhosa.
Bradamante foi o mezzo arménio Varduhi Abrahamyan, uma desconhecida para mim que também esteve em
grande, tanto cénica como vocalmente. O timbre é bonito, escuro, o canto cheio
e a interpretação sempre bem conseguida.
O soprano francês Julie
Fuchs fez uma Morgana muito boa, de voz agradável e bem audível e, no
palco, uma postura sempre convincente.
Oronte foi interpretado com qualidade pelo jovem Fabio Trümpy, tenor suíço de voz clara
e expressiva.
Também outro jovem, o baixo americano Erik Anstine, interpretou Melisso com qualidade e poderio vocal
interessante e muito agradável.
Uma Alcina estratosférica na Zürich Opernhaus.
*****
ALCINA , Zurich Opera House , February 2014
Alcina is an opera by Georg Friedrich Händel with libretto by
Antonio Fanzaglia according to the
opera L' isola di Alcina by Riccardo
Broschi, after the epic poem Orlando
Furioso by Ludovico Ariosto .
The witch Alcina turns men
into animals on her island. She is in love with her latest prisoner Ruggiero. Bradamante,
her bride, arrives in disguised as a man (Ricciardo), accompanied by her
guardian, Melisso. Alcina´s spell causes Ruggiero to forget Bradamante .
Morgana, Alcina’s servant, falls in love for "Ricciardo" , to the
despair of Oronte, his beloved, also servant of Alcina. Oronte, jealous,
convinces Ruggiero that Alcina loves "Ricciardo" . Alcina is torn
when she discovers that Ruggiero betrayed her and plans to flee the island, and also
discovers that her wand lost its powers. All the main characters reveal their
true identities, Morgana and Oronte, and Ruggiero and Bradamante join in love
and destroy the power and the palace
of Alcina that sinks in
the sea. Alcina disappears and the animals resume their human form.
Christof Loy 's staging is fine but
hard to understand. It begins
with the representation (magnificent) of a rococo baroque opera in a theater at
the top of the stage , while at the bottom the backstage is seen, where the
animals transformed by Alcina lay. A very old cupid appears, a very interesting
idea.
The action progresses over a century, and during the more introspective Alcina’s
aria in 2nd act, her image as an old woman appears (it is the same player that
plays the cupid). . This act takes place in a sort of residence for psychiatric
patients, without being clear to me the meaning of the act.
In the last act we see the ruins of the theater, a lot of smoke (possibly it
burned ) and a large chandelier (a replica of the chandelier of the Zurich opera) drops. Most
participants are dressed as in present times, but Alcina appears again with a
"Baroque" dress before disappearing.
Conductor
(and flautist) Giovanni Antonioni
superiorly directed the great Baroque Orchestra La Scintilla. The performance was fantastic, taking full advantage
of the sonority of baroque instruments.
The soloists were of the highest quality:
Alcina was
interpreted by Italian mezzo Cecilia
Bartoli. I confess that it was she who made me go to Zurich
... and I did not regre . Bartoli is one of those (few) opera singers who is
much better live than on recordings. The dramatic expressiveness that she plays
is unique and here, again, it was so. In addition to hearing her, seeing her on
stage is a wonder. All her arias (six in total) were fantastic, the voice is
unique, always exquisitely well pitched and of an overwhelming beauty. In the
main the 2nd act aria, Ah mio color, she
offered us a divine interpretation, her voice and interpretation were touching.
It is a unique and rare privilege to see and hear one of the best opera singers
of all times.
Sensational
was Swedish mezzo Malena Ernman as
Ruggiero. Before the start of the performance we were told that she would not
be at her best due to a respiratory infection But this limitation was not
apparent because she offered an exceptional performance. She is a complete
artist. Physically looked like a man, her agility on stage was stunning. In the
3rd act she joined the group of professional dancers and she even sang doing
pushups (!) . Apart
from all these physical and staging attributes, her voice has a beautiful tone,
an unusual power and impressive coloratura. Wonderful.
Bradamante
was Armenian mezzo Varduhi Abrahamyan,
an unknown singer to me who was also great both on stage and vocally. Her tone
is beautiful abd dark, and the performance onstage was always excellent.
French soprano Julie Fuchs was a
very good Morgana, with a nice and very audible voice and onstage always a nice
performance.
Oronte was interpreted by the young Swiss tenor Fabio Trümpy. He has a bright and expressive voice .
Also another young singer, American bass Erik
Anstine, played Melisso with an interesting and very nice vocal power.
A stratospheric Alcina in Zürich Opernhaus.
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