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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

MESSA DA REQUIEM, Verdi, Teatro Regio di Parma, Setembro / September 2022

(review in English below)

O Requiem de Verdi foi colossal!!! Isto é que é Verdi e isto é que faz qualquer um apaixonar-se por esta obra! 

O Mariotti é um dos meus maestros verdianos favoritos e hoje, mais uma vez, pude constatar que o seu conhecimento, a sua sensibilidade, a sua entrega a Verdi é ímpar e o resultado, quando se tem uma orquestra fenomenal e um coro sólido e harmonioso, só pode ser memorável. O detalhe às indicações vocais aos cantores, a dinâmica imprimida, tudo fantástico.

 

Dos solistas só não conhecia a contralto. A harmonia entre os 4 timbres individuais foi perfeita, sem sobreposições de qualidade numa homogeneidade perfeita. Riccardo Zanellato foi um autêntico sólido rochedo dramático. O Stefan Pop sublime nos seus pianos no Ingemisco e no Hostias, seguro, estabilidade vocal e emoção sincera a 100%. 


A contralto Varduhi Abrahamyan tem uma voz perfeita, timbre muito bonito e expressividade fantástica. A Marina Rebeka, já amplamente nossa conhecida, é um colosso. Voz inconfundível, daquelas que sabemos de quem é a voz só de a ouvir, com agudos seguros, transições sem falhas e suaves para os pianos e uma expressividade que o mundo da ópera lhe trouxe e que ela vai “devolvendo” sempre que canta. 



O Lacrymosa foi celestial, com uma harmonia entre todos tão… tão bonita. O Agnus Dei, uma perfeição das vozes femininas e as entradas do coro sem falhas, em uníssono, numa intensidade sonora tão equilibrada, tão celestial.

Que grande noite! 



(Texto de Wagner_fanatic)


REQUIEM, Verdi, Teatro Regio di Parma, September 2022

Verdi's Requiem was colossal!!! This is what Verdi is and this is what makes anyone fall in love with this work!

Mariotti is one of my favorite Verdian conductors and today, once again, I could see that his knowledge, his sensitivity, his dedication to Verdi is unique and the result, when you have a phenomenal orchestra and a solid and harmonious choir can only be memorable. The detail to the vocal prompts to the singers, the imprinted dynamics, all fantastic.

Of the soloists, I just didn't know the alto. The harmony between the 4 individual timbres was perfect, without quality overlaps in perfect homogeneity. Riccardo Zanellato was a solid dramatic rock. Stefan Pop sublime in his pianos at Ingemisco and Hostias, confidence, vocal stability and 100% sincere emotion.

Contralto Varduhi Abrahamyan has a perfect voice, very beautiful timbre and fantastic expressiveness. Marina Rebeka, already widely known to us, is a colossus. Unmistakable voice, of those we know whose voice it is just by listening to it, with safe highs, flawless and smooth transitions for pianos and an expressiveness that the world of opera brought her and that she “gives back” whenever she sings.

Lacrymosa was heavenly, with a harmony between everyone so… so beautiful. The Agnus Dei, a perfection of the female voices and the flawless choir entries, in unison, in a sound intensity so balanced, so heavenly.

What a great night!

(Text by Wagner_fanatic)

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

LA FORZA DEL DESTINO, Ópera de Paris / Paris Opera, Junho / June 2019


(text in English below)

Texto de camo_opera

Uma La Forza del Destino excelente em Paris. Um espectáculo fantástico. Orquestra sublime na batuta de Nicola Luisotti: sons cheios, vivos e dramáticos. Coro de muita qualidade. Cantores secundários todos bons e equilibrados. E cantores principais muito bons.

(fotografia / Photo: Julien Benhamou) 

A pior foi, sem dúvida, a Preziosila de Varduhi Abrahamyan: voz pouco potente e com agudos difíceis, teve um desempenho aceitável, mas destoava da qualidade superlativa dos demais. Foi pena.

(fotografia / Photo: Julien Benhamou) 

Depois tivemos só cantores bons, mas com o Zeljko Lucic. Foi um Don Carlo di Vargas com uma qualidade vocal assinalável, mas é embotado a cantar. Canta a vida ou a morte da mesma maneira e, uma vez mais, deixou-me decepcionado porque a voz exigia um cérebro melhor. Uma pena e uma frustração gigante! Tem tudo para ser o melhor barítono da atualidade, mas não pode porque não sabe interpretar. Além disso, canta todos os papéis de igual forma.

 (fotografia / Photo: Julien Benhamou) 

O Padre Guardiano de Rafal Siwek foi bom, mas também não deslumbrou. Mas não destoou. Já o Melitone de Gabriele Viviani foi excelente: voz muito bonita e potente, interpretação excepcional e grande sentido cénico. Este devia ter sido o Carlos di Vargas!

(fotografia / Photo: Julien Benhamou) 

O Don Álvaro foi Brian Jagde: grande interpretação. Agudos sublimes, timbre belíssimo, técnica apurada e bom sentido cénico fizeram dele um Álvaro de excelente qualidade, confirmando Jagde como um valor seguríssimo entre os tenores jovens da sua geração.

(fotografia / Photo: Julien Benhamou) 

As últimas palavras acerca dos cantores vão para a Leonora de Anja Harteros. Não me canso de dizer que é das melhores sopranos da atualidade. Voz belíssima, segura e de técnica perfeita a que alia um bom sentido dramático (talvez seja um pouco fria às vezes). Nunca falha em nenhum papel. Foi uma grande Leonora.

A encenação de Auvray foi outros dos pontos fortes: muito simples, muito dinâmica, muito fluída, com pormenores inteligentes, muito cumpridora do guião e do texto. Clássica e simples: tudo aquilo que se quer e pode pedir. Muda de ambientes quase só com a luz no fundo do palco ou com recursos a pequenos panos que criam espaços. Uma forma inteligente de tornar dinâmico um enredo pesado que se estende por um período temporal de 5 anos. Excelente récita.



LA FORZA DEL DESTINO, Paris Opera,  June 2019

Text by camo_opera

An excellent La Forza del Destino in Paris. A fantastic performance. Sublime orchestra under the direction of Nicola Luisotti: full, lively and dramatic sounds. Very good Choir. Secondary singers all good and balanced. And very good soloist singers.

The worst was undoubtedly the Preziosila of Varduhi Abrahamyan: a little powerful voice and with difficult top notes, she had an acceptable performance, but was not the superlative quality of the others. It was regrettable.

The other soloists were all good singers, despite Zeljko Lucic. He was a Don Carlo di Vargas with a remarkable vocal quality, but he is dull to sing. He sings life or death in the same way and once again disappointed me because the voice demanded a better brain. A pity and a giant frustration! He has everything to be the best baritone of our days, but can not because he does not know to interpret. In addition, he sings all the roles in the same way.

Rafal Siwek's Father Guardian was good, but he was not dazzled either. Gabriele Viviani's Melitone was excellent: very beautiful and powerful voice, exceptional interpretation and great scenic sense. He must have been Carlos di Vargas!

Don Álvaro was Brian Jagde: great interpretation. Sublime top notes, beautiful timbre, exquisite technique and good scenic sense made him an excellent Alvaro, confirming Jade as a very good value among the young tenors of his generation.

The last words about the singers go to Anja Harteros’ Leonora. I never tire of saying that she is one of the best sopranos of our time. Beautiful voice and perfect technique that combines a good dramatic performance (maybe she's a bit cold at times). Never fails in any role. She was a great Leonora.

The staging of Auvray was another strong issue: very simple, very dynamic, very fluid, with clever details, very fulfilling of the script and the text. Classic and simple: everything you want and can ask for. The settings change almost only with the light at the bottom of the stage or with resources to small cloths that create spaces. A clever way to make a heavy storyline dynamic that stretches over a 5-year time frame. Excellent performance.


terça-feira, 29 de abril de 2014

ALCINA, Ópera de Zurique, Fevereiro de 2014 / Zürich Opernhaus, February 2014

(review in english below)

Alcina é uma ópera de Georg Friedrich Händel com libretto de Antonio Fanzaglia segundo a ópera L’isola di Alcina de Riccardo Broschi, a partir do poema épico Orlando Furioso de Ludovico Ariosto.


 A feiticeira Alcina transforma homens em animais na sua ilha. Está apaixonada pelo mais recente prisioneiro, Ruggiero. Bradamante, a sua noiva, chega à ilha disfarçada de homem (Ricciardo), acompanhada do seu guardião, Melisso. O feitiço de Alcina faz com que Ruggiero esqueça Bradamante. Morgana, serva de Alcina, apaixona-se por “Ricciardo”, para desespero de Oronte, o seu amado, também servo de Alcina. Oronte, enciumado, convence Ruggiero que Alcina ama “Ricciardo”. Alcina fica dilacerada quando descobre que Ruggiero a traiu e planeia fugir da ilha e, ainda, verifica que a sua varinha mágica perdeu os poderes. Todas as personagens principais revelam as suas verdadeiras identidades, Morgana e Oronte, e Ruggiero e Bradamante juntam-se no amor e destroem o poder e o palácio de Alcina que se afunda no mar. Alcina desaparece e os animais transformados retomam a forma humana.


 A encenação Christof Loy é vistosa mas difícil de entender. Começa com a representação (magnífica) de uma ópera barroca num teatro rococó na parte superior do palco, enquanto na parte inferior se vêem os bastidores e os animais transformados por Alcina. Aparece um cupido muito idoso, uma ideia muito interessante.
A acção avança mais de um século e, na ária mais introspectiva de Alcina do 2º acto, aparece-lhe a sua imagem como idosa (a mesma personagem que faz de cupido). Este acto passa-se numa espécie de residência para doentes psiquiátricos, sem ter sido claro para mim o significado da encenação.
 No último acto vêem-se os escombros do teatro, muito fumo (possivelmente terá ardido) e cai um grande lustre (uma réplica do lustre da ópera de Zurique). A maioria dos participantes está vestida como nos tempos actuais, mas Alcina aparece novamente com um vestido “barroco”, antes de desaparecer.


 O maestro (e flautista) Giovanni Antonioni dirigiu superiormente a excelente Orquestra barroca La Scintilla. A interpretação foi fantástica, tirando o máximo partido da sonoridade própria dos instrumentos da época.




O elenco de solistas foi de primeiríssima água:
 Alcina foi interpretada pelo mezzo italiano Cecilia Bartoli. Confesso que foi ela que me fez ir a Zurique e … não me arrependi. Bartoli é uma daquelas (poucas) cantoras líricas que é muito melhor ao vivo do que em gravações. A expressividade dramática que empresta às personagens é única e aqui, mais uma vez, assim foi. Para além de ouvi-la, vê-la é um assombro. Todas as suas árias (seis no total) foram fantásticas, a voz é única, sempre primorosamente bem colocada e de uma beleza avassaladora. Na ária principal do 2º acto, Ah mio cor, ofereceu-nos uma interpretação divinal, a voz chorava e a interpretação foi comovente. Um privilégio único e raro poder apreciar ao vivo uma das melhores cantoras de sempre.



 Sensacional foi o mezzo sueco Malena Ernman como Ruggiero. Antes do início do espectáculo fomos avisados que não estaria na sua melhor forma devido a uma infecção respiratória. Mas nada transpareceu dessa limitação porque nos ofereceu uma interpretação de excepção. É uma artista completa. Fisicamente parecia um homem, a agilidade em palco foi estonteante, incorporou sem destoar o corpo de bailarinos no 3º acto e até cantou a fazer flexões (!). Para além de todos estes atributos físicos e cénicos, a voz tem um timbre lindíssimo, uma potência invulgar e a coloratura foi imponente. Maravilhosa.



 Bradamante foi o mezzo arménio Varduhi Abrahamyan, uma desconhecida para mim que também esteve em grande, tanto cénica como vocalmente. O timbre é bonito, escuro, o canto cheio e a interpretação sempre bem conseguida.


 O soprano francês Julie Fuchs fez uma Morgana muito boa, de voz agradável e bem audível e, no palco, uma postura sempre convincente. 


 Oronte foi interpretado com qualidade pelo jovem Fabio Trümpy, tenor suíço de voz clara e expressiva.


 Também outro jovem, o baixo americano Erik Anstine, interpretou Melisso com qualidade e poderio vocal interessante e muito agradável.








 Uma Alcina estratosférica na Zürich Opernhaus.

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ALCINA , Zurich Opera House , February 2014

Alcina is an opera by Georg Friedrich Händel with libretto by Antonio Fanzaglia according to the opera L' isola di Alcina by Riccardo Broschi, after the epic poem Orlando Furioso by Ludovico Ariosto .

The witch Alcina turns men into animals on her island. She is in love with her latest prisoner Ruggiero. Bradamante, her bride, arrives in disguised as a man (Ricciardo), accompanied by her guardian, Melisso. Alcina´s spell causes Ruggiero to forget Bradamante . Morgana, Alcina’s servant, falls in love for "Ricciardo" , to the despair of Oronte, his beloved, also servant of Alcina. Oronte, jealous, convinces Ruggiero that Alcina loves "Ricciardo" . Alcina is torn when she discovers that Ruggiero betrayed  her and plans to flee the island, and also discovers that her wand lost its powers. All the main characters reveal their true identities, Morgana and Oronte, and Ruggiero and Bradamante join in love and destroy the power and the palace of Alcina that sinks in the sea. Alcina disappears and the animals resume their human form.

Christof Loy 's staging is fine but hard to understand. It begins with the representation (magnificent) of a rococo baroque opera in a theater at the top of the stage , while at the bottom the backstage is seen, where the animals transformed by Alcina lay. A very old cupid appears, a very interesting idea.
The action progresses over a century, and during the more introspective Alcina’s aria in 2nd act, her image as an old woman appears (it is the same player that plays the cupid). . This act takes place in a sort of residence for psychiatric patients, without being clear to me the meaning of the act.
In the last act we see the ruins of the theater, a lot of smoke (possibly it burned ) and a large chandelier (a replica of the chandelier of the Zurich opera) drops. Most participants are dressed as in present times, but Alcina appears again with a "Baroque" dress before disappearing.

Conductor (and flautist) Giovanni Antonioni superiorly directed the great Baroque Orchestra La Scintilla. The performance was fantastic, taking full advantage of the sonority of baroque instruments.

The soloists were of the highest quality:
Alcina was interpreted by Italian mezzo Cecilia Bartoli. I confess that it was she who made ​​me go to Zurich ... and I did not regre . Bartoli is one of those (few) opera singers who is much better live than on recordings. The dramatic expressiveness that she plays is unique and here, again, it was so. In addition to hearing her, seeing her on stage is a wonder. All her arias (six in total) were fantastic, the voice is unique, always exquisitely well pitched and of an overwhelming beauty. In the main the 2nd act aria, Ah mio color, she offered us a divine interpretation, her voice and interpretation were touching. It is a unique and rare privilege to see and hear one of the best opera singers of all times.

Sensational was Swedish mezzo Malena Ernman as Ruggiero. Before the start of the performance we were told that she would not be at her best due to a respiratory infection But this limitation was not apparent because she offered an exceptional performance. She is a complete artist. Physically looked like a man, her agility on stage was stunning. In the 3rd act she joined the group of professional dancers and she even sang doing pushups (!) . Apart from all these physical and staging attributes, her voice has a beautiful tone, an unusual power and impressive coloratura. Wonderful.


Bradamante was Armenian mezzo Varduhi Abrahamyan, an unknown singer to me who was also great both on stage and vocally. Her tone is beautiful abd dark, and the performance onstage was always excellent.

French soprano Julie Fuchs was a very good Morgana, with a nice and very audible voice and onstage always a nice performance.

Oronte was interpreted by the young Swiss tenor Fabio Trümpy. He has a bright and expressive voice .

Also another young singer, American bass Erik Anstine, played Melisso with an interesting and very nice vocal power.

A stratospheric Alcina in Zürich Opernhaus.

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