(Review in English below)
Riccardo
Zandonai escreveu a ópera em quatro actos Francesca da Rimini em 1914 e
apresentou-a, pela primeira vez, no Teatro Régio de Turim. O libreto de Tito Ricordi baseou-se na peça de Gabriele D’Annunzio que, por sua vez,
se inspirou e adaptou livremente o episódio de Francesca da Rimini do Inferno
de Dante.
A história básica não vai além de um banal e
desinteressante quarteto amoroso — três irmãos apaixonados pela mesma mulher.
Gianciotto, homem rude e deformado, casa-se com a bela Francesca que lhe fora
prometida. Todavia, Francesca apaixona-se por Paolo (irmão de Gianciotto), um
homem galante; Malatestino, o zarolho irmão mais novo de Paolo e Gianciotto,
invejoso por não receber o amor da cunhada, lança-se em acusações contra o
irmão Paolo. Nisto, Paolo e Francesca são apanhados em delito adúltero por
Gianciotto que, cego de ciúme e afogado em desonra, comete um há muito esperado
duplo homicídio passional... e Francesca morre nos braços de um igualmente
defunto Paolo. Poderão ler uma sinopse aqui.
Poderei afirmar, com segurança, que o libreto
é o elemento mais fraco da ópera. Não só não tem muito interesse poético, como
é pouco verosímil e as suas cenas têm uma cadência pouco sequencial ou ligada.
Em suma, de uma pobreza inesperada.
A encenação de Piero Faggioni foi a que o MET apresentou em 1986. Elegante, de
excelente efeito visual e acompanhada de um guarda-roupa de nível, põe em
evidência as diversas cenas da ópera de modo muito adequado e clássico.
A música de Zandonai é de qualidade, mas não é
sumptuosa ou de um lirismo brilhante. Parece que fica aquém da grandeza
melódica que, no imediato, sugere. A direcção de Marco Armiliato foi de muito bom nível, conduzindo a habitualmente
excelente Orquestra do MET.
O soprano Eva
Maria Westbroek foi a jovem Francesca. Tem uma voz com um timbre não
especialmente belo, mas deu-nos uma boa interpretação. Apesar disso, lamenta-se
uma dicção fraca do italiano, bem como um ou outro agudo mais rude.
O tenor Marcello
Giordani foi Paolo. No papel de homem galante, apresentou-se com uma voz um
pouco enfraquecida e num estilo demasiado piegas. Ainda assim, esteve bem num
papel que, nas suas palavras, cantou “por ser fácil”. Assim se compreende a
vasta lista que detém no MET… Adaptando a frase de Leporello em Don Giovanni: Madamina, il catalogo è questo delle
opera qui cantò la voce mia...
O barítono Mark Delevan foi Gianciotto. O papel não é muito exigente
vocalmente e esteve bem. Cenicamente foi-lhe pedido que fosse rude com toda a
gente e amável com Francesca, o que não parece combinar bem com a deformidade
física e carácter de homem guerreiro que ostenta.
O tenor Robert
Brubaker foi Malatestino. Apresentou-se em bom nível, transmitindo, vocal e
cenicamente, a ideia de um homem desagradavelmente mesquinho.
O quarteto de companheiras de Francesca (os
sopranos Dísella Làrusdóttir e Caitlin Lynch; os mezzo-sopranos Patricia Risley e Renée Tatum) apresentaram-se em bom nível com destaque para os
sopranos. Também o mezzo-soprano Ginger
Costa-Jackson (Smaragdi, criada de Francesca) de muito agradável figura
esteve em bom plano no seu modesto papel. Os restantes elementos têm
participações residuais e estiveram bem.
Assim, podemos dizer que se assistiu a uma
ópera com interpretações vocais de nível homogéneo e sem grandes destaques. A
ópera de Zandonai (que é para muitos desconhecida) não é particularmente
interessante em nenhum aspecto, pelo que não me posso dizer encantado.
.......
(Review in
English)
Riccardo Zandonai wrote the opera in four acts Francesca da Rimini in 1914 and
presented it for the first time at the Teatro Regio in Turin. The libretto by
Tito Ricordi was based on the play by Gabriele D'Annunzio who, in turn, was
inspired and adapted freely Francesca da Rimini episode of Dante's Inferno.
Basically,
the plot is not going beyond a banal and uninteresting loving quartet - three
brothers in love with the same woman. Gianciotto, rude and deformed man,
marries the beautiful Francesca promised to him. However, Francesca falls in
love for Paolo (brother of Gianciotto), a gallant man; Malatestino, the
one-eyed younger brother of Paolo and Gianciotto, envious for not receive the
love of his sister-in-law, launches him into charges against his brother Paolo.
Herein, Gianciotto catches Paolo and Francesca in adulterous crime, and
jealousy blind and drowned in disgrace, makes a long-awaited passionate double
homicide... Francesca dies in the arms of an equally deceased Paolo... You can
read a synopsis here.
I can say
with certainty that the libretto is the weakest element of the opera. Not only
has not much poetic interest, as their scenes have a little cadence or are sequential
or linked. In short, it was of an unexpected poverty.
The staging
of Piero Faggioni was presented to
the MET in 1986. Elegant, with excellent visual effect and accompanied by a high
level wardrobe, it highlights the various scenes of the opera in a very
appropriate and classic way.
Zandonai’s
music has indeed quality, but is not sumptuous or of a brilliant lyricism. It
seems that falls short, despite the greatness of some melodic themes
immediately suggests. The direction of Marco
Armiliato was of very good level, leading the usually excellent MET
Orchestra.
The soprano
Eva Maria Westbroek was the young
Francesca. She has a voice with a timbre not particularly beautiful, but gave
us a good interpretation. Nevertheless, I lament a weak Italian diction, as
well as some ruder acute.
The tenor Marcello Giordani was Paolo. In the
role of a gallant man, presented with a weakened voice and in a style too
slobbery. Still, he was good in a role that, in his words, sang "because
it is easy." Once you understand the vast list that he holds at MET… Adapting
a phrase from Leporello in Don Giovanni: Madamina, il
catalogo è questo delle opera qui cantò la voce mia...
The
baritone Mark Delevan was
Gianciotto. The role is not very demanding vocally and he did well. Scenically
was asked to be rude to everyone and kind with Francesca, which does not seem
to match well with his physical deformity and character of a warrior man.
The tenor Robert Brubaker was Malatestino. He
performed at a good level, transmitting, vocal and scenically, the idea of an
unpleasant stingy man.
The quartet
mates Francesca (the sopranos Dísella
Larusdottir and Caitlin Lynch,
the mezzo-sopranos Renée Tatum and Patricia Risley) were at a good level
with emphasis on the sopranos. Also the beautiful mezzo-soprano Ginger Costa-Jackson (Smaragdi, created
by Francesca) was in good plan in her modest role. The remaining elements have
been well on their residual roles.
So I can
say that there has been an opera with homogeneous vocal interpretations with no
major highlights. Zandonai's opera (which is unknown to much) is not particularly
interesting in any aspect, so I cannot say I was enchanted.
Caríssimo camo-opera,
ResponderEliminarpermita-me, somente, uma ligeira discordância relativamente às exigências afectas ao papel de Gianciotto. A tessitura revela-se assaz aguda, factor ao qual acresce um espectro dinâmico com particular incidência em Fortes e Fortíssimos.
Caro Hugo Santos,
EliminarNão me apercebi que fosse um papel tão difícil, provavelmente pela facilidade aparente com que Mark Delevan ultrapassou as dificuldades da partitura de Zandonai, além, obviamente, da minha modesta capacidade de avaliação técnica. Assim sendo, a minha impressão de que a sua participação vocal foi boa fica mais sublinhada. Obrigado.
Sunny sunday, to my opera fanatic friends!
ResponderEliminarThanks for the nice comment,
Greetings,Willy