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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

DON CARLO, Teatro de São Carlos, Lisboa, Outubro de 2011


Don Carlo é uma ópera de Giuseppe Verdi com libretto de Joseph Méry e Camille Du Locle, segundo o poema dramático Don Carlos, Infant von Spanien de Friedrish von Schiller. O enredo pode ler-se aqui.

Confesso que foi com expectativas elevadas que fui ver esta primeira ópera da temporada do São Carlos. É a ópera de Verdi que mais gosto, vi já produções excepcionais que me marcaram muito positivamente, cantava Elsabete Matos e tinha já lido críticas favoráveis.


Apesar de três apontamentos negativos, não saí defraudado. No cômputo final achei que foi um bom espectáculo.

Esta nova produção do Teatro de São Carlos teve encenação de Stephen Langridge. Aqui vai a primeira nota negativa. Achei-a muito má e não por ser austera. É má porque é de mau gosto, não tem nada de interessante ou inovador e inclui partes detestáveis. Está em palco, desde o início, uma urna de Carlos V que, no final da ópera, Carlos (Don Carlo) quebra e atira ao ar parte das cinzas que se inflamam! O Auto da Fé do 2º acto é de um mau gosto indescritível. O povo aparece vestido com umas batas brancas que mais lembram batas antigas de doentes tuberculosos, os (três) condenados parece que saíram da sarjeta e são colocados numa jaula de ferro (inspirada nas que albergam os símios no jardim zoológico?) e são amarrados a um tronco dentro da jaula, na qual são despejados sacos com pequenos pedaços de carvão e finalmente regados com gasolina! A mesma jaula voltará no 3º acto, como prisão de Carlos. E haveria muitos outros pontos negativos a referir, mas fico por aqui.
Contudo, verdadeiramente espectaculares são os fatos dos dois reis (Filipe II e Elisabete), sobretudo no 2º acto. Aqui impôs-se o bom gosto, mas ficou limitado a estas duas personagens.


A direcção musical foi de Martin André, director artístico do Teatro e, para ele, vai a segunda nota negativa. Foi atabalhoado, houve desencontros frequentes entre os instrumentistas e entre a orquestra e os cantores, incluindo os do coro, tudo da responsabilidade do maestro. Mas ainda pior foi o intenso ruído que foi fazendo ao longo da récita, pois é daqueles que não consegue dirigir a orquestra calado, dá muitas indicações verbais, que muito perturbam os espectadores que estão próximos, como foi o meu caso. Mas o pior foi durante o 3º acto, na passagem da primeira para a segunda parte. Houve uma interrupção de minutos para mudança de cenário, em que até as luzes do teatro se acenderam e, quando quis retomar, teve a enorme indelicadeza de se virar para o público (que até estava relativamente silencioso) e fazer um longo Schhhiiii!! Ele é que deveria ser alvo dessa expressão, dado o ruído que fez ao longo de toda a récita!


A Orquestra Sinfónica Portuguesa esteve muito bem e as falhas que se fizeram ouvir foram maioritariamente da responsabilidade do maestro. Bem, mas não perfeito, esteve também o Coro do Teatro Nacional de São Carlos.

Em relação aos cantores, juntou-se um conjunto de intérpretes de muita qualidade que, no primeiro acto, cantaram muito mais em força do que em harmonia. Ao longo da récita esta situação foi atenuada.

 Carlos foi interpretado pelo tenor coreano Alfred Kim (uma substituição de Giancarlo Monsalve). Desfrutamos de uma bela voz, sobretudo no registo agudo que foi afinado, bem audível e de timbre agradável. Já achei o registo médio menos interessante. Cenicamente não foi brilhante, mas o canto é mais importante e, isso, tivemos.


Elisabete Matos foi uma Elisabete de Valois extraordinária. É uma cantora de quem sempre gostei muito, acho que a voz tem um timbre muito bonito, uma potência enorme e uma afinação perfeita. Par além das qualidades vocais, consegue transmitir com grande credibilidade e intensidade as diversas emoções da personagem que interpreta. Foi fantástica e já era tempo de a voltarmos a ver e ouvir no nosso Teatro Nacional de Ópera.




Filipe II foi interpretado pelo baixo italiano Enrico Iori. Detentor de uma voz poderosa e bem colocada, foi muito credível no papel que desempenhou e foi outro dos grandes cantores da noite.



Enkelejda Shkosa, mezzo albanês, foi uma Princesa Eboli digna. Cenicamente cumpriu, a voz é de qualidade, sempre bem audível, mesmo quando a orquestra toca forte. Por vezes é levemente estridente, quando em esforço. O timbre é interessante, apesar de não mostrar versatilidade vocal ao longo da récita.



O Grande Inquisidor foi interpretado pelo baixo arménio Ayk Martirossian. Cumpriu com dignidade a personagem que interpretou, a voz era muito decente, apesar de já ter ouvido muito melhor.


O barítono grego Dimitri Platanias foi Rodrigo, Marquês de Posa. Foi a melhor voz masculina da récita e o cantor utiliza-a com grande eficácia. Impressionante na potência tem também uma beleza tímbrica assinalável. Nunca perdeu qualidade e, para mim, as suas intervenções no 3º acto foram notáveis.



Os portugueses Mário Redondo (Frade), Joana Seara (Tebaldo), Bruno Almeida (Conde de Lerma) e Marco Alves dos Santos (Arauto real) tiveram bons desempenhos, merecendo relevo Mário Redondo, que foi excelente.

A última nota negativa vai para o calor insuportável da sala. Num país como o nosso, em que há ocasiões, como a actual, em que as temperaturas estão elevadas, deveria já ter sido instalado um sistema de ar condicionado no teatro, pois não é admissível que se esteja penosamente a assistir a um espectáculo e, simultaneamente, a “escorrer” suor. Já na Carmen da temporada passada foi assim.


Para mim, começou bem a temporada de ópera do São Carlos.

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DON CARLO, Teatro de São Carlos, Lisbon, October 2011

Don Carlo is an opera by Giuseppe Verdi with libretto by Joseph Méry and Camille Du Locle, after the dramatic poem Don Carlos, Infant von Spanien of de Friedrish von Schiller The plot can be read here.

I confess it was with high expectations that I went to see this first opera of the season in Teatro São Carlos. It is my favourite Verdi's opera, I have seen exceptional performances before that marked me very positively,  Elsabete Matos was singing the leading female role and I had already read favourable reviews.

Despite three negative points, I was not disappointed.
It was a good performance.


This new production was staged by Stephen Langridge. Here is my first negative point. I thought it was very bad. Not because it is austere. It is bad because it does not have anything interesting or innovative and includes very bad parts. On stage from the beginning is a coffin of Charles V and, at the end of the opera, Carlos (Don Carlo) breaks the coffin and throws to the air parts of the King´s ashes that are inflamed! The Auto-da-Fe of the 2nd act is disgusting. The people appear dressed in white gowns that seem the way some tuberculosis patients were dressed in sanatoriums. The (three) condemned seem that they have just came out of the gutter and are placed in an iron cage (inspired by the housing of apes at the zoo?) and are tied to a trunk inside the cage, into which bags are dumped with small pieces of charcoal and finally sprayed with gasoline! The same cage is back on stage in the 3rd act, as the prison of Carlos. And there would be many other negative points to mention..
Truly spectacular are the attire of the King and Queen (Philip II and Elizabeth), especially in the 2nd act. But the nice colthes were limited to these two characters.

The musical director was Martin André, the artistic director of the Theatre. For him goes the second negative note. He was reckless, there were frequent disagreements between musical players and between the orchestra and the singers, including the choir, all was the responsibility of the conductor. But even worse was the intense noise that he was doing throughout the performance. He is one of those who can not conduct the orchestra in silence, gives many verbal instructions, which greatly disturb the public who is nearby, as was my case. But the worst was during the 3rd act, from first to second part. There was an interruption of minutes for change of scene, where even theater lights were turned on and when he wanted to restart, he was very unpolite because he faced the public (which was relatively quiet) with a long Schhhiiii! He was the one who should be the target of this expression, as he was the more noisy one throughout the performance!

The Orquestra Sinfónica Portuguesa was very good and the failures that have been heard were largely the responsibility of the conductor. Also well, but not perfect, was also the Coro do Teatro Nacional de São Carlos.

Regarding the singers, they were a group of great quality. In the first act they sang more in “force” than in “harmony”. Throughout the performance this was attenuated.

Carlos was played by Korean tenor Alfred Kim (replacing Giancarlo Monsalve). He has a nice voice, especially in the high register that has been tuned, strong and with a pleasant timbre. I have found his medium register less impressive. Artistically he was not brilliant, but the singing is more important and that was what we had.

Elisabete Matos was an extraordinary Elizabeth of Valois. She is a singer who I always have admired. I think her voice has a beautiful tone, an enormous power and perfect pitch. Beyond her vocal qualities, she manages to convey with great credibility and intensity the various emotions of the character she plays. She was fantastic and it was time to see and hear her again in our National Opera.

Philip II was played by Italian bass Enrico Iori. He has a powerful and well tuned voice, and he was very credible in the role he played. He was another of the great singers of the night.

Enkelejda Shkosa, Albanian mezzo, was a remarkable Princess Eboli. Artistically she was OK, the voice has quality and we could always hear her well, even when the orchestra sounded forte. Sometimes she was slightly strident when under stress. The timbre is interesting, although she did not show vocal versatility throughout the performance.

The Grand Inquisitor was played by Armenian bass Ayk Martirossian. He sang with dignity the character he played, his voice was decent, even though I have heard much better.

The Greek baritone Dimitris Platanias was Rodrigo, Marquis of Posa. He was the best male voice of the night and the singer used it to great effect. The voice was impressive in power also had a remarkable beauty timbre. He never lost quality and, for me, his arias in the 3rd act were remarkable.

The Portuguese singers Mário Redondo (Prist), Joana Seara (Tebaldo), Bruno Almeida (Count of Lerma) and Marco Alves dos Santos (royal servant) had good performances, in particular Mario Redondo, which was excellent.

The last negative note goes to the unbearable heat of the room. In a country like ours, where there are occasions, such as the present one, where temperatures are high, should already have installed an air conditioning system in the theater because it is not acceptable to be painfully watching a performance and, simultaneously, sweating profusely. In the Carmen of last season the same happened.

For me, it was a good start of the season in São Carlos Opera House.

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