terça-feira, 12 de março de 2013

CARMEN, METropolitan OPERA, Outubro / October 2012



(review in english below)

Foi com satisfação que revi esta produção da Carmen de Bizet, no Met. Tinha como atractivo ser interpretada por diversos cantores que ou não conhecia, ou nunca tinha ouvido nos papéis solistas.


A produção de Richard Eyre é feita num palco duplamente rotativo bem imaginado que, ao rodar sobre si próprio, nos mostra Sevilha, os seus arredores, a taberna de Lillas Pastia e a praça de touros. O final é interessante – logo após Don José matar a Carmen vê-se, pela primeira vez, o interior da praça, onde um touro acabou também de ser morto.


A direcção musical do italiano Michele Marotti foi um pouco acelerada de início, mas correcta e agradável até final e os Coros (de adultos e infantil) estiveram muito bem.



Em relação aos solistas é que a coisa foi mais estranha. Resumindo, foi uma Carmen para se “ver” de ouvidos abertos e olhos fechados.
Como já aqui referi, valorizo muito a componente cénica das óperas mas, nesta récita, ela foi desconcertante. Passo a explicar:

Carmen foi interpretada pelo jovem mezzo georgiano Anita Rachvelishvili. É uma cantora que nunca tinha visto. Tem uma voz muito potente, afinada e com um registo grave fantástico. Encheu completamente o teatro quando cantou e estou certo que, mesmo quem estava nos locais mais distantes, ouviu-a sempre na perfeição. Mas como Carmen não teve mais nada. A figura não ajudou e não transmitiu qualquer sensualidade, ousadia ou rebeldia. Um comportamento oposto ao exigido pela personagem.


O tenor coreano Yonghoon Lee que também nunca tinha ouvido, foi Don José. Mais uma vez, um cantor de grande qualidade vocal, com voz poderosa, agudos fáceis e mantendo a qualidade em todos os registos. O cantor, de figura magra e agradável, também não foi capaz de transmitir emoção à personagem que interpretou. Os duetos com a Carmen foram desprovidos de qualquer sentimento ou paixão. Tudo foi forçado e sem chama. O mesmo se pode dizer quando contracenou com Michaela.


Kate Royal, soprano britânico, fez uma Micaela também pouco emotiva, monótona na interpretação. Não falhou vocalmente e ouviu-se bem, mas espera-se muito mais que isso.


O Escamillo do baixo barítono norte americano Kyle Ketelsen cumpriu o papel sem empolgar. Tem uma voz de timbre agradável e foi, ainda assim, o mais homogéneo no binómio canto-representação. (Bem diferente da sua interpretação como Leoporello na temporada passada).


Os cantores dos papeis secundários estiveram melhor cenicamente, nomeadamente Trevor Scheunemann como Morales, Keith Miller como Zuniga, Danielle Pastin como Frasquita, Ginger Costa-Jackson como Mercédès e Keith Jameson como Remendado, o melhor de todos eles.



O público, como também é habitual por aqui, aplaude tudo intensamente, o bom e o menos bom, e começa a aplaudir muito antes de a música terminar. Desta vez, perto do final da ária “La fleur que tu m’avais jetée”, os aplausos foram tão precoces que, quando terminaram, o maestro repetiu os compassos orquestrais finais (seguidos de novo surto de aplausos)!



Foi uma Carmen com encenação vistosa mas sem qualquer pingo de sangue latino.

***


CARMEN, METropolitan OPERA, October 2012

I was pleased to have the chance to see again this production of Bizet's Carmen at the Met. It was attractive to me because it would be interpreted by singers who either I did not know or I never heard in these solo roles.

Richard Eyre production is done on a stage rotating doubly that shows Seville, its surroundings, Lillas Pastia tavern and the bullfight plaza. The ending is interesting - after Don José kills Carmen we see for the first time, the interior of the bullfight plaza, where a bull ended up also being killed.

The musical direction of Italian conductor Michele Marotti was a little fast at first, but end up nicely and the Choirs (adults and children) were very good.

The weirdest aspect were the soloists. In short, it was a Carmen to "see" ears open and eyes closed.
As I have mentioned before in this blog, I value very much the artistic component on stage of the operas. In this performance, it was disconcerting. Let me explain:

Carmen was played by the young Georgian mezzo Anita Rachvelishvili. She is a singer who I had never seen. She has a very powerful voice, perfect pitch and with a fantastic low register. Her voice completely filled the theater when she sang and I am sure that even those who were in the most distant places heard her perfectly. But of Carmen there was nothing else. She did not show any sensuality, daring or rebellious. An opposite behavior to that required by the character.

The Korean tenor Yonghoon Lee that I also have not heard before was Don Jose. Again, a singer of great vocal quality, with a powerful voice, easy top notes and maintaining quality in all registers. The singer, with a nice slim figure, was not able to convey emotion to the character he played. The duets with Carmen were devoid of any feeling or passion. Everything was forced and flameless. The same applies to those with Michaela.

British soprano Kate Royal was a little emotional Micaela with a monotonous interpretation. She was well heard and did not fail vocally, but we expected much more than that.


Kyle Ketelsen, American bass baritone was Escamillo. He fulfilled the role without thrill. he has a pleasant tone of voice and he was the most homogeneous when considering the binomial aspect singing – acting. (But he was very different form his role in Leoporello in last season).

The singers of the secondary roles were much better in the artistic side, especially Trevor Scheunemann as Morales, Keith Miller as Zuniga, Danielle Pastin as Frasquita, Ginger Costa-Jackson as Mercédès and Keith Jameson as Remendado, the best of them all.

The public, as usually around here, applauds everything intensely, the good and the less good, and starts applauding long before the music ends. This time, close to the end of the aria La fleur que tu mávais jetée, the applauses were so premature that when finished, the maestro repeated the final orchestral part (followed by a new outbreak of applause)!

A showy Carmen but without any hint of Latin blood.
***

2 comentários:

  1. I have not yet seen Carmen, but everyone tells me this is the opera I should see. Sorry it was not the best performance, but I will watch for a better performance this summer.

    ResponderEliminar
  2. Caro Fanático,
    não me admira que tenha faltado sangue latino a uma produção americana.
    Eles compram tudo, fazem bem feito, tudo é muito profissional. Mas alma, isso não se compra!
    Um grande abraço

    ResponderEliminar