Mostrar mensagens com a etiqueta Jongmin Park. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Jongmin Park. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 24 de setembro de 2019

DON CARLO, Wiener Staatsoper, Setembro / September 2019



(text in English below)

A versão italiana da magnífica ópera de Verdi Don Carlo esteve em cena na ópera estatal de Viena em Outubro. Foi com ela que iniciei a minha temporada operática 2019-2020.

O maestro Jonathan Darlington não fez um trabalho perfeito, sobretudo no início em que houve desencontros na orquestra.



A encenação de Daniele Abbado é interessante, escura, despida e opressiva, como a própria ópera. Os trajos são convencionais mas só há paredes e plataformas móveis escuras. Nas laterais frequentemente abrem-se espaços por onde os cantores e coro entram e saem. Para além de um crucifixo, os únicos adereços só aparecem no início do 3º acto e são uns 4 grupos de velas no chão (o efeito é magnífico) e a cadeira onde o Filipe II está sentado, antes de cantar a sua fantástica ária, uma das mais marcantes da ópera.



Os cantores foram globalmente muito bons, como era expectável.
A melhor foi a Elena Zhidkova como Eboli. Foi a primeira vez que a vi ao vivo e fiquei deveras impressionado com tudo, voz, interpretação, figura, tem tudo bom! O poderio vocal é fantástico, sempre afinada e agudos incríveis.



Os baixos também foram marcantes, o René Pape como Filipe II, muito emotivo na interpretação, mantém uma voz fantástica.



O russo Dmitry Ulyanov foi espectacular como Grande Inquisidor, com um vozeirão de fazer tremer o chão.



E o sul-coreado Jongmin Park (Frade / Carlos V) também muito bom, apesar de ter um papel pequeno.


O Simon Keenlyside é um Rodrigo meu conhecido há muitos anos e continua a fazer um bom papel. A voz, não sendo o que foi, continua boa, bonita e ele usa-a com grande mestria. Tem uma óptima figura, o que ajuda muito na interpretação e na agilidade em palco,



contrastando em absoluto com o Carlos desta noite, o italiano Fabio Sartori que, cantando bem, com voz de timbre bonito, tem uma figura horrível. É muito gordo e é baixo. Sempre que tem que interagir mais de perto com outro cantor (e com quem acontece mais vezes é com o Posa / Rodrigo), a coisa torna-se quase ridícula (os braços não têm comprimento suficiente para um abraço).


A Elisabetta foi cantada por uma azeri, Dinara Alieva, em estreia aqui. A Anja Harteros cancelou, algo que faz frequentemente (para mim está no 2º lugar do pódium dos cancelamentos: 1º a Angel Gheorghiu e 3º o Jonas Kaufmann). Começou mal, o timbre não é bonito e a voz parecia não ter cor. Contudo, foi melhorando ao longo da récita e, na ária principal do último acto, esteve muito bem.


Começou muito bem a minha temporada!




****


DON CARLO, Wiener Staatsoper, October 2019

The Italian version of Verdi´s magnificent opera Don Carlo could be seen at the Vienna State Opera in October. It was the first opera of my 2019-2020 season.

Conductor Jonathan Darlington did not do a perfect job, especially in the beginning with some light problems with the orchestra.

Daniele Abbado's production is interesting, dark, austere and oppressive, like the opera itself. The costumes are conventional but there are only dark moving walls and platforms. On the sides often open spaces where the singers and choir enter and leave. Apart from a crucifix, the only props appear only at the beginning of the 3rd act and are about 4 groups of candles on the floor (the effect is magnificent) and the chair where Philip II is sitting, before singing his fantastic aria, one of the most remarkable of the opera.

The singers were overall very good, as expected. The best was Elena Zhidkova as Eboli. It was the first time I saw her live and I was really impressed with everything, voice, interpretation, figure, everything is good! The vocal power is fantastic, always tuned and incredible top notes.

The bass singers were also striking: René Pape as Philip II, very emotional in interpretation, maintains a fantastic voice.

Russian Dmitry Ulyanov was spectacular as the Great Inquisitor, with a ground-shaking voice.

And south-corean Jongmin Park (Frate / Carlos V) was also very good, despite having a small role.

Simon Keenlyside has been a Rodrigo known to me for many years and continues to play a good role. The voice, not what it was, remains good, beautiful, and he uses it with great mastery. He has a great figure, which helps a lot in interpretation and agility on stage,

in sharp contrast to Carlos tonight, Italian Fabio Sartori, who, singing well, with a voice of beautiful tone, has a horrible figure. He's very fat and he's short. Whenever he had to interact more closely with another singer (and that happens more often with Posa / Rodrigo), it becomes almost ridiculous (the arms are not long enough for a hug).

Elisabetta was sung by Azeri Dinara Alieva, debuting here. Anja Harteros has canceled, something she does often (for me she is in 2nd place on the cancellation podium: 1st is Angela Gheorghiu and 3rd is Jonas Kaufmann). She started badly, the tone is not pretty and the voice seemed to have no color. However, she improved throughout the performance and, in the main aria of the last act, she was very well.

My season had a good start!

****

segunda-feira, 7 de maio de 2018

DIE WALKÜRE, Viena Staatsoper, Abril / April 2018




 (review in English below)

A encenação de Sven-Eric Bechtolf da ópera A Valquíria de Wagner está já em cena na Ópera Estatal de Viena há muitos anos. É uma abordagem clássica e eficaz em que cada acto se passa num único cenário. Numa visita ao teatro, assistimos à montagem do cenário (os cavalos ainda estavam dentro dos caixotes de madeira):




 O primeiro acto decorre na casa de Sieglinde e Hunding, tem uma mesa central e a meio o tronco da árvore onde está espetada a espada Notung.



O segundo passa-se na floresta, representada por muitos troncos de árvores espalhados por todo o palco. No terceiro há 9 cavalos em tamanho real e em posições diferentes e tudo se passa ali. Quando o fogo sagrado é ateado, no final, é projectado em imagens nas paredes laterais e posterior do cenário.



O maestro Adam Fischer dirigiu a Orquestra da Wiener Staatsoper que teve um desempenho excelente, mas aqui e acolá, no início, uma pequena falha nos metais. No 3º acto foi fantástica.



O Siegmund do tenor Christopher Ventris foi muito bom mas, no final do primeiro acto, perdeu um pouco o ímpeto, onde ele seria mais necessário. O cantor tem um timbre vocal muito bonito e a voz é cheia, oferecendo uma interpretação muito credível.



A soprano Simone Schneider foi uma Sieglinde fantástica. A voz é poderosíssima, muito agradável e a interpretação foi sempre de topo, com um final do primeiro acto marcante, foi pena que o Ventris não a tenha acompanhado nesta prestação.



O Hunding do baixo Jongmin Park impôs-se com uma voz grave cavernosa que quase fazia estremecer o chão do teatro.



A soprano Iréne Theorin foi, mais uma vez, irrepreensível no desempenho da Brünhilde. A voz é gigante, sempre afinada e ouve-se perfeitamente sobre uma orquestra wagneriana. Sempre que a tenho ouvido, canta ao mais alto nível.



O Wotan do baixo-barítono Tomasz Konieczny foi a grande surpresa para mim, pela qualidade interpretativa, cénica e vocal. Fez um Wotan muito convincente, perto da perfeição e, embora com um timbre vocal particular, ofereceu-nos uma interpretação superior sem nunca quebrar no mínimo pormenor. 




A Fricka da mezzo Michaela Schuster esteve ao nível do que esperava dela. É uma cantora que já ouvi várias vezes, nunca desilude e, mais uma vez, assim aconteceu. A voz é espessa, encorpada e sempre afinada em todos os registos.



As oito restantes valquírias tiveram desempenhos distintos, mas globalmente estiveram bem, embora não favorecidas pela encenação. No 3º acto correm, ensanguentadas, atrás dos heróis, que lhes fogem, para os levarem para o Walhalla, na parte que menos resulta da encenação. Elas foram: Helmwige (Donna Ellen), Gerhilde (Caroline Wenborne), Ortlinde (Anna Gabler), Waltraute (Stephanie Houtzeel), Siegrune (Ulrike Helzel), Grimgende (Zsuzsanna Szabó), Schweetleite (Bongiwe Nakani) e Rossweisse (Miriam Albano).


Um espectáculo fantástico!








*****


DIE WALKÜRE, Vienna Staatsoper, April 2018

The staging Wagner’s opera The Valkyrie by Sven-Eric Bechtolf has been on stage at the Vienna State Opera for many years. It is a classic and effective approach in which each act takes place in a single setting: The first act takes place in the house of Sieglinde and Hunding, it has a central table and in the middle the trunk of the tree where the sword Notung is stuck.

The second act occurs in the forest, represented by many tree trunks scattered all over the stage. In the third act there are 9 horses in real size and in different positions and everything happens there. When the sacred fire is fired, in the end, it is projected into images on the side and rear walls of the scenery.

Maestro Adam Fischer directed the Orchestra of the Wiener Staatsoper that had an excellent performance, but here and there, at the beginning, a small fault in the metals. But the 3rd act was fabulous.

Tenor Christopher Ventris’s Siegmund was very good but at the end of the first act, he lost some of the momentum, where it would be most needed. The singer has a very beautiful vocal tone and the voice is full, offering a very credible interpretation.

Soprano Simone Schneider was a fantastic Sieglinde. The voice is very powerful, very pleasant and the interpretation was always top, with a striking end of the first act, it was a pity that Ventris did not accompany her in this exalted moment.

Hunding of bass Jongmin Park imposed with a low cavernous voice that almost made the floor of the theater shake.

Soprano Iréne Theorin was once again blameless in Brünhilde's performance. The voice is giant, always tuned and it is perfectly heard over a Wagnerian orchestra. Whenever I have heard her, she always sings at the highest level.

Wotan from bass-baritone Tomasz Konieczny was the big surprise for me, for the interpretive, scenic and vocal quality. He made a very convincing Wotan, close to perfection, and though with a particular vocal timbre, he offered us a superior interpretation without ever breaking in the least detail.

Mezzo Michaela Schuster’s Fricka was at the level of what I expected from her. She's a singer I've heard several times, she never disappoints and, once again, it happened. The voice is thick, full-bodied and always in tune at every register.

The other eight Valkyries had different performances, but globally they were well, although not favored by the staging. In the third act they run, bloodied, behind the heroes, who flee to them, to take them to the Walhalla, in the part that is less convincing of the staging. They were: Helmwige (Donna Ellen), Gerhilde (Caroline Wenborne), Ortlinde (Anna Gabler), Waltraute (Stephanie Houtzeel), Siegrune (Ulrike Helzel), Grimgende (Zsuzsanna Szabó), Schweigleite (Bongiwe Nakani) and Rossweisse (Miriam Albano).

*****