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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ANNA BOLENA de Gaetano Donizetti — Wiener Staatsoper, Outubro de 2013

(Review in English below)


Anna Bolena é uma tragédia lírica em dois actos com libreto de Felice Romani composta pelo compositor italiano Gaetano Donizetti. Foi composta e estreada em 1830 (26 de Dezembro, Teatro Carcano, Milão) e é não só a sua 31.ª ópera, como a sua primeira ópera verdadeiramente bem sucedida. É um dos expoentes operáticos do bel canto.


A ópera passa-se em 1536 e trata da famosa história de amor que levou Henrique VIII a divorciar-se de Catarina de Aragão para se casar com Anne Bolena e a uma clivagem de Inglaterra com a Igreja católica romana. O desfecho trágico é bem famoso: Anne Bolena é condenada à morte por traição e adultério, pretexto do rei para casar com Jane Seymour. Pode ler-se uma sinopse, por exemplo, numa entradaanterior do Fanático Um.



A encenação foi a de Eric Génovèse, estreada na produção da WSO de 2011 onde pontificaram Anna Netrebko e Elina Garanca. É de extremo bom gosto na encadeação cénica simples, na sumptuosidade do guarda-roupa e na direcção de actores. Uma encenação clássica, simples e sombria de alto nível. Este vídeo dessa produção demonstra o que deixei escrito.


A direcção da Orquestra da WSO esteve a cargo do maestro italiano Evelino Pidò. O lugar onde estava permitiu-me apreciar a riqueza da sua direcção musical: foi extraordinária do princípio ao fim e mostrou enorme conhecimento da obra e entrosamento com a orquestra. Fez a orquestra soar cristalina, com um ritmo perfeito e com um som donizettiano fabuloso. Foi, no meu ver, o melhor e mais destacado elemento da récita. O Coro da WSO esteve, igualmente, em elevado nível de desempenho.

Anna Bolena foi o soprano búlgaro Krassimira Stoyanova. Esteve em bom plano vocal e cénico. A voz é forte, bem projectada, com tessitura ampla e sempre equilibrada e com um bom equilíbrio entre o lírico e o dramático. A sua ária Al dolce guidami foi de elevada qualidade.

Giovanna Seymour foi o mezzo-soprano italiano Sonia Ganassi. A sua interpretação vocal foi de elevado nível, pois possui uma voz com agudos fáceis e um timbre muito adequado a que soube dar a expressividade e ambiguidade que a personagem exige. O seu dueto com Anna O mia Regina! foi muito bem interpretado.



Enrico foi o baixo-barítono italiano Luca Pisaroni. A sua voz tem um timbre belíssimo e conseguiu transmitir-nos muito eficazmente o sombrio da sua personagem. Um dos melhores da noite.

O tenor norte-americano Stephen Costello foi Lord Percy. A sua prestação não foi das mais emotivas ou estarrecedoras, embora tenha cumprido com eficácia o seu papel.

O mezzo-soprano ucraniano Zoryana Kushpler foi um Smeton de elevada qualidade e que ofereceu uma excelente prestação vocal e cénica.


Foi, portanto, uma récita de qualidade geral elevada com um excelente elenco, encenação de elevadíssima qualidade e uma qualidade interpretativa de Evelino Pidò de excelência.

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(Review in English)

Anna Bolena is a lyrical tragedy in two acts with libretto by Felice Romani composed by Italian composer Gaetano Donizetti. It was composed and premiered in 1830 (December 26, Teatro Carcano, Milan) and is not only their 31st opera, as his first truly successful opera. It is one of the exponents of operatic bel canto.

The opera takes place in 1536 and comes from the famous love story that led Henry VIII to divorce Catherine of Aragon to marry Anne Boleyn and cleavage of England with the Roman Catholic Church. The tragic outcome is quite famous: Anna Bolena is sentenced to death for treason and adultery, pretext of the king to marry Jane Seymour. You can read a synopsis, for example, a previous post by Fanatic One.

The Eric Genovese’s staging was premiered in the 2011 production of WSO where Anna Netrebko and Elina Garanca took the title roles. It is of extreme quality by its simple scenic seuences, its sumptuous wardrobe and actors direction. A classic, simple and somber staging of high level. This video demonstrates what I wrote about this production.

The direction of the WSO Orchestra was in charge of the Italian conductor Evelino Pido. The place where I was allowed me to appreciate the richness of his musical direction: it was extraordinary from start to finish and he showed great knowledge of the work and engagement with the orchestra. He made the orchestra sound crystal clear with perfect rhythm and fabulous donizettian sound. He was, in my view, the best and most prominent element of recitation. The WSO Choir was also in high performance level.

Anna Bolena was the Bulgarian soprano Krassimira Stoyanova. She was in good vocal and scenic plane. The voice is strong, well-designed, with wide tessitura and always balanced, with a good balance between the lyrical and dramatic. Her aria Al dolce guidami was of high quality.

Giovanna Seymour was the Italian mezzo-soprano Sonia Ganassi. Her vocal performance was high, as she has a voice with a very easy treble, an appropriate tone that achieved in expressiveness the ambiguity the character requires. Her duet with Anna Regina mia! was very well sunged.

Enrico was the Italian bass-baritone Luca Pisaroni. His voice has a beautiful tone and he managed to convey very effectively the darkness of his character. One of the best of the evening.

The American tenor Stephen Costello was Lord Percy. His performance was not the most emotional or appalling, although he has fulfilled his role effectively.

The Ukrainian mezzo-soprano Zoryana Kushpler as Smeton was in high quality performance level both vocal and scenically.


It was therefore a recitation of general high quality with a fine cast, staging of very high quality and with an Evelino Pido direction of excellence.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

SIMON BOCCANEGRA, Wiener Staatsoper, Fevereiro de 2013 / February 2013

(review in english below)

Simon Boccanegra, ópera de G. Verdi com libretto de Francesco Maria Piave e Arrigo Boito, foi já anteriormente comentada neste blogue, por exemplo aquí, aquíaquí, aquí e aquí. Confesso que está longe de ser uma das que mais gosto.

Em Viena a encenação de Peter Stein foi muito sóbrea, com o palco quase sempre vazio, frequentemente desinteressante, mas procurou situar-se na época. O guarda-roupa foi a condizer.


 O maestro italiano Evelino Pidó dirigiu sem impressionar a Orquestra e o Coro da Ópera Estatal de Viena.


 Não havendo nada que ver, toda a atenção centrou-se nos cantores.


 Placido Domingo foi o melhor da noite. Interpretou o Simão Boccanegra, papel de barítono (aqui com laivos de tenor), com uma classe que só ele e poucos mais conseguem alcançar. Apesar da idade, a voz mantém uma qualidade de excepção, tanto na beleza tímbrica como na forma como é projectada. Domingo imprime um sentimento assaz invulgar à interpretação e é muito convincente no papel. É mais um actor que canta e, sobretudo, que cativa em cada intervenção. 




 A Amelia do soprano letónio Maija Kovalevska foi outra das grandes intérpretes da noite. É uma cantora com uma voz de invulgar beleza, redonda, sempre sobre a orquestra e com agudos brilhantes. É dotada de uma excelente figura que torna muito credível a sua acção cénica.


 O baixo italiano Michele Pertusi foi um Fiesco à altura dos restantes solistas, com boa presença em palco e uma interpretação vocal muito interessante, embora o registo mais grave não tenha a mesma qualidade do médio.


 O Gabriele Adorno do tenor italiano Roberto De Biasio foi bem interpretado e o cantor tem agudos aparentemente fáceis e bem audíveis. Contudo, faz-se aos aplausos quando termina as suas intervenções mais significativas, o que detesto e, felizmente, é cada vez menos frequente nos dias que correm.


 Também merecem referência Marco Carito e Dan Paul Dumitrescu que tiveram interpretações dignas como Paolo e Pietro respectivamente.

Mas a noite foi de Placido Domingo que no final, por mais de 15 minutos, foi chamado inúmeras vezes ao palco e inundado com flores, num reconhecimento muito merecido pelo público de Viena.







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SIMON BOCCANGRA, Wiener Staatsoper, February 2013

Simon Boccanegra, opera G. Verdi with libretto by Francesco Maria Piave and Arrigo Boito, was previously commented in this blog, for example here, herehere, here and here. I confess that it is far from being one of my favorites.

In Vienna, the staging of Peter Stein was very sober, with the stage almost always empty, often uninteresting.

Italian maestro Evelino Pidó directed fairly the Orchestra and the Chorus of the Vienna State Opera.

As there was almost nothing to see, all the attention was focused on the singers.

Placido Domingo was the best of the night. He interpreted Simon Boccanegra, a baritone role (here with a tenor flavour), with a class that only he and a few more reach. Despite his age, the vocal quality remains exceptional, both in the beauty of timbre as the way it is delivered. Domingo prints a rather unusual feeling to his interpretation and he is very convincing in the role. He is an actor who sings and, especially, that is captivating in all interventions.

Latvian soprano Maija Kovalevska was Amelia, another of the great performers of the night. She is a singer with a round voice of unusual beauty, always heard above the orchestra. Her top notes are bright. She has an excellent figure that makes her scenic presence very credible.

Italian bass Michele Pertusi was a Fiesco with identical quality as the other soloists, with good stage presence and very interesting vocal interpretation, although the lower register was not as impressive as the medium.

Gabriele Adorno's Italian tenor Roberto De Biasio was well played and the singer has apparently easy and well audible top notes. However, he adopts a posture “appealing” to applause when he finishes singing his most significant parts, which I hate. This practice  is (fortunately) becoming less common these days.

Also worth mentioning are Marco Carito and Dan Paul Dumitrescu that had decent performances as Paolo and Pietro respectively.

But the night belonged to Placido Domingo that, in the end, for more than 15 minutes, was called to the stage numerous times and was flooded with flowers, a much deserved  acknowledgment by the public of Vienna.

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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

LE NOZZE DI FIGARO – Opera Bastille, Paris – 13 Outubro 2012


(review in english below)


Em dia de memória da morte de Mozart há 221 anos atrás, deixo-vos uma crítica de Le Nozze di Figaro a que pude assistir no passado dia 13 de Outubro em Paris.


A récita foi interessante mas senti que faltou verdadeira comedia. Alguma incoerência e falta de uniformidade na mesma ao longo da noite.


Luca Pisaroni, vocalmente espectacular, esteve muito preso a um ar aristocrático do Conde, baseando a comédia em expressões faciais de tédio repetidas. Na cena do quarto não transmitiu de modo que me agradasse completamente o ar de marido pensando estar a ser traído. Gosto de ver um Conde que entra altivo e desconfiado mas que ao ver que é Susana que está no armário se torna criança a pedir desculpa à Condessa. Outros pontos menos credíveis foram o estar com um pé de cabra e martelo na mão e, quando a Condessa lhe diz que quem esta no armário é o pagem Cherubino, deixa cair os mesmos no chão mas não com um ar de surpresa... O timing cómico não esteve lá. Também faltou a verdadeira emoção na grande ária “Hai già vinta la causa!”. Mas o canto foi fenomenal.





Alex Esposito fez um Figaro emotivo e com piada mas já vi outros terem mais graça. Também um pouco fraco na expressão correcta no Aprite un po’ quegli occhi”.





Camila Tilling muito bem como Susana, timbre muito agradável e excelente atriz.





Emma Bell foi uma Condessa algo irregular no timbre vocal. A primeira ária parecia que ainda não tinha aquecido bem e o timbre era rudemente grave para o papel. Melhorou progressivamente mas havia momentos de grande beleza entrelaçados com alturas vocalmente mais graves como o som da primeira ária e que, embora toleráveis, eram um pouco incómodos.





Anna Grevelinius foi um Cherubino muito bom, uns agudos com algum vibrato mas que não incomodou.








A dupla Bartolo - Marcellina foi a mais bem conseguida em termos vocais e interpretativos - dois colossos do canto, em fantástica forma (Marie McLaughlin e Carlos Chausson).








Os papeis menores estiveram bem, destacando um Basilio (Carlo Bosi) com timbre menos "gay" que o habitual mas mantendo o ar cínico.


A orquestra e Evelino Pidò foram excelentes, sem falhas, num ritmo perfeito para a obra, sem inovações malucas, permitindo uma coerência e um respeito sublime pela beleza da música de Mozart. 








LE NOZZE DI FIGARO - Opera Bastille, Paris - 13 October 2012






On this day of rememberance of Mozart’s death, 221 years ago, I leave you a review of Le Nozze di Figaro that I attended on the 13th October in Paris.

The production was interesting but I felt it lacked true comedy. Some inconsistency and lack of uniformity in it throughout the night.

Luca Pisaroni, vocally spectacular, was very attached to an aristocratic profile of the Count, basing the comedy on repeated facial expressions of boredom. In the bedroom scene did make us feel the feeling of the husband who thinks is being betrayed. I like to see a Count who enters haughty and suspicious but when sees that Susana is standing in the closet becomes a true child to apologize to the Countess. Also missing the real excitement in the great aria "Hai già vinta la causa." But the singing was phenomenal.





Alex Esposito made an emotional and funny Figaro but I've seen others being more funny. Also a little weak in the correct expression in the aria “Aprite un po 'quegli occhi ".





Camilla Tilling was very good as Susana, very pleasant sound and an excellent actress.





Emma Bell was a Countess somehow vocally irregular. The first aria she probably had not warm up very well and sound was rudely serious for the role. She progressively improved but there were moments of great beauty intertwined with vocally more lower pitch like the sound of the first aria, and although tolerable, were a little troublesome.





Anna Grevelinius Cherubino was a very good one with some sharp vibrato but that did not bother.









The duo Marcellina - Bartolo was the best achieved in terms of vocal and scenic performance - two opera giants in fantastic shape (Marie McLaughlin and Carlos Chausson).






The smaller roles were good, highlighting a Basilio (Carlo Bosi) with a less "gay" than usual voice but keeping the cynic air.

The orchestra and Evelino Pidò were excellent, flawless, a perfect rhythm for the work without crazy innovations, enabling consistency and respect for the sublime beauty of Mozart's music.