terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Dido e Eneias (Purcell) e muito mais, Fundação Gulbenkian, Fevereiro de 2014 / Dido and Eneias (Purcell) and something else, Gulbenkian Foundation, February 2014

(review in english below)

Sob a direcção do maestro grego Teodor Currentzis, a Orquestra e Coro de câmara do teatro de ópera e ballet Tchaikovsky de Perm, MusicAeterna, apresentaram na Fundação Gulbenkian duas obras, Dixit Dominus HWV232 de Georg Friedrich Händel e Dido e Eneias de Henry Purcell.


 O salmo Dixit Dominus integra partes corais muito expressivas alternadas com árias, emprestando à obra uma beleza assinalável.
Dido e Eneias é, para mim, a melhor ópera inglesa, rica em intervenções corais, recitativos e árias. Aqui interpretada em versão concerto, é uma obra de grande intensidade emocional que culmina com uma pungente representação da dor e sofrimento na ária final, o lamento de Dido, When I am laid in earth. Desta famosa e sublime página, Victoria de los Angeles e Janet Baker, entre outras, deixaram-nos interpretações insuperáveis.

Teodor Currentzis apresenta-se com uma figura sui generis: vestido de negro, cabelo cortado e penteado à dread, calças justas e botas. A sua direcção é (excessivamente?) enérgica e ruidosa, faz muito barulho com os tacões das botas no solo. Mas, com o desenrolar do concerto, esquece-se esse aspecto desagradável, tal o impacto que a sua direcção causa. Disse que a sua missão é ser fiel ao que o compositor escreveu e trazer a vida real à música. Fá-lo de forma impecável e o seu misticismo é impressionante ou, direi melhor, arrepiante.


 MusicAeterna, orquestra e coro por si criados, permitiram que pudéssemos apreciar as qualidades de excepção do maestro. Se a interpretação musical com instrumentos da época e músicos excepcionais foi fantástica, o coro foi sublime em harmonia, expressividade, intensidade dramática e sincronismo. Parecia a uma só voz. 


 Os solistas não destoaram. O soprano alemão Anna Prohaska esteve muito bem como rainha Dido e num dos encores.


 Tobias Brendt, barítono alemão, foi o príncipe troiano Eneias e também esteve à altura.


 Belinda, irmã de Dido, foi fabulosamente cantada pelo soprano grego Eleni StamellouA feiticeira foi Maria Forsström, mezzo sueco que não destoou e, nos papéis secundários, estiveram o soprano grego Eleni Lydia Stamellou como 1ª bruxa, o mezzo russo Daria Telyatnikova como 2ª bruxa, o baixo russo Victor Shapovalov como marinheiro e o soprano russo Valeria Safonova como espírito.

Terminado o concerto, o melhor ainda viria nos encores (estou a ser injusto para com o final da Dido e Eneias): um primeiro que não identifiquei, interpretado apenas pelo coro, com mão de Peter Sellars, ao que percebi. Foi avassalador, tanto na interpretação cénica como, sobretudo, na vocal. Inesquecível!

A terminar, um extracto da “The Indian Queen” de Purcell, também primorosamente interpretada por todos, orquestra, coro e solistas. Já muitos tinham saído do auditório. Terão perdido o melhor da noite…

O esplendor do barroco na Gulbenkian!
Foi um dos concertos do ano e será difícil assistir a melhor!

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Dixit Dominus (Handel) , Dido and Aeneas (Purcell) and more, Gulbenkian Foundation, February 2014

Under the direction of Greek conductor Teodor Currentzis, the chamber orchestra and choir of Perm theater opera and ballet Tchaikovsky, MusicAeterna, presented two pieces at the Gulbenkian Foundation, Dixit Dominus HWV232 by Georg Friedrich Händel and Dido and Aeneas Henry Purcell.

Dixit Dominus integrates very expressive choral sections alternate with arias,making
the work of a remarkable beauty.
Dido and Aeneas is, for me, the best English opera, rich in corals, recitatives and arias. Here interpreted in concert version, it is a work of great emotional intensity that culminates in a poignant representation of pain and suffering in the final aria, Dido 's lament, When I am laid in earth .Of this famous and sublime musical page, Victoria de los Angeles and Janet Baker, among others, left us unsurpassed interpretations .

Teodor Currentzis apppeared in a sui generis figure: dressed in black, hair cut and style to dread, tight trouses and boots. His direction was (in excess ?) energetic and noisy, making a lot of noise with the heels of his boots on the ground. But with the course of the concert , we forgot this unpleasant noise such the impact that his direction imposed. He said before that his mission is to be true to what the composer wrote and bring real life to music.He does so flawlessly and his mystic is awesome.

MusicAeterna ,orchestra and chorus created by him, allowed that we could appreciate the exceptional qualities of the conductor. If the musical performance with old instruments and exceptional musicians was fantastic, the chorus was in sublime harmony, expressiveness, and dramatic intensity. They
seemed to sing with only one voice .

The soloists were at high level. German soprano Anna Prohaska was very convincing as Queen Dido. Tobias Brendt, German baritone, was the Trojan prince Aeneas and also rose to the challenge. Belinda  Dido 's sister, was fabulously sung by the Greek soprano Eleni Stamellou. Secondary roles included the witch that was Swedish mezzo Maria Forsström, Greek soprano Eleni Lydia Stamellou was the 1st witch,  Russian mezzo Daria Telyatnikova was 2nd Witch, Russian bass Victor Shapovalov was a sailor, and Russian soprano Valeria Safonova was a spirit.

After the concert, the best was yet to come in the encores (I'm being unfair to the end of Dido and Aeneas) : a first (not identified by me), interpreted only by the choir  with Peter Sellars arrangement . It was overwhelming, both in the scenic interpretation as, specially, vocal interpretation. Unforgettable!

Finally , an extract from "The Indian Quee " by Purcell, also beautifully played by everyone, orchestra, choir and soloists . Many mmebers of the audience had already left the auditorium. They have lost the best of the night ...

The baroque splendor at Gulbenkian!
It was one of the concerts of the year and it will be hard to watch much better!


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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

RUSALKA de ANTONÍN DVORÁK, MET Live in HD, Culturgest, 09.02.2014


Rusalka, ópera em 3 actos, foi composta em 1901 por Antonín Dvorák. O libreto em checo é de Jaroslav Kvapil e baseia-se no conto de Kabel Jaromír Erben e Bozena Nemcová.

Pode ler-se uma sinopse no site do Metropolitan.


A encenação de Otto Schenk é clássica, de enorme beleza, cheia de pormenores sumptuosos, não falta nenhum elemento do texto que segue na perfeição, é muito agradável de seguir e transporta-nos para o mundo paralelo do fantástico. As caracterizações de Tritão, pai de Rusalka, e de Jezibaba são fabulosas. De uma perfeição absoluta e de grande impacto visual!


A interpretação de Yannick Nézet-Séguin aos comandos da New York Metropolitan Opera Orchestra foi óptima. Explorou as sonoridades mais dramáticas de forma intensa e colorida e as mais líricas de modo leve e etéreo. Em grande nível!


Renée Fleming era a estrela da tarde no seu aclamado papel de Rusalka. É verdade que a sua interpretação foi de qualidade, com excelente expressividade e desempenho dramático, os agudos saíram fáceis e a voz é melodiosa e tem a extrema beleza que lhe conhecemos. Ainda assim, já se ouviu em melhor nível neste papel.


A mais famosa ária da Canção à Lua cantou-a muito bem do cimo da árvore.


John Relyea foi um Vodník, o Tritão pai de Rusalka, com voz de baixo cheia, enorme potência, com modulações fáceis e com uma assinalável agilidade cénica. Grande performance.


Dolora Jajick, apesar de nas entrevistas estar com uma tosse que justificou com o frio de NYC, foi uma Jezibaba impecável. O tom escuro da sua voz é lindíssimo e a sua expressividade ímpar. Tudo isto aliado a capacidades interpretativas fora de série permitem-lhe que seja indiscutivelmente um dos melhores mezzo-sopranos da actualidade. Isto apesar da sua actualidade ter mais de 25 anos no MET!


O tenor polaco Piotr Beczala foi o Príncipe. Teve uma interpretação imaculada, tirando um agudo que lhe saiu um nadinha mais agreste e um pianissimi que não arrancou logo quando cantava já quase morto e deitado. Voz de beleza invulgar, potência avassaladora, figura extremamente adequada e enormes capacidades expressivas. É, para mim, talvez o melhor tenor da actualidade nos papéis que tem vindo a cantar. Em grande forma!


Emily Magee foi a Princesa estrangeira. Tem muita potência vocal, timbre delicado e cenicamente é convincente. Teve uma interpretação de grande qualidade. Poderemos ouvi-la ao vivo no dia 25 de Abril na Fundação Gulbenkian a cantar o espectacular conjunto de canções que Richard Strauss compôs aos 84 anos — Vier letzte Lieder — com base em poemas de Hermann Hesse e Joseph von Eichendorff. A fazer crescer água na boca até porque vai ser acompanhada pela Gustav Mahler Jundenorchester dirigida pelo jovem e magnífico maestro alemão David Afkham.


Os restantes elementos, Disella Làrusdóttir (primeira ninfa), Renée Tatum (segunda ninfa), Maya Lahyani (terceira ninfa), Alexey Lavrov (Caçador) e Julie Boulianne (rapaz da cozinha) tiveram todos em bom nível vocal e cénico.

Assistiu-se, pois, a uma récita de elevadíssima qualidade de todos os intervenientes potenciando a qualidade musical da partitura do grande compositor checo.

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(Review in English)

Rusalka, opera in 3 acts, was composed in 1901 by Antonín Dvorák. It has a Czech libretto by Jaroslav Kvapil and is based on the tale of Jaromír Erben and Kabel Bozena Nemcova.

You can read a synopsis of the Metropolitan website.

The staging of Otto Schenk is classic, of great beauty, full of sumptuous details, not missing element of the text that follows perfectly, is very pleasant to follow and takes us to the parallel world of the fantastic. The characterizations of Triton, Rusalka's father, and Jezibaba are fabulous. Of absolute perfection and great visual impact!

The interpretation of Yannick Nézet-Séguin conducting the New York Metropolitan Opera Orchestra was great. He explored the most intense and dramatic sounds with colorful fashion and the most lyrical with full of light and ethereal mystic. What an outstanding performance!

Renée Fleming was the star of the afternoon in her acclaimed role of Rusalka. It is true that her interpretation was of quality, with great expressiveness and dramatic performance, with high notes easily achieved and with a voice of extreme beauty that we all know. Still, we had heard her at better level in this role. She sang the most famous aria of the Song to the Moon very well from the top of the tree.

John Relyea was Vodník, Triton Rusalka’s father, with an exclellent bass voice, huge power with easy modulation and a remarkable scenic agility. Great performance.

Dolora Jajick, despite in the interviews being with cough that she justified witj the cold of NYC, was a flawless Jezibaba. The dark tone of her voice is beautiful and she has a unique expressiveness. All this combined with interpretative capabilities out of range allow her to be arguably one of the best mezzo-sopranos of our time. This despite her “our time” has over 25 years in the MET!

The Polish tenor Piotr Beczala was Prince. He had an immaculate interpretation, despite a little more rugged sharp high note and one pianissimo not plucked right but when he sang almost dead and lying on the stage ground. Voice of unusual beauty, overwhelming power, extremely appropriate figure and huge expressive capabilities. He is, for me, perhaps the greatest tenor of our time in the roles he has been singing lately. In great shape!

Emily Magee was the foreign princess. She has a lot of vocal power, delicate timbre and is scenically compelling. She had an interpretation of great quality. We can hear her live on April 25 at the Gulbenkian Foundation to sing the spectacular set of songs that Richard Strauss composed when he was 84 old based on poems by Hermann Hesse and Joseph von Eichendorff. Making mouthwatering up because Gustav Mahler Jundenorchester directed by the young and magnificent German conductor David Afkham will accompany her.

The remaining elements, Disella Lárusdóttir (First Nymph), Renée Tatum (second Nymph), Maya Lahyani (third Nymph), Alexey Lavrov (Hunter) and Julie Boulianne (kitchen boy) were all in good level vocal and scenically.


Therefore, it was performance of the highest quality for all stakeholders enhancing the quality of the musical score of the great Czech composer.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

ORFEÓ CATALÀ e REABERTURA do Grande Auditório da FCG, 15 e 16.02.2014

(Review in English)


Neste último fim-de-semana, a Fundação Gulbenkian reabriu o renovado Grande Auditório.
Poucas diferenças se notam: a mais visível é a nova canópia, agora mais leve e dividida em seis partes. Visíveis são, também, uma enorme profusão de colunas de som que, certamente, fazem parte da renovação tecnológica profunda que o auditório sofreu e que, segundo a FCG, o torna um dos mais bem apetrechados do mundo. Em suma, a sala mantém-se praticamente igual e, como já sabemos, magnífica e extremamente acolhedora.

Para celebrar essa reabertura, a FCG promoveu diversos espectáculos que disponibilizou, a troco de nada, a quem se quis deslocar às suas instalações. E foi muita gente! Logo bem cedo já estava caótica, tal era o número de interessados no excelente programa de Sábado que a FCG propunha.

Tive oportunidade de assistir a 3 concertos.

Para começar, a Sinfonia n.º 1, em Ré Maior, de Gustav Mahler numa versão para orquestra de câmara de Iain Farrington. A Orquestra XXI, constituída por 15 jovens e talentosos músicos portugueses e sob direcção do também jovem maestro Dinis Sousa, teve uma interpretação de excelente nível de uma peça de música extraordinária e, nesta versão de câmara, extremamente difícil.


Seguiu-se o concerto Vem cantar Gershwin com o Coro Gulbenkian. Cantaram diversas canções de Gershwin, entre elas as da famosa ópera Porgy and Bess, e Jorge Mata pediu a participação do público que lá foi perdendo a inibição... Foi um espectáculo muito interessante, agradável e divertido.


Por fim, o prato forte do dia. A Orquestra Gulbenkian e elementos do Estágio Gulbenkian para a Orquestra sob direcção da maestrina Joana Carneiro interpretaram Assim falava Zaratrustra, op. 30 de Richard Strauss e, também, a Sinfonia Fantástica, op. 14 de Hector Berlioz.

Com a sala a exibir os jardins da Fundação como pano de fundo, a orquestra esteve em elevadíssimo nível na interpretação da portentosa peça de Strauss. E o nível que apresentou em Berlioz foi excepcional: a orquestra estava muitíssimo bem preparada e motivada e sob direcção exemplar de Joana Carneiro (confesso que só no Sábado fiquei rendido à maestrina portuguesa: que intensidade, rigor e sentimento!) tocou a fantástica Sinfonia Fantástica (passe a redundância) a um nível só ao alcance de uma grande orquestra sinfónica. De arrepiar!


Já no Domingo e integrado no Ciclo das Grandes Orquestra Mundiais, a FCG recebeu o Orfeó Català e o Cor de Cambra del Palau de la Música Catalana, coros com sede em Barcelona. Sob direcção de Josep Vila i Casañas interpretaram diversas canções catalãs das quais destacaria Sancta Maria de Josep Reig, Laudate Dominum do próprio maestro Josep Vila i Casañas e Ton pare no té nas de Baltasar Bibiloni.


Na segunda parte ouviu-se o belíssimo Requiem, op. 48 de Gabriel Fauré. A peça composta em 1893 foi tocada apenas no órgão (Mercè Sanchis), o que, no meu ver, lhe tirou grande parte do dramatismo e lirismo. Talvez por isso não tenha ficado extasiado com nenhuma das interpretações: nem a do Coro, nem a dos solistas.


O barítono Dietrich Henschel apresentou-se sem qualquer dificuldade na emissão, mas não gostei particularmente do seu timbre. Já o soprano espanhol María Espada, apesar de não ter tido uma prestação imaculada, encheu o Grande Auditório com um Pie Jesu interpretado na sua voz de timbre belíssimo e ressonante em qualquer ponto da sala.


Mais um óptimo fim-de-semana passado na Fundação Gulbenkian, naquela que é, sem sombra de dúvidas, a mais bonita sala de espectáculos do país!

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(Review in English)

In this last weekend, Gulbenkian Foundation reopened the renovated Grand Auditorium.
Few differences are noticeable: the most visible is the new canopy, now lighter and divided into six parts. Visible are also a huge profusion of speakers that certainly are part of the profound technological renovation the auditorium ran, making it one of the best equipped in the world. In short, the hall remains almost equal and, as we already know, magnificent and extremely accommodating.

To celebrate this reopening, the FCG promoted several concerts, which provided, for free, to whom wanted to move their facilities. And there were a lot of people! In the early morning, FCG was already chaotic, such was the crowd interested in the excellent program proposed for Saturday afternoon/evening.

I had the opportunity to attend 3 concerts.

The first one was Symphony no. 1 in D Major by Gustav Mahler in a version for chamber orchestra arranged by Iain Farrington. The Orchestra XXI, composed of 15 talented young Portuguese musicians and also under the direction of young conductor Dinis Sousa, had an excellent level of interpretation of a piece of extraordinary music, and this camera arrangement, extremely difficult.

This was followed by the concert Come sing Gershwin with the Gulbenkian Choir. They sang several Gershwin famous songs, among them some of the famous opera Porgy and Bess, and Jorge Mata asked the audience to participate. It was a very interesting, enjoyable and entertaining show.

Finally, Gulbenkian Orchestra and elements for Stage with Gulbenkian Orchestra under the direction of conductor Joana Carneiro interpreted Also sprach Zarathrustra, op. 30 by Richard Strauss, and also the Symphonie Fantastique, op. 14 by Hector Berlioz.

With the hall showing the gardens of the Foundation as a backdrop, the orchestra was in very high level interpretation of portentous piece of Strauss. And the level presented in Berlioz was exceptional: the orchestra was very well prepared and motivated and exemplary directed under Joana Carneiro (I confess that I was only on Saturday surrendered to the Portuguese maestro: what intensity, rigor and feeling!) played a fantastic Symphonie Fantastique (pass redundancy) to a level only possible for a large great symphony orchestra. Chilling!

On Sunday and integrated into the Great World Orchestras cycle, FCG received the Orfeo Català and Cor de Cambra del Palau de la Música Catalana, Barcelona-based choirs. Under the direction of Josep Vila i Casañas they interpreted several songs of which we highlight Sancta Maria by Josep Reig, Laudate Dominum by the conductor himself Josep Vila i Casañas and Ton pare no té nas by Baltasar Bibiloni. In the second half there was the beautiful Requiem, op. 48 by Gabriel Fauré. The piece was composed in 1893 and just played with organ (Mercè Sanchis), which, in my opinion, took away much of Requiem’s drama and lyricism. Probably that was the reason I was not fascinated with the interpretation: neither the choir nor the soloists. Baritone Dietrich Henschel presented no difficulty in vocal projection but I do not particularly like his timbre. Spanish soprano María Espada, despite not having had an immaculate performance, filled the hall with a Pie Jesu sunged in her beautiful and resonant voice.


Another great weekend at the Gulbenkian Foundation in what is, without doubt, the most beautiful concert hall in the country!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

THOMAS HAMPSON com a Amsterdam Sinfonietta, CCB/FCG, 09.02.20104

(Review in English below)


O CCB através da Fundação Gulbenkian recebeu um dos mais destacados barítonos mundiais, o norte-americano Thomas Hampson.
Thomas Hampson veio acompanhado pela Amsterdam Sinfonietta (orquestra de câmara) dirigida pela violinista canadiana Candida Thompson.


O concerto integrava um tour europeu que começou a 25 de Janeiro e que se concluiu em Lisboa. Aqui fica o link para o programa de sala onde poderão ler os poemas cantados e a respectiva tradução para português.


O programa começou com a interpretação pela Amsterdam Sinfonietta da peça Verklärte Nacht (Noite Transfigurada), op. 4, que Arnold Schonberg compôs aos 25 anos. A peça de um único andamento é de uma beleza delicada, explorando sonoridades dramáticas e várias cores e baseia-se no poema escuro de Richard Dehmel sobre a culpa e a sua transformação. A interpretação foi assombrosa! Além desta peça, a Amsterdan Sinfonietta também interpretou a Serenata Italina em Sol Maior de Hugo Wolf. A música é de uma beleza tranquila e ouviu-se mais uma excelente interpretação.


Diga-se que a Amsterdam Sinfonietta sob direcção da violinista Candida Thompson foi perfeita ao longo de todo o concerto.


Seguiu-se Johannes Brahms com a peça Vier ernste Gesänge (Quatro Canções Sérias), op. 21, composta em 1896. Thomas Hampson cantou canções de Brahms pela primeira vez neste tour. As quatro canções baseiam-se em textos bíblicos dos Livros de Coeleth e de Ben Sirá e na 1.ª Epístola de São Paulo aos Coríntios. A tonalidade dos textos é escura com a morte como pano de fundo, sofrendo uma transformação na última que exalta a caridade.


Depois de Brahms, ouviu-se a canção Dover Beach (Praia de Dover), op. 3, composta por Samuel Barber em 1950-51 com 21 anos. Baseia-se no poema de Matthew Arnold, escritor inglês do período vitoriano, e é sombrio, falando-nos da negritude da vida e da ausência de sonhos.


De Franz Schubert ouviu-se Memnon, D. 541, de 1817 e Geheimes (O Segredo), D. 719, de 1821. A primeira com texto de Johann Baptist Mayrhofer baseia-se no mito de Memnon e fala dos lamentos tristes de um herói em busca de “brilhar como uma estrela silenciosa e pálida”. Depois, com texto de Johann Wolfgang von Goethe, O Segredo fala das bem-aventuranças do amor.


De Hugo Wolf ouviram-se 3 peças. Fussreise (Passeio a pé), de Eduard Morike (1888), fala de um caminhante que compara a natureza com o paraíso e que o deleita pela manhã. Auf einer Wanderung (Em Viagem), também de Eduard Morike (1888), fala do assombro de um viajante tocado pela natureza. Finalmente, Der Rattenfanger (O caçador de ratos), de Goethe (1890), trata de um cantor sedutor a cujos encantos ninguém resistia.

De referir que as obras apresentadas tiveram os respectivos arranjos para orquestra e barítono pelos compositores Marijn van Prooijen e David Matthews, este último presente na sala.


Quanto a Thomas Hampson bastará dizer o seu nome. O resto é todo o legado que o acompanha. Voz magnífica de timbre belíssimo, potência enorme, expressividade máxima e cujas interpretações são magníficas. Destaco, se é possível, Dover Beach e Der Rattenfanger. Muito simpaticamente, cantou ainda Schubert, Mahler (“parecia mal vir a Lisboa e não cantar Mahler”, disse) e Wolf. Por fim, repetiu Der Rattenfanger (“eu bem dei muitos beijos aos elementos da orquestra. Mas, está bem!, o tempo lá fora está horrível”, concluiu) e saiu a correr, voltando para mais um coro de aplausos.

Concerto memorável deste grande senhor que é Thomas Hampson!


Nota: último concerto no CCB e que bom! Ontem ouvia-se um silvo ténue do vento por entre as portas de acesso à plateia. Eu, lá em baixo, perto do palco, bem o ouvia quando o volume era mais baixo. Enfim...

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(Review in English)

CCB through the Gulbenkian Foundation received one of the world leading baritones, the American Thomas Hampson.
Asmsterdam Sinfonietta (chamber orchestra) conducted by Canadian violinist Candida Thompson accompanied Thomas Hampson. The concert was part of a European tour that started on 25 January and was concluded in Lisbon.

Here is the link to the room program where you can read the poems sung and its translation into Portuguese.

The program began with the interpretation by the Amsterdam Sinfonietta of Verklärte Nacht (Transfigured Night), Op. 4, Arnold Schonberg wrote at age 25. The piece of only a single movement is of delicate beauty, dramatic sounds that explores various colors and is based on the poem by Richard Dehmel, a dark poem about guilt and its transformation. The interpretation was astounding! Beyond this, the Amsterdam Sinfonietta also played the Italian Serenade in G Major of Hugo Wolf. The music is of quiet beauty and we heard a great interpretation.
Of note, Amsterdam Sinfonietta under the direction of violinist Candida Thompson was perfect throughout the concert.

Johannes Brahms followed Schonberg with the song cycle Ernste Gesänge Vier (Four Serious Songs), Op. 21, composed in 1896. Thomas Hampson sang songs by Brahms for the first time on this tour. The four songs are based on biblical texts of books Coeleth and Ben Sirah and First Epistle of Paul to the Corinthians. The tone of the text is dark with death as the background, undergoing a transformation in the last one that exalts charity as the greatest virtue.

After Brahms, we heard the song Dover Beach, op. 3, composed by Samuel Barber in 1950-51 at age 21. It is based on the poem by Matthew Arnold, English writer of the Victorian period, and is gloomy, speaking to us from the blackness of life and lack of dreams.

Of Franz Schubert we heard Memnon, D. 541 (1817) and Geheimes (The Secret), D. 719 (1821). The first text of Johann Baptist Mayrhofer is based on the myth of Memnon and speaks of a sad laments of an hero in search of "shining like a star pale and silent". Then, with text by Johann Wolfgang von Goethe, The Secret speaks of the beatitudes of love.

Of Hugo Wolf we heard 3 pieces. The song Fussreise (A walk) of Eduard Morike (1888) that tells of a hiker who compares paradise to the nature that delights him in the morning. Auf einer Wanderung (Traveling) also by Eduard Morike (1888) speaks of the wonder of a traveler touched by nature. Finally, Der Rattenfänger (The rat catcher) by Goethe (1890) tells the story of a seducer singer whose charms nobody resisted.

Noted that the works presented had arrangements for baritone and orchestra by composers Marijn van Prooijen and David Matthews, the latter present in the hall.

About Thomas Hampson will suit to say only his name. The rest is the legacy that accompanies him. His magnificent voice is of outstanding timbre and beauty, colossal power, maximum expressiveness and whose interpretations are glorious. We highlight, if we can, Dover Beach and Der Rattenfänger. Very nicely, he still sang Schubert, Mahler ("I can’t come to Lisbon and not singing Mahler" he said) and Wolf. Finally, he repeated Der Rattenfänger ("well! I gave many kisses to the orchestra players, but okay!, I know the weather outside is horrible," he said) and ran off, returning for one more chorus of applause.

Memorable concert of this great singer, Thomas Hampson!


Note: this was the last concert in CCB and it is good! Yesterday you could hear a faint hiss of wind through the access doors to the hall. Downstairs, near the stage, I listened it well when the volume was lower…