sábado, 30 de março de 2013

CAVALLERIA RUSTICANA, Zürich Opernhaus, Janeiro de 2013


(review in English below)

Cavalleria Rusticana é uma ópera em um acto de Pietro Mascagni com libretto de Giovanni Targioni-Torzetti e Guido Menasci.

Passada numa aldeia siciliana, é uma história de ciúme, traição e morte, do verismo italiano. Turiddu, noivo de Lola, cumpre o serviço militar e, quando regressa, constata que ela se casou com Alfio, um camponês rico. Turiddu tenta esquecer a sua mágoa com Santuzza, a personagem principal da ópera. Ela descobre que Turiddu volta a encontrar-se com Lola. Santuzza procura Turiddu na taberna da mãe, Lucia. Tomada pelo ciúme informa Alfio da infidelidade da mulher. Este confirma as suspeitas e desafia Turiddu para um duelo. A ópera termina com um grito anunciando a morte de Turiddu.


A encenação Grischa Asagaroff é excelente, recriando fielmente a ambiente da aldeia siciliana. A procissão é espectacular. No vestuário das mulheres domina a cor negra. A movimentação cénica é muito bem conseguida.


Alexander Vedernikov, maestro russo, brindou-nos com uma interpretação emotiva e inspirada, que muito contribuiu para a elevada qualidade do espectáculo. A Orquestra Philharmonia Zürich e o Coro da Ópera de Zurique estiveram em grande forma.

Nos solistas dominou a qualidade e homogeneidade.

Waltraud Meier, mezzo alemão, foi uma Santuzza assinalável. A voz, apesar da idade, continua expressiva, de timbre agradável e marcante em toda a extensão. Cenicamente excelente, é mais uma das poucas cantoras que é também uma exímia actriz.


O Turiddu do tenor sérvio Zoran Todorovich foi, igualmente, de excepção. Voz forte, imponente, afinada, perfeita para o papel. A presença cénica também impressionou muito positivamente.


A Lucia do mezzo suiço Irene Friedli foi muito agradável de apreciar, tanto na voz como na postura.

O barítono italiano Lucio Gallo fez um Alfio notável e a figura adapta-se bem ao papel. Já aqui referi várias vezes que reconheço bons atributos vocais a este cantor, apesar de não gostar dos trejeitos bocais que faz. Não evitou esse tique mas foi menos notório que noutras vezes.


Apesar de gostar bastante da música desta ópera, a récita a que assisti suplantou as minhas expectativas.












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CAVALLERIA RUSTICANA, Opernhaus Zürich, January 2013

Cavalleria Rusticana is an opera in one act by Pietro Mascagni with libretto by Giovanni Targioni-Torzetti and Guido Menasci.

The action occurs in a Sicilian village, and is a story of jealousy, betrayal and death. An opera of Italian verismo. Turiddu, Lola’ fiance, was doing his military service and when he returned, he found she had married Alfio, a rich peasant. Turiddu tries to forget his grief with Santuzza, the main character in the opera. She discovers that Turiddu meets Lola again. Santuzza looks forTuriddu at the tavern of his mother, Lucia. Taken by jealousy she tells Alfio about the infidelity of his wife. He confirms the suspicions and challenges Turiddu to a duel. The opera ends with a cry announcing the death of Turiddu.
The staging of Grischa Asagaroff is excellent, faithfully recreating the atmosphere of a Sicilian village. The religious march is spectacular. In the women's clothing dominates the color black. The scenic action is very well concieved.

Alexander Vedernikov, Russian conductor, offered us an emotional and inspired direction, which contributed greatly to the high quality of the performance. Philharmonia Zürich Orchestra and Chorus of the Zurich Opera house were great.

Among
soloists dominated the quality and homogeneity.
Waltraud Meier, German mezzo, was a remarkable Santuzza. The voice, despite her age, is still impressive and of pleasant timbre in all registers. Artistically she was outstanding, she is one of the few singers who is also an excellent actress.

Serbian tenor Zoran Todorovich was also an exceptional Turiddu. His voice is strong, beautiful, always tuned, perfect for the role. His stage presence was also very convincing.

Lucia of Swiss mezzo Irene Friedli was very pleasant in both vocal and stage performances.

Italian baritone Lucio Gallo was a remarkable Alfio and his figure is well suited to the role. I have already mentioned several times that I recognize good vocal attributes to this singer, though I do not like the funny gestures he does with his mouth while he sings. But this time these were less marked than in other times.

Although I quite like the music of this opera, this performance I attended surpassed my expectations.

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quarta-feira, 27 de março de 2013

UM REQUIEM ALEMÃO (EIN DEUTSCHES REQUIEM) DE JOHANNES BRAHMS – Fundação Calouste Gulbenkian – 26 Março 2013





Saindo das tradicionais Paixões de Bach, a Gulbenkian em 2013 decidiu trazer uma das maiores obras corais de sempre e, sem dúvida, o meu Requiem favorito: o Requiem Alemão de Brahms.

A Orquestra e o Coro Gulbenkian estiveram a um nível próximo do excelente ontem à noite, dirigidos por Michel Corboz. Os solistas Rachel Harnish e Rudolf Rosen, vozes potentes e de qualidade técnica de elevado nível, embora talvez nem todos apreciem o timbre de Rosen. O público respeitou o silencio no final da obra o que ajudou a elevar a sua solenidade e beleza.

A cantata nº 21 de Bach preencheu a primeira parte do concerto. O tenor Fernando Guimarães juntou-se aos solistas acima referidos, com apreciável capacidade emotivo-interpretativa, mas comparativamente com uma voz de menor projeção que os restantes. Na minha opinião não é das mais geniais das cantatas de Bach mas... é sempre Bach.

Boa Páscoa!



EIN DEUTSCHES REQUIEM - JOHANNES BRAHMS - Calouste Gulbenkian Foundation - March 26, 2013

Forgetting the traditional Passions of Bach, the Gulbenkian in 2013 decided to bring one of the greatest choral works of all time and undoubtedly my favorite Requiem: The German Requiem by Brahms.

The Gulbenkian Orchestra and Choir were at a level close to excellent last night, directed by Michel Corboz. The soloists Rachel Harnish and Rudolf Rosen with powerful voices and high level of technical quality, though perhaps not all appreciate the timbre of Rosen. The audience respected the silence at the end of the work which helped raise its solemnity and beauty.

The Bach's Cantata No. 21 filled the first part of the concert. The tenor Fernando Guimarães joined the aforementioned soloists, with considerable emotional and interpretative ability, but with a lower projection of voice when compared with the others. In my opinion it is not the most gifted of Bach Cantatas but ... is always Bach.

Happy Easter!


segunda-feira, 25 de março de 2013

Francesca da Rimini de Riccardo Zandonai — MetLive in HD, FCG, 23.03.2013


(Review in English below)

Riccardo Zandonai escreveu a ópera em quatro actos Francesca da Rimini em 1914 e apresentou-a, pela primeira vez, no Teatro Régio de Turim. O libreto de Tito Ricordi baseou-se na peça de Gabriele D’Annunzio que, por sua vez, se inspirou e adaptou livremente o episódio de Francesca da Rimini do Inferno de Dante.

A história básica não vai além de um banal e desinteressante quarteto amoroso — três irmãos apaixonados pela mesma mulher. Gianciotto, homem rude e deformado, casa-se com a bela Francesca que lhe fora prometida. Todavia, Francesca apaixona-se por Paolo (irmão de Gianciotto), um homem galante; Malatestino, o zarolho irmão mais novo de Paolo e Gianciotto, invejoso por não receber o amor da cunhada, lança-se em acusações contra o irmão Paolo. Nisto, Paolo e Francesca são apanhados em delito adúltero por Gianciotto que, cego de ciúme e afogado em desonra, comete um há muito esperado duplo homicídio passional... e Francesca morre nos braços de um igualmente defunto Paolo. Poderão ler uma sinopse aqui.
Poderei afirmar, com segurança, que o libreto é o elemento mais fraco da ópera. Não só não tem muito interesse poético, como é pouco verosímil e as suas cenas têm uma cadência pouco sequencial ou ligada. Em suma, de uma pobreza inesperada.


A encenação de Piero Faggioni foi a que o MET apresentou em 1986. Elegante, de excelente efeito visual e acompanhada de um guarda-roupa de nível, põe em evidência as diversas cenas da ópera de modo muito adequado e clássico.


A música de Zandonai é de qualidade, mas não é sumptuosa ou de um lirismo brilhante. Parece que fica aquém da grandeza melódica que, no imediato, sugere. A direcção de Marco Armiliato foi de muito bom nível, conduzindo a habitualmente excelente Orquestra do MET.

O soprano Eva Maria Westbroek foi a jovem Francesca. Tem uma voz com um timbre não especialmente belo, mas deu-nos uma boa interpretação. Apesar disso, lamenta-se uma dicção fraca do italiano, bem como um ou outro agudo mais rude.


O tenor Marcello Giordani foi Paolo. No papel de homem galante, apresentou-se com uma voz um pouco enfraquecida e num estilo demasiado piegas. Ainda assim, esteve bem num papel que, nas suas palavras, cantou “por ser fácil”. Assim se compreende a vasta lista que detém no MET… Adaptando a frase de Leporello em Don Giovanni: Madamina, il catalogo è questo delle opera qui cantò la voce mia...


O barítono Mark Delevan foi Gianciotto. O papel não é muito exigente vocalmente e esteve bem. Cenicamente foi-lhe pedido que fosse rude com toda a gente e amável com Francesca, o que não parece combinar bem com a deformidade física e carácter de homem guerreiro que ostenta.

O tenor Robert Brubaker foi Malatestino. Apresentou-se em bom nível, transmitindo, vocal e cenicamente, a ideia de um homem desagradavelmente mesquinho.


O quarteto de companheiras de Francesca (os sopranos Dísella Làrusdóttir e Caitlin Lynch; os mezzo-sopranos Patricia Risley e Renée Tatum) apresentaram-se em bom nível com destaque para os sopranos. Também o mezzo-soprano Ginger Costa-Jackson (Smaragdi, criada de Francesca) de muito agradável figura esteve em bom plano no seu modesto papel. Os restantes elementos têm participações residuais e estiveram bem.

Assim, podemos dizer que se assistiu a uma ópera com interpretações vocais de nível homogéneo e sem grandes destaques. A ópera de Zandonai (que é para muitos desconhecida) não é particularmente interessante em nenhum aspecto, pelo que não me posso dizer encantado.

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(Review in English)

Riccardo Zandonai wrote the opera in four acts Francesca da Rimini in 1914 and presented it for the first time at the Teatro Regio in Turin. The libretto by Tito Ricordi was based on the play by Gabriele D'Annunzio who, in turn, was inspired and adapted freely Francesca da Rimini episode of Dante's Inferno.

Basically, the plot is not going beyond a banal and uninteresting loving quartet - three brothers in love with the same woman. Gianciotto, rude and deformed man, marries the beautiful Francesca promised to him. However, Francesca falls in love for Paolo (brother of Gianciotto), a gallant man; Malatestino, the one-eyed younger brother of Paolo and Gianciotto, envious for not receive the love of his sister-in-law, launches him into charges against his brother Paolo. Herein, Gianciotto catches Paolo and Francesca in adulterous crime, and jealousy blind and drowned in disgrace, makes a long-awaited passionate double homicide... Francesca dies in the arms of an equally deceased Paolo... You can read a synopsis here.
I can say with certainty that the libretto is the weakest element of the opera. Not only has not much poetic interest, as their scenes have a little cadence or are sequential or linked. In short, it was of an unexpected poverty.

The staging of Piero Faggioni was presented to the MET in 1986. Elegant, with excellent visual effect and accompanied by a high level wardrobe, it highlights the various scenes of the opera in a very appropriate and classic way.

Zandonai’s music has indeed quality, but is not sumptuous or of a brilliant lyricism. It seems that falls short, despite the greatness of some melodic themes immediately suggests. The direction of Marco Armiliato was of very good level, leading the usually excellent MET Orchestra.

The soprano Eva Maria Westbroek was the young Francesca. She has a voice with a timbre not particularly beautiful, but gave us a good interpretation. Nevertheless, I lament a weak Italian diction, as well as some ruder acute.

The tenor Marcello Giordani was Paolo. In the role of a gallant man, presented with a weakened voice and in a style too slobbery. Still, he was good in a role that, in his words, sang "because it is easy." Once you understand the vast list that he holds at MET… Adapting a phrase from Leporello in Don Giovanni: Madamina, il catalogo è questo delle opera qui cantò la voce mia...

The baritone Mark Delevan was Gianciotto. The role is not very demanding vocally and he did well. Scenically was asked to be rude to everyone and kind with Francesca, which does not seem to match well with his physical deformity and character of a warrior man.

The tenor Robert Brubaker was Malatestino. He performed at a good level, transmitting, vocal and scenically, the idea of an unpleasant stingy man.

The quartet mates Francesca (the sopranos Dísella Larusdottir and Caitlin Lynch, the mezzo-sopranos Renée Tatum and Patricia Risley) were at a good level with emphasis on the sopranos. Also the beautiful mezzo-soprano Ginger Costa-Jackson (Smaragdi, created by Francesca) was in good plan in her modest role. The remaining elements have been well on their residual roles.

So I can say that there has been an opera with homogeneous vocal interpretations with no major highlights. Zandonai's opera (which is unknown to much) is not particularly interesting in any aspect, so I cannot say I was enchanted.

sábado, 23 de março de 2013

Requiem de Verdi — Casa da Música, Porto — 22.03.2013


(Review in English below)

O Requiem que Giuseppe Verdi compôs em 1874 em memória do escritor Alessandro Manzoni é um obra de uma dimensão tal que a torna uma peça fundamental no âmbito da música sacra.


A sua musicalidade é tremenda, possui um poder absolutamente sobrenatural bem evidenciado em várias secções nomeadamente o Dies Irae ou o Rex Tremendae. Consegue, também, aliar quatro solistas, todos eles com intervenções de uma qualidade musical sem par, a um coro omnipresente como só Verdi soube usar. É, por tudo isso, considerada, por alguns, como uma das melhores obras de Verdi e é, sem dúvida, um dos mais belos e poderosos Requiem jamais escritos.


A Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música e o Coro Casa da Música foram dirigidos pelo maestro russo Michail Jurowsky


A Orquestra apresentou-se num nível razoável, com um bom plano global, apesar de, por vezes, ter havido alguns desencontros. O Coro, apesar de muito jovem e, naturalmente, inexperiente, esteve, também, em bom plano, embora com algumas heterogeneidades entre os grupos de vozes.


Quantos aos solistas. O soprano russo Evelina Dobraceva esteve muito abaixo do exigível, com uma interpretação deficiente, quase inaudível sobretudo no registo grave.


O mesmo não se diz do mezzo-soprano russo Ekatarina Semenchuk. Tem um timbre de mezzo verdiano belíssimo, sabia o texto de memória e interpretou a obra com elevada qualidade, tendo sido, de muito longe, o melhor elemento da récita. 


O tenor norte-americano Michael Spyres esteve, inicialmente, com algumas dificuldades na projecção vocal, tendo melhorado ao longo da récita. Possuiu um timbre bonito e que se adapta bem ao papel e esteve em bom nível no Ingemisco e Hostias.


O baixo grego Christophoros Stamboglis teve, também, dificuldades na projecção vocal, tendo-se apresentado num plano razoável.

Assistimos, assim, a uma interpretação digna do Requiem de Verdi, do qual destacamos a interpretação de qualidade elevada de Ekatarina Semenchuk, além, obviamente, da música de absoluta maestria de Verdi.

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(Review in English)

The Guiseppe Verdi’s Requiem, which he composed in 1874 in memory of the writer Alessandro Manzoni, is a work of such a dimension that makes it a critical piece of sacred music ever written. Their musicianship is tremendous, and has an absolute supernatural power well evidenced in several sections including the Dies Irae or Rex Tremendae. Verdi can also combine four soloists, all with musical interventions of unequalled quality, to a ubiquitous chorus as only Verdi knew to explore. It is, by all that regarded by some as one of the best works of Verdi and is undoubtedly one of the most beautiful and powerful Requiem ever written.

Russian conductor Mikhail Jurowsky led the Symphony Orchestra of Porto Casa da Musica and Choir Casa da Musica. The Orchestra has performed at a reasonable level, with a good overall plan, though, sometimes have been some tempo miscalculations. The Choir, although very young and naturally inexperienced, was also in good plan, but with some heterogeneity between groups of voices.

About the soloists, the Russian soprano Evelina Dobraceva was much inferior than required, with a poor interpretation, barely audible especially in the grave registration. The same cannot be said of the Russian mezzo-soprano Semenchuk Ekatarina. She has a beautiful timbre of Verdian mezzo, knew the text by memory and performed the piece with high quality and has been, by far, the best element of recitation. American tenor Michael Spyres was initially with some difficulties in vocal projection, having improved over the recitation. He owns a beautiful timbre that fits the role well and was in good level and in Ingemisco and Hostias. The Greek bass Christophoros Stamboglis had also difficulties in vocal projection, and has presented in a reasonable plan.

We witnessed thus a worthy interpretation of Verdi’s Requiem, of which we highlight the high quality of Ekatarina Semenchuk interpretation, besides, obviously, the absolute mastery of Verdi’s music.