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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

LA FORZA DEL DESTINO, Teatro Regio di Parma, October / Outubro 2022

(review in English below)

A minha participação no Festival acabou da melhor maneira. Esta Forza del Destino foi incrível em todos os aspectos. A encenação é do mais tradicional que possa imaginar e, na sua simplicidade, foi grandiosa porque com cantores-atores deste calibre, mesmo que não existisse, em nada reduzia a experiência. Se a pudesse resumir, fá-lo-ia como uma sequência de recortes dos locais onde cada cena, cada acto, se desenrola, sobre um fundo temporal (crepúsculo, noite, luar…). O que mais gostei foi a cena do Mosteiro onde, com a simplicidade que referi, sobre um fundo de noite com lua cheia, o mosteiro é como que em formato um recorte de cartolina, inclinado para a direita, com um adro com uma cruz que se inclina para o outro lado - penso que a ideia da inclinação do mosteiro para o direita e da cruz para a esquerda, nos traz a ideia, mesmo antes da cena acabar, que Leonora vai ali conseguir apoio/proteção porque parece que se abraçam.

A direção de Roberto Abbado foi intensa e precisa, com a orquestra a responder muito bem, muito coesa e oferecendo toda a beleza de linhas melódicas líricas que esta ópera tem. O Coro, não do Regio de Parma mas o do Comunale de Bologna (algo que levou a grandes críticas na estreia…) esteve impecável, quer nas passagens mais dramáticas quer nas mais cómico-populares.

Com um elenco de grandes nomes verdianos, a expectativa de uma grande noite era imensa. E assim foi. Gregory Kunde, nos seus 68 anos, foi impressionante. Todos, mas totalmente todos, os seus passos, expressões, movimentos foram perfeitamente tradutores do correcto sentimento da personagem em cada momento. Realmente viveu o papel com uma mestria rara de se ver em palco. A voz continua em grande forma e, mais do que isso, consegue uma variedade de “cores” que não são habituais de se ouvir. A célebre ária de Don Alvaro no início do 3º acto foi perfeita, com os agudos fortes, estáveis e com timbre polido, entrecruzados com um registo médio quente, por vezes algo metalizado, e onde a dinâmica eximiamente ajustada ao sentimento, fazia parecer que ouvíamos vários tipos de vozes a sair do mesmo cantor ao mesmo tempo. 

Os duetos com o Don Carlo de Amartuvshin Enkhbat foram simplesmente geniais a todos os níveis. A voz do mongol é impressionante e ele usa-a bem do ponto de vista dramático, quase sempre expressando correctamente o sentimento do texto. Contudo, em grande parte das vezes não se tem uma clara noção da expressão facial, o que é pena porque isso elevaria ainda mais as qualidades deste barítono. 

Liudmyla Monastyrska esteve muito bem, embora com um vibrato que, se fosse menos marcado, tornaria o canto mais bonito. 

Roberto de Candia fez um Melitone equilibrado, sem exageros desnecessários no sentido cómico a que a personagem se predispõe. 

Agora as duas grandiosas surpresas para mim foram a Preziosilla de Annalisa Stroppa 

e o Padre guardiano de Marko Mimica

A italiana, de excelente figura, jovem, tem uma voz fenomenal, uma destreza em palco e uma identificação apaixonante pelo papel. Mas o baixo Marko Mimica, de 35 anos, não lhe fica atrás e, confesso, que foi o maior factor surpresa desta récita para mim. Vemos entrar um jovem, bem apessoado, em traje de monge, num papel que parece para alguém com mais idade, mas esta sensação de inconsistência desaparece quando ouvimos a voz. É brutal! 

Um espectáculo fantástico.



(Texto de Wagner_fanatic)


LA FORZA DEL DESTINO, Teatro Regio di Parma, October 2022

My participation in the Festival ended in the best way. This Forza del Destino was amazing in every way. The staging is as traditional as you can imagine and, in its simplicity, it was great because with singer-actors of this caliber, even if it didn't exist, it in no way reduced the experience. If I could summarize it, I would do it as a sequence of clippings of the places where each scene, each act, takes place against a temporal background (twilight, night, moonlight…). What I liked the most was the scene of the Monastery where, with the simplicity I mentioned, against a background of night with a full moon, the monastery is like a cardboard cutout, inclined to the right, with a churchyard with a cross that leans to the other side - I think the idea of ​​the monastery leaning to the right and the cross to the left, brings us the idea, even before the scene ends, that Leonora goes there to get support/protection because it seems that they embrace.

Roberto Abbado's direction was intense and precise, with the orchestra responding very well, very cohesive and offering all the beauty of lyrical melodic lines that this opera has. The choir, not from the Regio de Parma but from the Comunale de Bologna (something that led to great criticism at the premiere...) was impeccable, both in the most dramatic passages and in the most comic-popular ones.

With a cast of great Verdean names, the expectation of a great night was immense. And so it was. Gregory Kunde, in his 68 years old, was impressive. All, but totally all, his steps, expressions, movements were perfectly translators of the correct feeling of the character in each moment. He really lived the role with a mastery rare to see on stage. His voice is still in great shape and, more than that, it achieves a variety of “colors” that are not usual to hear. Don Alvaro's famous aria at the beginning of the 3rd act was perfect, with strong, stable highs with a polished timbre, crisscrossed with a warm midrange, sometimes something metallic, and where the dynamics expertly adjusted to the feeling, made it seem like we were listening different types of voices coming out of the same singer at the same time.

The duets with Don Carlo by Amartuvshin Enkhbat were simply genius on every level. The Mongolian's voice is impressive and he uses it well from a dramatic point of view, almost always correctly expressing the sentiment of the text. However, most of the time we don't have a clear notion of the facial expression, which is a pity because that would elevate the qualities of this baritone even more.

Liudmyla Monastyrska was very good, although with a vibrato that, if it were less marked, would make the singing more beautiful.

Roberto de Candia made a balanced Maeitone, without unnecessary exaggerations in the comic sense to which the character is predisposed.

Now the two big surprises for me were Annalisa Stroppa's Preziosilla and Father Guardiano by Marko Mimica. The Italian, with an excellent figure, young, has a phenomenal voice, a dexterity on stage and a passionate identification with the role. But the bass Marko Mimica, 35 years old, is not far behind her and, I confess, was the biggest surprise factor of this performance for me. We see a handsome young man in monk's garb enter a role that looks like an older person, but this sense of inconsistency disappears when we hear the voice. It's brutal!

A fantastic performance.

(Text by Wagner_fanatic)

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

LUISA MILLER, Liceu Barcelona, Julho / July 2019



(review in English below) 

Texto de wagner_fanatic

A encenação de Damiano Michieletto é genial. Mas isto não está muito famoso aqui para os lados do Liceu... Até agora, quem brilha no binómio voz-interpretação é... a Duquesa (J’Nai Bridges)! Muito boa!



A seguir o Conde (Dmitry Belosselskiy) a nível similar.  O Piotr Beczala soberbo na voz, o ponto mais alto da ópera até agora foi o dueto com a Duquesa, mas agora no final do 1º acto a não conseguir convencer cenicamente contra o pai, no desespero de amor.





A Sondra Radvanovsky esqueçam... muito bem caracterizada, parece mais nova do que realmente é, consegue uma precisão nos agudos e com pianos/pianíssimos interessantes mas não consegue disfarçar aquele timbre “bruto” e, se coisa Luisa Miller não é, é “bruta”.





O Miller de Michael Chioldi é fraco. A figura é boa para o papel, a voz não é feia, mas interpreta muito abaixo do que se espera para este papel que quer alguém assertivo na voz, receoso pela filha mas forte e destemido principalmente no Fra’mortali ancora opressa. Este Miller não é um “antigo soldado”. Oh grande Nucci!!! Só ele salvava isto!!!






Até agora, largos pontos abaixo da Luisa Miller de Zurique do ano passado! Vamos ver o que se segue.

2º e 3º actos a subir exponencialmente!!! Beczala Fantástico!!! Do outro mundo, mesmo!!! De deitar o Liceu abaixo!!! O “Quando al sere placido” foi indiscritível. E eu adoro esta encenação e tem nesta fase um pormenor cénico que do ponto de vista dramático é sublime. E o final “oteliano” foi de antologia.




Esqueci-me de falar do Wurm antes mas Marko Mimica foi também um senhor!!!



O Chioldi interpretativamente um pouco melhor mas a faltar algo mais. A Luisa, o melhor que fez foi o dueto com o Wurm no 2º acto culminado num excelente Tu puniscimi mas sempre que abre em turbo lá vem o vibrato que parece vir do palato e que estraga tudo... felizmente não estragou muito o final da ópera!





Assustei-me com o 1º acto mas valeu muito pelos 2º e 3º.







LUISA MILLER, Liceu Barcelona, July 2019

Text by wagner_fanatic

Damiano Michieletto's staging is brilliant. But the performance is not very impressive here for the Liceu ... So far, the best in voice-interpretation binomial was ... the Duchess (J'Nai Bridges)! Very good!

Followed by the Count (Dmitry Belosselskiy) at a similar level. The superb Piotr Beczala performed the highest moment of the opera so far, the duet with the Duchess. But now, at the end of the first act, he was not able to convince scenically against the father, in the despair of love.

Forget Sondra Radvanovsky ... very well characterized, looks younger than she really is, gets a high-pitched precision with interesting piani / pianissimi but she can't disguise that "hard" tone, what Luisa Miller isn't.

Michael Chioldi's Miller was weak. The figure is good for the role, the voice is not ugly, but he interpreted far below what is expected for this role that demands someone assertive in voice, afraid for her daughter but strong and fearless mainly in the oppressive Fra’mortali ancora opressa. This Miller was not an “old soldier”. Oh great Nucci !!! Only he would save this !!!

So far, points below last year's Luisa Miller at Zurich! Let's see what follows.

Second and Third acts rising exponentially !!! Beczala was fantastic!!! Out of this world, really !! To throw Liceu down !!! The " Quando al sere placido " was indescribable. And I love this staging and it has at this stage a scenic detail that is dramatically sublime. And the “otellian” ending was anthology.

I forgot to mention Wurm but Marko Mimica was also very good!

Chioldi was a little better but missing something else. Sondra, the best she did was the duet with Wurm in the second act culminating in an excellent Tu puniscimi but whenever she opened in turbo there came the vibrato that seemeed to come from the palate and that spoils everything ... fortunately it didn't spoil the end of the opera!

I was scared after the first act but it was very worth it for the 2nd and 3rd.

terça-feira, 9 de julho de 2019

I PURITANI, Liceu, Barcelona, Outubro / October 2018



(review in English below)

Depois do camo_opera ter assistido à estreia deste espectáculo, como relatou aqui, tive também a oportunidade de o ver, umas semanas mais tarde, já depois de ter morrido a grande soprano catalã Montserrat Caballé. Tivemos, no início uma curta homenagem, onde ouvimos um pequeno excerto da Casta Diva, cantada no período áureo da Caballé.

Não vou repetir os comentários à encenação de Annilese Miskimmon reposta por Deborah Cohen feita pelo camo_opera, com os quais concordo. Vê-se bem e percebe-se claramente o enredo, apesar das transposições de 3 séculos.



I Puritani é mais uma ópera típica do belcanto, a última que Bellini compôs. Para ser apreciada na sua plenitude exige cantores de topo nos protagonistas e foi isso que tivemos no Liceu de Barcelona.

O maestro Christopher Franklin foi aceitável na direcção da Orquestra do Liceu.



Pretty Yende, soprano sul africana, foi sublime como Elvira. É uma cantora que muito gosto (foi ela que me fez vir a Barcelona) e, mais uma vez, esteve a nível superlativo. A voz é limpa, sempre afinada, timbre maravilhoso, agudos inacreditáveis, extensão e potência notáveis e nunca grita. Em cena é muito credível, representa também muito bem e a juventude faz o resto.



O Javier Camarena, tenor mexicano (o que terá a América Latina para “produzir” todos os grandes tenore di grazia das últimas décadas?), esteve ao nível da Yende no papel de Arturo. Voz de uma beleza invulgar, enchendo sempre o teatro, agudos estratosféricos e sem perderem a mínima qualidade são, entre outras, as características do seu desempenho vocal. A figura não ajuda muito mas logo que começa a cantar, deixamos de o ver. Fabuloso.
Também acho que são os dois melhores cantores de belcanto da actualidade.



O barítono Mariusz Kwiecien nunca falha e, mais uma vez, esteve em grande nível como Riccardo. Sólido na interpretação vocal, voz firme, bem timbrada e sempre afinado.



Também muito bem esteve o baixo barítono Marko Mimica como Giorgio. Tem várias intervenções, foi sempre muito sólido, a voz é forte, agradável e expressiva, apenas não tem graves profundos, como por vezes seriam necessários.



Dos restantes cantores, Gianfranco Montresor como Gualtiero esteve bem, Lidia Vinyes-Curtis aceitável como Enrichetta, e Emmanuel Faraldo mal se ouviu como Bruno.

Mas foi um espectáculo fabuloso, sobretudo devido à Pretty Yende e ao Javier Camarena.







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I PURITANI, Liceu, Barcelona, ​​ October 2018

After camo_opera watched the premiere of this performance, as he reported here, I also had the opportunity to see it a few weeks later, after the death of the great Catalan soprano Montserrat Caballé. At the beginning we had a short tribute, where we heard a small excerpt from Casta Diva, sung in the golden period of Caballé.

I will not repeat the comments to Annilese Miskimmon's (adapted by Deborah Cohen) production  written by camo_opera, with which I agree. It is pleasant and one clearly perceives the plot, despite transpositions of three centuries.

I Puritani is another opera typical of belcanto, the last one Bellini composed. To be appreciated in its fullness it requires top singers in the leading roles and that was what we had at the Liceu Barcelona.

Maestro Christopher Franklin was acceptable in the direction of the Liceu's Orchestra.

Pretty Yende, South African soprano, was sublime as Elvira. She is a singer that I like (she was the one who made me travel to Barcelona) and, once again, she was at a superlative level. The voice was clean, always tuned, wonderful timbre, unbelievable top notes, remarkable extension and power, and she never screamed. On stage she was very credible.

Javier Camarena, Mexican born tenor (what does Latin America have to "produce" all the great tenore di grazia of the last decades?), was at the level of Yende in the role of Arturo. The voice was of an unusual beauty, always well heard, stratospheric top notes and without losing the minimum quality were, among others, the characteristics of his vocal performance. The figure did not help much but once he began to sing, we stopped seeing him. Fabulous. I also think they are the two best belcanto singers of the present.

Baritone Mariusz Kwiecien never fails and, once again, was at top level as Riccardo. Solid in vocal interpretation, firm voice, always tuned.

Also very well was bass baritone Marko Mimica as Giorgio. He has several interventions, the voice is strong, very pleasant and expressive, he just has no deep bass, as it would sometimes be necessary.

Of the remaining singers, Gianfranco Montresor as Gualtiero was well, Lidia Vinyes-Curtis was acceptable as Enrichetta, and Emmanuel Faraldo was barely heard himself as Bruno.

But it was a fabulous performance, especially due to Pretty Yende and Javier Camarena.

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