Idomeneo, Re di Creta é uma
opera seria de W. A. Mozart com libretto de Giambattista Varesco. A acção passa-se na ilha de Creta, depois da guerra de Tróia.
A princesa troiana Ilia, após a queda de Tróia, está prisioneira do rei grego Idomeneo e ama secretamente o seu filho Idamante que, num gesto de boa vontade e como prova de amor por ela, liberta os presos de guerra troianos. Entretanto Idomeneo, após uma longa ausência, quase morre, vítima de uma forte tempestade desencadeada por Neptuno, deus do mar. Para se salvar, promete sacrificar-lhe o prmeiro ser humano que encontrar no seu regresso.
O filho Idamante é a primeira pessoa que o recebe em Creta e, depois de se reconhecerem, é repelido brutalmente pelo pai, sem perceber porquê. Para não ter que matar o filho, Idomeneo manda-o para Argos na companhia de Electra, uma princesa grega. Ilia revela ao rei o seu amor pelo filho. Neptuno, para castigar a traição de Idomeneo, lança uma nova tempestade com um terrível monstro marinho que impede a partida de Idamante, o que deixa a população de Creta em pânico.
Nos jardins do palácio real Ilia e Idamante cantam o seu amor quando surgem Electra e Idomeneo, que manda o filho partir sem demora. Idamante recusa e diz preferir a morte. Arabace, confidente do rei, informa-o que o povo o quer confrontar com a destruição que o monstro marinho está a causar. É então decidido concretizar o sacrifício, apesar de um coro anunciar que Idamante venceu o monstro. Quando a morte está prestes a acontecer, Ilia oferece-se para tomar o lugar do seu amado. Ouve-se a voz de Neptuno dizer que prevaleceu o amor e que exige apenas que Idomeno abdique em favor do filho.Todos, excepto Electra, rejubilam. Começará uma nova era de paz sob o reinado de Idamante e Ilia.
Parte das fotografias são de Bernd Uhlig
A encenação do belga Ivo van Hove é trazida para os dias de hoje e centra-se no terrorismo, na guerra, na chacina de inocentes e tudo o que gravita à roda do tema. O catraz que anuncia a ópera é uma fotografia do Hotel Taj Mahal em Mumbai, Índia, quando foi atacado por um comando terrorista. Mas o que se viu no espectáculo foi bem mais chocante! Recorrendo frequentemente à projecção vídeo, recordou-se um pouco de tudo. Os cenários eram parcos, havia estruturas metálicas sobre o palco, montou-se uma sala de conferências para políticos e militares e no 3º acto apareceram plantas, flores e muitas, muitas garrafas, tudo de plástico (o jardim do palácio do rei). Ao fundo, num ecran gigante, projectavam-se as imagens.
A ópera começa com Idomeneo e o filho ainda criança a verem a actuação da Al-Qaeda na televisão. Depois, ao longo de todo o espectáculo, transmitem-se ataques terroristas com grande número de mortes e cenas explícitas de corpos estropiados, aviões a desembarcarem tanques de guerra ou caixões cobertos com a bandeira norte americana, cenas de guerra, etc. No palco é montada uma sala de conferências de imprensa, com toda a tecnologia moderna, com projecção vídeo dos conferencistas para o grande ecran. A parte mais violenta foi a encenação de um ataque por um bombista suicida na sala, com o ferimento e morte de várias crianças presentes. Se tudo isto foi uma metáfora à maldição de Neptuno que o encenador pretendeu mostrar, foi muito exagerada, perturbadora e feriu, mortalmente, o prazer de assistir tranquilamente ao espectáculo.
O coro e a orquestra, sob a direcção do jovem maestro francês Jérémie Rhorer, foram o melhor da noite. Fechando-se os olhos, ouvia-se Mozart com qualidade.
Os cantores andaram todos pela mediania banal. O tenor americano
Gregory Kunde foi um Idomeneo decente e bem audível, embora com agudos deficientes. A mezzo-soprano sueca
Malena Ernman fez um Idamante melhor cenicamente do que vocalmente, mas ainda assim foi uma das melhores. A soprano
Ingela Bohlin (uma substituição de última hora) foi uma Ilia de timbre agreste e que, por vezes, mal se ouvia e a soprano búlgara
Alexandrina Pendatchanska foi uma Electra de voz pequena e inaudível sobre a orquestra.
Hesitei muito em escrever esta crítica, mas acabei por fazê-lo. Incluo algumas imagens mostradas (em vídeo) ou presentes no programa do espectáculo, para dar uma ideia da violência seleccionada. Contudo, não escolhi as que conisdero mais chocantes.
O histórico Teatro La Monnaie é um edifício de beleza apreciável, em particular a sala principal. Fiquei num dos melhores lugares do balcão (consegui um bilhete de uma desistência no último momento) mas, mesmo assim, não ouvia bem os cantores, ao contrário da orquestra e do coro...
Que saudades da versão de concerto na Gulbenkian em Maio de 2008 com Fabio Biondi e a Europa Galante e, como solistas, Ian Bostridge, Jurgita Adamonyte, Kate Royal e, sobretudo, Emma Bell!
*