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sábado, 12 de novembro de 2022

IDOMENEO, METropolitan OPERA, New York, Outubro / October 2022

(Review in English below)

Idomeneo de WA Mozart esteve em cena na Metropolitan Opera

Em Creta está presa a princesa troiana Ilia, apaixonada pelo príncipe Idamante, filho do rei Idomeneo, ausente há muitos anos e que é dado como morto, afogado. Elettra é também uma princesa apaixonada pelo príncipe. Idomemeo pede a Neptuno que o salve e promete em contrapartida um sacrifício humano da primeira pessoa que encontrar na praia. Essa pessoa é o seu filho Idamante. Para não o matar, manda-o partir para longe, com a princesa Elettra. Para castigar a traição de Idomeneo, Neptuno desencadeia uma tempestade sobre Creta, mesmo depois de o rei se oferecer para morrer. Quando o rei se prepara para sacrificar o filho, Ilia oferece-se no seu lugar. Neptuno ordena que Idomeneo abdique e nomeia como reis Idamante e Ilia. Elettra enlouquece e morre.

A encenação de Jean-Pierre Ponnelle é simples, convencional, mas muito eficaz. A figura do deus Neptuno está quase sempre presente, dando enquadramento ao desenrolar da acção.


A excelente direcção musical foi de Manfred Honeck e a Orquestra e Coro estiveram ao mais alto nível.

E os cantores foram todos excelentes. A soprano Ying Fang foi uma Ilia excepcional. Voz de timbre muito bonito, poderosa, sempre afinada e com pianíssimos fantásticos.


A mezzo Kate Lindsey no papel masculino de Idamante teve uma excelente interpretação cénica e vocal, bem audível, muito expressiva e emotiva.

A soprano Federica Lombardi foi uma Elettra de referencia e, na aria final “D’Oreste , d’Ajace”, uma das primeiras cenas de loucura na ópera, foi insuperável.


O Idomeneo do tenor Michael Spyres foi outro intérprete superlativo, com voz poderosa, afinada e transbordando emoção.


O tenor Paolo Fanale fez um Arabace correcto e o tenor Issachah Savage também impressionou como Grande Sacerdote.

Um espectáculo de invulgar qualidade.




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IDOMENEO, METropolitan OPERA, New York, October 2022

Idomeneo by WA Mozart was on stage at the Metropolitan Opera.
In Crete, the Trojan princess Ilia is imprisoned, in love with Prince Idamante, son of King Idomeneo, who has been absent for many years and is presumed dead, drowned. Elettra is also a princess in love with the prince. Idomemeo asks Neptune to save him and promises in return a human sacrifice from the first person he finds on the beach. That person is his son Idamante. In order not to kill him, he sends him away, with Princess Elettra. To punish Idomeneo's betrayal, Neptune unleashes a storm over Crete, even after the king offers to die. As the king prepares to sacrifice heis son, Ilia offers herself in his place. Neptune orders Idomeneo to abdicate and names Idamante and Ilia as kings. Elettra goes mad and dies.

Jean-Pierre Ponnelle's staging is simple, conventional, but very effective. The figure of the god Neptune is almost always present, framing the unfolding of the action.

The excellent musical direction was by Manfred Honeck and the Orchestra and Choir were at the highest level.

And the singers were all excellent. Soprano Ying Fang was an exceptional Ilia. Very beautiful, powerful voice, always in tune and with fantastic pianissimi.

Mezzo Kate Lindsey in the male role of Idamante had an excellent scenic and vocal performances, well audible, very expressive and emotional.

Soprano Federica Lombardi was an Elettra of reference and, in the final aria “D’Oreste, d’Ajace”, one of the first mad scenes in opera, was unsurpassed.

Tenor Michael Spyres' Idomeneo was another superlative performer, with a powerful, tuned voice overflowing with emotion.

Tenor Paolo Fanale was a correct Arabace and tenor Issachah Savage also impressed as a High Priest.

A performance of unusual quality.

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terça-feira, 20 de março de 2018

IDOMENEO de W. A. MOZART — Teatro Nacional de São Carlos, 16.03.2108


A ópera em 3 actos Idomeneo, K. 366, foi estreada em Munique no ano de 1781 sob a direcção do próprio compositor: o jovem de 24 anos Wolfgang Amadeus Mozart. O libreto foi da responsabilidade de Giambattista Varesco a partir do texto de Antoine Danchet.

A acção decorre em Creta depois da Guerra de Tróia e trata do amor e do ciúme, da ambivalência entre as promessas divinas e os deveres de amor filial.

É uma ópera séria em italiano cujo drama é apresentado numa sequência de quadros dramáticos sublime e com uma música complexa, rica, ritmada, opulenta e harmoniosa típica de Mozart. É, por tudo isso, uma ópera muito bonita e agradável de seguir.

O Teatro Nacional de São Carlos apresentou uma nova produção de Yaron Lifschitz que, globalmente, permitiu o desenrolar da acção sem percalços ou perplexidades. A acção decorre em torno de uma cratera central à volta da qual as personagens se deslocam sem grande sentido. Depois, as diferentes árias vão sendo apresentadas, por regra, à boca de palco, por vezes com o pano fechado, o que nos transporta para o interior da personagem. No final, Idomeneo comunica ao povo a sua decisão sentado numa cadeira em frente a um microfone, sendo a sua imagem projectada numa tela que ocupa todo o palco, como se de uma transmissão televisiva se tratasse, no mais vistoso efeito de uma encenação cinzenta.

O pior elemento da récita foi, infelizmente, a Orquestra Sinfónica Portuguesa sob a direcção de Christian Curnyn que se viu “grega” para soar Mozart. Foi sofrível em todos os naipes e valeu-nos a capacidade de imaginar que era Mozart.

O Coro do Teatro Nacional de São Carlos também não esteve particularmente bem, sobressaindo algumas estridências que se disfarçavam em tutti e o falhanço total dos elementos masculinos no primeiro acto.


As vozes solistas, por regra, salvaram a récita.

Com grande destaque esteve a Illia de Ana Quintans. A voz é muito bonita, com o tamanho certo para estes papéis, sempre bem projectada a que associa um fraseado lindíssimo, muito elegante, e uma dicção perfeita. À óptima interpretação vocal juntou uma capacidade expressiva intensa que nos transportou para o mundo da personagem de forma exemplar, nomeadamente em Zeffiretti lusinghieri.

O Idamante de Caitlin Hulcup foi muito consistente, com uma voz agradável, sempre bem audível e com uma expressividade adequada ao papel. A caracterização e figura tornaram Idamante muito credível.

Sophie Gordeladze foi Elettra. A voz é bonita e tem uns agudos cristalinos e seguros que se sobrepuseram a uma interpretação algo apática, nomeadamente em D’Oreste, d’Ajace.

O Idomeneo de Richard Croft também esteve muito bem do ponto de vista cénico e a sua interpretação vocal foi globalmente agradável com um timbre e fraseado adequados a Mozart.

Marco Alves do Santos foi um Arbace regular. A voz é grande e bonita, mas denota algumas dificuldades neste registo mozartiano, tendo estado francamente abaixo das suas muito boas interpretações em Britten e Strauss.

O sumo-sacerdote de Bruno Almeida esteve bem no seu pequeno papel e a voz de Netuno de Rui Baeta destacou-se por ter sido um falhanço total.

A récita foi, pois, agradável porque a música de Mozart é sublime e porque a Ana Quintans esteve em São Carlos. 

Nota: É uma pena que a direcção do Teatro se preocupe tanto em impedir que se tirem fotografias durante os aplausos… Dever-se-iam preocupar mais em garantir o conforto dos espectadores melhorando as cadeiras da sala e diminuindo a temperatura digna de uma sauna…

sábado, 21 de abril de 2012

Idomeneo, Theatro Municipal de São Paulo


AS SURPRESAS DE IDOMENEO NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO.

Theatro Municipal de São Paulo

Mais um texto de Ali Hassan Ayache do blogue Música, Ópera & Ballet que agradecemos e publicamos na íntegra:

O anúncio oficial, do nobre Theatro Municipal de São Paulo, informa que a apresentação da ópera Idomeneo de Mozart como "concerto cênico". Não foi o que aconteceu, a surpresa foi ver a ópera com montagem completa. Tomei um susto quando entrei no teatro e vi a orquestra no alto e na frente, imaginei qual era a surpresa? Depois da abertura ela desceu suavemente para seu devido lugar.

Surpresa amarga: Diretores de ópera tem a mania de querer transportar a ação para tudo quanto que é lugar. Alguns adoram o atemporal, outros gostam de avançar algumas décadas e os mais ousados falam em séculos. Não tenho nada contra esse tipo de ideia. O perigo das transposições é cair no ridículo em algumas cenas, é o exagero na "concepção". O Idomeneo apresentado no último dia 14/04/2012 teve direção cênica de Regina Galdino, a nobre diretora extrapolou no direito de viajar na ação. Transpôs tudo para a atualidade onde deuses da mitologia grega viram banqueiros inescrupulosos, o povão se manifesta contra os altos juros cobrados e a bolsa de valores cai. Concepção que não combina com o tema, a mitologia greco-romana.

Conversas por computador e presos oprimidos tentam mostrar o lado atual da concepção, fica tudo embolado. É complicado adequar mitologia aos dias atuais. Figurinos normais, o deus Netuno aparece com roupas estampadas em reais e dólares. A ideia de colocar o deus em cena não é nenhuma novidade, já foi utilizada em Salsburg/2006. O deus tinha roupas mais adequadas a um ser celeste.


 Defendo a apresentação da obra conforme escrita pelo compositor, sou purista nesse ponto. A ideia de tirar os longos e muitas vezes cansativos recitativos e colocar uma narradora deu uma bela dinâmica e reduziu o tempo da ação, uma surpresa interessante. Para quem não conhece a obra e não tem contato com a mitologia grega é uma mão na roda. Quem conhece a obra fica com a sensação que faltou alguma coisa.
A Orquestra Sinfônica Municipal regida por Rodolfo Fisher mostrou sonoridade volumosa e andamentos interessantes, o problema foi a falta do estilo mozartiano na apresentação da obra. A regência de Rodolfo Fisher toca Mozart como uma ópera romântica, como se ele tivesse vivido uns cem anos depois. O Coral Lírico se mostrou eficaz como sempre. Sua sonoridade foi muitas vezes atrapalhada pelas maluquices da direção.

 Gabriella Pace 
 
 Os solistas arrebentaram, a maioria em noite inspirada e digna de um verdadeiro canto mozartiano. O mezzo-soprano Luisa Francesconi mostrou uma voz uniforme, um timbre escuro e uma bela atuação cênica. Um Idamante empolgante. Sua voz está tinindo, no ponto certo para interpretar outros papéis do repertório. Outra surpresa foi Gabriella Pace, o soprano cantou com maestria, detentora de uma técnica perfeita, agudos brilhantes, vivos e empolgantes. Seu timbre mudou de acordo com os sentimentos da personagem, áspero nos momentos de desespero e lírico nas partes animadas. Gabriela Pace acertou em cheio, compôs uma grande Ilia, digna de sentar ao lado do deus Netuno e cantar uma longa ária para acalmá-lo.

 Luisa Francesconi

 O tenor Miguel Geraldi mostrou uma voz pequena, isso não é nenhum demérito, seu timbre é puro lirismo. Empolga e se mantém constante do começo ao fim da apresentação. Fez um Idomeneo completo. A baixa ficou por conta de Claudia Riccitelli, com uma virose não pode se apresentar. Em seu lugar entrou o soprano Janete Dornelas, chamada de última hora, chegou as duas da manhã no dia da apresentação e às sete horas já estava ensaiando. Cantou Electra cinco anos antes, relembrou as árias e conseguiu um belo timbre de soprano dramático. Tirou leite de pedra.

Quem não acertou a mão foi Marcos Liesenberg, sua voz não tem a solidez necessária de um Mozart. Emissão quase sempre áspera e irregular, que troca agudos por gritos agressivos. Será que Mozart compôs isso? Duvido, seu Arbace/Sacerdote foi o elo fraco entre os solistas, fez uma interpretação contida com troca qualidade melódica transformando-se em gritos.

 As surpresas mostram a organização e a desorganização do grande teatro paulistano: A direção conseguiu um sorprano de última hora , que cantou com dignidade e salvou a récita. O desagradável vem quando anuncia-se concerto cênico e se monta uma ópera completa. Todos os meios de comunicação divulgaram conforme o anunciado, algumas pessoas nas redes sociais reclamaram do erro e culparam a imprensa. O Theatro Municipal de São Paulo deve saber o que vai fazer, programar com antecedência o espetáculo e anunciar o correto. Todos os grandes teatros líricos do mundo divulgam suas programações com meses ou anos de antecedência, esse é o exemplo a ser seguido.

Theatro Municipal de São Paulo

domingo, 1 de agosto de 2010

IDOMENEO, RE DI CRETA – La Monnaie, Bruxelas, Março de 2010

Idomeneo, Re di Creta é uma opera seria de W. A. Mozart com libretto de Giambattista Varesco. A acção passa-se na ilha de Creta, depois da guerra de Tróia.


A princesa troiana Ilia, após a queda de Tróia, está prisioneira do rei grego Idomeneo e ama secretamente o seu filho Idamante que, num gesto de boa vontade e como prova de amor por ela, liberta os presos de guerra troianos. Entretanto Idomeneo, após uma longa ausência, quase morre, vítima de uma forte tempestade desencadeada por Neptuno, deus do mar. Para se salvar, promete sacrificar-lhe o prmeiro ser humano que encontrar no seu regresso.
O filho Idamante é a primeira pessoa que o recebe em Creta e, depois de se reconhecerem, é repelido brutalmente pelo pai, sem perceber porquê. Para não ter que matar o filho, Idomeneo manda-o para Argos na companhia de Electra, uma princesa grega. Ilia revela ao rei o seu amor pelo filho. Neptuno, para castigar a traição de Idomeneo, lança uma nova tempestade com um terrível monstro marinho que impede a partida de Idamante, o que deixa a população de Creta em pânico.
Nos jardins do palácio real Ilia e Idamante cantam o seu amor quando surgem Electra e Idomeneo, que manda o filho partir sem demora. Idamante recusa e diz preferir a morte. Arabace, confidente do rei, informa-o que o povo o quer confrontar com a destruição que o monstro marinho está a causar. É então decidido concretizar o sacrifício, apesar de um coro anunciar que Idamante venceu o monstro. Quando a morte está prestes a acontecer, Ilia oferece-se para tomar o lugar do seu amado. Ouve-se a voz de Neptuno dizer que prevaleceu o amor e que exige apenas que Idomeno abdique em favor do filho.Todos, excepto Electra, rejubilam. Começará uma nova era de paz sob o reinado de Idamante e Ilia.
Parte das fotografias são de Bernd Uhlig

A encenação do belga Ivo van Hove é trazida para os dias de hoje e centra-se no terrorismo, na guerra, na chacina de inocentes e tudo o que gravita à roda do tema. O catraz que anuncia a ópera é uma fotografia do Hotel Taj Mahal em Mumbai, Índia, quando foi atacado por um comando terrorista. Mas o que se viu no espectáculo foi bem mais chocante! Recorrendo frequentemente à projecção vídeo, recordou-se um pouco de tudo. Os cenários eram parcos, havia estruturas metálicas sobre o palco, montou-se uma sala de conferências para políticos e militares e no 3º acto apareceram plantas, flores e muitas, muitas garrafas, tudo de plástico (o jardim do palácio do rei). Ao fundo, num ecran gigante, projectavam-se as imagens.


A ópera começa com Idomeneo e o filho ainda criança a verem a actuação da Al-Qaeda na televisão. Depois, ao longo de todo o espectáculo, transmitem-se ataques terroristas com grande número de mortes e cenas explícitas de corpos estropiados, aviões a desembarcarem tanques de guerra ou caixões cobertos com a bandeira norte americana, cenas de guerra, etc. No palco é montada uma sala de conferências de imprensa, com toda a tecnologia moderna, com projecção vídeo dos conferencistas para o grande ecran. A parte mais violenta foi a encenação de um ataque por um bombista suicida na sala, com o ferimento e morte de várias crianças presentes. Se tudo isto foi uma metáfora à maldição de Neptuno que o encenador pretendeu mostrar, foi muito exagerada, perturbadora e feriu, mortalmente, o prazer de assistir tranquilamente ao espectáculo.


O coro e a orquestra, sob a direcção do jovem maestro francês Jérémie Rhorer, foram o melhor da noite. Fechando-se os olhos, ouvia-se Mozart com qualidade.
Os cantores andaram todos pela mediania banal. O tenor americano Gregory Kunde foi um Idomeneo decente e bem audível, embora com agudos deficientes. A mezzo-soprano sueca Malena Ernman fez um Idamante melhor cenicamente do que vocalmente, mas ainda assim foi uma das melhores. A soprano Ingela Bohlin (uma substituição de última hora) foi uma Ilia de timbre agreste e que, por vezes, mal se ouvia e a soprano búlgara Alexandrina Pendatchanska foi uma Electra de voz pequena e inaudível sobre a orquestra.

Hesitei muito em escrever esta crítica, mas acabei por fazê-lo. Incluo algumas imagens mostradas (em vídeo) ou presentes no programa do espectáculo, para dar uma ideia da violência seleccionada. Contudo, não escolhi as que conisdero mais chocantes.




O histórico Teatro La Monnaie é um edifício de beleza apreciável, em particular a sala principal. Fiquei num dos melhores lugares do balcão (consegui um bilhete de uma desistência no último momento) mas, mesmo assim, não ouvia bem os cantores, ao contrário da orquestra e do coro...

Que saudades da versão de concerto na Gulbenkian em Maio de 2008 com Fabio Biondi e a Europa Galante e, como solistas, Ian Bostridge, Jurgita Adamonyte, Kate Royal e, sobretudo, Emma Bell!

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