(Review in English below)
Assisti ontem à sexta ópera do reportório do
grande compositor italiano Giuseppe
Verdi.
I due
Foscari é uma ópera em 3 actos com
libreto de Francesco Maria Piave
baseado na peça The Two Foscari de Lord Byron. Foi estreada em Roma em
1844 e conheceu algum sucesso. Foi algo reavivada nos anos 70 e 80 e,
novamente, por Plácido Domingo na sua senda de adquirir reportório para
barítono.
Trata-se de uma ópera musicalmente já com uma
identidade muito verdiana, com um sentido dramático intenso e uma
caracterização psicológica das personagens muito trabalhada. Trata da honra e
da nobreza de carácter, do ódio e da lealdade, do amor fraternal e conjugal, do
dever patriótico, da intriga e, politicamente, do desejo da igualdade dos
homens perante a lei. É, por isso, uma ópera com todos os componentes de uma
boa história — e é-o, de facto — e uma dimensão musical trágica que torna
indispensável que se conheça.
Assisti à versão de concerto desta ópera na
belíssima sala do Gran Teatre del Liceu
de Barcelona.
A orquestra foi dirigida pelo maestro Massimo Zanetti que promoveu uma
interpretação viva e segura, explorando bem a Orquestra Simfònica que esteve num nível excelente. Também o Cor del Gran Teatre del Liceu se
apresentou em bom nível, muito embora esta não seja uma das óperas em que Verdi
mais faz brilhar a personagem coro.
O tenor venezuelano Aquiles Machado foi Jacobo Foscari, filho do Dux que é condenado ao
exílio por um pretenso assassinato que se verificou não ter cometido. Tem uma
voz potente e equilibrada, com projecção assinalável e com boa capacidade
expressiva. Esteve bem na cavatina Dal più
remoto esilio. Todavia, do trio principal de cantores foi o que menos
brilhou. Confesso que eu vinha demasiado centrado na interpretação a todos os
níveis assinalável que consta na gravação (que recomendo em absoluto) com José
Carreras de 1977 para a Philips.
Francesco Foscari, Dux de Veneza e pai do
condenado Jacopo, foi o tenor/barítono Plácido
Domingo. O seu desejo de se manter vivo no mundo lírico aos 74 anos é algo
assinalável. Pode dizer-se que não tem voz de barítono. E diz-se com verdade.
Mas a voz é única: viva, expressiva, intensa e com uma capacidade expressiva,
dramática e de chegar ao público que são ímpares e estão intocadas, pelo que
nos ofereceu uma interpretação de elevadíssimo dramatismo. Mostrou o porquê de
ser uma lenda viva do mundo operático.
O Liceu, como não podia deixar de ser,
acolheu-o com todo o imenso carinho que merece, nomeadamente depois da sua ária
final Questa dunque è l’iniquia mercede.
Bravo Maestro!
Mas a melhor voz da noite foi a do soprano
russo Liudmyla Monastryska como
Lucrezia Contarini, a esposa desesperada de Jacopo. A potência vocal é
impressionante. Entrou na sua primeira cavatina Tal al cui sguardo omnipossente a fazer vibrar a membrana do
tímpano de todos os espectadores. A voz é limpa, potente e melódica, com um
timbre muito agradável. A tessitura é muito ampla e sabe usá-la sem perda de
qualidade em qualquer registo e sem qualquer recurso à estridência. Esteve
perfeita em todas as suas intervenções e o seu dueto com Domingo no final do
1.º acto Tu pur lo sai, che giudice
foi soberbo. Bravissima!
Os restantes elementos, nos seus papéis menos
relevantes, mostraram qualidade, nomeadamente o soprano Maria Mirò (Pisana), o baixo Raymond
Aceto (Loredano), o tenor Josep Fadó
(Barbarigo), o tenor Joan Prados
(Fante del Consiglio) e o baixo Xavier
Comorera (servo do Dux).
Grande espectáculo: daqueles que ficam na
memória!
--------------------------------
(Review in English)
I attended yesterday the sixth opera of the
great Italian composer Giuseppe Verdi.
I due Foscari is an opera in three acts with libretto by
Francesco Maria Piave based on the
play The Two Foscari of Lord Byron. It was premiered in Rome in
1844 and met some success. It was revived in the 70s and 80s and again by
Plácido Domingo in his path to get baritone roles repertoire.
It is a musically already very verdian
opera, with an intense dramatic sense and a massive psychological
characterization of the characters. Deals with honor and nobility of character,
hatred and loyalty, fraternal and conjugal love, patriotic duty, intrigue and,
politically, the desire for equality of men before the law. It is, therefore,
an opera with all the components of a good story - and it is, in fact - and a
tragic musical dimension that makes it essential to know.
I attended the concert version of this
opera in the beautiful room of the Gran
Teatre del Liceu in Barcelona.
The orchestra was conducted by Massimo Zanetti who promoted a lively
and intense interpretation, exploring the Orchestra
Simfònica who was in an excellent level. Also the Cor del Gran Teatre del Liceu performed at a good level, even
though this is not one of the operas that Verdi did more to make chorus
character shine.
The Venezuelan tenor Aquiles Machado was Jacobo Foscari, Dux's son that is sentenced to
exile for an alleged murder which was found not to have committed. He has a
potent and balanced voice with remarkable expressive capacity. He did well in
the cavatina Dal più remoto esilio.
However, he was the one that shone the less of the main trio of singers. I
confess that I was too focused on the José Carreras’s interpretation that is to
all extent remarkable in the recording (that I recommend) of 1977 for Philips.
Francesco Foscari, Dux of Venice and father
of the sentenced Jacopo, was the tenor/baritone Plácido Domingo. His desire to stay alive in the lyrical world at
his 74 years of age is something remarkable. It can be said that he has not a
baritone tone. And it is truth. But his voice is unique: vivid, expressive,
intensely dramatic and with a capacity to reach the public that are unique and
are untouched, so he offered us an interpretation of very high dramatic quality.
He showed why he is a living legend of the operatic world. The Liceu, as might
be expected, welcomed him with all the immense affection he deserves,
particularly after his final aria Questa
è l'dunque iniquia mercede. Bravo Maestro!
But the best voice of the evening was the
Russian soprano Liudmyla Monastryska
as Lucrezia Contarini, the desperate wife of Jacopo. The vocal power is
impressive. She entered her first cavatina Tal
al cui sguardo omnipossente making public timpani membrane to vibrate. The
voice is clear, powerful and melodic, with a very pleasant timbre. Her large tessitura is very well used and without
any loss of quality in any register and without any recourse to shrillness. She
was perfect in all interventions and her duet with Domingo at the end of the
1st act Tu pur lo sai, che giudice was superb. Bravissima!
Stunning performance!
The remaining elements in their less
relevant roles showed quality, including the soprano Maria Mirò (Pisana), bass Raymond
Aceto (Loredano), the tenor Josep
Fado (Barbarigo), tenor Joan Prados
(Fante del Consiglio) and bass Xavier
Comorera (servant of the Dux).
Great show: those who will remain in our memory!