(review in English below)
Assisti ao
assassinato da Carmen na Royal Opera House logo desde o primeiro
acto. A encenação de Barrie Kosky
procura e consegue ser muito inventiva e original, mas nada tem a ver com a
Carmen de Bizet.
O cenário, do
início ao fim, limita-se a uma longa escadaria que ocupa todo o palco. Poucos
mais adereços aparecem, para além de uma corda, pétalas de uma flor e de
cartas. Os solistas e os membros do coro sobem e descem as escalas ao longo de
toda a récita, fazendo grande barulho com os sapatos, o que perturba ainda mais
a audição musical, já que não há nada de interessante para ver.
A ópera abre com
a Carmen vestida coloridamente de toureiro no cimo das escadas, desce-as e
desaparece. Na sua próxima aparição, vem mascarada de gorila! Todo o
guarda-roupa (de Katrin Lea Tag) é
preto, branco ou em tons de cinzento, excepto os trajos de toureiro, os únicos
com cor. As partes faladas são substituídas por uma narradora.
Há um corpo de
bailarinos (excelentes!) que estão quase sempre em cena mas as suas
intervenções são maioritariamente ridículas. Procuram ser cómicas mas não têm
graça nenhuma.
Não há qualquer
imagem alusiva a Espanha, o desfile das personagens e elementos dos coros quase
parece um espectáculo rasca da Broadway. E não há expressões dramáticas em
palco. Os solistas estão estáticos e muito afastados uns dos outros. No dueto
final não há qualquer clima trágico e, após morrer, a Carmen ressuscita e
encolhe os ombros.
Finalmente a
música não é a que habitualmente se ouve, tem partes para mim desconhecidas
porque, segundo o programa de sala, foram usados também trechos que haviam sido
descartados por Bizet.
Diria que o eurotrash (mesmo com encenador
australiano) chegou em força à Royal Opera House, o que não tem sido habitual.
Mais teria valido uma Carmen em versão concerto, ouvir-se-ia melhor porque seria
menos ruidosa.
A maestrina Keri-Lynn Wilson deu-nos uma versão
aceitável da música, embora sem a vivacidade que vários momentos exigem. No
início teve um percalço, fugiu-lhe a batuta da mão que deu várias voltas pelo
ar até cair ao lado de um dos violinistas. Foi a parte mais engraçada de todo o
espectáculo.
Em relação aos
cantores principais, a melhor foi a mezzo francesa Gaëlle Arquez (uma substituição de ultima hora) na Carmen. É jovem,
tem uma bela figura e a voz é bonita, bem colocada e sempre audível, mesmo
quando está no cimo da escadaria, no fundo do palco.
A Michaéla da
soprano Eleanora Buratto também foi
agradável, a cantora tem uma voz poderosa mas com tendência para a
estridência nas notas altas. Cenicamente foi totalmente desinteressante, mas
não por culpa sua.
O tenor Brian Jagde fez um Don Josè amorfo,
apenas preocupado com o canto. A voz é aceitável mas nada mais que isso e perde qualidade no registo
agudo.
O baixo Alexander Vinogradov é um cantor
habitual no papel de Escamillo. Cumpriu sem deslumbrar.
Os cantores
secundários foram globalmente bons, Jean
Teitgen (Zuniga), Aigul Akhmetshina
(Mercédes), Gérman Alcántara (Dancaïro)
e François Piolino (Remendado)
embora dois deles, Domminic Sedgwick
(Morales) e Haegee Lee (Frasquita)
tenham tido interpretações fracas.
Como um mal nunca
vem só, ao meu lado estava uma mulher chinesa que ora bebia água (?) de um
recipiente com tampa de rosca, ora se assoava ruidosamente. Também por ali
havia alguém que se peidava silenciosamente mas com grande periodicidade, tudo
contribuindo para uma noite de ópera para esquecer!
**
CARMEN,
Royal Opera House, November 2018
I watched Carmen's assassination at the Royal Opera House from the very first
act. Barrie Kosky's production seeks
and manages to be very inventive and original, but has nothing to do with Bizet's Carmen.
The stage,
from start to finish, is limited to a long staircase that occupies the whole
stage. Few more props appear, in addition to a rope, petals of a flower and
letters. The soloists and members of the choir go up and down the ladders
throughout the performance, making great noise with the shoes, which disturbs
the musical hearing even more, since there is nothing interesting to see.
The opera
opens with Carmen dressed colorfully as a bullfighter at the top of the stairs,
descends them and disappears. On her next appearance, she comes as a gorilla!
All dresses (from Katrin Lea Tag) are black, white or in gray patterns except
for bullfighter's suits, the only ones with color. The spoken parts are
replaced by a narrator.
There is a body
of (excellent!) Dancers that are almost always on stage but their interventions
are mostly ridiculous. They try to be comic but they are not funny at all.
There is no
part allusive to Spain, the parade of characters and elements of the choir
almost looks like a scratchy Broadway show. And there are no dramatic
expressions on stage. The soloists are static and very far from each other. In
the final duet there is no tragic emotions and, after dying, Carmen resurrects
and shrugs.
Finally the
music is not what one usually hears, there are parts unknown to me because,
according to the program, parts were also used that had been discarded by
Bizet.
I would say
that eurotrash (even by an Australian
director) came in force to the Royal Opera House, which has not been usual.
More would have been worth a Carmen in concert version, would be heard better
because it would be less noisy.
Musical
director Keri-Lynn Wilson gave us an
acceptable version of the music, though without the liveliness that several
moments require. At first she had a mishap, fled the baton of her hand that
went several times through the air until it fell next to one of the violinists.
It was the funniest part of the whole show.
Concerningto
the main singers, the best was French mezzo Gaëlle Arquez (a last minute replacement) in Carmen. She is young,
has a beautiful figure and the voice is pleasant, well projected and always
audible, even when she is at the top of the staircase. But she lacked dramatic
emotion.
Michaela
from soprano Eleanora Buratto was
also interesting, the singer has a powerful voice but with a tendency to
strident high notes. On stage she was totally uninteresting, but it was not her
fault.
Tenor Brian Jagde was an amorphous Don Josè,
only concerned with the singing. The voice is pleasant but loses quality in the
high register.
Bass Alexander Vinogradov is a frequent
singer of Escamillo. He was ok without dazzling.
Support singers
have been globally fine, Jean Teitgen
(Zuniga), Aigul Akhmetshina
(Mercédes), Gérman Alcántara
(Dancaïro) and François Piolino
(Mended) although two of them, Domminic
Sedgwick (Morales) and Haegee Lee
(Frasquita) have had weak interpretations.
As “an evil
never comes alone”, beside me was a Chinese woman who frequently drank water
(?) from a screw-capped container, and frequently blowing loudly. Also there
was someone who farted silently but periodically, all contributing to an opera
night to forget!
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