Assistimos a uma
encenação muito fora do habitual da Turandot,
a última ópera (inacabada) de Puccini.
O encenador Marco Arturo Marelli
coloca a acção no início do século passado e retrata a elaboração da opera pelo
próprio Puccini que é o Calaf. A ópera abre no seu quarto onde, ao piano,
trabalha na composição. O palco modifica-se e transforma-se num teatro onde o
coro são os espectadores sentados em frente ao público e a acção passa-se ao
centro. O cenário vai mudando ao longo da ópera mas o quarto do compositor e o
palco do teatro vão aparecendo periodicamente.
A China e os
chineses são retratados com descrição, sem a exuberância habitual de outras
encenações, mas não deixou de ser um espectáculo muito interessante e vistoso.
A Liu é uma
criada do Calaf / Puccini e o imperador Altoum vem de cadeira de rodas. Depois
de decapitado o príncipe da Pérsia, a sua cabeça fica em palco e, no início do
2º acto, os ministros Ping, Pang e Pong preparam-na dentro de um recipiente de
vidro e colocam-na numa colecção de todas as cabeças dos pretendentes da
Turandot decapitados anteriormente. Quando começa a cantar, a Turandot, vestida
sem grande exuberância, vem acompanhada do corpo embalsamado da antecessora Lo-u-Ling
e retira-lhe a tiara e usa-a.
Perto do final,
quando se pretende descobrir o nome do Calaf, aparecem prostitutas a tentar
obter dele a informação, toda o seu quarto é minuciosamente revistado e algumas
folhas da partitura são rasgadas.
A ópera termina
com o casamento do Calaf com a Turandot, estando todas as mulheres do coro /
plateia com véu e os homens com fraque e cartola.
A direcção
musical foi do maestro Frédéric Chaslin
e Orquestra e Coro da Staatsoper de
Viena tiveram prestações excelentes.
O Calaf foi
cantado pelo tenor Roberto Alagna. É
um personagem que, actualmente, interpreta frequentemente e quer a voz quer o
seu desempenho cénico são bastante bons. Ouviu-se sempre bem e só não gostei de
se ter feito aos aplausos no final da ária Nessun
dorma, com a conivência do maestro, que parou a música.
A Liú da sua
mulher Aleksandra Kurzak é
excelente, foi a melhor da noite, tem uma voz de timbre muito agradável, agudos
bonitos e estratosféricos e assinalável doçura.
Outra cantora que
praticamente só canta este papel é a soprano Lise Lindstrom como Turandot. A voz tem um registo agudo
impressionante, sempre sobre a orquestra, é o que mais a caracteriza, embora
perca alguma qualidade nos registos médio e baixo.
Ping foi
soberbamente interpretado por Boaz
Daniel (um luxo vienense ter um cantor desta categoria num papel
secundário), Pang (Jinxu Xiahou) e
Pong (Leonardo Navarro) estiveram
também bem.
Paolo Rumetz foi um mandarim apagado, Wolfram Igor Derntl um Altoum decente
e Ryan Speedo Green um óptimo Timur de voz grande e belo timbre.
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TURANDOT, Wiener
Staatsoper, April 2018
We saw a
very unusual staging of Turandot, Puccini's last (unfinished) opera. The
director Marco Arturo Marelli puts
the action in the beginning of the last century and portrays the elaboration of
the opera by Puccini himself that is Calaf. The opera opens in his room where,
at the piano, he works in the opera. The stage changes and becomes a theater
where the choir are the audience seated in front of the public and the action
happens in the centre. The setting is changing throughout the opera but the
composer's room and the stage of the theater appear periodically.
China and
the Chinese are portrayed with description, without the usual exuberance of
other scenarios, but it was a very interesting and pleasant performance.
Liu is a
maid of Calaf / Puccini and Emperor Altoum appears on a wheelchair. After
beheaded the prince of Persia, his head is on stage and, at the beginning of
the second act, the ministers Ping, Pang and Pong prepare it in a glass
container and put it in a collection of all the heads of princes beheaded
previously by Turandot. When Turandot begins to sing she is dressed in no great
exuberance, and arrives with the embalmed body of her predecessor Lo-u-Ling,
and removes her tiara and uses it.
Near the
end, when everyone try to discover the name of Calaf, prostitutes appear to try
to get information from him, his entire room is thoroughly searched and some
sheets of the score are torn.
The opera
ends with the marriage of the Calaf and Turandot, all the women in the choir /
audience being veiled, and the men in a formal coat.
The musical
direction was by the conductor Frédéric
Chaslin and Orchestra and Choir of
the Vienna Staatsoper had excellent performances.
Calaf was
sung by tenor Roberto Alagna. It is
a character he often plays in the actuality and both the voice and his scenic
performance are quite good. He was always well heard and I just did not like his
demand of the applause at the end of the aria Nessun dorma, with the connivance
of the maestro, who stopped the music.
His wife Aleksandra
Kurzak was an excellent Liu. shewas the best of the night, has a very beautiful
timbre, impressive top notes and remarkable sweetness.
Another
singer who practically only sings this role is soprano Lise Lindstrom as Turandot. The voice has an impressive high
record, always over the orchestra, which is her main characteristic, although
she loses some quality in the medium and low registers.
Ping was
superbly interpreted by Boaz Daniel
(a Viennese luxury to have a singer of this category in a secondary role), Pang
(Jinxu Xiahou) and Pong (Leonardo Navarro) were also well.
Paolo Rumetz was an discrete mandarin, Wolfram Igor Derntl a decent Altoum and Ryan Speedo Green a great Timur with a big voice and beautiful
timbre.
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