terça-feira, 14 de agosto de 2018

TURANDOT, Staatsoper, Viena, Abril de 2018 / April 2018



 (review in English below)

Assistimos a uma encenação muito fora do habitual da Turandot, a última ópera (inacabada) de Puccini. O encenador Marco Arturo Marelli coloca a acção no início do século passado e retrata a elaboração da opera pelo próprio Puccini que é o Calaf. A ópera abre no seu quarto onde, ao piano, trabalha na composição. O palco modifica-se e transforma-se num teatro onde o coro são os espectadores sentados em frente ao público e a acção passa-se ao centro. O cenário vai mudando ao longo da ópera mas o quarto do compositor e o palco do teatro vão aparecendo periodicamente.
A China e os chineses são retratados com descrição, sem a exuberância habitual de outras encenações, mas não deixou de ser um espectáculo muito interessante e vistoso.



A Liu é uma criada do Calaf / Puccini e o imperador Altoum vem de cadeira de rodas. Depois de decapitado o príncipe da Pérsia, a sua cabeça fica em palco e, no início do 2º acto, os ministros Ping, Pang e Pong preparam-na dentro de um recipiente de vidro e colocam-na numa colecção de todas as cabeças dos pretendentes da Turandot decapitados anteriormente. Quando começa a cantar, a Turandot, vestida sem grande exuberância, vem acompanhada do corpo embalsamado da antecessora Lo-u-Ling e retira-lhe a tiara e usa-a.
Perto do final, quando se pretende descobrir o nome do Calaf, aparecem prostitutas a tentar obter dele a informação, toda o seu quarto é minuciosamente revistado e algumas folhas da partitura são rasgadas.
A ópera termina com o casamento do Calaf com a Turandot, estando todas as mulheres do coro / plateia com véu e os homens com fraque e cartola.



A direcção musical foi do maestro Frédéric Chaslin e Orquestra e Coro da Staatsoper de Viena tiveram prestações excelentes.

O Calaf foi cantado pelo tenor Roberto Alagna. É um personagem que, actualmente, interpreta frequentemente e quer a voz quer o seu desempenho cénico são bastante bons. Ouviu-se sempre bem e só não gostei de se ter feito aos aplausos no final da ária Nessun dorma, com a conivência do maestro, que parou a música.



A Liú da sua mulher Aleksandra Kurzak é excelente, foi a melhor da noite, tem uma voz de timbre muito agradável, agudos bonitos e estratosféricos e assinalável doçura.



Outra cantora que praticamente só canta este papel é a soprano Lise Lindstrom como Turandot. A voz tem um registo agudo impressionante, sempre sobre a orquestra, é o que mais a caracteriza, embora perca alguma qualidade nos registos médio e baixo.



Ping foi soberbamente interpretado por Boaz Daniel (um luxo vienense ter um cantor desta categoria num papel secundário), Pang (Jinxu Xiahou) e Pong (Leonardo Navarro) estiveram também bem.


Paolo Rumetz foi um mandarim apagado, Wolfram Igor Derntl um Altoum decente


 e Ryan Speedo Green um óptimo Timur de voz grande e belo timbre.







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TURANDOT, Wiener Staatsoper, April 2018

We saw a very unusual staging of Turandot, Puccini's last (unfinished) opera. The director Marco Arturo Marelli puts the action in the beginning of the last century and portrays the elaboration of the opera by Puccini himself that is Calaf. The opera opens in his room where, at the piano, he works in the opera. The stage changes and becomes a theater where the choir are the audience seated in front of the public and the action happens in the centre. The setting is changing throughout the opera but the composer's room and the stage of the theater appear periodically.
China and the Chinese are portrayed with description, without the usual exuberance of other scenarios, but it was a very interesting and pleasant performance.

Liu is a maid of Calaf / Puccini and Emperor Altoum appears on a wheelchair. After beheaded the prince of Persia, his head is on stage and, at the beginning of the second act, the ministers Ping, Pang and Pong prepare it in a glass container and put it in a collection of all the heads of princes beheaded previously by Turandot. When Turandot begins to sing she is dressed in no great exuberance, and arrives with the embalmed body of her predecessor Lo-u-Ling, and removes her tiara and uses it.
Near the end, when everyone try to discover the name of Calaf, prostitutes appear to try to get information from him, his entire room is thoroughly searched and some sheets of the score are torn.
The opera ends with the marriage of the Calaf and Turandot, all the women in the choir / audience being veiled, and the men in a formal coat.

The musical direction was by the conductor Frédéric Chaslin and Orchestra and Choir of the Vienna Staatsoper had excellent performances.

Calaf was sung by tenor Roberto Alagna. It is a character he often plays in the actuality and both the voice and his scenic performance are quite good. He was always well heard and I just did not like his demand of the applause at the end of the aria Nessun dorma, with the connivance of the maestro, who stopped the music.

His wife Aleksandra Kurzak was an excellent Liu. shewas the best of the night, has a very beautiful timbre, impressive top notes and remarkable sweetness.

Another singer who practically only sings this role is soprano Lise Lindstrom as Turandot. The voice has an impressive high record, always over the orchestra, which is her main characteristic, although she loses some quality in the medium and low registers.

Ping was superbly interpreted by Boaz Daniel (a Viennese luxury to have a singer of this category in a secondary role), Pang (Jinxu Xiahou) and Pong (Leonardo Navarro) were also well.

Paolo Rumetz was an discrete mandarin, Wolfram Igor Derntl a decent Altoum and Ryan Speedo Green a great Timur with a big voice and beautiful timbre.

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