(review in English below)
Nesta fase da minha vida de melómano, e sendo eu um Wagneriano (não
estrito, é certo...), só mesmo uma lenda para me fazer ir a sítios onde nunca
pensei ir, teatros e localidades, reforçando simultaneamente o meu gosto por
Verdi. Essa lenda é Leo Nucci.
Já diversas vezes comentei com os outros membros deste blog que... cheguei
tarde a Leo Nucci. Adivinha-se o seu adeus aos palcos cénicos em Setembro de
2019 no Scala, no papel que Verdi, sem o saber, escreveu para ele: Rigoletto. E
foi neste papel que o vi pela primeira vez ao vivo em Janeiro de 2018, em
Parma. Já se seguiram o seu último Miller, em Abril em Zurique, Germont no São
Carlos de Nápoles em Maio, Macbeth em Liège em Junho e agora, o seu Figaro na Arena di Verona.
Nucci não resistiu em voltar mais uma vez a este palco que pisou mais de
100x (penso que totalizará 115 com a récita de 8 de Agosto) mesmo após ter dito
que não voltaria depois da sua récita isolada do Rigoletto em 2017. Acompanhado
de um elenco de luxo, onde figuraram nomes como Ferruccio Furlanetto, Nino
Machaidze, Dmitry Korchak e Carlo Lepore (este substituindo o
inicialmente anunciado Ambrogio Maestri), e sob a direção de um inspiradíssimo
e venerado Daniel Oren.
Estava com algum receio da Arena. Tinha dúvidas se a qualidade sonora seria
aceitável e se não iria assistir a um espetáculo de massas, vendendo ópera como
se de um circo se tratasse. Mas não! O local é realmente mágico! Só assim
realmente se manteria por 96 edições e sempre com grandes nomes da lírica.
Tem-se a sensação de palco operático mas a “sala clássica” abre-se enormemente
num dos mais bonitos tetos que existem, mudando de filtro à medida que o
crepúsculo quente de Verão entra na noite densa.
Com o calor vem os leques das senhoras, cujo barulho de abano pode irritar
o mais nervoso dos melómanos mas, mesmo assim, tolera-se, porque o calor é
grande e estamos num local onde a Ópera saiu do seu usual habitat e se sente
que é verdadeiramente de todos. As comodidades habituais de uma casa de Ópera
tradicional estão presentes: temos casas de banho que imaginei que seriam
portáteis mas não, estão feitas na estrutura da própria Arena, com as paredes
em pedra, e temos locais onde se pode comprar bebidas antes ou no intervalo;
entre vendedores de gelados com geleiras a tiracolo nas bancadas mais
superiores, outros vendem programas e... leques... As cadeiras são confortáveis
e há sempre a possibilidade de optimizar o conforto com almofadas que se vendem
à entrada para aqueles que ficam nas bancadas mais superiores, onde o assento é
de pedra e o conforto glúteo se adivinha menos agradável.
A encenação deste Barbeiro de
Sevilha é de Hugo de Ana,
reposta e não nova, e passa-se inteiramente num jardim labiríntico, onde sobressaem
diversas rosas gigantes. Todos os pormenores cénicos e direção de atores levam
a uma perfeita harmonia com o espírito cómico Rossiniano. Termina com um
magnífico fogo de artifício por detrás do palco, causando um efeito final
marcante.
Nucci esteve brilhante! Este é um papel cómico, ao invés dos outros em que
o vi e, talvez por isso, mas acredito também por estar na Arena, a sua
felicidade era evidente em cada passo, em cada nota, em cada agradecimento,
valorizando sempre o público, a Orquestra e o Maestro. No final da ária Largo al factotum, quando eu já não
esperava um bis, eis que do público saem, após aplausos estrondosos, pedidos de
bis ao qual acedeu. Mágico! Arranhou num dos agudos em ambas as vezes mas
perfeito em tudo o resto. Fazendo uma verdadeira “rasteira ao Tempo”, continua
a mostrar que, quando se vive a vida com humildade, sem snobismos, sem procurar
fama fácil, assente no trabalho, na dedicação e na paixão pela Música e Ópera
durante já mais de 50 anos, a Vida (e, para mim, Deus) dá de volta o privilégio
de “um pouco mais”.
Os seus pares estiveram à altura, numa noite que sendo “dele” só assim o
foi por ser também “deles”. Ainda temos algumas oportunidades para o ouvir
antes desse dia agridoce que será 22 de Setembro de 2019. Espero ir conseguindo
participar na sua energia e paixão até lá. Com o que já vi e com o que, se Deus
quiser, ainda está para vir, uma coisa poderei sempre lembrar - 2018 foi, é e
será sempre, para mim, Ano Nucci!
IL BARBIERE
DI SIVILGIA, Arena di Verona, August 2018
At this
stage of my life as a music lover, and being a Wagnerian (not strict, that's
right...), just a legend to make me go to places where I never thought to go,
theaters and localities, while reinforcing my taste for Verdi . This legend is Leo Nucci.
Already
several times I commented with the other members of this blog that ... I
arrived late to Leo Nucci. His adieu to the scenic stages is predicted in
September 2019 at La Scala, in the role that Verdi unknowingly wrote to him:
Rigoletto. And it was in this role that I first saw him live in January 2018 in
Parma. I already followed his last Miller, in April in Zurich, Germont in the
Sao Carlo in Naples in May, Macbeth in Liège in June and now, his Figaro in the
Arena di Verona.
Nucci could
not resist coming back to this stage that he has stepped more than 100x (I
think he will complete 115 with the recital of August 8) even after saying that
he would not return after his isolated recital of Rigoletto in 2017.
Accompanied by a cast with names like Ferruccio
Furlanetto, Nino Machaidze, Dmitry Korchak and Carlo Lepore (replacing the initially announced Ambrogio Maestri),
and under the direction of an inspired and revered Daniel Oren.
I was
afraid of the Arena. I doubted whether the sound quality would be acceptable
and whether we would not attend a mass show, selling opera as if it were a
circus. But not! The place is really magical! Only thus would it really be
maintained for 96 editions and always with great lyric names. It has the feel
of operatic stage but the "classic room" opens up enormously in one
of the most beautiful ceilings that exist, changing of filter as the hot
twilight of summer enters the dense night.
With the
heat comes the fans of the ladies, whose fanning noise can irritate the most
nervous of music lovers, but even so, he tolerates it, because the heat is
great and we are in a place where the Opera has left its usual habitat and
feels is truly of all. The usual facilities of a traditional Opera house are
present: we have bathrooms that I imagined would be portable but no, they are
made in the Arena's own structure with the stone walls, and we have places
where we can buy drinks before or in the interval; there are sellers of ice
cream with glaciers in the uppermost benches, others sell programs and ... fans
... The chairs are comfortable and there is always the possibility of
optimizing comfort with cushions that are sold at the entrance to those who
stay on the more superior benches, where the seat is of stone and the gluteal
comfort is guessed less pleasant.
The staging
of this Barber of Seville is of Hugo de Ana, restored and not new, and
is entirely spent in a labyrinthine garden, where stand out several giant
roses. All the scenic details and directing of actors lead to a perfect harmony
with the Rossinian humorous spirit. It ends with a magnificent firework behind
the stage, causing a marked final effect.
Nucci was
brilliant! This is a comic role, rather than the others I saw him in, and maybe
because of that, but I also believe in being in the Arena, his happiness was
evident in every step, every note, every thanks, always valuing the audience,
the Orchestra and the Master. At the end of the aria Largo al factotum, when I no longer expected an encore, behold,
from the audience, after thunderous applause, requests for an encore arrived.
Magic! He scratched one of the high notes at both times but perfect in
everything else. Making a real "run-of-the-mill", he continues to
show that when one lives life with humility, without snobbery, without seeking
easy fame, based on work, dedication and passion for Music and Opera for more
than 50 years, Life (and, for me, God) gives back the privilege of "a
little more."
His peers
were of top quality, one night being "his" just so he was because
they were "theirs." We still have some opportunities to listen to him
before this bittersweet day that will be September 22, 2019. I hope to be able
to participate in his energy and passion until then. With what I have seen and
with what, God willing, is still to come, one thing I can always remember -
2018 was, is and will always be for me, Year Nucci!
Text by wagner_fanatic
Que lenda!!! Fígaro aos 76!!!
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