Cena de Katia Kabanová, foto internet
Crítica de Ali Hassan Ayache no
Blog de Ópera & Ballet
Uma das características marcantes dos últimos anos do Theatro São Pedro é a apresentação de
títulos de ópera raros e poucas vezes vistos pelo público paulistano. Kátia Kabanová é um desses
nomes que você nunca espera ver ao vivo em sua cidade. Segundo o teatro essa
ópera é inédita no Brasil. A obra prima de Leos Janácek teve estreia no dia 17 de Agosto em São Paulo.
O compositor tcheco compôs parte expressiva de sua obra nas duas últimas
décadas de vida. Um amor fulminante por uma jovem, de então 25 anos de
idade, fez a inspiração do compositor tcheco aflorar de maneira arrebatadora.
Bons tempos que o amor ainda provocava grandes inspirações melódicas.
A ópera em três atos Kátia Kabanová é, ao lado de Jenufa,
a obra prima do compositor. Inspiração elevada ao limite, que representa a dor
apaixonada do ser humano. Música extremamente pessoal, composta
com frases curtas e repetitivas que não se adaptam a nenhum gênero.
Óperas de Janácek não têm grandes árias e sim recitativos com personagens
simples, humildes e ao mesmo tempo complexos.
Gabriela Pacce, arrebatadora
como Kátia Kabanová
O importante é a música, que mostra o caráter
dos personagens. A orquestra narra a ação e nela expressa profundas
emoções. As falas são coadjuvantes. Janácek constrói linhas
melódicas adequadas a cada personagem, música que reflete o sentimento e o
caráter. De beleza única e um lirismo que faz chorar o mais frio dos machões.
A Orquestra do Theatro São Pedro
nas mãos de Ira Levin capta a alma
da música. Entregou sonoridade forte e enfrentou uma partitura complexa com
destreza. A leitura correta do regente realça a música, o lirismo e a expressão
minimalista das frases. Levin ao reger Kátia Kabanová prova
que conhece ópera e suas peculiaridades. Cada período operístico tem suas
características musicas e nuances.
A concepção de André Heller-Lopes
apresenta elementos do conservadorismo da sociedade de época. Personagens vivem
em um mundo fechado e de poucas mudanças, consegue juntamente com belos
cenários, figurinos adequados e uma luz poderosa efeito visual impactante. O
resultado é uma encenação moderna e adequada ao pequeno palco do teatro.
A escalação acertada do elenco contou com os melhores solistas
brasileiros da atualidade, a maioria no auge vocal e cênico. Um timaço liderado
por Gabriela Pacce espetacular como
Kátia Kabanová, Eric Herrero sempre
competente como Borius, Luiza
Francesconi e seu timbre divino encantou como Varvara.
A volta de Claudia Riccitelli
aos palcos brasileiros mostra que o soprano continua em grande forma vocal. Vinícius Atique poderoso como Kuligin, Sávio Sperandio interpretou Savjol e
mostrou mais uma vez que é um excelente baixo e Tati Helene arrebatadora como Glasa. Destoa de todos o tenor Juremir Vieira, falhou no início,
embora tenha melhorado ao longo da récita.
Ali Hassan Ayache
Sem comentários:
Enviar um comentário