A Sinfonia dramática Roméo et Juliette, op. 17, H.79 de Hector Berlioz (1803-1869) foi apresentada, pela primeira vez, em
Novembro de 1839 em Paris sob direcção do próprio compositor. O libreto de Émile Deschamps é baseado no drama
homónimo de William Shakespeare.
Trata-se de um dos mais originais e brilhantes
trabalhos do compositor que ficou extasiado após assistir a uma versão teatral
de Romeu e Julieta em Paris em 1827. A sua composição foi patrocinada com
20.000 francos por Niccoló Paganini,
a quem Berlioz dedicaria a obra. Para grande pesar de Berlioz, Paganini viria a
falecer em Nice antes de ler a partitura final daquela que, para o francês, era
“se me perguntarem qual a minha obra
preferida, a minha resposta será a de que partilho a visão da maioria dos
artistas: eu prefiro o Adagio (cena de morte) no Roméo et Juliette”. De
facto, este Adagio é de uma extrema
beleza e altamente imagético: pode ler-se um guião no diálogo entre o clarinete
(Julieta) e os violoncelos (Romeu) na cena da morte. A obra serviu, aliás, de
inspiração a Richard Wagner para o
seu Tristan und Isolde que assistiu à
primeira representação, sendo que o próprio Wagner enviou a Berlioz uma cópia
da sua ópera com a inscrição “Para o meu
caro e grande autor de Roméo et Juliette, do grato autor de Tristão e Isolda”.
A Orquestra
Gulbenkian e Coro Gulbenkian apresentaram-se em muito bom nível e
notoriamente bem preparados para a interpretação desta longa e difícil obra,
muito bem dirigida pelo maestro titular cessante Lawrence Foster. Berlioz disse “que
esta obra é extremamente difícil de executar” e acrescentava que só com
longos ensaios e artistas de primeira qualidade e com a dedicação que merece
uma ópera se atingiria uma boa récita. Creio, pois, ter-se atingido esse nível.
O mezzo-soprano francês Marianne Crebassa foi Juliette. O seu timbre não é especialmente
belo ou escuro, mas a sua potência e capacidade de projecção são assinaláveis,
e é bastante expressiva. Teve uma prestação de muito bom nível.
O tenor português Carlos Cardoso foi Roméo. A sua voz tem um timbre bonito, mas
faltou-lhe alguma potência para se fazer ouvir sobre a orquestra, revelando
algumas dificuldades na projecção. Ainda assim, a sua prestação foi de
qualidade.
O papel mais interessante e longo da obra é
para Frei Laurêncio que foi interpretado pelo baixo-barítono polaco Daniel Kotlinski. O texto que lhe cabe
é extenso e de enorme qualidade com uma mensagem forte e exige uma boa
capacidade interpretativa. Kotlinski conseguiu-o muito bem com uma voz bem
projectada, apesar de algumas dificuldades menores nos graves, mas com agudos
fáceis e que se conseguiam ouvir por cima de uma orquestra e coro de grandes
dimensões. A interpretação foi, pois, de muito boa qualidade, tendo sido o
solista em destaque da noite.
Assistiu-se, assim e uma vez mais, a um
excelente espectáculo na FCG, com uma obra pouco interpretada. Uma vez mais o Coro Gulbenkian mostrou a sua qualidade
internacional e a Gulbenkian, com a sala com o fundo aberto para o jardim,
exibiu um dos mais belos locais para se ouvir música a nível mundial.
Teria gostado muito de poder assistir a este espectáculo. Tenho acompanhado de longe, através do blogue valkirio, a progressão de Carlos Cardoso e teria sodo uma oportunidade também para ajuizar por mim mesma.
ResponderEliminarObrigada pela reportagem, camo_opera.
Obrigado pela reportagem.
ResponderEliminarGostaria apenas de chamar a atenção para o seguinte. Os cantores (solistas e coro) são personagens narradoras. Romeu e Julieta são "representados" a nível orquestral.