segunda-feira, 13 de maio de 2013

ROMÉO ET JULIETTE de Hector Berlioz — FCG, 9.05.2013


A Sinfonia dramática Roméo et Juliette, op. 17, H.79 de Hector Berlioz (1803-1869) foi apresentada, pela primeira vez, em Novembro de 1839 em Paris sob direcção do próprio compositor. O libreto de Émile Deschamps é baseado no drama homónimo de William Shakespeare.


Trata-se de um dos mais originais e brilhantes trabalhos do compositor que ficou extasiado após assistir a uma versão teatral de Romeu e Julieta em Paris em 1827. A sua composição foi patrocinada com 20.000 francos por Niccoló Paganini, a quem Berlioz dedicaria a obra. Para grande pesar de Berlioz, Paganini viria a falecer em Nice antes de ler a partitura final daquela que, para o francês, era “se me perguntarem qual a minha obra preferida, a minha resposta será a de que partilho a visão da maioria dos artistas: eu prefiro o Adagio (cena de morte) no Roméo et Juliette”. De facto, este Adagio é de uma extrema beleza e altamente imagético: pode ler-se um guião no diálogo entre o clarinete (Julieta) e os violoncelos (Romeu) na cena da morte. A obra serviu, aliás, de inspiração a Richard Wagner para o seu Tristan und Isolde que assistiu à primeira representação, sendo que o próprio Wagner enviou a Berlioz uma cópia da sua ópera com a inscrição “Para o meu caro e grande autor de Roméo et Juliette, do grato autor de Tristão e Isolda”.


A Orquestra Gulbenkian e Coro Gulbenkian apresentaram-se em muito bom nível e notoriamente bem preparados para a interpretação desta longa e difícil obra, muito bem dirigida pelo maestro titular cessante Lawrence Foster. Berlioz disse “que esta obra é extremamente difícil de executar” e acrescentava que só com longos ensaios e artistas de primeira qualidade e com a dedicação que merece uma ópera se atingiria uma boa récita. Creio, pois, ter-se atingido esse nível.


O mezzo-soprano francês Marianne Crebassa foi Juliette. O seu timbre não é especialmente belo ou escuro, mas a sua potência e capacidade de projecção são assinaláveis, e é bastante expressiva. Teve uma prestação de muito bom nível.

O tenor português Carlos Cardoso foi Roméo. A sua voz tem um timbre bonito, mas faltou-lhe alguma potência para se fazer ouvir sobre a orquestra, revelando algumas dificuldades na projecção. Ainda assim, a sua prestação foi de qualidade.

O papel mais interessante e longo da obra é para Frei Laurêncio que foi interpretado pelo baixo-barítono polaco Daniel Kotlinski. O texto que lhe cabe é extenso e de enorme qualidade com uma mensagem forte e exige uma boa capacidade interpretativa. Kotlinski conseguiu-o muito bem com uma voz bem projectada, apesar de algumas dificuldades menores nos graves, mas com agudos fáceis e que se conseguiam ouvir por cima de uma orquestra e coro de grandes dimensões. A interpretação foi, pois, de muito boa qualidade, tendo sido o solista em destaque da noite.


Assistiu-se, assim e uma vez mais, a um excelente espectáculo na FCG, com uma obra pouco interpretada. Uma vez mais o Coro Gulbenkian mostrou a sua qualidade internacional e a Gulbenkian, com a sala com o fundo aberto para o jardim, exibiu um dos mais belos locais para se ouvir música a nível mundial.

2 comentários:

  1. Teria gostado muito de poder assistir a este espectáculo. Tenho acompanhado de longe, através do blogue valkirio, a progressão de Carlos Cardoso e teria sodo uma oportunidade também para ajuizar por mim mesma.
    Obrigada pela reportagem, camo_opera.

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  2. Obrigado pela reportagem.
    Gostaria apenas de chamar a atenção para o seguinte. Os cantores (solistas e coro) são personagens narradoras. Romeu e Julieta são "representados" a nível orquestral.

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