sábado, 18 de maio de 2013

MENDELSSOHN na Fundação Gulbenkian — 17.05.2013


(Review in English below)


A FCG apresentou ontem o Concerto para Violino e Orquestra em Mi menor, op. 64 de Felix Mendelssohn Bartholdy. A obra estreada em 1845 e dedicada ao violinista e seu grande amigo Ferdinand David viria a ser a última obra para orquestra do compositor que faleceria precocemente em 1847. É um concerto que tem alguns pormenores originais na sua forma, que é um exemplo claro de um romantismo “clássico” e um dos mais belos concertos escritos para o mais pequeno dos instrumentos de cordas.


A interpretação ficou a cargo da jovem violinista russa Alina Pogostkina e foi de qualidade, embora não assombrosa. É expressiva, esteve bem coordenada com a orquestra e revelou o seu virtuosismo com seu fraseado melódico fácil, sobretudo no andamento intermédio. Como encore tocou J. S. Bach com destreza e elegância.


Em seguida ouviu-se uma obra poucas vezes interpretada, mas que é extremamente interessante: Sonho de uma Noite de Verão, op. 61 (Ein Sommernachtstraum). A peça tem a sua famosa Abertura em Mi Maior, op. 21, composta quando Mendelssohn tinha apenas 17 anos e que mostrava o rasgo de génio do alemão. Todavia, a música incidental a propósito da comédia de William Shakespeare foi escrita apenas em 1843 a pedido do rei Frederico Guilherme IV da Prússia. O seu andamento mais famoso e que está no ouvido de todos é a Marcha nupcial e o texto da obra é, grandemente, para ser dito por um narrador.


O narrador foi o norte-americano Mervon Metha. A sua interpretação foi de enorme qualidade com uma voz muito bem modulada consoante o texto. Emprestou, também, uma expressão corporal muito adequada e esteve muito acertado no tempo com a orquestra.


Ana Maria Pinto foi o soprano. A sua voz tem um timbre muito agradável, esteve muito afinada e com a voz bem projectada e sempre audível apesar de colocada atrás da orquestra.


Carolina Figueiredo foi o mezzo-soprano. Não tem, em minha opinião, um timbre muito melódico, por ser um pouco áspero e os seus agudos pareceram-me esforçados. Mas o papel é demasiado pequeno para uma apreciação categórica.

O Coro Gulbenkian esteve, uma vez mais, num nível de qualidade superior.
Também Lawrence Foster e a Orquestra Gulbenkian estiveram ontem num bom nível.

Esperamos, agora que restam Falstaff e Otello de Giuseppe Verdi, que a Orquestra e Lawrence Foster nos presenteiem com interpretações de qualidade elevada, até para que Foster se possa despedir do cargo de maestro titular da FCG em beleza.

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(Review in English)

The FCG presented yesterday the Concerto for Violin and Orchestra in E minor, op. 64 of Felix Mendelssohn Bartholdy. The work premiered in 1845 and dedicated to his close friend and violinist Ferdinand David was to be the last work for orchestra of the composer who pass away in 1847. It is a concert that has some original features in its shape, which is a clear example of "classic" romanticism and one of the most beautiful concertos ever written for the smallest of the stringed instruments.
The interpretation was borne by the young Russian violinist Alina Pogostkina that was of good quality, though not outstanding. She was expressive, well coordinated with the orchestra and revealed her virtuosity with her easy melodic phrasing, especially in the second movement. As encore, she played J. S. Bach with skill and elegance.

Then there was a work rarely played, but of extremely interest: A Midsummer Night’s Dream, op. 61 (Ein Sommernachtstraum). The piece has its famous Overture in E Major, op. 21, composed when Mendelssohn was only 17 that show the stroke of genius of the German composer. However, the incidental music about William Shakespeare’s comedy was written only in 1843 at Prussian King Frederick William IV request. Its most famous and worldwide known movement is the Wedding March and the text of the work is greatly to be told by a narrator.
The narrator was the American Mervon Metha. His performance was of great quality with a voice well modulated depending on the text. Lent also a very appropriate body language and was very settled in time with the orchestra.
Ana Maria Pinto was the soprano. Her voice has a very pleasant timbre, was very in tune with the voice always well projected and audible though she was placed behind the orchestra.
Carolina Figueiredo was the mezzo-soprano. She hasn’t, in my opinion, a very melodic timbre that was a little rough and her high notes was too forced. But the role is too small for a categorical assessment.
The Gulbenkian Choir was again at a high quality standard as well as Lawrence Foster and the Gulbenkian Orchestra.

Hopefully, now that only left Falstaff and Otello by Giuseppe Verdi this season, the Orchestra and Lawrence Foster will present us magnificent interpretations, up to Foster to dismiss beautifully the post of principal conductor of the Gulbenkian Foundation.

3 comentários:

  1. Caro camo_opera:
    Tenho pena de não ter podido estar presente e agradeço mais esta excelente crítica. O concerto op. 64 é um dos meus concertos para violino preferidos (e mais amplamente representados na minha discoteca) e que revela um Mendelssohn já plenamente imerso no romantismo musical. Alia uma belíssima veia melódica a um virtuosismo decidido, ao mesmo tempo que inova na arquitectura interna, especialmente no primeiro movimento. É sempre um enorme prazer ouvi-la.

    Quanto à música de cena Sonho de uma Noite de Verão, é, infelizmente, uma peça pouco tocada (e pouco gravada, com excepção da abertura). Nunca a ouvi ao vivo e lamento ter perdido esta oportunidade.
    O único consolo é que, no mês passado, a Diapason vinha acompanhada de uma surpreendente gravação da peça, interpretada por Klemperer em 1961 à frente da Philharmonia Orchestra e Coro, com Janet Baker e Heather Harper, há muito indisponível. E em boa hora foi recuperada pela Diapason, pois é uma leitura de uma vitalidade e espontaneidade que poucos associariam ao granítico Klemperer dos anos 60.

    Cumprimentos,
    J. Baptista

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    1. Caro João Baptista,
      O Concerto para violino de Mendelssohn é um dos meus preferidos também, a par com o de Tchaikovsky, Schostakovich e Beethoven. Também é um dos meus mais representados, mas tenho dificuldade em decidir-me pela minha interpretação preferida. Já nos outros é-me mais fácil:
      - Tchaikovsky: Julia Fischer e Christian Ferras (diametralmente diferentes, mas óptimas)
      - Shostakovich: Vengerov e Oistrak (Vengerov para a Teldec: é excelente)
      - Beethoven: Anne Shopie Mutter (com Karajan)
      Quanto ao Sonho de uma Noite de Verão: foi muito interessante, de facto. Essa gravação de Klemperer é excelente. Foi a que ouvi a preparar para a récita: o site ClassicsToday tem uma crítica em que lhe dá 10/10! Também gostei de ouvir a de Ozawa com K. Batlle: a narradora é óptima.
      Saudações

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    2. Caro camo_opera:
      Qualquer dos concertos que refere se inscreve na minha lista de favoritos (a que juntaria ainda o de Sibelius e o de Brahms e mais uns quantos).
      Quanto ao de Mendelssohn, continuo a regressar, com maior frequência, à primeira gravação que adquiri e com a qual passei a conhecer a obra: Isaac Stern/Ormandy 1959.

      No de Tchaikovsky não conheço as duas gravações que refere. A do Ferras é com o Karajan ou com o Silvestri? As duas que prefiro são a do Heifetz/Reiner 1957 (que acho insuperáveis nesta obra) e a do Oistrakh/Rozhdestvensky ao vivo em 27-09-1968. Também tenho a gravação do Oistrakh com o Konwitschny em 1954, em estúdio, com melhor qualidade de som, mas menos emocionante.

      Shostakovich – Não conheço a gravação do Vengerov, que tenho de explorar. É que, sempre que ouço a do Oistrakh ao vivo, dirigida por Mravinsky em 18-11-1956, fico esmagado e penso que nenhum outro violinista conseguirá exprimir a desolação e a angústia com a mesma crueza, conjugando-as com um burlesco selvagem. Mas quase: um dos melhores concertos sinfónicos que ouvi foi na FCG, há uns 4 ou 5 anos, quando o jovem violinista Sergei Khachatryan o tocou no Grande Auditório, numa execução “aterradora” (e repetiu um ou dois anos depois, novamente em grande nível).

      Beethoven – Não conheço a gravação da Mutter com HvK; penso que é aquela em que a mesma teria uns 16 anos, não é? Embora não seja, em regra, grande entusiasta do Menuhin, a sua gravação com Furtwängler em 1954 é a que prefiro. Acho que perpassa nessa gravação uma humanidade, um calor e um envolvimento emocional que não consigo encontrar em outras gravações. Por exemplo, um violinista que muito aprecio, o Heifetz, deixa-me completamente indiferente na sua muito celebrada gravação com Toscanini em 1940.

      Cumprimentos,
      J. Baptista

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