sábado, 30 de julho de 2011

TURANDOT – Teatro Scala, Milão, Maio de 2011


Turandot foi a derradeira ópera de G. Puccini que morreu antes de a terminar. Foi acabada (o último dueto e o final) por Franco Alfano. O libretto é de Giuseppe Adami e Renato Simoni, segundo a obra Turandotte do veneziano Carlo Gozzi.

Na China antiga, numa praça de Pequim, o povo aguarda a execução do príncipe da Pérsia, o último a tentar conquistar a fria e distante princesa Turandot. Para o conseguir há que ultrapassar uma prova que consiste na resolução de três enigmas. Na confusão, um velho, Timur, cai ao chão e é ajudado por uma jovem escreva Liù. Calaf ajuda-o e reconhece nele o seu pai, o rei Tártaro deposto. Liù está secretamente apaixonada por Calaf. A execução do príncipe da Pérsia consuma-se e Calaf fica encantado com a beleza de Turandot e, contrariando os conselhos de Timur, Liù e dos três ministros imperiais, Ping, Pang e Pong, decide tocar o gongo, anunciando a intenção de se sujeitar à prova.

Turandot surge altiva e diz que a sua castidade e crueldade se destinam a vingar o sofrimento de uma antiga princesa. Mas Calaf soluciona os três enigmas e Turandot, desesperada, pede que a libertem da sua obrigação. Calaf diz-lhe que, se ela descobrir o seu nome até ao amanhecer, ele morrerá.
Ninguém dorme em Pequim e Turandot tenta desesperadamente saber o nome. Liù diz-lhe que só ela o sabe mas não o dirá. Turandot pergunta donde lhe vem tanta força e Liu diz-lhe que é do amor. Apunhala-se mortalmente, impressionando todos.
Calaf beija Turandot e revela-lhe o seu nome. Perante a população e o imperador, Turandot anuncia que sabe o nome do estrangeiro, é Amor. Abraçam-se e acabam felizes.


Na boa tradição italiana, a récita do dia anterior fora cancelada por greve, situação vivida aqui pelo meu colega de blogue wagner_fanatic há meses. Escapei por um dia a esta experiência desagradável mas, em Itália, há sempre que contar com estes percalços!




A encenação de Giorgio Barberio Corsetti é clássica e eficaz. Tem momentos de grande inovação dado que os diferentes cenários vão aparecendo no palco em plena execução da ópera, vindos de baixo ou de trás. O espectáculo foi também enriquecido com a actuação de acrobatas chineses ao longo de toda a récita. Contudo, não deixou de ter algumas perplexidades. Por exemplo o adorno na cabeça da Princesa Turandot era igual ao dos outros elementos do povo. Pequim parecia mais um lugarejo rural do que a capital do império, dadas as pequenas dimensões das casas que constituíam os cenários.


O maestro italiano Daniele Callegari teve um desempenho banal ao qual a Orquestra do Scala respondeu com qualidade. O Coro do Scala foi excepcional e, dada a sua importância no espectáculo, representando o povo de Pequim, foi o “melhor personagem” da récita.


O tenor americano Stuart Neill foi um Calaf contido no primeiro acto mas brilhante no terceiro. A famosíssima ária Nessum dorma saiu-lhe muito bem e obteve um estrondoso aplauso. A voz é heróica e poderosa, embora o timbre não seja cativante. Cenicamente foi fraco e a figura (excessivamente obeso) também não ajudou. Preocupou-se apenas com o canto e conseguiu atingir um patamar muito bom.


Timur foi interpretado pelo baixo italiano Marco Spotti que teve uma boa prestação tanto vocal como cénica. A voz é de inegável beleza e o cantor teve uma presença em palco marcante.

Maija Kovalevska, soprano da Letónia, foi uma Liù comovente e de excepcional qualidade. A voz é doce, de uma beleza invulgar, mas cheia e muito lírica. Cenicamente esteve perfeita. Foi a melhor intérprete da récita.


A princesa Turandot foi interpretada pelo soprano americano Lise Lindstrom. A figura é excelente, alta e magra e teve uma presença marcante, dada a expressividade que emprestou à personagem. A voz é poderosa e de timbre claro. Contudo, acho que seria ainda mais benéfica uma interpretação mais dramática e menos lírica.


Ping, Pang e Pong foram os italianos Angelo Veccia, Luca Casalin e Carlo Bosi que tiveram interpretações banais, sem interesse.









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Turandot - Teatro alla Scala, Milan, May 2011

Turandot was the last opera by G. Puccini. He died before finishing it. It was finished (the last duet and the finale) by Franco Alfano. The libretto is by Giuseppe Adami and Renato Simoni, after Turandotte by the Venetian Carlo Gozzi.

In ancient China, in a square in Beijing, the people await the execution of Prince of Persia, the last to try to seduce the cold and distant princess Turandot. To achieve this it is necessary to overcome a proof that consists in solving three enigmas posed by the princess. In the confusion, an old man, Timur, falls to the ground and is helped by a young woman slave, Liù. Calaf helps her and recognizes his father, the deposed Tartar king. Liù is secretly in love with Calaf. The execution of Prince of Persia is done and Calaf is impressed by the beauty of Turandot and, against the advice of Timur, Liù and the three imperial ministers, Ping, Pang and Pong, he decides to play the gong, announcing the intention to undergo the proof. Turandot appears and says proudly that her chastity and cruelty are intended to avenge the suffering of an ancient princess. But Calaf solves the three enigmas. Turandot, desperate, calls for the release of her obligation. Calaf tells her that if she finds out her name until dawn, he will die. No one sleeps in Beijing and Turandot tries desperately to know the name of the man. Liù tells her that only she knows it, but she will not tell her, even after being tortured. Turandot asks her where does her strength comes from and Liù tells her that it is from love. Liù stabs herself to death, impressing everyone. Calaf kisses Turandot and tells her his name. To the people and the emperor, Turandot announces that she knows the name of the foreigner. It is Love, she says. They embrace and all ends up in happiness.

In the good Italian tradition, the performance of the previous day had been canceled due to a strike, a situation lived by my blog colleague wagner_fanatic a few months ago. I escaped for one day to this unpleasant experience, but in Italy, there is always the risk of these disappointing events.
 
The staging by Giorgio Barberio Corsetti is classic and effective. There are moments of great innovation as different scenarios are appearing on stage during the performance, from below or behind stage. The performance of Chinese acrobats was also spectacular and very interesting. However, there were some perplexities. For example, the headdress of Princess Turandot was equal to the other elements of the people. Beijing seemed more a rural village than the capital of the empire, given the small size of the houses and other settings of the scenarios.

Italian conductor Daniele Callegari was trivial, without enthusiasm, but Scala Orchestra responded with quality. The Scala Choir was exceptional and, given its importance in the opera, representing the people of Beijing, it was the "best character" on stage.

American tenor Stuart Neill was a contained Calaf in the first act but brilliant in the third. The very famous aria Nessum dorma was very well interpreted and he got a thunderous applause. The voice is powerful and heroic, though the tone is not appealing. Artistically he was not convincing and the figure (obese) did not help. He was only concerned with the singing and in it he achieved a high level.

Timur was Italian bass Marco Spotti. He had a good performance both vocal and artistic. The voice is of undeniable beauty and the singer had a striking presence on stage.

Maija Kovalevska, Latvian soprano, was a moving Liù of exceptional quality. The voice is sweet, very lyrical and unusually beautiful. On stage she was perfect. She was the best soloist of the performance.

Princess Turandot was interpreted by American soprano Lise Lindstrom. Shi is tall and slim and had also an excellent artistic performance on stage. The voice is powerful and has a clear timbre. However, I think it would be even more beneficial a more dramatic and less lyrical interpretation.

Ping, Pang and Pong were the Italians Angelo Veccia, Luca Casalin and Carlo Bosi. They had trivial uninteresting performances.

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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Joyce DiDonato – Mais um encontro inesperado em Londres


 Como não há duas (esta e esta) sem três, voltei a cruzar-me, inesperadamente, com uma grande cantora nas ruas de Londres, desta vez muito perto da Royal Opera House.


 Apesar de estarmos em Julho, o dia era muito chuvoso e fresco. Subitamente dou de caras com Joyce DiDonato!


 Como habitualmente, apresentei-me, disse-lhe do meu apreço pela sua arte e pedi-lhe para tirar uma fotografia. Foi muito simpática mas ficou manifestamente embaraçada com a ideia porque considerava que não estava nas melhores condições para uma fotografia. Insisti, acedeu, mas pediu-me para não a publicar (ela, como muitos, devem ter experiências desagradáveis). Dada a sua generosidade, respeitaria o pedido, com grande pena minha, porque a fotografia ficou fantástica. Mas insisti, por e-mail através do seu “site” oficial e… obtive uma resposta favorável!!  Assim, aqui fica a fotografia (a primeira), disponível para todos os admiradores, graças à generosidade de Joyce DiDonato!



(em fundo o maestro Bertrand de Billy)

 Disse-me que já tinha estado em Portugal e que tinha gostado muito de Sintra. Quando cantará em Portugal… (imaginam a resposta). Despedi-me, agradecido, e recebi como resposta um enorme sorriso e um Obrigado … rapidamente corrigido para Obrigada!


 Mais um encontro com um dos mais fabulosos mezzo-sopranos da actualidade, insuperável em Rossini, como já testemunhei aqui e aqui. E mais uma vez me deparei com uma pessoa muito simpática e generosa.




 Para poder ter algo mais para mostrar no blogue fui esperá-la à stage door  depois da récita da Cendrillon. Estavam muitos fãs à espera mas teve uma palavra simpática para todos e transbordou simpatia e boa disposição. Reconheceu-me de imediato, deu-me um autógrafo simpático e abraçou-se a Eglise Gutiérrez dizendo-lhe que era para tirarem uma fotografia para Portugal.


 Tinha já um enorme respeito e admiração por Joyce DiDonato, não só pelas suas qualidades vocais, como por ter assistido a uma récita do Barbeiro de Sevilha em que, apesar de ter fracturado um pé, não cancelou e cantou (numa cadeira de rodas) de forma soberba, não privando o público de a ouvir!



(um dos autógrafos)

Mais uma grande mulher e Grande Artista da cena lírica mundial. 
Obrigado Joyce DiDonato!



Joyce DiDonato - Another unexpected encounter in London

As there are not two times (this and this) without a third one, as we say in Portugal, I met again, unexpectedly, a great singer on the streets of London, this time very close to the Royal Opera House.

Although we are in July, the day was rainy and cool. Suddenly I faced Joyce DiDonato!

As usually, I introduced myself, told her of my appreciation for her artistry and asked her to take a picture. She was very nice but embarrassed by the idea because she considered that she was not in her best for a picture. I insisted, she agreed, but asked me not to publish the picture (I imagine she, like many others, must have had unpleasant experiences). Due to her generosity, I would respect the request, to my great regret, because the photography was fantastic. However, I insisted in the request to publish the picture, sending her an e-mail through her website and… I received a positive nice answer!!. Therefore, here is the picture and we all, fans, thank Ms. DiDonato for letting me share it!

She told me she had been in Portugal and liked Sintra very much. When will she sing in Portugal ... (you imagine the answer). I said goodbye after stressing that I was most grateful to her, and I received as an answer a huge smile and a Obrigado (Thank you in Portuguese), quickly corrected to ... Obrigada! (the correct was to be said by a lady).

This was another meeting with one of the most fabulous mezzo-sopranos of our time, unsurpassed in Rossini, as I have witnessed here and here. And, once again, I came across a very friendly and generous person.

In order to have something else to show here I went to the stage door after the performance of Cendrillon. Many fans were expecting her there and she had a kind word for everyone, also overflowing kindness and sympathy. She recognized me immediately, gave me a nice autograph and hugged soprano Eglise Gutierrez telling her that that was to take a picture for Portugal.

I had already a tremendous respect and admiration for Joyce DiDonato, not only for her vocal qualities, but also because I attended a performance of Il Barbiere di Siviglia in London where, despite she had a broken bone after an accident on stage, she did not cancel and sang superbly (on a wheelchair), not depriving the public of her magnificent voice!

Luckily I met a great woman and a Great Artist of the world opera.

Thank you Joyce DiDonato

domingo, 24 de julho de 2011

CENDRILLON – Royal Opera House, Londres, Julho de 2011

 (review in English below)

Cendrillon é uma ópera de Jules Massenet com libretto de Herni Cain baseado no conto de fadas Cendrillon (Cinderela) de Charles Perrault.

Era uma vez… um conto de fadas para o esplendor das vozes femininas!



A história é bem conhecida. Nesta versão Lucette (Cendrillon, Cinderela) vive com Pandolfe, o pai que casou em segundas núpcias com madame de la Haltière, uma madrasta terrível que tem duas filhas. Todos se preparam para um baile no palácio do príncipe Charmant. A madrasta proíbe Lucette de ir ao baile. Aparece uma fada que a transforma numa irreconhecível e bela jovem mas avisa-a que deve regressar antes da meia noite. No baile o príncipe rejeita todas as pretendentes e apaixona-se de imediato por Lucette. À meia note desaparece, mas perde um sapato. De novo em casa, a madrasta descreve o baile a Lucette. Demasiado triste, decide fugir para a floresta para aí morrer. Aparece de novo a fada e, na floresta, encontra-se com o príncipe e cantam o seu amor. O pai encontra-a muito doente, leva-a para casa e diz-lhe que, enquanto dormia, falou num príncipe. Lucette pensa que afinal tudo foi um sonho. O príncipe pretende encontrar a sua amada e chama todas as jovens que foram ao baile para provarem o sapato. A madrasta tem a certeza que será uma das filhas a escolhida. Todas provam o sapato que não serve a nenhuma. Surge Lucette com a fada e é imediatamente reconhecida pelo príncipe. Toda a família fica subitamente feliz e cumprimenta a futura rainha.



A produção de Laurent Pelly é muito bem conseguida para o conto de fadas. O cenário é constituído por painéis onde está escrita a história. Têm muitas portas e movem-se ao longo do espectáculo oferecendo-nos quadros muito diversos e de grande efeito visual, mantendo sempre as páginas da história como elemento central.
Os trajos são muito engraçados e exageradamente peculiares. Todas as personagens femininas aparecem de encarnado, com excepção das criadas (de cinzento), da madrasta (inicialmente de roxo), suas duas filhas (de cor de rosa e verde claro) e da fada (de azul celeste). Lucette aparece de cinzento mas, quando transformada pela fada, de branco prateado. Os homens, de fato preto, colete e camisa branca, meias encarnadas e cabeleiras fartas.





A direcção musical foi do maestro francês Bertrand de Billy. Foi o meu primeiro contacto com esta ópera e não achei que, musicalmente, fosse uma peça superior. Houve trechos de inegável beleza, muito favorecidos pela qualidade da interpretação vocal mas, de uma forma global, não achei a obra ao mesmo nível de outras de Massenet.



Joyce DiDonato, mezzo-soprano americano, foi uma Lucette (Cendrillon) extraordinária. A voz é de uma extensão invulgar (incluindo pelos terrenos de soprano), de timbre belíssimo, de potência avassaladora. Já várias vezes referi que aprecio muito DiDonato. Acho que consegue transmitir vocalmente os diferentes estados de alma como poucas. Aqui foi ora triste e melancólica ora alegre e radiosa. Em cena foi sempre muito credível. É uma actriz que canta. É sempre um privilégio ouvir Joyce DiDonato.





A madrasta Madame de la Haltière foi interpretada pelo contralto polaco Ewa Podles. Um colosso vocal e artístico! A encenação ajudou, mas a sua voz grave, bela e sempre afinada encheu a sala e maravilhou todos os presentes. O registo grave é absolutamente único. Uma cantora a não perder. Brutal!




Outra enorme surpresa foi o mezzo-soprano britânico Alice Coote que interpretou o príncipe Charmant. Mais uma voz sensacional, em potência e beleza tímbrica.. O papel é extenso e esteve sempre afinada e nunca perdeu qualidade. Cenicamente foi perfeita, de uma agilidade invulgar e parecia mesmo um rapaz. Fantástica.



Para completar o conjunto de vozes superiores que se juntaram nesta produção falta referir o soprano cubano Eglise Gutiérrez que interpretou a Fada. Esteve ao nível das outras solistas, com uma voz sempre bem colocada, audível sobre a orquestra e recheada de notas agudas de qualidade. A coloratura foi também notável.



Uma palavra para o barítono francês Jean-Philippe Lafont, que foi Pandolfe, pai de Lucette. Imediatamente antes do início da récita fomos informados que estava doente, com uma cólica renal por cálculos (pedras no rim), mas tentaria cantar. E fê-lo com grande nível, dado que é um óptimo barítono. Só no andar se percebeu que não estava totalmente em forma. Obrigado Jean-Philippe por não ter cancelado e não nos ter privado de apreciar a sua voz.



Os restantes cantores, actores e o coro estiveram bem, mas a tarde foi mesmo das Senhoras que nos ofereceram interpretações inesquecíveis em todos os registos vocais.










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CENDRILLON, Royal Opera House, July 2011

Cendrillon is an opera by Jules Massenet with libretto by Herni Cain based on the fairy tale Cendrillon (Cinderella) by Charles Perrault. 

Once upon a time ... a fairy tale for the splendour of the female voices!
The story is well known. In this version Lucette (Cendrillon, Cinderella) lives with Pandolfe, his father who marriage for a second time with Madame de la Haltière, a terrible stepmother who has two daughters. All are preparing for a ball in the palace of Prince Charmant. Lucette's stepmother forbids her to go to the ball. A fairy appears and transforms her into an unrecognizable and beautiful young woman, but warns her that she should come back before midnight. At the ball the prince rejects all girls and falls immediately in love by Lucette. At midnight she disappears, but leaves a shoe behind. At home again, the stepmother describes the ball to Lucette. Too sad, she decides to escape to the forest to die there. The fairy appears again and in the forest she meets the prince and both sing their love. Her father finds her very sick, takes her home and tells her that while she slept, she spoke about a prince. Lucette thinks that all was a dream. The prince wants to find his beloved and calls all the girls who went to the ball to test the shoe. The stepmother is sure that one of her daughters will be chosen. The shoe does not fit any of the girls. Lucette appears with the fairy and is immediately recognized by the prince. The whole family is suddenly happy and greets the future queen.
Laurent Pelly’s production is excellent for the fairy tale. The scenario consists of panels where the story is written. They have many doors and move throughout the show giving us very different scenes of great visual effect, keeping the pages of history as a central element.
The costumes are very funny and overly quirky. All the female characters appear in red, with the exception of the maids (gray), the stepmother (initially purple), her two daughters (of pink and light green) and the Fairy (light blue). Lucette appears in gray but when transformed by the fairy, she becomes silvery-white. The men were in black suit, vest and white shirt, red socks, and bushy hair.
The musical director was the French conductor Bertrand de Billy. It was my first contact with this opera and I did not think it was a musical masterpiece. There were parts of undeniable beauty, much favoured by the quality of vocal performances, but on a global basis, I did not find the work at the same level as others of Massenet.
Joyce DiDonato,  American mezzo-soprano, was an extraordinary Lucette (Cendrillon). The voice is of an unusual extent (also throughout the soprano territory), with beautiful tone and overwhelming power. I have often mentioned that I really appreciate DiDonato. I think vocally she manages to convey the different feelings of the character as few others. Here she was either sad and melancholic or happy and radiant. Artistically she was always very credible. She is a singing actress. It is always a privilege to see Joyce DiDonato.
The stepmother, Madame de la Haltière, was interpreted by Polish contralto Ewa Podles. A colossal presence both vocal and artistic! The staging helped, but her voice, always in tune filled the room and fascinated all audience. Her bottom notes were absolutely unique. She is a singer not to be missed whenever possible. Fabulous!

Another huge surprise was the British mezzo-soprano Alice Coote who played Prince Charmant. She was another sensational voice, both in power and beauty of timbre. The role is extensive and she has always been in tune and never lost quality. Artistically she was perfect, with an uncommon agility, and really looked like a boy. Fantastic.
To complete the set of top quality voices that joined in this production I need to mention Cuban soprano Eglise Gutiérrez who played the Fairy. She was at the same level of the other soloists, with a voice well projected, audible over the orchestra and filled with high notes of quality. The coloratura was also remarkable.
A word also about French baritone Jean-Philippe Lafont, who played Lucette’s father Pandolfe.  Immediately before the performance we were informed that he was ill with kidney stones, but he would try to sing. And he did it with high quality, since he is a great baritone. Only when he walked we could realize that he was not fully well. Thank you Jean-Pierre for not having cancelled. We could benefit from your voice.

The remaining singers, actors and chorus were all well, but the afternoon was really of the ladies who have given us memorable interpretations in all vocal female registers.
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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Bryn Terfel – Encontro inesperado com um Grande Artista


(text in English below)

Pela segunda vez em Londres tive a sorte de me cruzar na rua, inesperadamente, com um dos maiores cantores da actualidade.

No dia seguinte a ter assistido à melhor Tosca da minha vida, quando andava pela rua, cruzo-me subitamente com… Bryn Terfel. Voltei atrás e perguntei-lhe se poderia tirar uma fotografia com ele (já não volto a cometer o erro de não andar sempre com a máquina fotográfica!).. Disse imediatamente que sim e pediu à acompanhante, a sua agente, para nos fotografar.


Apresentei-me como português e fiz a pergunta habitual – Quando vai cantar a Portugal? Sugeriu-me que perguntasse à agente, o que fiz, falando-lhe na Gulbenkian. Penso que, por simpatia, ela referiu que já tinha ouvido falar da Fundação.



Terfel disse-me que já tinha cantado em Lisboa uma vez, há cerca de 20 anos, numa produção com John Eliot Gardiner. Confessei, embaraçado, que não sabia. Respondeu-me que era natural, pois tinha sido há muitos anos (como se tivéssemos em Portugal, anualmente, vários artistas do calibre de Terfel…).



Sinto-me sempre pequeno quando estou perto dos vultos maiores do canto lírico. Terfel é um homem grande e forte, ao lado do qual me senti ainda menor. A figura é ideal para o vilão Scarpia que cantara de forma soberba na véspera. Contudo, no trato, é de uma invulgar simpatia, afectuosidade e à vontade. Falou comigo como se nos conhecêssemos há muito. Vendo a fotografia, disse que tínhamos ficado os dois muito bem. Penso que, se insistisse, continuaríamos a falar por mais tempo. Mas não quis ser inconveniente, agradeci novamente e despedi-me. A sua última palavra depois de apertarmos as mãos foi… Obrigado (em português).



Bryn Terfel é mais um exemplo de um Grande Artista que, apesar de ocupar um lugar de topo na cena lírica internacional, é uma pessoa muito agradável, de contacto fácil e enorme simpatia, o que eleva a nossa admiração para um patamar ainda mais cimeiro.

Obrigado Bryn Terfel!


Bryn Terfel – An Unexpected Encounter with a Great Artist
For the second time in London I was lucky enough to meet on the street, unexpectedly, one of the greatest singers of our time.
 
The day after I had seen the best Tosca of my life, while walking down the street, I crossed myself suddenly with… Bryn Terfel. I asked him if I could take a picture with him. He immediately said yes and asked her agent to photograph us.
I introduced myself as a Portuguese and made the usual question - When will you sing in Portugal? He suggested to me to ask his agent, what I did, telling her about Gulbenkian. I think, for sympathy, she said that she had heard of the Foundation.

Terfel told me he had once sung in Lisbon, about 20 years ago, in a production with John Eliot Gardiner. Embarrassed, I confessed that I did not know that. He replied that it was natural, because it had been many years ago (an understandable answer if we had in Portugal, every year, several artists of the calibre of Terfel…).

I always feel small when I'm near the greatest interpreters of opera. Terfel is a big, strong man, beside which I felt even smaller. His figure is ideal for the villain Scarpia that he sang superbly the night before. However he is a person of an unusual friendliness, warmth and ease. He spoke to me as if we were friends for long ago. When he saw the photo, he said that the two of us were well in it. I think that if I insisted, we could continue to speak for longer. But I did not want to be inconvenient. I thanked him again and said goodbye. His last word after shaking hands was ... Obrigado. 

Bryn Terfel is one more example of a Great Artist who, despite occupying a top position in the international opera scene, is a very nice person, accessible and with enormous sympathy, which increases our admiration into an even higher level.
Thank you Bryn Terfel!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

TOSCA – Royal Opera House, Londres, Julho 2011

(review in English below)

Tosca é um ópera de Giacomo Puccini com libretto de Guiseppe Giacosa e Luigi Illica, segundo a peça dramática de Victorien Sardou La Tosca de 1887.

Uma das melhores óperas do compositor, Tosca retrata uma história de amor, vingança, crueldade e morte passada em Roma em Junho de 1800, tendo por fundo as guerras napoleónicas e o ambiente revolucionário então vivido. A história pode ler-se aqui.

(estava lotação esgotada, mas a fila para as desistências ultrapassava largamente as portas da Royal Opera House)

Foi com muita satisfação que revi esta magnífica produção de Jonathan Kent, curiosamente com dois dos três solistas principais, Gheorghiu (Tosca) e Terfel (Scarpia), repetindo os papeis. Diferentes foram o maestro (Pappano) e o Kaufmann (Cavaradossi). 



Se há dois anos já tinha ficado deslumbrado com a récita, que poderei dizer desta? Foi um espectáculo perfeito. Vejamos porquê:



António Pappano dirigiu a excelente Orquestra da Royal Opera House de forma sublime. Sobressaiu a magnífica orquestração tempestuosa que Puccini emprestou à obra para imprimir o ritmo da acção, mas foram também fantásticos as árias e duetos de que a obra está imbuída. O Coro da Royal Opera esteve impressionante, o que foi particularmente notório no Te Deum no final do 1º acto.



Angela Gheorghiu, soprano romeno, como pessoa, tem frequentemente atitudes de profundo desrespeito pelo público, com cancelamentos frequentes e à última hora. Fui recentemente vítima de um deles aqui.
Contudo, já escrevi várias vezes que gosto muito da sua voz. E, desta vez, esteve ao mais alto nível, foi a melhor interpretação que lhe ouvi. A sua Tosca transmitiu ciúme, paixão, angústia, raiva, vingança e desespero ao longo da récita. A voz mantém uma impressionante beleza tímbrica e uma cor única. A extensão vocal é notável, o legato assinalável, os agudos são aparentemente fáceis, não perdem qualidade nem afinação e os pianissimi são de grande qualidade. Em cena foi totalmente credível. O guarda-roupa também ajudou muito. Na ária do 2º acto Vissi d’arte transbordou emoção e tristeza numa interpretação superior.






Bryn Terfel, baixo-barítono Galês, que há dois anos achei que não esteve no seu melhor, foi desta vez um Scarpia imbatível. Para além da prestação cénica excelente como vilão (também a figura e a roupagem a condizerem), a voz foi requintadamente maléfica. O timbre é belíssimo e não grita, conseguindo sempre cantar numa linha melódica muito agradável, harmónica e perfeitamente adequada à personagem.





Deixei para o fim o tenor alemão Jonas Kaufmann. Sou suspeito porque me incluo entre os seus admiradores incondicionais, mas têm sido as muito diversificadas actuações em que o tenho ouvido que são responsáveis por esta opinião. É também um homem simples, acessível e simpático, com quem tive a sorte de me encontrar há poucos meses aqui em Londres, o que contribuiu para a opinião que tenho dele.
Acho que Cavaradossi é um dos seus papéis preferidos e isso ficou patente nesta récita. A figura é excelente e presta-se ao papel. A representação também. Mas o mais importante é a voz que é de uma beleza ímpar e tem características muito singulares, permitindo que baste ouvir poucos segundos para se identificar logo o cantor, o que só acontece com muito poucos. O registo grave é excelente, baritonal, mas os agudos são igualmente poderosos, luminosos, afinados e abertos.







A ária Recondita armonia foi magnífica e deixou-nos antever uma interpretação superior. Em Mia gelosa, também no 1º acto foi suave e tranquilizador na transmissão do amor que sente por Tosca. No 2º acto, após a expressão dilacerante da tortura de que foi alvo, o seu Vittoria! quando sabe da derrota lealista foi marcante no sentimento que conseguiu transmitir. Finalmente, no 3º acto, quando sonha com Tosca, na ária E lucevan le stelle, deu-nos uma interpretação de um lirismo avassalador e uma qualidade insuperável!





Foi uma daquelas récitas mágicas, acima das melhores expectativas (que já eram altas), em que um conjunto perfeito de maestro, orquestra, coro e solistas, nos recordaram que, por vezes, podemos assistir a espectáculos de ópera que justificam o fanatismo de alguns!



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TOSCA - Royal Opera House, London, July 2011

Tosca is an opera by Giacomo Puccini with libretto by Giuseppe Giacosa and Luigi Illica, according to Victorien Sardou’s La Tosca, 1887.
One of the best operas of the composer, Tosca portrays a story of love, revenge, cruelty and death occurred in Rome in June 1800, with the background of the Napoleonic wars and the revolutionary times lived then. The story can be read in Portuguese here

It was with great excitement that I saw again this magnificent production of Jonathan Kent, with two of the three main soloists, Gheorghiu (Tosca) and Terfel (Scarpia), repeating the roles. Different were the conductor (Pappano) and Kaufmann (Cavaradossi).
If two years ago I had been impressed by the performance, what can I say this time? It was a perfect one. Let's see why:

Antonio Pappano directed the excellent Orchestra of the Royal Opera House in a sublime way. The magnificent stormy orchestration that Puccini put in the work to set the pace of the action was evident. The several arias and duets were also fantastic. The Choir of the Royal Opera was at the highest level, which was particularly evident in the Te Deum at the end of the 1st act.

Angela Gheorghiu, Romanian soprano, as a person, has often attitudes of profound disrespect for the public, with frequent cancellations at the last minute. I was recently the victim of one of them here.
However, I've written several times that I really like her voice. And this time, she was fantastic, it was her best interpretation that I have heard. Her Tosca transmitted jealousy, passion, anguish, anger, revenge and despair over the performance. The voice is strikingly beautiful and has a unique timbre. The vocal range is remarkable, as is the legato. Her top notes are easy, do not lose quality, and the pianissimi are of great quality. On stage she was fully credible. The costume designs also helped a lot. In the 2nd act aria Vissi d'arte she sang with overflowing emotion and sadness. What a superior
interpretation.
Bryn Terfel, Welsh bass-baritone, who I thought was not at his best two years ago, this time was an unbeatable Scarpia. In addition to the outstanding artistic performance as the villain (the figure and the costumes also matched), the voice was exquisitely evil. The timber is beautiful, he never screams, and always sings in a beautiful harmonic way, perfectly suited to the character.

I'm suspicious about German tenor Jonas Kaufmann because I count myself among his unconditional fans. His diverse performances that I have seen are responsible for my opinion. He is also a simple, accessible and friendly man, with whom I had the luck to meet a few months ago here in London, which contributed to the opinion I have of him.
I think that Cavaradossi is one of his favourite roles, and this was evident in the performance. His figure fits the role perfectly. Artistically, he is also convincing.
But most important is the voice that is of a unique beauty and has very particular features. Only a few seconds are sufficient to identify him. This only happens with very few singers. The lower notes are excellent, baritonal, but the top notes are equally powerful, bright, open and always in tune.

The aria Recondita armonia was wonderful and made us expect a fantastic night. In the aria Mia gelosa, also in the 1st act, he was soft and reassuring in the expression of his love for Tosca. In the 2nd act, after the expression of excruciating torture he had suffered, his Vittoria after knowing the defeat of Loyalists was touching in the message transmitted. Finally, in the 3rd act, when he dreams of Tosca, in the aria E lucevan le stelle, he gave us a lyrical interpretation of an overwhelming and unsurpassed quality!
It was one of those performances that surpassed my best expectations (which were high). The sum of a perfect conductor, orchestra, choir and soloists remind us that, sometimes, we see opera performances that justify the opera fanaticism of some of us! 

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