domingo, 22 de novembro de 2009

TOSCA – Royal Opera House, Julho de 2009

A acção de Tosca, de Giacomo Puccini, passa-se em Roma, em 17 e 18 de Junho de 1800. Mario Cavaradossi pinta Maria Madalena na Igreja de Sant’Andrea della Valle. É o amante da cantora Floria Tosca. Na igreja esconde-se, com a ajuda de Cavaradossi, Cesare Angelotti, um preso político republicano em fuga do Castel Sant’Angelo. A fuga é descoberta e Scarpia, o chefe da polícia, procura o fugitivo na igreja, onde encontra Tosca. Na sua residência, no Palazzo Farnese, Scarpia chama Tosca, prende e tortura Cavaradossi. Para acabar com a tortura do amante, Tosca revela o esconderijo de Angelotti. Cavaradossi sente-se traído e Scarpia manda executá-lo depois de ser conhecida uma notícia de vitória republicana. Tosca promete entregar-se a Scarpia, pagando o preço da salvação de Cavaradossi. Scarpia dá instruções para que a execução de Cavaradossi seja apenas uma encenação. Tosca pede-lhe que passe um salvo conduto para sairem de Roma. Quando Scarpia se aproxima para a tomar nos braços, apunhala-o mortalmente. Tosca, no Castel Sant’Angelo onde Cavaradossi aguarda a execução, diz-lhe que esta será fingida, mas que ele deverá cair como morto. Planeiam a fuga, mas a execução é real. Quando Tosca se aproxima fica horrorizada ao verificar que Cavaradossi está morto. É descoberto o assassínio de Scarpia e, antes de ser presa, Tosca liberta-se pela morte, saltando do Castel Sant’Angelo.

Com encenação de Jonathan Kent, a produção da Royal Opera House é sumptuosa, muito fiel ao libretto e de grande beleza estética. Achei apenas que beneficiaria um pouco se fosse mais iluminada, pois em partes importantes e longas da récita mal se veêm os cantores. O 1º acto foi excelente, o 2º de antologia mas o 3º não manteve o mesmo nível. O maestro – Jacques Lacombe extraiu da orquestra a intensidade dramática tipica de Puccini e bem evidente na Tosca, mas não esteve isento de ligeiros desencontros.
Vi as duas Toscas em cartaz, uma no ensaio geral e outra na récita formal. Nelly Miricioiu, a Tosca do ensaio geral, é detentora de um soprano robusto, está bem no papel (devo confessar que lá das alturas do anfiteatro pouco pude apreciar dos seus dotes dramáticos) mas, como tantas outras com voz potente, à força não corresponde a suavidade melódica que, mesmo num papel de soprano dramático, fica sempre bem. Sem desafinar, gritou um pouco nas notas agudas e, na voz, não conseguiu transmitir nem paixão nem raiva nos momentos apropriados, apenas força. A figura também não ajudava, pois era gorda e já velha para a personagem que representava.
Na récita formal foi Angela Gheorghiu que encarnou a Tosca. As minhas expectativas estávam no máximo. Sempre achei a Gheorghiu uma das melhores e nunca a tinha visto ao vivo em ópera. E não desiludiu. O que a outra romena tinha em força, tinha esta em agilidade vocal, beleza tímbrica e sentimento na voz e na expressão. Fisicamente continua a ser uma mulher bonita, apesar de achar que este não é o melhor papel para ela. Mas foi arrebatadora. Nunca desafinou, não evitou as notas mais agudas, tem uns pianíssimos fabulosos, mantém uma extensão vocal impressionante e a cor da voz é única. A récita já era excelente, mas a Georghiu adicionou-lhe aquele toque de magia que sempre esperamos e raramente obtemos.
O tenor italiano Marcello Giordani interpretou um Cavaradossi aceitável. Voz com excelente emissão e potência, como é de esperar nos grandes teatros de ópera. Não particularmente excitante no registo mais agudo, com vibrato e, por vezes, som metálico. Fraseou bem o que cantou mas era velho de mais para o papel que representava, sobretudo quando acompanhado da Gheorghiu.
Finalmente o barítono Bryn Terfel, no papel de Scarpia foi cenicamente excelente, mas vocalmente estava à espera de melhor. A voz é bem timbrada mas menos potente do que estaria à espera. Comparada com o tenor, parecia que um cantava à boca da cena e o outro quase nos bastidores. Contudo, conseguiu transmitir sentimento malévolo na voz, para além de cantar, o que é sempre o que se espera dos melhores. É, para além de cantor, um excelente actor.
Sobre os restantes, nada de relevante a assinalar, para além da sua boa qualidade global.

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