domingo, 22 de novembro de 2009

IL BARBIERE DI SIVIGLIA – Royal Opera House, Londres, Julho de 2009

Il barbiere di Siviglia (O barbeiro de Sevilha) é a mais conhecida ópera de Gioacchino Rossini e uma das óperas cómicas mais famosas. Em Sevilha, o conde de Almaviva e seus músicos fazem uma serenata a Rosina. Figaro, o barbeiro, informa-o que Rosina é pupila de Don Bartolo e que este quer casar com ela, pelo seu dinheiro. O conde quer conquistar Rosina pelo seu amor e não por dinheiro e diz-lhe que se chama Lindoro. É também personagem importante Don Basílio, professor de música e amigo de Don Bartolo. Ao longo da ópera há sucessivas tentativas de Lindoro entrar em casa de Don Bartolo para se encontrar com Rosina, ajudado por Fígaro. No final, Don Bartolo decide casar com Rosina mas, quando chega com o notário, apercebe-se que o conde de Almaviva e Rosina estão já casados, tendo sido testemunhas Figaro e Don Basilio. A ópera termina com todos a celebrar o amor.

A produção é fora do habitual porque “foge” das abordagens tradicionais habitualmente seguidas pela ROH (e que muito aprecio, pois devo confessar-me um conservador). É uma encenação moderna, quase um conto infantil muito colorido, de Moshe Leiser e Patrice Caurier. A coisa funciona cenicamente, tem até aspectos curiosos e invulgares (como a subida de todo o palco até meia altura no final do 1º acto) mas, no global, não é arrasadora. A direcção musical, excelente, esteve a cargo do maestro titular, Antonio Pappano.
Esta foi a ópera que vi em que mais surpresas aconteceram. Depois da informação da substituição de Simon Keenlyside no papel de Fígaro, foi anunciado imediatamente antes do espectáculo, pelo António Pappano, que a Joyce DiDonato tinha partido um pé na estreia dois dias antes mas que, mesmo em cadeira de rodas, iria cantar e representar. Assim aconteceu, a senhora cantou sempre na cadeira de rodas e na parte mais periférica do palco, o que não terá ajudado o efeito pretendido na encenação. Ao longo da ópera foram ainda acontecendo outras situações inesperadas, muitas devidas à colocação da DiDonato e outras espontâneas (uma porta que não abriu, uma mesa que não caiu, etc.).
No papel de Fígaro o barítono italiano Pietro Spagnoli cumpriu sem encantar. No início teve dificuldade em segurar as notas mais altas, mas depois a coisa compôs-se. Boa voz, boa presença em palco, mas como ele há muitos. Aqui a substituição foi prejudicial.
O Conde de Almaviva foi Juan Diego Flórez que já atingiu aquele estatuto em que, ao cantar uma nota mais aguda, desencadeia logo aplausos. Mas foi, sem dúvida, um dos grandes da noite. Apesar de não ter sido um bom actor, continua com uma boa figura (embora baixo) e com uma voz que, para tenor ligeiro (tenore di grazia) não tem rival na actualidade! No registo mais agudo a voz é segura, ágil, firme e convincente.
Cantou com um virtuosismo inexcedível a aria “Cessa di più resistere” quase no final da ópera (aria que quase nunca é cantada) e, com isso, levou o público ao delírio. Houve aplausos acompanhados de bravos e muitas outras manifestações de satisfação durante cerca de 10 minutos!
A Rosina de Joyce DiDonato foi sui generis, devido ao facto de ter o pé partido e estar na cadeira de rodas. Mas a voz é excelente, muitíssimo bem timbrada, com uma flexibilidade invulgar e igualmente segura e forte tanto no registo mais grave como nos agudos. A representação ficou muito prejudicada, mas a voz continua magnífica e é uma cantora rossiniana por excelência. “A sparkling Rosina”, como anunciado em inglês é, de facto, uma expressão que se lhe adapta bem. É de louvar o facto de, mesmo com esta grave limitação, não ter cancelado a récita! Cenicamente foi prejudicial, mas não nos privou da sua magnífica voz.
O Dr Bartolo – Alessandro Corbelli cumpriu sem impressionar mas o Don Basilio – Ferruccio Furlanetto voltou a mostrar que é possuidor de um baixo como poucos, que faz tremer até o palco, e, apesar de algum vibrato, tem uma potência superior a todos os outros juntos.

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