(review in English below)
Música fantástica
e cantores excelentes numa encenação grotesca, a pior que alguma vez vi na
Royal Opera House. E pensava eu que era impossível arruinar a Carmen de Bizet … Estava enganado!
Já comentei aqui esta encenação que vi no início da temporada. O palco está ocupado, do início
ao fim, por uma enorme escadaria de madeira que todos os participantes sobem e
descem ruidosamente ao longo do espectáculo. Nada mais acontece. Não há acção,
não há história (esta vai sendo contada por uma narradora), quase não há adereços,
nada para ver. Não houve paixão, energia, cor ou vivacidade. A actuação em
palco foi desastrosa, inexistente.
O ruído constante na subida e descida da
escadaria perturba totalmente a audição. A Carmen aparece inicialmente vestida
de toureiro e depois de gorila! O que tem o gorila a ver com ela e com Sevilha?
E a cena final é inenarrável, amorfa, estática, sem qualquer paixão ou emoção e
termina de forma totalmente ridícula, com a Carmen a ressuscitar depois de
esfaqueada e a encolher os ombros.
A coreografia é também
deplorável, apesar da elevada qualidade dos bailarinos.
Não é habitual
ver este tipo de lixo na Royal Opera,
mas desta vez uma das melhores catedrais da ópera mundiais permitiu a um
encenador australiano, Barrie Kosky,
trazer um dos bons exemplos do que habitualmente se designa de Eurotrash! Coitados dos cantores.
Esquecendo a
encenação (o que não é possível num espectáculo de ópera), a música foi óptima
e o coro e os cantores excepcionais.
A maestrina Julia Jones teve uma direcção de
orquestra correcta e respeitou os cantores.
A Carmen foi
cantada por uma mezzo francesa que desconhecia, Anaïk Morel. Foi óptima, voz magnífica, sempre afinada, bem audível
tanto na frente do palco como no cimo das escadarias e uma figura excelente.
O Don Jose do Bryan Hymel foi muito bem cantado. Para
mim este é o melhor tenor norte-americano da actualidade e, como sempre, esteve
em grande. Cantou a ária La fleur que tu
m’avais jetée de forma superior, apesar de ter lutado com o agudo final.
Ailyn
Pérez foi uma Micaela marcante, de voz muito poderosa e afinada, embora
resvalando por vezes para a estridência.
O Escamillo de Luca Pisaroni começou contido, depois
melhorou mas, sendo muito bom, não atingiu a qualidade de topo dos restantes.
Nos papéis
secundários Stuart Patterson
(Remendado) foi muito bom e as restantes interpretações foram fantásticas: Jacquelyn Stucker (Frasquita) e Hongni Wu (Mercédes), ambas jovens do
programa Jette Parker da ROH foram deslumbrantes, assim como também o foram
mais três jovens deste programa, Germán Alcántara (Moralés), Michael Mofidian (Zuniga) e Dominic Sedgwick (Dancaïro), o que
atesta a excelente qualidade da formação na ROH.
Enfim, cantores
excelentes num espectáculo para ver de olhos bem fechados!
A ROH deveria
repor a produção anterior de Francesca Zambello, essa sim, digna desta obra
prima da ópera.
***** (cantores)
0 (produção / encenação)
CARMEN,
Royal Opera House, July 2019
Fantastic music
and excellent singers in a grotesque staging, the worst I've ever seen at the Royal Opera House. And I thought it was
impossible to ruin Bizet's Carmen
... I was wrong!
I already
commented here this production that I saw at the beginning of the season. The
stage is occupied, from beginning to end, by a huge wooden staircase that all
participants climb and descend noisily throughout the performance. Nothing else
happens. There is no action, no story (this is being told by a female narrator),
there are almost no props, nothing to see. There was no passion, energy, color
or liveliness. The performance on stage was disastrous, nonexistent. The
constant noise in the ascent and descent of the staircase totally disturbs the
hearing. Carmen appears initially dressed as a bullfighter and then as a
gorilla! What does the gorilla have to do with Seville? And the final scene is
unmentionable, amorphous, static, without any passion or emotion and ends in a
totally ridiculous way, with Carmen resurrecting after being stabbed and
shrugging.
The choreography
is also deplorable, despite the high quality of the dancers.
It is not
usual to see this type of garbage at the Royal Opera, but this time one of the
best opera cathedrals in the world has allowed an Australian director, Barrie Kosky, to bring one of the good
examples of what is usually called Eurotrash! I feel sorrow for the singers.
Forgetting
the staging (which is impossible in an opera), the music was great and the
singers exceptional.
Julia Jones was a correct orchestra director and respected
the singers.
Carmen was
sung by an unknown (to me) French mezzo, Anaïk
Morel. She was great, magnificent voice, always tuned, very audible both in
front of the stage and at the top of the stairs, and an excellent figure.
Bryan Hymel's Don Jose was very well sung. For me, he is
the best American tenor of our days and, as always, he was great. He sang the
aria La fleur que tu m'avais jetée very
impressively, although he struggled with the top note at the end.
Ailyn Peréz was a remarkable Micaela,
of very powerful and tuned voice, although sometimes sliding towards stridency.
Escamillo
by Luca Pisaroni started contained,
then improved but, being very good, did not reach the superior quality of the
other soloists.
In the
supporting roles Stuart Patterson
(Remendado) was very good and the remaining interpretations were fantastic: Jacquelyn Stucker (Frasquita) and Hongni Wu (Mercédes), both young
singers from the Jette Parker program of the ROH were stunning, as were three
other youngsters of this program, Germán
Alcántara (Morales), Michael
Mofidian (Zuniga) and Dominic
Sedgwick (Dancaïro), which testifies to the excellent quality of training
at the Royal Opera.
Anyway,
excellent singers in an opera to see with eyes closed!
The Royal
Opera should restore the previous production of Francesca Zambello that yes, is
worthy of this masterpiece of the opera.
***** (singers)
0 (production
/ staging)
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