(review in English below)
Na fachada da
Metropolitan Opera, para celebrar o regresso da ópera 30 anos depois, uma
pintura do artista Kerry James Marshall.
Porgy and Bess de George
Gershwin, com libreto de DuBose e
Doroty Heyward e Ira Gershwin
passa-se na década de 1920 na costa de Charleston, Carolina do Sul, na localidade
(fictícia) de Catfish Row. Numa comunidade de negros, conta a história de um
mendigo deficiente físico (Porgy), que tenta conquistar a sua amada (Bess)
amante de um homem violento e assassino (Crown), e de um traficante de drogas
(Sportin’s Life). Foi uma obra polémica, considerada racista na forma como
retrata os negros americanos na época.
A música é muito
rica e agradável, com influencias da folk e do jazz, e inclui diversas
passagens transformadas posteriormente em canções bem conhecidas como o Summertime, que abre o espectáculo e
reaparece posteriormente.
O espectáculo
apresentado pela Metropolitan Opera
de Nova Iorque é uma co-produção com a English National Opera (já foi comentada
no blogue) e a Dutch National Opera. A encenação de James Robinson é excelente. O palco é rotativo e mostra as casas em
madeira (e seus interiores) dos habitantes da comunidade piscatória e alguns
dos seus modos de vida. A forma como o palco se move, bem como as estruturas
sobre ele, permitem várias mudanças de cenário muito eficazes e de belo efeito.
O guarda roupa (de Catherine Zuber)
é também muito bom e os cantores e actores fazem o resto.
Dirigiu a
orquestra o maestro David Robertson.
A Metropolitan
Opera levou à cena um conjunto excelente de cantores negros, dada a abundância
existente nos Estados Unidos. Começando pelas senhoras:
A soprano Angel Blue foi uma Bess excelente. A
voz é de grande beleza, ampla, afinada e a cantora conseguiu transmitir na
perfeição as forças e fragilidades da personagem, tanto na interpretação vocal
como na cénica.
Latonia Moore (soprano) no papel de Serena teve a interpretação
vocal mais fabulosa da noite quando cantou My
man’s gone now, sobre o caixão do marido. Uma voz impressionante, cheia de
sentimento, de uma potencia avassaladora e sempre afinada desde um registo mais
grave até uns agudos arrepiantes. Um dos mais belos lamentos que alguma vez
ouvi em ópera.
A Clara da
soprano Golda Schultz (a única
cantora não americana da noite) foi também espectacular, tem uma voz muito
límpida pura e afinada e abre o espectáculo logo ao mais alto nível ao cantar o
Summertime para o seu bebé.
A veterana mezzo Denyce Graves fez uma Maria eficaz e
bem audível.
Merece um relevo
muito particular uma muito jovem cantora, Leah
Hawkins que teve uma interpretação muito curta, como vendedora de morangos,
mas foi absolutamente extraordinária, com uma voz de uma beleza invulgar, um
poderio fantástico e uns pianíssimos de arrepiar. Um nome a acompanhar no
futuro.
Passando aos
homens, o Porgy foi interpretado superiormente pelo barítono Eric Owens. Tem uma voz poderosa,
bonita, sempre bem audível sobre a orquestra. Em palco esteve muito bem na
figura de um deficiente.
Também ao mais
alto nível esteve o baixo barítono Alfred
Walker como Crown, cantando sempre de forma sólida, expressiva e muito credível.
O tenor Frederick Ballentine (Sportin’ Life) cantou de forma irrepreensível e teve uma excelente presença em palco como manipulador da Bess.
Jake Ryan, marido da Clara, foi interpretado por outro
tenor, Ryan Speedo Green, que também
esteve em grande forma
Um espectáculo fantástico!
****
PORGY AND
BESS, METropolitan Opera, October 2019
On the
facade of the Metropolitan Opera, to celebrate the return of the opera 30 years
later, a painting by artist Kerry James
Marshall.
George Gershwin's Porgy
and Bess, with libretto by DuBose
and Doroty Heyward and Ira Gershwin,
takes place in the 1920s off the coast of Charleston, South Carolina, in the
(fictional) locality of Catfish Row. In a black community, it tells the story
of a physically disabled beggar (Porgy) trying to win over his lover (Bess) from
a violent man and murderer (Crown), and a drug dealer (Sportin's Life). It was
a controversial work, considered racist in the way it portrays black Americans
at the time.
The music
is very rich and pleasant, with influences of folk and jazz, and includes
several parts later transformed into well-known songs such as Summertime, which opens the opera and
reappears later.
The show
performed by the Metropolitan Opera
of New York is a co-production with
the English National Opera (already commented on the blog) and the Dutch
National Opera. The production of James
Robinson is excellent. The rotating stage shows the wooden houses (and
interiors) of the fishing community's inhabitants and some of their ways of
life. The way the stage moves, as well as the structures on it, allow for many
very effective and beautiful effect changes of scenery. The dresses (by
Catherine Zuber) are also very good and the singers and actors do the rest.
The
orchestra was conducted by David
Robertson.
The
Metropolitan Opera has brought to the performance an excellent ensemble of
black singers, given their abundance in the United States. Starting with the
ladies:
Soprano Angel Blue was an excellent Bess. The
voice is of great beauty, wide, tuned and the singer was able to convey
perfectly the strengths and weaknesses of the character, both in vocal and stage
interpretation.
Latonia Moore (soprano) as Serena had the most fabulous
vocal performance of the night when she sang My Man's Gone Now, over her husband's coffin. An impressive voice,
full of feelings, of an overwhelming power and always tuned from a lower
register to chilling top notes. One of the most beautiful laments I've ever
heard in opera.
Clara was soprano
Golda Schultz (the only non-American
singer of the night) was also spectacular, has a very clear, pure and tuned
voice and opens the show to the highest level by singing Summertime to her baby.
Veteran
mezzo Denyce Graves was an effective
and very audible Maria.
It deserves
a very particular prominence a very young singer, Leah Hawkins who had a very short interpretation, as a seller of
strawberries, but was absolutely extraordinary, with a voice of unusual beauty,
fantastic power and a chilling pianissimi.
A name to follow in the future.
Turning to
men, Porgy was played superiorly by baritone Eric Owens. He has a powerful, beautiful voice, always very audible
over the orchestra. On stage was very well in the figure of a disabled man.
Also at the
top level was bass baritone Alfred
Walker as Crown, always singing in a solid, expressive and very credible
way.
Tenor Frederick Ballentine (Sportin 'Life)
sang blamelessly and had an excellent stage presence as a Bess manipulater.
Jake Ryan, Clara's husband, was played by another tenor, Ryan Speedo Green, who was also very well.
A fantastic
performance!
****
Há a 'Obra ao negr'o, L'Œuvre au noir, de Yourcenar, e há a Ópera ao Negro, que é a Porgy and Bess. E assim bem interpretada é na verdadae uma obra prima moderna, seguindo as convenções musicais clássicas - tonalidade, harmonia e melodia, etc.
ResponderEliminar'My man’s gone now' talvez seja o ponto alto, não conheço Latonia Moore mas é bom saber que há um escol de cantores líricos negros; isso é também um sinal do mais saudável que há na cultura americana.