terça-feira, 23 de outubro de 2018

RIGOLETTO, Teatro Massimo, Palermo, Outubro / October 2018




Texto de wagner_fanatic

Nove meses após vivenciar o Rigoletto de Leo Nucci pela primeira vez ao vivo, no Teatro Regio de Parma, esta “gestação”, desta vez de “gémeos” (2 récitas), no Teatro Massimo de Palermo não podia ter sido mais especial.

A encenação de John Turturro, tão badalada por ser de quem é e por ser uma estreia para o próprio, não fugiu do registo clássico, sem grande inovação ou surpresa, o que foi mais que justo no realçar do génio destes intérpretes e do génio de Verdi.



Já lamentei diversas vezes não o ter visto ao vivo antes de 2018 mas acho que, não necessariamente numa visão conformista, esta é a melhor altura para o ouvir. Comparando com gravações passadas em DVD ou videos do Youtube, Nucci parece ainda mais brilhante e transmitindo um amor à Vida e à Ópera que transcendem os já seus 76 anos.


O ciclismo ajuda por certo (faz largos kms pelo menos antes de cada récita) a revigorar esse seu coração que já passou por algumas mazelas mas que continua generoso, crente de um milagre divino que o põe a cantar e interpretar ao mais alto nível há mais de 50 anos.


Nestas 2 récitas (se não estou enganado, a 549 e 550 no papel de Rigoletto), entrou na primeira um pouco contido vocalmente, esqueceu-se do “E come in casa” no diálogo com Sparafucile mas “abriu” para um dueto com Gilda marcadamente emotivo e espontâneo. Na segunda, embora mais vigoroso desde início, o dueto a pareceu emocionalmente menos especial. Mas o grande acto da ópera para o Rigoletto é o segundo acto e aí Nucci foi brutal!


O “Cortigiani, vil razza” no expoente máximo interpretativo, modulando a voz neste sentido dramático e não por ela lhe faltar ou fraquejar, nuns agudos seguros e fortes, mantendo um timbre baritonal invejável.



No dueto com Gilda sente-se a figura paternal apaziguadora, e no grito de vingança toda a força para uma ária e o seu bis tradicional desde há anos, que complementam aquele que é o momento alto da ópera. Que colosso vocal, interpretativo, humano!...



A Gilda de Ruth Iniesta, que se estreou no papel, logo ao lado do maior Rigoletto vivo (e talvez de sempre), foi sublime. Jovem mas já detentora de uma maturidade em palco incrível e com uma voz pura e cristalina transmitindo emoção em cada nota com a inocência da simplicidade.




O Duque de Ivan Ayon Rivas é do outro mundo! O peruano tem apenas 25 anos... 25 anos!!!! E canta com uma paixão e uma naturalidade emotiva que não é comum. Detentor de uma voz clara, de timbre tenoral muito belo, com uma larga tessitura que lhe permitem agudos sem esforço e sem perda de qualidade, é capaz de fazer todas as nuances essenciais para que os sentimentos da personagem saiam do coração directo para a voz.



Os papéis de suporte de Sparafucile (Luca Titotto), Maddalena (Martina Belli), Giovanna (Carlota Vichi), Monterone (Sergio Bologna) e Marullo (Paolo Orecchia) estiveram ao mais alto nível.










A direção de Stefano Ranzani foi, no mínimo espetacular, acentuando os momentos chave de modo impecável, suportado por uma orquestra com uma sonoridade e precisão de arrepiar.









RIGOLETTO, Teatro Massimo, Palermo, October 2018

Text by wagner_fanatic

Nine months after experiencing Leo Nucci's Rigoletto for the first time live at Teatro Regio in Parma, this "pregnancy", this time of "twins" (2 performances), at Teatro Massimo, Palermo could not have been more special. I have regretted several times not having seen Nucci live before 2018 but I think, not necessarily in a conformist view, this is the best time to listen to him. Compared with past recordings on DVD or Youtube videos, Nucci looks even brighter and conveys a love of Life and Opera that transcend the 76-year-old.

Cycling certainly helps (he makes long kms at least before each performance) to reinvigorate his heart that has been through some mischief but remains generous, believer of a divine miracle that puts him to sing and interpret at the highest level for more of 50 years.

In these 2 performances (if I'm not mistaken, nos. 549 and 550 in the role of Rigoletto), he entered the first a little contained vocally, forgot the "E come in house" dialogue with Sparafucile but "opened" for a duet with Gilda markedly emotional and spontaneous. In the second, although more vigorous from the beginning, the duet seemed emotionally less special.

But the great act of the opera for Rigoletto is the second act and there Nucci was brutal! The "Cortigiani, vil razza" in the maximum interpretive exponent, modulating the voice in this dramatic sense and not for lacking or weakening it, with secure and strong top notes, maintaining an enviable baritonal tone. In the duet with Gilda one feels the paternal figure appeasing, and in the cry of revenge all the force for an aria and its traditional bis for years, that complement that is the highest moment of the opera. What a colossal vocal, interpretive, human! ...

Ruth Iniesta's Gilda, who debuted on the role, next to the greatest living Rigoletto (and perhaps ever), was sublime. Young but already possessing an incredible stage maturity and in a pure and crystalline voice transmitting emotion in each note with the innocence of simplicity.

The Duke of Ivan Ayon Rivas is out of this world! The Peruvian is only 25 years old ... 25!!!! And he sings with a passion and an emotional naturalness that is not common. Holder of a clear voice, with a very beautiful tenor tone, with a wide range that allows him to reach top notes without effort and without loss of quality, he is able to make all the nuances essential for the character's feelings to leave the heart directly to the voice.

Supporting roles of Sparafucile (Luca Titotto), Maddalena (Martina Belli), Giovanna (Carlota Vichi), Monterone (Sergio Bologna) and Marullo (Paolo Orecchia) were at the highest level.

The musical direction of Stefano Ranzani was, at least spectacular, accentuating the key moments of impeccable way, supported by an orchestra with a thrilling sonority and precision.

The staging of John Turturro, so popular for being who he is and for being a debut in opera, did not escape the classic approach, without great innovation or surprise, which was more than fair to highlight the genius of these performers and the genius of Verdi.

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