Texto de wagner_fanatic
Nove meses após vivenciar o Rigoletto
de Leo Nucci pela primeira vez ao vivo, no Teatro Regio de Parma, esta
“gestação”, desta vez de “gémeos” (2 récitas), no Teatro Massimo de Palermo não podia ter sido mais especial.
A encenação de John Turturro, tão badalada por ser de quem é e por ser uma estreia para o próprio, não fugiu do registo clássico, sem grande inovação ou surpresa, o que foi mais que justo no realçar do génio destes intérpretes e do génio de Verdi.
Já lamentei diversas vezes não o ter visto ao vivo antes de 2018 mas acho
que, não necessariamente numa visão conformista, esta é a melhor altura para o
ouvir. Comparando com gravações passadas em DVD ou videos do Youtube, Nucci
parece ainda mais brilhante e transmitindo um amor à Vida e à Ópera que
transcendem os já seus 76 anos.
O ciclismo ajuda por certo (faz largos kms pelo menos antes de cada récita)
a revigorar esse seu coração que já passou por algumas mazelas mas que continua
generoso, crente de um milagre divino que o põe a cantar e interpretar ao mais
alto nível há mais de 50 anos.
Nestas 2 récitas (se não estou enganado, a 549 e 550 no papel de
Rigoletto), entrou na primeira um pouco contido vocalmente, esqueceu-se do “E
come in casa” no diálogo com Sparafucile mas “abriu” para um dueto com Gilda
marcadamente emotivo e espontâneo. Na segunda, embora mais vigoroso desde
início, o dueto a pareceu emocionalmente menos especial. Mas o grande acto da
ópera para o Rigoletto é o segundo acto e aí Nucci foi brutal!
O “Cortigiani, vil razza” no expoente máximo interpretativo, modulando a
voz neste sentido dramático e não por ela lhe faltar ou fraquejar, nuns agudos
seguros e fortes, mantendo um timbre baritonal invejável.
No dueto com Gilda sente-se a figura paternal apaziguadora, e no grito de
vingança toda a força para uma ária e o seu bis tradicional desde há anos, que
complementam aquele que é o momento alto da ópera. Que colosso vocal, interpretativo,
humano!...
A Gilda de Ruth Iniesta, que se
estreou no papel, logo ao lado do maior Rigoletto vivo (e talvez de sempre),
foi sublime. Jovem mas já detentora de uma maturidade em palco incrível e com
uma voz pura e cristalina transmitindo emoção em cada nota com a inocência da
simplicidade.
O Duque de Ivan Ayon Rivas é do
outro mundo! O peruano tem apenas 25 anos... 25 anos!!!! E canta com uma paixão
e uma naturalidade emotiva que não é comum. Detentor de uma voz clara, de
timbre tenoral muito belo, com uma larga tessitura que lhe permitem agudos sem
esforço e sem perda de qualidade, é capaz de fazer todas as nuances essenciais
para que os sentimentos da personagem saiam do coração directo para a voz.
Os papéis de suporte de Sparafucile (Luca
Titotto), Maddalena (Martina Belli),
Giovanna (Carlota Vichi), Monterone
(Sergio Bologna) e Marullo (Paolo Orecchia) estiveram ao mais alto
nível.
A direção de Stefano Ranzani
foi, no mínimo espetacular, acentuando os momentos chave de modo impecável,
suportado por uma orquestra com uma sonoridade e precisão de arrepiar.
RIGOLETTO,
Teatro Massimo, Palermo, October 2018
Text by wagner_fanatic
Nine months
after experiencing Leo Nucci's Rigoletto for the first time live at
Teatro Regio in Parma, this "pregnancy", this time of
"twins" (2 performances), at Teatro
Massimo, Palermo could not have been more special. I have regretted several
times not having seen Nucci live before 2018 but I think, not necessarily in a
conformist view, this is the best time to listen to him. Compared with past
recordings on DVD or Youtube videos, Nucci looks even brighter and conveys a
love of Life and Opera that transcend the 76-year-old.
Cycling
certainly helps (he makes long kms at least before each performance) to
reinvigorate his heart that has been through some mischief but remains
generous, believer of a divine miracle that puts him to sing and interpret at
the highest level for more of 50 years.
In these 2 performances
(if I'm not mistaken, nos. 549 and 550 in the role of Rigoletto), he entered
the first a little contained vocally, forgot the "E come in house"
dialogue with Sparafucile but "opened" for a duet with Gilda markedly
emotional and spontaneous. In the second, although more vigorous from the
beginning, the duet seemed emotionally less special.
But the
great act of the opera for Rigoletto is the second act and there Nucci was
brutal! The "Cortigiani, vil razza" in the maximum interpretive
exponent, modulating the voice in this dramatic sense and not for lacking or
weakening it, with secure and strong top notes, maintaining an enviable
baritonal tone. In the duet with Gilda one feels the paternal figure appeasing,
and in the cry of revenge all the force for an aria and its traditional bis for
years, that complement that is the highest moment of the opera. What a colossal
vocal, interpretive, human! ...
Ruth Iniesta's Gilda, who debuted on the role, next to the
greatest living Rigoletto (and perhaps ever), was sublime. Young but already
possessing an incredible stage maturity and in a pure and crystalline voice
transmitting emotion in each note with the innocence of simplicity.
The Duke of
Ivan Ayon Rivas is out of this
world! The Peruvian is only 25 years old ... 25!!!! And he sings with a passion
and an emotional naturalness that is not common. Holder of a clear voice, with
a very beautiful tenor tone, with a wide range that allows him to reach top
notes without effort and without loss of quality, he is able to make all the
nuances essential for the character's feelings to leave the heart directly to
the voice.
Supporting roles of Sparafucile (Luca
Titotto), Maddalena (Martina Belli),
Giovanna (Carlota Vichi), Monterone
(Sergio Bologna) and Marullo (Paolo Orecchia) were at the highest level.
The musical
direction of Stefano Ranzani was, at
least spectacular, accentuating the key moments of impeccable way, supported by
an orchestra with a thrilling sonority and precision.
The staging
of John Turturro, so popular for
being who he is and for being a debut in opera, did not escape the classic
approach, without great innovation or surprise, which was more than fair to
highlight the genius of these performers and the genius of Verdi.
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