A Aida de Verdi tem na encenação da Metropolitan
Opera, da autoria de Sonja Frisell,
adaptada por Stephen Pickover, um
dos espectáculos mais imponentes que se pode ver em ópera nos dias de hoje. A
acção passa-se no Egipto dos faraós e a riqueza e diversidade da encenação são
impressionantes. Para quem nunca viu ópera, este será um excelente espectáculo
para começar. Os motivos egípcios da época estão sempre presentes nos cenários
grandiosos, nos intervenientes e nos adereços, culminando no final do 2º acto
com cavalos e mais de cem pessoas em palco. Só não se percebe por que razão as estátuas apresentam tantos sinais de desgaste, dada a época em que a ópera ocorre.
O maestro Nicola Luisotti teve uma boa direcção
da Orquestra e Coro da Metropolitan
Opera e respeitou os cantores, que se ouviram sempre.
A Aida de Anna Netrebko foi colossal! Já não
tenho palavras para elogiar esta cantora de excepção. Tudo nela é perfeito, a
representação cénica, a voz de timbre maravilhoso, actualmente muito mais
encorpada, mantendo agudos fabulosos e transmitindo aquela sensação deliciosa
que, por mais alto que cante, nunca grita. Sim, no reportório não wagneriano há
a Netrebko e as outras sopranos.
Outra intérprete
fabulosa foi a mezzo Anita
Rachvelishvili como Amneris. Que voz! Uma extensão invejável, afinada em
todos os registos, com graves de fazer tremer o chão. No último acto, onde a
sua participação é mais relevante, foi de cortar a respiração.
O Amonastro do
barítono Quinn Kelsey também esteve
ao melhor nível, é um cantor que nunca desilude, com voz potente, bem colocada
e de timbre muito agradável.
Os dois baixos
tiveram interpretações excelentes, Dmitry
Belosselskiy como Ramfis e Ryan
Speedo Green como rei. Apesar de terem papéis mais curtos, na qualidade
estiveram ao nível dos solistas principais.
Deixo para o fim
o tenor Aleksandrs Antonenko que
interpretou o Radames. Não foi mau, foi péssimo! É um cantor que tem um timbre
excessivamente nasalado de que nunca gostei e sempre tive dificuldade em
compreender por que razão é convidado para as grandes catedrais da ópera. Nesta
récita nada se aproveitou. Esteve muito mal, com vibrato excessivo, um timbre
feio e foi quase sempre estridente porque gritou em vez de cantar. Cenicamente um
mono sem emoções. E teve a ousadia de se fazer aos aplausos (comportamento já
menos vezes visto na actualidade) no final da ária de abertura Celeste Aida. Nos duetos com a Netrebko
ou com a Rachvelishvili o contraste foi chocante.
Termino referindo
que a perfeição em ópera existe, mas é muito rara. Nesta récita estariam
reunidas todas as condições para que ela acontecesse, não fosse a presença do
Antonenko!
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AIDA,
METropolitan Opera, October 2018
Verdi's Aida
in the staging of the Metropolitan Opera,
by Sonja Frisell, adapted by Stephen Pickover, is one of the most
impressive shows that can be seen in opera nowadays. The action takes place in
Egypt of the pharaohs and the richness and diversity of the staging is
impressive. For those who have never seen opera, this will be a great opera to
start with. The Egyptian motifs of the time are always present in the grandiose
settings, the actors and the props, culminating at the end of the 2nd act with
horses and more than one hundred people on stage. I only do not understand why the statues present so many signs of wear, given the time when the opera takes place.
Maestro Nicola Luisotti had a good direction of
the Orchestra and Choir of the
Metropolitan Opera and respected the singers, who could be always heard.
Anna Netrebko's Aida was colossal! I no longer have words to
praise this exceptional singer. Everything is perfect, the scenic
representation, the wonderful timbre of the voice, now much more full-bodied,
maintaining fabulous pop notes and conveying that delicious sensation that, no
matter how loud you sing, never screams. Yes, in the non Wagnerian repertoire there
is Netrebko and the other sopranos.
Another
fabulous interpreter was mezzo Anita
Rachvelishvili as Amneris. What a voice! An enviable extension, tuned in
all registers, with a low register to make the floor shake. In the last act,
where her participation is most relevant, she was breathtaking.
Baritone Quinn Kelsey as Amonastro was also at
the top level, a singer who never disappoints, with a powerful voice, well tuned
and with a very pleasant tone.
The two
basses had excellent performances, Dmitry
Belosselskiy as Ramfis and Ryan
Speedo Green as king. Although they had shorter roles, in quality they were
at the level of the main soloists.
I leave to
the end tenor Aleksandrs Antonenko
who played Radames. He was not bad, he sucked! He is a singer who has an
excessively nasal timbre that I have never liked and I have always found it
difficult to understand why he is invited to the great opera cathedrals. In
this performance nothing was taken advantage of. He was very bad, with
excessive vibrato, an ugly timbre and was almost always strident because he
shouted instead of singing. On stage, like a statue without emotions. And he
had the audacity to ask for the applause (a behavior already less seen today)
at the end of the opening aria Celeste
Aida. In the duets with Netrebko or with Rachvelishvili the contrast was
shocking.
I will
conclude by saying that perfection in opera exists, but it is very rare. This performance
would meet all the conditions for it to happen, but Antonenko's presence did
not permit it! But it still deserves the highest rating for the two female
interpretations of another world, for the excellent performances of the
baritone and the basses, the orchestra and choir, and the staging.
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Vi ontem a transmissão do MET Live. Podemos dizer que a orquestra e o coro estiveram sublimes e que a encenação é muito grandiosa e eficaz (apesar do primeiro ato muito estático) e que vai em crescendo. Podemos dizer que Netrebko é a melhor soprano dramática da atualidade (ou de sempre?) neste repertório: agudos estratosféricos, interpretação da palavra absolutamente magistral, capacidade de acrescentar algo seu a todos os papéis, um legatto incrível, emoção, expressão... Está tudo lá. Mas exagera nos seus graves colossais: creio que, por vezes, escurece demais a voz e que nem sempre fica bem. Podemos dizer também que Rachvelishvili é a melhor mezzo da atualidade: (é um elogio!) é a Netrebko das mezzo. Que potência e que extensão vocal. E uma capacidade interpretativa fantástica. Um duo memorável. Podemos dizer também que o MET se estraga ao elencar incapazes como o Antonenko. Todo o elenco masculino foi fraco (o melhorzinho foi o Kelsey), mas o Antonenko foi horrível: não cantou. Só fez 3 coisas: gritar, gritar, gritar. Foi penoso e só não arruinou a récita porque as duas senhoras brilham incandescentemente a ponto de não deixar vê-lo...
ResponderEliminarNetrebko melhor soprano dramática de sempre? Sei que esta Aida deixou os ânimos exaltados, mas creio que esse grau de elogio é ir um bocado longe de mais.
EliminarEste comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarNão foi nenhum gestor do blogue que removeu o comentário. Confirmava que o Antonenko tinha sido péssimo.
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