CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Após a boa notícia da troca de
produções entre os teatros municipais do Rio e de São Paulo nos anos vindouros
estreou no Theatro Municipal de São Paulo a ópera "Manon Lescaut" de
Puccini no último dia 29 de Agosto. Entre as quatro mais famosas óperas de
Puccini considero Manon Lescaut a mais fraca, não vejo nela a mesma genialidade
musical das óperas "Turandot", "Madama Butterfly" ou da
"Tosca". Considero a "Manon" de Massenet superior em
matéria de libreto e melodias.
A exceção do
"Otello" o Theatro Municipal apresentou excelentes produções esse ano
e Manon Lescaut não foi diferente. Cenários exuberantes e corretos, de tirar o
fôlego de Juan Guillermo Nova, figurinos adequados de Marino Luxardo e a luz
que dialoga com o texto de Cesare Agoni foram o princípio de uma grande récita.
O cenário do primeiro ato lembra um quadro impressionista, leve e idílico. O
segundo ato passeia no expressionismo, o terceiro é realista e o último é
surrealista.
A direção cênica
de Cesare Lievi fica na medida correta, sem exageros, sem firulas e invencionices
modernistas. Mantém a ação na época em que ela se passa e se presta à narrar a
ação cênica como ela é. Moderna e atual se harmoniza com as outras linguagens
teatrais. Ser moderno não é necessário chocar o público colocando peladões ou
telões no palco.
Marcello
Giordani foi um dos melhores Des Grieux da sua geração, figura carimbada em
todos os grandes teatros do mundo afora. Apresentou voz potente e agudos
brilhantes e parou por aí, sua voz foi sempre constante, sem vibração e
empolgação. Cenicamente imprimiu certa dramaticidade ao seu personagem nos atos
finais, pecou nos dois primeiros pela falta de jovialidade.
Paulo Szot
mostrou completo domínio cênico e vocal do personagem Lescaut, sua voz é
recheada de graves robustos e técnica refinada. Tive o prazer de vê-lo cantando
a versão francesa de Lescaut no Teatro Alfa em 2002 e agora o vejo na versão
italiana e ele só melhora a cada apresentação. O Geronte de Saulo Javan esteve
a altura do personagem com belos graves.
A Orquestra
Sinfônica Municipal regida por John Neschling mostra que está se acostumando ao
repertório operístico, tocou com precisão e firmeza. Andamentos precisos e
musicalidade com volume correta foram a tônica da apresentação. A prática leva a
perfeição, quanto mais óperas apresentadas maior será o crescimento da
orquestra. O incidente do início do quarto ato onde a música começa e para por
um problema técnico no palco afetou pouco o decorrer da récita. O Coro Lírico
Municipal segue a mesma fórmula, sempre se apresenta com qualidade vocal
superior em todos os naipes vocais.
Ali Hassan Ayache
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