(review in English below)
No passado mês de
Março assisti a uma récita de La Bohème
de G. Puccini na Ópera Estatal de Hamburgo. Foi a minha
estreia neste teatro de ópera, talvez o mais feio onde estive até hoje.
Está há longos
anos em construção um novo e, por Hamburgo, quando algo demora indefinidamente,
diz-se que é como a nova opera…
A encenação de Guy Joosten e Johannes Leiacker trás a acção para os dias de hoje. No primeiro
acto vêem-se 9 apartamentos de classe média baixa, o central e mais degradado é
onde vivem os protagonistas. A Mimi vive por cima deles e quando procura
Rodolfo finge estar mais doente para o cativar. O segundo acto passa-se num
grande bar de strip tease e a Musetta é a striper principal. A cantora têm uma
excelente figura para a personagem e oferece-nos uma interessante interpretação
cénica. No 3º acto, a barreira do inferno é um bordel e no 4º regressam-se aos
apartamentos iniciais, agora já abandonados e vandalizados, onde apenas residem
os 4 amigos como “sem abrigo”.
Os leitores
habituais deste blogue sabem que não sou apreciador de encenações modernas e, o
início desta, deixou-me muito desagradado. Contudo, fui sendo “conquistado” e
acabei por reconhecer que é uma encenação interessante e bem conseguida, não
obstante algumas pequenas incoerências.
Na direcção
musical esteve o maestro Ivan Repusic
que cumpriu sem deslumbrar.
Os cantores,
todos jovens e desconhecidos para mim, foram uma agradável surpresa.
O Rodolfo foi
interpretado pelo tenor romeno Teodor
Ilincai. Começou mal mas rapidamente atingiu um nível muito bom e manteve-o
ao longo da récita. Voz potente, viril, sem quebrar no registo mais agudo,
embora faltando-lhe alguma suavidade, sobretudo nos momentos de maior
intimidade.
Também a Mimi do
soprano romeno Tatiana Lisnic foi
muito expressiva, sobretudo vocalmente, e teve sempre em bom nível
interpretativo. A voz é forte, bem projectada mas, por vezes, um pouco dura. No
quarto acto não sobressaiu quanto o esperado porque a encenação não a ajudou.
O Marcello do
barítono turco Orhan Yildiz este
bem, a voz era bonita mas pequena. A prestação cénica foi melhor que a vocal,
mas não desiludiu.
O mezzo francês Solen Mainguené foi uma Musetta muito sui generis. Uma striper com bom corpo e
actuação cénica mas que também cantou muito bem, sobretudo a ária do 2º acto.
O Scaunard de Viktor Rud foi apagado e o Colline de Florian Spiess também cumpriu com
dignidade. Já o Benoit de Frieder
Stricker praticamente não se ouviu, o Parpignol de Benjamim Popson foi banal, tal como o Alcindoro do Stanislav Sergeev.
Uma Bohème
totalmente fora do convencional mas, apesar da temática escolhida, constituiu
um espectáculo interessante
***
La Boheme,
Staatsoper Hamburg, March 2015
Last March I
attended a performance of La Bohème
by G. Puccini in Hamburg State Opera. It was my debut in
this opera house, perhaps the ugliest I've been until today.
For many years a
new building is being constructed and, in Hamburg, when something takes ages,
it is said that it is like the new opera ...
The staging by Guy Joosten and Johannes Leiacker brought the action to the present times. In the
first act we see 9 lower middle class apartments, the central and most degraded
is where the protagonists live. Mimi lives above them and when she asks for
help to Rodolfo, she pretends to be more ill than what she is, to captivate him.
The second act is set in a large strip tease bar and Musetta is the main
striper. The singer has a great figure for the character and offers an interesting
stage performance. In the 3rd act we have a brothel. In the final act, we are
back at the initial appartments, now abandoned and vandalized, where only the 4
friends live as "homeless".
Regular readers
of this blog know that I'm not fond of modern staging approaches, and the
beginning of this one let me very displeased. However, I was being
"conquered" and I finally recognize that it is an interesting and
well effective staging, despite some minor inconsistencies.
Musical direction
was by maestro Ivan Repusic who did
a good job. The singers, all young and unknown to me, were a pleasant surprise.
Rodolfo was
played by romanian tenor Teodor Ilincai.
He had an unhappy start but quickly reached a very good level and kept it
throughout the performance. The voice is powerful, virile, without breaking in
the high register, although lacking some softness, especially in parts of
greater intimacy.
Also romanian soprano
Tatiana Lisnic was very expressive Mimi,
especially in the vocal interpretation that was always at a high level. The
voice is strong, well heard but sometimes a little harsh. In the 4th she did
not not stand out as expected because the staging did not help.
Marcello was
interpreted by turkisch Baritone Orhan
Yildiz. The voice was beautiful but small. The stage performance was better
than the vocal, but he did not disappoint.
French mezzo Solen Mainguené was a very sui generis Musetta. A stripper with a good
figure and good staging performance but she also sang very well, especially the
aria of the 2nd act.
Viktor Rud’s Scaunard was not impressive but Florian Spiess’ Colline offered an
interesting performance. Frieder
Stricker’s Benoit could hardly be heard, and Benjamin Popson’s Parpignol as well Stanislav Sergeev’s Alcindoro were banal.
A totally out of
the conventional Bohème but, despite the chosen theme, an interesting performance.
***
Vendo a fotografia da "nova" ópera, fico com a ideia de que a megalomania também atinge a austera Alemanha. É, de facto, um edifício que eu nunca identificaria com uma Ópera.
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