terça-feira, 8 de setembro de 2015

LA BOHÈME, Staatsoper Hamburg, Março / March de 2015


(review in English below)

No passado mês de Março assisti a uma récita de La Bohème de G. Puccini na Ópera Estatal de Hamburgo. Foi a minha estreia neste teatro de ópera, talvez o mais feio onde estive até hoje.


Está há longos anos em construção um novo e, por Hamburgo, quando algo demora indefinidamente, diz-se que é como a nova opera…


A encenação de Guy Joosten e Johannes Leiacker trás a acção para os dias de hoje. No primeiro acto vêem-se 9 apartamentos de classe média baixa, o central e mais degradado é onde vivem os protagonistas. A Mimi vive por cima deles e quando procura Rodolfo finge estar mais doente para o cativar. O segundo acto passa-se num grande bar de strip tease e a Musetta é a striper principal. A cantora têm uma excelente figura para a personagem e oferece-nos uma interessante interpretação cénica. No 3º acto, a barreira do inferno é um bordel e no 4º regressam-se aos apartamentos iniciais, agora já abandonados e vandalizados, onde apenas residem os 4 amigos como “sem abrigo”.


Os leitores habituais deste blogue sabem que não sou apreciador de encenações modernas e, o início desta, deixou-me muito desagradado. Contudo, fui sendo “conquistado” e acabei por reconhecer que é uma encenação interessante e bem conseguida, não obstante algumas pequenas incoerências.

Na direcção musical esteve o maestro Ivan Repusic que cumpriu sem deslumbrar.
Os cantores, todos jovens e desconhecidos para mim, foram uma agradável surpresa.

O Rodolfo foi interpretado pelo tenor romeno Teodor Ilincai. Começou mal mas rapidamente atingiu um nível muito bom e manteve-o ao longo da récita. Voz potente, viril, sem quebrar no registo mais agudo, embora faltando-lhe alguma suavidade, sobretudo nos momentos de maior intimidade.


Também a Mimi do soprano romeno Tatiana Lisnic foi muito expressiva, sobretudo vocalmente, e teve sempre em bom nível interpretativo. A voz é forte, bem projectada mas, por vezes, um pouco dura. No quarto acto não sobressaiu quanto o esperado porque a encenação não a ajudou.


O Marcello do barítono turco Orhan Yildiz este bem, a voz era bonita mas pequena. A prestação cénica foi melhor que a vocal, mas não desiludiu.


O mezzo francês Solen Mainguené foi uma Musetta muito sui generis. Uma striper com bom corpo e actuação cénica mas que também cantou muito bem, sobretudo a ária do 2º acto.


O Scaunard de Viktor Rud foi apagado e o Colline de Florian Spiess também cumpriu com dignidade. Já o Benoit de Frieder Stricker praticamente não se ouviu, o Parpignol de Benjamim Popson foi banal, tal como o Alcindoro do Stanislav Sergeev.


Uma Bohème totalmente fora do convencional mas, apesar da temática escolhida, constituiu um espectáculo interessante

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La Boheme, Staatsoper Hamburg, March 2015

Last March I attended a performance of La Bohème by G. Puccini in Hamburg State Opera. It was my debut in this opera house, perhaps the ugliest I've been until today.

For many years a new building is being constructed and, in Hamburg, when something takes ages, it is said that it is like the new opera ...

The staging by Guy Joosten and Johannes Leiacker brought the action to the present times. In the first act we see 9 lower middle class apartments, the central and most degraded is where the protagonists live. Mimi lives above them and when she asks for help to Rodolfo, she pretends to be more ill than what she is, to captivate him. The second act is set in a large strip tease bar and Musetta is the main striper. The singer has a great figure for the character and offers an interesting stage performance. In the 3rd act we have a brothel. In the final act, we are back at the initial appartments, now abandoned and vandalized, where only the 4 friends live as "homeless".

Regular readers of this blog know that I'm not fond of modern staging approaches, and the beginning of this one let me very displeased. However, I was being "conquered" and I finally recognize that it is an interesting and well effective staging, despite some minor inconsistencies.

Musical direction was by maestro Ivan Repusic who did a good job. The singers, all young and unknown to me, were a pleasant surprise.

Rodolfo was played by romanian tenor Teodor Ilincai. He had an unhappy start but quickly reached a very good level and kept it throughout the performance. The voice is powerful, virile, without breaking in the high register, although lacking some softness, especially in parts of greater intimacy.

Also romanian soprano Tatiana Lisnic was very expressive Mimi, especially in the vocal interpretation that was always at a high level. The voice is strong, well heard but sometimes a little harsh. In the 4th she did not not stand out as expected because the staging did not help.

Marcello was interpreted by turkisch Baritone Orhan Yildiz. The voice was beautiful but small. The stage performance was better than the vocal, but he did not disappoint.

French mezzo Solen Mainguené was a very sui generis Musetta. A stripper with a good figure and good staging performance but she also sang very well, especially the aria of the 2nd act.

Viktor Rud’s Scaunard was not impressive but Florian Spiess’ Colline offered an interesting performance. Frieder Stricker’s Benoit could hardly be heard, and Benjamin Popson’s Parpignol as well Stanislav Sergeev’s Alcindoro were banal.

A totally out of the conventional Bohème but, despite the chosen theme, an interesting performance.


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1 comentário:

  1. Vendo a fotografia da "nova" ópera, fico com a ideia de que a megalomania também atinge a austera Alemanha. É, de facto, um edifício que eu nunca identificaria com uma Ópera.

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