LA BOHÈME COM POLUIÇÃO SONORA E INSPIRAÇÃO EM BALÉ. CRÍTICA
DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Capa do programa distribuído no TMSP
O Theatro Municipal de São Paulo apresentou sua última ópera
da temporada 2013, La Bohème é um dos títulos mais populares de Puccini,
melodias sentimentais e uma história amorosa fazem a mulherada cair nas
lágrimas e transmitem uma emoção a cada nota. Quem não se apaixona pelos
personagens Mimi e Rodolfo. Que ouvidos não se sensibilizam com os temas dos
amantes ou dos boêmios. Muitas óperas já fazem parte do passado, La Bohème tem
lugar no futuro e está entre as óperas mais representadas e queridas do
público.
Comecemos pelos solistas, Atalla Ayan foi o tenor escalado
para a apresentação do dia 10 de Dezembro. Voz magistral, tá difícil encontrar
adjetivos para descrevê-la. Sedutora e com agudos cristalinos, limpos e boa
projeção. Interpretação cênica equilibrada, um Rodolfo apaixonado e sofrido que
mostra sentimentos e emoções reais a cada cena. Alexia Voulgaridou tem um
timbre maravilhoso, uma técnica impressionante e sustenta muito bem as notas.
Sua voz é de soprano lírico-spinto, escura e densa e se mostra pesada para a
personagem Mimi, principalmente no primeiro ato. Vence isso com uma
interpretação cênica convincente.
A Musetta de Michaela Marcu mostrou uma voz sólida,
consistente nos graves e interessante nos agudos. Interpretação segura vocal e
cenicamente. Conseguiu ser marcante na sua principal ária, desfilou sensualidade
e beleza. Os amigões do protagonista fizeram bonito: Simone Piazzolla (
Marcello), Matia Olivieri (Schaunard) e Felipe Bou (Coline) mostraram belas
vozes e interpretações adequadas. No Brasil temos cantores aos montes que
poderiam fazer esses personagens, não vejo porque trazer gente de fora.
A Orquestra Sinfônica Municipal regida por John Neschling
mostrou boa musicalidade e apresentou muitas vezes desequilíbrios entre os
naipes. Sonoridade pesada em diversas passagens e lírica em outros. Correta na
cena final onde realçou o drama da cena.
A direção cênica, cenografia e desenho de luz de Arnaud
Bernard (o homem faz tudo) segue a tendência minimalista. Enclausura a ação em
um pequeno espaço no centro palco no primeiro e quarto ato. Seus cenários são
realistas e se mostram adequados a obra. O diretor se "inspirou" no
balé Cravos de 2005 de Pina Bausch ao colocar flores em todo o solo do palco no
último ato, fotos não mentem. Sua luz corresponde e amplia a ação, conversa com
ela de forma harmônica. Movimentação dos personagens moderna, no segundo ato
utiliza todo o espaço cênica e consegue boas soluções. Figurinos de Carla
Ricotti se adequam a obra e fazem o espectador viajar no tempo.
Cravos de Pina Bausch,foto Internet
O problema dele é a poluição sonora, em todas as cenas o
nobre diretor faz questão de querer ser mais que Puccini. Coloca na partitura
imaginada por ele sons desnecessários. Personagens fecham a porta com força,
massas corais fazem uma barulheira com os pés totalmente desnecessária e sempre
aqui ou acolá aparece um ruído que sai da cabeça do diretor e vai para o nada.
Isso até um geográfo ouve caro John.
Antes que eu me esqueça: O programa distribúido ao público é
de excelente qualidade com informações importantes como a tradução na íntegra
do libreto, mas a capa, que feiúra é essa! Quando estreia ópera no Theatro
Municipal de São Paulo alguém da Revista Concerto sempre aparece, por que será?
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