terça-feira, 10 de dezembro de 2013

IL BARBIERE DI SIVIGLIA / THE BARBER OF SEVILLE, Artscape Theater, Cidade do Cabo, África do Sul / Cape Town, South Africa


(review in english below)

Ao fim de muitos anos tive, finalmente, a oportunidade de assistir a uma ópera no continente Africano. Foi na Cidade do Cabo pela Cape Town Opera, em colaboração com a UCT Opera School. O bilhete (lugar central numa das primeiras filas da plateia) custou menos de 10 Euros! O teatro é moderno e muito acolhedor.






 A acção de O Barbeiro de Sevilha, de G. Rossini, já frequentemente comentada neste blogue, foi desta vez transportada pelo encenador Christine Crouse para Cuba. Figaro, cheio de dívidas em Sevilha, resolveu fugir para a ilha, onde abriu uma barbearia e um bar. O doutor Bartolo comprou uma casa em Cuba, onde tem a Rosina encarcerada, em frente aos estabelecimentos do Fígaro. O Conde de Almaviva, apaixonado pela Rosina, foi atrás dela como membro do corpo diplomático em Cuba.


 A encenação, cheia de cor e ritmo das caraíbas, é muito bem conseguida e situa-se na época da revolução cubana. O guarda-roupa é muito rico, a barbearia recheada de pormenores de época, o mesmo acontecendo no bar. A casa do doutor Bartolo é bem mais africana, cheia de troféus de caça e de outros objectos naturais de colecção como borboletas e aves. Ao longo de toda a récita dominam as cenas cómicas de muito bom gosto e verdadeiramente hilariantes. A entrada dos polícias no final do primeiro acto, nesta produção uma brigada apoiante de Ché Guevara, foi um dos muitos momentos desconcertantes. No final da ópera, todos acabam a festejar no bar do Fígaro. Apesar de totalmente fora do conceito convencional, foi uma encenação muito bem conseguida.

O maestro Kamal Khan dirigiu o espectáculo com dignidade. Os cantores, todos muito jovens e sul-africanos cantaram e representaram de forma empenhada.

O Conde de Almaviva foi o tenor Makudupanyane Senaoana que fez o que pôde. O papel é de extrema exigência, o que lhe colocou algumas dificuldades, nomeadamente na coloratura e nas notas mais agudas.

O barítono Johannes Slabbert foi um notável Fígaro, de voz cheia e bem colocada, para além de ter uma mobilidade e desempenho cénico excelentes.

(fotografia / photo: Bernard Bruwer)

O doutor Bartolo do barítono Siyabulela Ntlale, com os seus imponentes bigódes encaracolados, fez uma personagem de voz poderosa e afinada e ofereceu-nos uma postura em palco de grande eficácia e comicidade.

O mezzo Bongiwe Nakaki foi uma Rosina com boa presença em palco e de voz quente e poderosa embora, por vezes, lutando com a difícil coloratura exigida.

O melhor intérprete da noite foi o baixo-barítono Thesele Kemane que foi insuperável tanto na prestação vocal como artística como Don Basilio. A voz é imponente e de grande beleza tímbrica. O cantor foi irrepreensível no comportamento em palco.

A Berta do soprano Janel Speelman também esteve bem, sobretudo nas intervenções cómicas e a sua ária do 2º acto foi agradavelmente interpretada.

Os cantores dos papéis secundários tiveram desempenhos irregulares mas o Coro esteve bem.


 Uma agradável surpresa este Barbeiro de Sevilha, para dispor bem qualquer um.

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IL BARBIERE DI SIVIGLIA / THE BARBER OF SEVILLE, Artscape Theatre, Cape Town, South Africa

After many years I had finally the opportunity to watch an opera on the African continent. It was by the Cape Town Opera in collaboration with UCT Opera School. The ticket (central seat in a front row of the audience) costed less than 10 Euros! The theater is modern and very pleasant.

The action of The Barber of Seville, by G. Rossini (that has frequently been commented on this blog), was this time set up in Cuba, by director Christine Crouse. Figaro, with debts in Seville, decided to flee to the island, where he opened a barber shop and a bar. Dr. Bartolo bought a house in Cuba, in front of the shops of Figaro, where he has imprisoned Rosina.Count Almaviva, in love with Rosina, chased her as a member of the diplomatic corps in Cuba .

The staging, full of color and rhythm of the Caribbean, is very well concieved and the action happens at the time of the Cuban revolution. The dresses are rich, the barber shop full of peculiar and interesting devices, the same happening in the bar. The house of Dr. Bartolo is more African, with many hunting trophies and other natural objects as a collection of butterflies and birds. Throughout the performance the comic scenes dominate and they are truly hilarious . The entrance of the police at the end of the first act , in this production it is a brigade supporter of Ché Guevara, was one of many top comic moments. At the end of the opera, all end up celebrating in the bar of Figaro. Although totally out of the conventional concept, it was a very well achieved staging.

Conductor Kamal Khan directed with dignity. The singers, all very young South Africans, sang and played in a committed way.

Count of Almaviva was the tenor Makudupanyane Senaoana who did what he could. The role is very demanding, which brought him some difficulties, especially in the coloratura and top notes.

Baritone Johannes Slabbert was an outstanding Figaro with a full and well tuned voice, in addition to having an excellent scenic mobility and performance .

Dr. Bartolo was baritone Siyabulela Ntlale with towering curly mustaches. He played
​​the character with a refined powerful voice, and offered us a comic performance of great efficacy on stage..

Mezzo Bongiwe Nakaki was a Rosina with good stage presence and warm and strong voice, though sometimes struggling with the difficult coloratura.

The best performer of the night was bass-baritone Thesele Kemane that was an unsurpassed vocal and artistic Don Basilio. The voice is notorious, the timbre beautiful, and the singer was fantastic on stage.

Soprano Berta Janel Speelman was also good in comic parts and her 2nd act aria was pleasantly interpreted .

The singers of secondary roles had uneven performances, but the choir did well .

A pleasant surprise this Barber of Seville, to please everybody.

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4 comentários:

  1. Não me lembraria de procurar ópera na Cidade do Cabo. Que interessante surpresa!

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    1. Foi, de facto, uma agradável surpresa. E, para mim, a primeira oportunidade de ter visto uma ópera em África.

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  2. Quando lá fui há dois anos, a minha estadia esteve bem no meio de um concerto de Johan Botha e Lawrence Brownlee. Pena ter falhado os dois... já na altura os melhores bilhetes não iam além dos 20 euros, se bem me lembro!

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    1. Gostaria muito de ter tido a oportunidade de ouvir algum desses dois tenores Sul-africanos, mas este Barbeiro surpreendeu positivamente.
      Cumprimentos

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