sábado, 29 de fevereiro de 2020

LA VALQUIRIA / DIE WALKÜRE – Teatro Real, Madrid, Fevereiro / February 2020



 (review in English below)

Seis anos depois voltei a ver a encenação de R Carsen da opera A Valquíria de Wagner, desta vez no Teatro real de Madrid.




A produção não tem qualquer interesse, a acção foi trazida para a segunda guerra mundial. Tudo se passa em diferentes cenários frios e austeros do campo de batalha, com excepção do início do 2º acto, num imponente salão de inspiração nazi. A ópera é desprovida de qualquer misticismo, quase todas as personagens são figuras militares (apenas Fricka e Brünhilde são civis). As incoerências cénicas são muitas. A espada Nothung está num tronco totalmente a despropósito no contexto (um acampamento militar), dado todos usarem metrelhadoras e outras armas de fogo. O início do 3º acto é muito mau. As valquírias, vestidas de senhoras e ensaiando brincadeiras de criança, beijam os heróis estropiados e mortos e estes a levantam-se, tipo zombies, e sobem umas escadas ao fundo do palco. Mas o pior é o fogo sagrado, dividido entre uma pequena vela pífia colocada a meio do palco e uma pequeníssima linha de chamas ao fundo, de intensidade tipo “campingás”.




Orquestra do Teatro Real esteve muito bem, superiormente dirigida pelo maestro Pablo Heras-Casado.




Stuart Skelton cantou um Siegmund muito decente, por vezes em esforço, mas não desafinou e ouviu-se sempre sobre a orquestra. O cantor tem uma figura péssima para a personagem viril que interpreta.

 A Sieglinde da Adrianne Pieczonka foi convincente em palco. A interpretação vocal foi decente, embora a cantora, no registo mais agudo, tenha resvalado frequentemente para a estridência.


René Pape foi magnífico como Hunding, vocalmente irrepreensível e com excelente desempenho cénico. Foli pena ter cantado um papel tão pequeno.

A grande interpretação da noite foi a de Tomasz Konieczny como Wotan. Tem uma voz magnífica, poderosíssima, de timbre muito bonito e o cantor ofereceu-nos uma interpretação muito emotiva, como raramente se vê. Fantástico.



A Brünnhilde da Ricarda Merbeth começou mal mas foi melhorando e, no 3º acto, teve partes muito boas. Ainda assim, deixou-se afogar ocasionalmente pela orquestra e interpretou a personagem de forma mais gritada que cantada.


Das senhoras a melhor foi, de longe, Daniela Sindram como Fricka. Tem uma voz poderosa, sempre afinada e foi muito expressiva. Não conhecia a cantora mas é um nome a reter.

E o pior foram as Valquírias. A encenação já é muito má, mas a interpretação também não teve a menor qualidade, em contraste com os cantores solistas.



Mas é sempre um privilégio assistir a esta ópera, sobretudo quando a interpretação musical é de qualidade, como foi o caso.




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LA VALQUIRIA / DIE WALKÜRE - Teatro Real, Madrid, February 2020


Six years later I saw again R Carsen's production of Wagner's opera Die Walküre, this time at the Teatro Real in Madrid.
The production has no interest, the action was brought to the second world war. Everything happens in different cold and austere scenarios of the battlefield, with the exception of the beginning of the 2nd act, in an imposing Nazi-inspired hall. The opera is devoid of any mysticism, almost all the characters are military figures (only Fricka and Brünhilde are civilians). The scenic inconsistencies are many. The Nothung sword is on a log completely unnecessary in the context (a military camp), since everyone uses machine guns and other firearms. The start of the 3rd act is very bad. The Valkyries, dressed as ladies and rehearsing children's games, kiss the crippled and dead heroes and they get up, like zombies, and go up some stairs at the end of the stage. But the worst thing is the sacred fire, divided between a small fife candle placed in the middle of the stage and a very small line of flames in the background, with an intensity like “campingas”.

The Teatro Real Orchestra was very well, superiorly directed by maestro Pablo Heras-Casado.

Stuart Skelton sang a very decent Siegmund, sometimes in effort, but he didn't tune out and was always heard about the orchestra. The singer has a terrible figure for the manly character he plays.

 Adrianne Pieczonka's Sieglinde was convincing on stage. The vocal interpretation was decent, although the singer, in the highest register, often slipped into stridency.

René Pape was magnificent as Hunding, vocally flawless and with excellent scenic performance. It was a pity thet he sung such a small role.

The great performance of the night was that of Tomasz Konieczny as Wotan. He has a magnificent voice, very powerful, with a very beautiful timbre and the singer offered us a very emotional interpretation, as is rarely seen. Fantastic.

Brünnhilde from Ricarda Merbeth started badly but got better and, in the 3rd act, had very good parts. Even so, she was occasionally drowned by the orchestra and interpreted the character more shouted than sung.

The best of the ladies was, by far, Daniela Sindram as Fricka. She has a powerful voice, always in tune and was very expressive. I didn't know the singer but it is a name to keep.

And the worst were the Valkyries. The staging is already very bad, but the performance did not have the least quality either, in contrast to the soloist singers.

But it is always a privilege to watch this opera, especially when the musical interpretation is of high quality, as was the case.

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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

AGRIPPINA; METropolitan Opera, Fevereiro / February 2020



(text in English below)

A história da ópera Agrippina de Handel pode ler-se neste “post”, escrito há pouco tempo a propósito de uma récita da mesma ópera da presente temporada em Londres.



Na encenação de David McVicar, bem conseguida, a acção foi trazida para a época presente onde decorrem as múltiplas intrigas e, de forma muito clara, a capacidade pérfida e manipuladora da Agrippina. 




Várias componentes cómicas são felizes, outras nem tanto. Os cenários são muito dinâmicos, rodeados por grandes colunas e paredes móveis, mas quase sempre dominados por uma escadaria alta dourada no cimo da qual está o trono que muitos querem. 




No segundo acto há uma parte que se passa num bar, com a presença agradável de um cravo em palco, tocado ao mais alto nível por Bradley Brookshire (o cravo contínuo da orquestra foi tocado pelo maestro). A tentativa da Poppea se esconder, sem sucesso, atrás de uma jarra de flores é engraçada, mas os outros momentos cómicos não têm graça nem bom gosto. A ópera começa e acaba com as personagens principais sobre os seus túmulos.



O maestro Harry Bicket foi óptimo e, como referi, tocou o cravo. A orquestra também muito bem.



A Agrippina da Joyce DiDonato, como sempre, esteve ao mais alto nível. É uma actriz que canta de forma fabulosa e, mais uma vez, encantou. A voz enche o teatro, toca fundo em todos os espectadores e impressiona na qualidade, volume e emotividade. Foi a melhor em palco, mas esteve bem acompanhada.




O Nerone da mezzo Kate Lindsey foi fantástica em cena, uma atleta em palco, muito cómica também e com uma voz potente, afinada e muito agradável. Prefiro este papel cantado por um contratenor, mas esta interpretação foi excelente.



O contratenor Iestyn Davies foi um Ottone muito lírico, tem uma voz de grande beleza mas a dimensão do teatro não lhe é favorável. Em cena foi algo estático, apesar da boa figura do cantor.



A soprano Brenda Rae fez uma Poppea muito boa na interpretação cénica. Contudo, a voz de timbre agradável, com alguma fragilidade na coloratura, teve uma emissão irregular e, por vezes, deixou-se abafar pela orquestra.




O Baixo Matthew Rose cumpriu como Claudio, sem deslumbrar.



Num patamar mais baixo, mas ainda assim com boas prestações , estiveram o barítono Duncan Rock (Pallante), o contratenor Nicholas Tamagna (Narciso) e o barítono Christian Zaremba (Lesbo).












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AGRIPPINA; METropolitan Opera, February 2020

The history of the opera Agrippina by Handel can be read in this “post”, recently written about a performance of the same opera in London.

In David McVicar's successful production, the action was brought to the present era where multiple intrigues occur and, very clearly, Agrippina's perfidious and manipulative ability take place. Several comic components are funny, others less so. The scenarios are very dynamic, surrounded by large columns and movable walls, but almost always dominated by a high golden staircase at the top of which is the throne that many want. In the second act there is a part that takes place in a bar, with the pleasant presence of a harpsichord on stage, played at the highest level by Bradley Brookshire (the orchestra's harpsichord was played by the conductor). Poppea's attempt, unsuccessfully, to hide behind a vase of flowers is funny, but the other humorous moments are not fun. The opera begins and ends with the main characters on their graves.

Conductor Harry Bicket was great and, as I mentioned, played also the harpsichord. The orchestra also performed very well.

Agrippina by Joyce DiDonato, as always, was at the highest level. She is an actress who sings in a fabulous way and, once again, enchanted. The voice fills the theater, touches all the audience deeply and impresses in quality, volume and emotionality. She was the best on stage, but she was well accompanied.

Mezzo Kate Lindsey was a fantastic Nerone, an athlete on stage, very comical too and with a powerful, tuned and very pleasant voice. I prefer this role sung by a countertenor, but this interpretation was excellent.

Countertenor Iestyn Davies was a very lyrical Ottone, has a voice of great beauty but the dimension of the theater is not favorable to him. Scenically he was static, despite the good figure of the singer.

Soprano Brenda Rae made Poppea very good at performing. However, the voice with a pleasant timbre, with some fragility in the coloratura, had an irregular emission and, at times, was muffled by the orchestra.

Bass Matthew Rose was Claudio, without being dazzled.

In supporting roles, but with good performances, were baritone Duncan Rock (Pallante), countertenor Nicholas Tamagna (Narciso) and baritone Christian Zaremba (Lesbo).

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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

LUISA MILLER, Liceu Barcelona, Julho / July 2019



(review in English below) 

Texto de wagner_fanatic

A encenação de Damiano Michieletto é genial. Mas isto não está muito famoso aqui para os lados do Liceu... Até agora, quem brilha no binómio voz-interpretação é... a Duquesa (J’Nai Bridges)! Muito boa!



A seguir o Conde (Dmitry Belosselskiy) a nível similar.  O Piotr Beczala soberbo na voz, o ponto mais alto da ópera até agora foi o dueto com a Duquesa, mas agora no final do 1º acto a não conseguir convencer cenicamente contra o pai, no desespero de amor.





A Sondra Radvanovsky esqueçam... muito bem caracterizada, parece mais nova do que realmente é, consegue uma precisão nos agudos e com pianos/pianíssimos interessantes mas não consegue disfarçar aquele timbre “bruto” e, se coisa Luisa Miller não é, é “bruta”.





O Miller de Michael Chioldi é fraco. A figura é boa para o papel, a voz não é feia, mas interpreta muito abaixo do que se espera para este papel que quer alguém assertivo na voz, receoso pela filha mas forte e destemido principalmente no Fra’mortali ancora opressa. Este Miller não é um “antigo soldado”. Oh grande Nucci!!! Só ele salvava isto!!!






Até agora, largos pontos abaixo da Luisa Miller de Zurique do ano passado! Vamos ver o que se segue.

2º e 3º actos a subir exponencialmente!!! Beczala Fantástico!!! Do outro mundo, mesmo!!! De deitar o Liceu abaixo!!! O “Quando al sere placido” foi indiscritível. E eu adoro esta encenação e tem nesta fase um pormenor cénico que do ponto de vista dramático é sublime. E o final “oteliano” foi de antologia.




Esqueci-me de falar do Wurm antes mas Marko Mimica foi também um senhor!!!



O Chioldi interpretativamente um pouco melhor mas a faltar algo mais. A Luisa, o melhor que fez foi o dueto com o Wurm no 2º acto culminado num excelente Tu puniscimi mas sempre que abre em turbo lá vem o vibrato que parece vir do palato e que estraga tudo... felizmente não estragou muito o final da ópera!





Assustei-me com o 1º acto mas valeu muito pelos 2º e 3º.







LUISA MILLER, Liceu Barcelona, July 2019

Text by wagner_fanatic

Damiano Michieletto's staging is brilliant. But the performance is not very impressive here for the Liceu ... So far, the best in voice-interpretation binomial was ... the Duchess (J'Nai Bridges)! Very good!

Followed by the Count (Dmitry Belosselskiy) at a similar level. The superb Piotr Beczala performed the highest moment of the opera so far, the duet with the Duchess. But now, at the end of the first act, he was not able to convince scenically against the father, in the despair of love.

Forget Sondra Radvanovsky ... very well characterized, looks younger than she really is, gets a high-pitched precision with interesting piani / pianissimi but she can't disguise that "hard" tone, what Luisa Miller isn't.

Michael Chioldi's Miller was weak. The figure is good for the role, the voice is not ugly, but he interpreted far below what is expected for this role that demands someone assertive in voice, afraid for her daughter but strong and fearless mainly in the oppressive Fra’mortali ancora opressa. This Miller was not an “old soldier”. Oh great Nucci !!! Only he would save this !!!

So far, points below last year's Luisa Miller at Zurich! Let's see what follows.

Second and Third acts rising exponentially !!! Beczala was fantastic!!! Out of this world, really !! To throw Liceu down !!! The " Quando al sere placido " was indescribable. And I love this staging and it has at this stage a scenic detail that is dramatically sublime. And the “otellian” ending was anthology.

I forgot to mention Wurm but Marko Mimica was also very good!

Chioldi was a little better but missing something else. Sondra, the best she did was the duet with Wurm in the second act culminating in an excellent Tu puniscimi but whenever she opened in turbo there came the vibrato that seemeed to come from the palate and that spoils everything ... fortunately it didn't spoil the end of the opera!

I was scared after the first act but it was very worth it for the 2nd and 3rd.