terça-feira, 3 de setembro de 2019

SALOME, Bayerische Staatsoper, Julho / July 2019



(review in English below)

Texto de camo_opera

Concluí esta visita a Munique com a Salome de Strauss. A direção ficou a cargo de Kirill Petrenko: foi muito, muito boa, a explorar a grande orquestra do teatro, mas esteve, a meu ver, com demasiado volume na maior parte da récita, abafando frequentemente os cantores, pelo que não leva nota máxima.



Estava muito preocupado com a encenação de Krzysztof Warlikowski, mas acabei por gostar muito. Começa mal com um cântico mahleriano e com todo um elenco de judeus ortodoxos em palco, um deles a cantar em playback evidente. Tudo sem grande propósito. Mas depois toda a concepção é estimulante e muito dinâmica, explorando a componente psicológica de forma muito bem conseguida e atribuindo um carácter dramático, pesado e angustiante à ópera, ou seja, aquilo que é suposto. Foi mesmo das encenações mais interessantes que vi desta ópera.


Os cantores foram também muito bons. O grande destaque é para a Salomé de Marlis Petersen: não tem uma voz gigante, mas é tecnicamente perfeita e tem um timbre muito bonito. Em cima disso, foi uma Salomé vibrante, empertigada, exigente e perturbada de forma super convincente. Uma Salomé de referência.


O Jochanaan de Wolfgang Koch esteve também muito bem vocalmente, embora com pouco volume, problema agravado por Petrenko. O Narraboth de Pavel Breslik esteve em excelente plano vocal e cénico, sendo muito convincente em palco e assumindo uma relevância destacada pelo encenador que o fez estar presente em toda a récita, ainda que morto na maior parte do tempo como é sabido.

O Herodes de Wolfgang Ablinger-Sperrhacke tem um timbre interessante, embora não seja daqueles tenores com agudos pontudos como eu gosto neste papel, mas esteve bem globalmente. O mesmo posso dizer da Herodias de Michaela Schuster: o timbre não é especialmente bonito, mas esteve vocalmente sempre acertada e cenicamente muito convincente. O restante elenco esteve também muito bem.


Assim, foi uma récita de muito boa qualidade: por um lado pela encenação muito interessante e intensa do ponto de vista dramático que me fez ficar com aquela sensação de angústia e perturbação que está presente na obra; por outro pelos cantores de excelente nível em que cintilou uma Marlis Petersen fantástica; por outro ainda, pela orquestra que nos ofereceu uma leitura excelente, ainda que com pouco respeito pelos cantores.



SALOME, Bayerische Staatsoper, July 2019

Text by camo_opera

I concluded my visit to Munich with Richard Straus’s Salome. The direction was by Kirill Petrenko: he was very, very good to explore the great orchestra of the theater, but he imposed, in my view, too much volume in most of the performance, often muffling the singers, the reason why he does not take maximum score.

I was very worried about the staging of Krzysztof Warlikowski, but I ended up really enjoying it. It starts badly with a Mahlerian chant and a whole cast of Orthodox Jews on stage, one of them singing in obvious playback. All without great purpose. But then the whole conception is stimulating and very dynamic, exploring very well the psychological component and attributing a dramatic, heavy and harrowing character to the opera, that is, what is supposed to be. It was the most interesting approach I saw of this opera.

The singers were also very good. The great highlight is for Salome by Marlis Petersen: she does not have a giant voice, but is technically perfect and has a very beautiful timbre. On top of that, she was a vibrant Salomé, stout, demanding and disturbed in a super convincing way. A reference Salome.

Wolfgang Koch's Jochanaan was also very good vocally, albeit with little volume, a problem aggravated by Petrenko. Pavel Breslik's Narraboth was excellent vocal and on stage, being very convincing and assuming a prominent relevance by the director who made him present throughout the performance, although dead most of the time.

Wolfgang Ablinger-Sperrhacke's Herodes had an interesting timbre, although not one of those tenors with pointed highs like I like in this role, but he was good overall. The same I can say of Herodias by Michaela Schuster: the timbre is not especially beautiful, but she has been vocally always rightful and on stage very convincing. The rest of the cast was also very well.

Thus, it was a performance of very good quality by the very interesting and intense staging of the dramatic point of view that made me stay with that feeling of anguish and disturbance that is present in the work, by the excellent singers in which a fantastic Marlis Petersen flickered, and by the orchestra that offered us an excellent performance, although with little respect for the singers.

3 comentários:

  1. Elisabete Matos directora artística do Teatro São Carlos. Não sei bem porquê mas não me entusiasma nada. Quem dera me engane.

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    1. Vou dar-lhe o benefício da dúvida. Pelo menos conhece o meio.

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    2. E quem é que o entusiasma ? Pinamonti? os fantasmas dos mortos do passado?
      Podem até mandar vir o director da Opera de Viena , gostava de o ver fazer o quer que fosse com o orçamento miserável do São Carlos.
      Sois todos uns heróis de bancada !

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