(text in English below)
A versão italiana
da magnífica ópera de Verdi Don Carlo esteve em cena na ópera
estatal de Viena em Outubro. Foi com ela que iniciei a minha temporada
operática 2019-2020.
O maestro Jonathan Darlington não fez um trabalho
perfeito, sobretudo no início em que houve desencontros na orquestra.
A encenação de Daniele Abbado é interessante, escura,
despida e opressiva, como a própria ópera. Os trajos são convencionais mas só
há paredes e plataformas móveis escuras. Nas laterais frequentemente abrem-se
espaços por onde os cantores e coro entram e saem. Para além de um crucifixo, os
únicos adereços só aparecem no início do 3º acto e são uns 4 grupos de velas no
chão (o efeito é magnífico) e a cadeira onde o Filipe II está sentado, antes de
cantar a sua fantástica ária, uma das mais marcantes da ópera.
Os cantores foram
globalmente muito bons, como era expectável.
A melhor foi a Elena Zhidkova como Eboli. Foi a
primeira vez que a vi ao vivo e fiquei deveras impressionado com tudo, voz,
interpretação, figura, tem tudo bom! O poderio vocal é fantástico, sempre
afinada e agudos incríveis.
Os baixos também
foram marcantes, o René Pape como
Filipe II, muito emotivo na interpretação, mantém uma voz fantástica.
O russo Dmitry Ulyanov foi espectacular como
Grande Inquisidor, com um vozeirão de fazer tremer o chão.
E o sul-coreado Jongmin Park (Frade / Carlos V) também
muito bom, apesar de ter um papel pequeno.
O Simon Keenlyside é um Rodrigo meu
conhecido há muitos anos e continua a fazer um bom papel. A voz, não sendo o
que foi, continua boa, bonita e ele usa-a com grande mestria. Tem uma óptima
figura, o que ajuda muito na interpretação e na agilidade em palco,
contrastando em
absoluto com o Carlos desta noite, o italiano Fabio Sartori que, cantando bem, com voz de timbre bonito, tem uma
figura horrível. É muito gordo e é baixo. Sempre que tem que interagir mais de
perto com outro cantor (e com quem acontece mais vezes é com o Posa / Rodrigo),
a coisa torna-se quase ridícula (os braços não têm comprimento suficiente para
um abraço).
A Elisabetta foi
cantada por uma azeri, Dinara Alieva,
em estreia aqui. A Anja Harteros cancelou, algo que faz frequentemente (para
mim está no 2º lugar do pódium dos cancelamentos: 1º a Angel Gheorghiu e 3º o Jonas
Kaufmann). Começou mal, o timbre não é bonito e a voz parecia não ter cor.
Contudo, foi melhorando ao longo da récita e, na ária principal do último acto,
esteve muito bem.
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DON CARLO,
Wiener Staatsoper, October 2019
The Italian
version of Verdi´s magnificent opera
Don Carlo could be seen at the
Vienna State Opera in October. It was the first opera of my 2019-2020 season.
Conductor Jonathan Darlington did not do a
perfect job, especially in the beginning with some light problems with the
orchestra.
Daniele Abbado's production is interesting, dark, austere and
oppressive, like the opera itself. The costumes are conventional but there are
only dark moving walls and platforms. On the sides often open spaces where the
singers and choir enter and leave. Apart from a crucifix, the only props appear
only at the beginning of the 3rd act and are about 4 groups of candles on the
floor (the effect is magnificent) and the chair where Philip II is sitting,
before singing his fantastic aria, one of the most remarkable of the opera.
The singers
were overall very good, as expected. The best was Elena Zhidkova as Eboli. It was the first time I saw her live and I
was really impressed with everything, voice, interpretation, figure, everything
is good! The vocal power is fantastic, always tuned and incredible top notes.
The bass
singers were also striking: René Pape
as Philip II, very emotional in interpretation, maintains a fantastic voice.
Russian Dmitry Ulyanov was spectacular as the
Great Inquisitor, with a ground-shaking voice.
And south-corean
Jongmin Park (Frate / Carlos V) was
also very good, despite having a small role.
Simon Keenlyside has been a Rodrigo known to me for many years
and continues to play a good role. The voice, not what it was, remains good,
beautiful, and he uses it with great mastery. He has a great figure, which
helps a lot in interpretation and agility on stage,
in sharp
contrast to Carlos tonight, Italian Fabio
Sartori, who, singing well, with a voice of beautiful tone, has a horrible
figure. He's very fat and he's short. Whenever he had to interact more closely
with another singer (and that happens more often with Posa / Rodrigo), it
becomes almost ridiculous (the arms are not long enough for a hug).
Elisabetta
was sung by Azeri Dinara Alieva,
debuting here. Anja Harteros has canceled, something she does often (for me she
is in 2nd place on the cancellation podium: 1st is Angela Gheorghiu and 3rd is
Jonas Kaufmann). She started badly, the tone is not pretty and the voice seemed
to have no color. However, she improved throughout the performance and, in the
main aria of the last act, she was very well.
My season had a good start!
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