A ópera Agrippina de G.F. Handel com libreto de Vicenzo Grimani esteve em cena na Royal Opera House de Londres, numa
produção de Barrie Kosky.
O imperador Claudio é dado como morto no mar e a sua mulher Agrippina tenta
colocar no trono o filho Nerone (Nero). Mas os planos frustram-se quando o
imperador aparece, salvo pelo comandante militar Ottone, a quem prometeu a
coroa como recompensa. Agrippina tenta minar a confiança entre os dois através
da bela Poppea, que ambos desejam (e também Nerone). Engendra vários esquemas
onde inclui outros dois personagens, Pallante e Narciso, para levar o seu
desejo adiante. Poppea, convencida que Ottone é inocente, provoca um encontro
nos seus aposentos com Ottone, Nerone e Claudio em que inicialmente se escondem
uns dos outros e ouvem as juras de amor, mas depois encontram-se. A ópera
termina com um final feliz em que Poppea casa com Ottone, Claudio coroa Nerone
imperador e Agrippina vê todos os seus desejos concretizados.
A encenação de Barrie Kosky (que fez um trabalho miserável na Carmen também
aqui na Royal Opera) é sui generis e
melhora ao longo do espectáculo. A acção foi trazida para o final do século
passado. O palco é ocupado por uma estrutura metálica móvel com dois andares,
umas escadas a meio e estores nas periferias. Ao longo da ópera vai-se movendo
e assumindo diversas formas, os estores vão abrindo e fechando e as personagens
vão andando à sua volta ou no interior. Metaforicamente poderá representar os
corredores do poder. A cena em que há o encontro dos 3 pretendentes da Poppea é
muito engraçada, aparece um alçapão e um sofá, um bar e uns bancos que permitem
uma acção cénica mais interessante. Contudo, a forma como são expressos os
comportamentos das personagens principais, nomeadamente a capacidade
manipuladora e maquiavélica da Agrippina, é muito bem conseguida.
A Orchestra of the Age of Enlightenment
foi um sonho, dirigida energicamente pelo jovem maestro russo Maxim Emelyanychev.
Os cantores foram deslumbrantes na interpretação cénica e vocal. A Joyce DiDonato foi arrasadora como
Agrippina. Para além da interpretação vocal de referência, coloratura
fantástica, potência impressionante e afinação sempre perfeita, a interpretação
cénica foi de referência! Uma actriz que canta (fabulosamente)! Foi
manipuladora, pérfida, mas também muito cómica e com momentos de grande
espectáculo que lhe foram proporcionados pela encenação, destacando-se um em
que canta como uma actriz de music hall com microfone na mão.
Outra interpretação excepcional foi a do contratenor Franco Fagioli. Fez um Nerone jovem, tatuado e algo louco, bem
caracterizado e aparentemente desinteressado, com movimentações cénicas muito
ágeis e adequadas à personagem. A cena em que tem o encontro sexual com a
Poppeia é hilariante. A voz poderosa enche facilmente a sala, é de grande
beleza e na coloratura foi brutal!
Outro contratenor de qualidade superior foi Iestyn Davies (Ottone), mais lírico, a quem cabem as árias mais
dramáticas e de maior beleza. Foi particularmente tocante na ária Voi che udite com que terminou a
primeira parte.
A soprano Lucy Crowe, de que
muito gosto, esteve ao mais alto nível como é seu hábito. A voz é límpida,
ampla, ágil e fresca e interpretou a Poppea de forma irrepreensível.
O baixo Gianluca Burato fez um
Claudio notável, de voz encorpada e de grande beleza.
O jovem baixo Andrea Mastroni
(Pallante) o contratenor Eric Jurenas
(Narciso) e o baixo José Coca Loza
(Lesbo) completaram um elenco superior que nos proporcionou um óptimo
espectáculo de ópera.
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AGRIPPINA, Royal Opera House, September 2019
G.F. Handel's opera Agrippina with libretto by Vicenzo
Grimani was on stage at London's Royal
Opera House, produced by Barrie
Kosky.
Emperor Claudio is pronounced dead at sea and his wife Agrippina tries
to place her son Nerone (Nero) on the throne. But plans fail when the emperor
appears, saved by military commander Ottone, to whom he promised the crown as a
reward. Agrippina tries to undermine the trust between the two through the
beautiful Poppea, which both desire (and also Nerone). She engenders various
schemes in which she includes two other characters, Pallante and Narcissus, to
further her wish. Poppea, convinced that Ottone is innocent, causes a
simultaneous encounter with Ottone, Nerone and Claudio in which they initially
hide from each other and hear the vows of love, but then meet. The opera ends
with a happy ending in which Poppea marries Ottone, Claudio crowns Nerone emperor
and Agrippina sees all her wishes come true.
The production by Barrie Kosky (who did a miserable job at Carmen also
here at the Royal Opera) is sui generis and improves throughout the show. The
action was brought to the end of the last century. The stage is occupied by a
movable metal structure with two floors, stairs in the middle, and blinds on
the outskirts. Throughout the opera it moves and takes various forms, the
blinds open and close and the characters walk around or inside. Metaphorically
it may represent the corridors of power. The scene where Poppea's 3 lovers meet
is very funny, there is a sofa, a bar and benches that allow for a more
interesting stage action. However, the manner in which the behaviors of the
main characters are expressed, namely Agrippina's manipulative ability, is very
well achieved.
The Orchestra of the Age of
Enlightenment was a dream, energetically directed by the young Russian
conductor Maxim Emelyanychev.
The singers were stunning in scenic and vocal interpretation. Joyce DiDonato was fabulous as
Agrippina. In addition to the reference vocal interpretation, fantastic
coloratura, impressive power and always perfect tuning, the scenic interpretation
was a reference! An actress who sings (fabulously)! It was manipulative,
perfidious, but also very comical and with moments of great show that were
provided by the production, standing out one in which she sings like a music
hall actress with microphone in hand.
Another exceptional interpretation was that of countertenor Franco Fagioli. He made a young,
tattooed and somewhat crazy Nerone, well-characterized and apparently
disinterested, with very agile and character-appropriate scenic moves. The
scene where he had a sexual encounter with Poppeia was hilarious. The powerful
voice easily fills the room, is of great beauty and in coloratura was brutal!
Another superior countertenor was Iestyn
Davies (Ottone), more lyrical, to whom the most dramatic and most beautiful
arias belong. He was particularly touching in the aria Voi che udite with which the first part ended.
Soprano Lucy Crowe, which I
love, was at the highest level as usual. The voice is clear, wide, lithe and
fresh and has interpreted Poppea in a blameless manner.
Bass Gianluca Burato was a
remarkable Claudio, with full-bodied voice of great beauty.
Young bass Andrea Mastroni
(Pallante), countertenor Eric Jurenas
(Narciso) and bass José Coca Loza
(Lesbo) completed a superior cast that gave us a great opera performance.
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