Crítica de Ali Hassan Ayache
no blog de Ópera & Ballet
O clima nos bastidores não é dos
melhores, em meio a uma confusão generalizada em relação à administração
do Theatro Municipal de São Paulo
entre o Instituto Odeon e a Secretaria Municipal de Cultura estreou e ópera Turandot de Puccini. As lambanças administrativas parecem não ter influenciado
as coxias. A montagem da ópera esteve em nível compatível com as anteriores.
A direção cênica ficou a cargo de André Heller-Lopes, o experiente diretor optou pelo conservadorismo
nas movimentações, pelo colorido excessivo e pela mescla entre o moderno e o
tradicional. Cores berrantes e o exagero nos figurinos em uma China fantástica
e irreal bem ao estilo do afamado diretor Franco Zeffirelli foram apresentados
nos três atos. Bonito e impactante para alguns, brega e exagerado para outros,
a diferença entre um e outro é pequena. Essas foram algumas opiniões
divergentes colhidas entre o respeitável publico.
As movimentações dos solistas e figurantes não passaram do
básico. O cenário de Renato Theobaldo
cria diversos planos narrativos, o tradicional se apresenta no centro e nas
laterais o moderno, confunde mais que ajuda. O teatro dentro do teatro com um
cenário onde uma plateia vertical, composta de coristas, em forma de ferradura
em diversos níveis elevados é uma ideia já manjada e repetida em diversas
montagens pelo mundo afora.
Os figurinos de Sofia
Di Nunzio são recheados de exageros: estampas, cores fortes avermelhadas e
máscaras realçam com força excessiva as tradições Chinesas. Os coristas tem
roupagem inspirada nos anos 60 do século XX, mistura estranha. Dragão na
Turandot é clichê brega, a protagonista usar salto Luís XV foge de tudo que é
chinês, um globo típico das baladas dos anos 80, que reflete a luz na plateia
ofuscando a visão é completamente desnecessário.
A Orquestra
Sinfônica Municipal regida por Roberto
Minczuk apresentou sonoridade potente, no limite para não cobrir os
solistas. O volume denso combinou com a dramaticidade da ópera. O Coro Lírico Municipal e o Coral Paulistano entregaram excelente
sonoridade, apesar da péssima localização nas laterais.
Substituindo o tenor Rudy Park foi escalado David Pameroy. O físico enorme e a voz
volumosa não apresentaram um timbre com brilho, muito pelo contrário, uma voz
seca e sem vida. O publico merecia um Calaf de melhor nível. Elizabeth Blancke-Biggs incorporou a
personagem, voz de soprano dramático, escura a potente. Não se intimidou com a
massa orquestral volumosa, soltou o vozeirão sem medo de correr riscos. Mostrou
uma Turandot correta e compatível com a personagem.
O grande destaque da noite foi o soprano Gabriella Pacce, como Liù esbanjou
técnica vocal em uma irrepreensível atuação cênica. Visceral no palco, entregou
tudo que se espera da personagem. Voz lírica, de timbre harmonioso e cristalino
encantou a plateia que aplaudiu efusivamente. O Timur de Luiz-Ottavio Faria levou ao palco voz calibrada nos graves, sempre
portentosos e volumosos. Vinícius Atique
está em grande fase, e como Ping não foi diferente. Cantou e atuou de forma
única.
Cenas dos próximos capítulos: A esperança é a última que
morre, esperamos sem muita convicção que a confusão administrativa no Teatro
não afete a temporada 2019. Até o presente momento ninguém teve coragem de
sequer anunciá-la.
Ali Hassan Ayache
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