De Ali HassanAyache, do blogue Opera & Ballet recebemos mais este texto para divulgação.
O Fanáticos da Ópera agradece ao autor.
POUCAS RISADAS, CORES EM EXCESSO
E ALFRED HITCHCOCK NO "MATRIMÔNIO SECRETO". CRÍTICA DE ALI HASSAN
AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
O Theatro São Pedro/SP
abre a temporada 2018 com a ópera "O
Matrimônio Secreto" de Domenico
Cimarosa. O prolífico compositor italiano tem mais de 70 títulos e somente
esse permanece no repertório. "O Matrimônio Secreto" tem todos os
elementos da ópera bufa: confusões generalizadas, personagens querendo levar
vantagem, segredos revelados no fim, casamentos arranjados, nobres falidos
querendo manter sua pose e ricos comerciantes tentando ser nobres.
Musicalmente a ópera é uniforme, escrita para agradar o
público da época com árias simples e de fácil assimilação. O libreto manjado
facilita a diversão do público. "O Matrimônio Secreto" foi um
tremendo sucesso na época de sua estreia. Para a geração celular e zapzap é
excessivamente longa, muitas vezes repetitiva e cansativa. Soube que a versão
apresentada sofreu alguns cortes, a tesourada poderia ter sido maior.
O cenário de Duda Arruk
é inspirado no filme "Janela Indiscreta" de Alfred Hitchcock, com
ambientes sobrepostos onde o espectador vê as cenas no lugar do personagem
principal. Os figurinos de Fause Haten
são exagerados, misturam épocas e criam confusão no colorido excessivo embora
sejam compatíveis com o gênero da ópera bufa. A direção de Caetano Vilela acerta na dinâmica das cenas, mostra as facetas dos
personagens com simplicidade. A funcionalidade unida a criatividade prevalece
no todo fazendo o espetáculo ter qualidade, embora tenha faltado uma pegada
cômica, poucas vezes o público sorriu com vontade.
Valentina Peleggi surpreendeu regendo
ópera, tirou da Orquestra do Theatro São
Pedro boa sonoridade operística unida a musicalidade de uma grande
orquestra de concerto. Delicada quando necessário e potente nas partes
instrumentais. Nunca encobre os solistas, ao contrário, é amigona deles,
marcando todas as entradas. Entendendo o tamanho do teatro faz o volume
compatível com o mesmo. Alguns músicos entregaram solos sofríveis, o naipe das
madeiras foi um deles.
Caroline de Comi
cantou com belo timbre, seus agudos brilhantes e a beleza da voz
compensaram algumas falhas. Sua atuação cênica deu vida a uma Carolina viva e
esperta. Pepes do Valle mostrou
excelência como Geronimo, baixo que une atuação e canto com nível elevado de
talento. Ana Lúcia Benedetti esteve
soberba, voz prodigiosa e afinada. Jean
William mantém o timbre áspero de sempre, sua entrada foi calamitosa,
completamente perdido. Melhorou nos números seguintes, mas nada que empolgasse.
Michel de Souza mostra que não foi
por acaso eleito revelação lírica masculino por este Blog. Mostrou
domínio vocal, técnica segura e excelente atuação como Conde Robinson.
Ópera bufa tem que divertir, fazer rir, levar o público ao
delírio. Pena que nesta ópera raras foram as vezes que isso aconteceu.
Ali Hassan Ayache
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