sábado, 12 de maio de 2018

O MATRIMÔNIO SECRETO – Theatro São Pedro/SP, São Paulo, Maio de 2018



De Ali HassanAyache, do blogue Opera & Ballet recebemos mais este texto para divulgação. O Fanáticos da Ópera agradece ao autor.

POUCAS RISADAS, CORES EM EXCESSO E ALFRED HITCHCOCK NO "MATRIMÔNIO SECRETO". CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 O Theatro São Pedro/SP abre a temporada 2018 com a ópera "O Matrimônio Secreto" de Domenico Cimarosa. O prolífico compositor italiano tem mais de 70 títulos e somente esse permanece no repertório. "O Matrimônio Secreto" tem todos os elementos da ópera bufa: confusões generalizadas, personagens querendo levar vantagem, segredos revelados no fim, casamentos arranjados, nobres falidos querendo manter sua pose e ricos comerciantes tentando ser nobres.  
   Musicalmente a ópera é uniforme, escrita para agradar o público da época com árias simples e de fácil assimilação. O libreto manjado facilita a diversão do público. "O Matrimônio Secreto" foi um tremendo sucesso na época de sua estreia. Para a geração celular e zapzap é excessivamente longa, muitas vezes repetitiva e cansativa. Soube que a versão apresentada sofreu alguns cortes, a tesourada poderia ter sido maior.
   
   O cenário de Duda Arruk é inspirado no filme "Janela Indiscreta" de Alfred Hitchcock, com ambientes sobrepostos onde o espectador vê as cenas no lugar do personagem principal. Os figurinos de Fause Haten são exagerados, misturam épocas e criam confusão no colorido excessivo embora sejam compatíveis com o gênero da ópera bufa. A direção de Caetano Vilela acerta na dinâmica das cenas, mostra as facetas dos personagens com simplicidade. A funcionalidade unida a criatividade prevalece no todo fazendo o espetáculo ter qualidade, embora tenha faltado uma pegada cômica, poucas vezes o público sorriu com vontade.
  


   Valentina Peleggi surpreendeu regendo ópera, tirou da Orquestra do Theatro São Pedro boa sonoridade operística unida a musicalidade de uma grande orquestra de concerto. Delicada quando necessário e potente nas partes instrumentais. Nunca encobre os solistas, ao contrário, é amigona deles, marcando todas as entradas. Entendendo o tamanho do teatro faz o volume compatível com o mesmo. Alguns músicos entregaram solos sofríveis, o naipe das madeiras foi um deles.
   

   Caroline de Comi cantou com  belo timbre, seus agudos brilhantes e a beleza da voz compensaram algumas falhas. Sua atuação cênica deu vida a uma Carolina viva e esperta. Pepes do Valle mostrou excelência como Geronimo, baixo que une atuação e canto com nível elevado de talento. Ana Lúcia Benedetti esteve soberba, voz prodigiosa e afinada. Jean William mantém o timbre áspero de sempre, sua entrada foi calamitosa, completamente perdido. Melhorou nos números seguintes, mas nada que empolgasse. Michel de Souza mostra que não foi por acaso eleito revelação lírica masculino por este Blog. Mostrou domínio vocal, técnica segura e excelente atuação como Conde Robinson.
   
   Ópera bufa tem que divertir, fazer rir, levar o público ao delírio. Pena que nesta ópera raras foram as vezes que isso aconteceu. 

Ali Hassan Ayache

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