BARROCO AO ESTILO AMAZONENSE EM
"ACIS AND GALATEA". CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA& BALLET.
A apresentação
da ópera "Acis and Galatea" de Händel pelo XXI Festival Amazonas de
Ópera mostra ousadias poucas vezes vistas em teatros pelo Brasil. A primeira é
montar ópera barroca, os diretores fogem dela como diabo foge da cruz já que
fazê-la apresenta enormes dificuldades: vozes específicas e raras no Brasil,
instrumentos de época, títulos longos, repetitivos, desconhecidos do público e
muitas vezes chatos. Por isso os teatros preferem Traviatas, Toscas e Carmens.
Outra ousadia é transportar as similaridades da mitologia grega para a
amazônica. O público local pode se identificar com o tema, mas escorregar para
o clichê e o démodé é fácil.
O resultado da
apresentação do dia 13 de Maio é uma ópera uniforme onde as dificuldades são
vencidas com uma montagem inteligente e criativa acompanhada pelo que se viu de
muitos ensaios. A transposição dos mitos não afetou o resultado, Galatea é a
mãe d'água Iara, Acis é ribeirinho e Polifemo é um Mapinguari. A visão de
Sergio Andrade tem qualidades que vencem a monotonia da ópera barroca. A
movimentação dos solistas e coro resulta em uma dinâmica poucas vezes vista
nesse estilo. O colorido dos cenários unido a beleza da luz junto com o
figurino dão uniformidade no conjunto.
A dança é
destaque que aparece diversas vezes e enriquece o enredo, o Balé Experimental
do Corpo de Danças do Amazonas apresenta uma coreografia elaborada por Tindaro
Silvano. Os movimentos simples transportam o espectador à mitologia onde ninfas
e sereias parecem flutuar ou dançar nas águas do Amazonas. Os cenários Georgia
Massetani são adequados, os figurinos de Laura Françoso compatíveis com os
mitos amazônicos, o personagem Polifemo destoa de tudo isso com um figurino
exageradamente pesado. O desenho de luz de Humberto Hernández é um primor de
qualidade, realça as cenas tornando-as impactantes.
Marcelo de
Jesus rege a Orquestra de Câmara do Amazonas, consegue extrair musicalidade
barroca refinada com mistura de instrumentos atuais e de época. O Coral do
Amazonas e o Madrigal Ivete Ibiapina não brilharam embora não tenham
comprometido vocalmente.
Cantar música
barroca é extremamente difícil, a surpresa fica com o soprano Amanda Aparício.
Vinda do coro local apresentou-se de maneira correta diante das dificuldades da
partitura. A voz tem timbre lírico, pequena e afinada. Sofreu com os complexos
ornamentos e coloraturas inerentes a opera barroca, cantou com expressividade e
sua presença de palco realçou a personagem. O tenor Anibal Mancini tem o
barroco no sangue, ficou a vontade com o personagem Acis. Cantou de forma
sublime com sustentação apropriada e entoação perfeita. Miriam Abad teve bom
desempenho vocal, volume considerável e consistência nas notas em todas as
participações como Damon. Murilo Neves deu vida a um Polifemo com graves leves
para as exigências do personagem. Falta o peso e densidade na voz para ser um
Deus grego ou amazônico.
Ali Hassan Ayache viajou a
Manaus a convite do XXI Festival Amazonas de Ópera.
Como teria gostado de assistir a esse festival e ter o privilégio de ver por dentro e por fora esse teatro de ópera plantado no meio da Amazónia! Talvez um dia. Quem sabe?
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