domingo, 25 de outubro de 2015

Otello de Giuseppe Verdi — Met Live in HD, FCG, 24.10.2015

Assisti ontem à transmissão diferida de Otello do Metropolitan. O Fanático Um teve a oportunidade de assistir ao vivo e deixar o seu comentário neste blogue, pelo que me limitarei a fazer breves comentários.


Encenação. A nova produção de Otello de Bartlet Sher é dolorosamente pobre. Pobre em imaginação, em eficácia dramática, em beleza estética e destituída de sentido cénico. Nada de melodramático. Zero de romantismo. Teve uma direcção de actores que embotou os cantores de tão estática que é. E fez de Otello um histérico, sempre arrastado no chão, desesperado. É claro que está possuído pelo ciúme, mas o peso dos ditos que imagina ter não é tal que se tenha de arrojar pelo chão... O único elemento — mas a que também não atribuiu sentido — foi ter optado por um Otello ocidental, não lhe pintando a cara. Discutível, mas aproveitável. Todavia, desperdiçado. Espero que o MET não resolva apostar nesta produção inferior. A anterior de Elijah Moshinsky é muito melhor.


A direcção musical de Yannick Nézet-Séguin foi de muito elevada qualidade, muito embora tenha, em minha opinião, apostado num tempo mais lento do que estou habituado. Mas tem uma musicalidade infinita, uma frescura contagiante e um cuidado com os cantores difícil de igualar. O Coro do MET também esteve bem, embora não deslumbrante.


O tenor Aleksandrs Antonenko foi um Otello que não deslumbrou. A voz atinge as notas todas, é certo. Mas sem brilho, sem um timbre cativante, com um registo médio aplanado, uns agudos pontudos e ásperos, sem musicalidade no fraseado. O facto de ser um cantor muito estático também não o ajuda a compor uma personagem muito convincente do ponto de vista dramático. Mas conseguiu ir crescendo até ao final. Tem muito para ser um bom Otello, mas não o é. Está a anos-luz de Plácido Domingo, mas esse nasceu para o papel. Botha, em 2012, sendo igualmente estático, foi muito mais credível, vocalmente assombroso e cenicamente doentio.


O barítono Zeljko Lucic foi Iago. É verdade que é um dos melhores barítonos verdianos da actualidade, mas as suas interpretações deixam-me sempre ambivalente. Se vocalmente é muito bom, enquanto actor não é brilhante e creio que isso se transmite muito à intensidade da interpretação. Não foi um Iago maléfico, daqueles em que as chamas do seu inferno nos aquecem. Tal ficou bem evidente na sua principal ária Credo en un dio cruel que nem um aplauso mereceu. 


Por fim, Sonya Yoncheva foi uma Desdemona arrasadora. Tem um timbre muito bonito,   potência de sobra e uma excelente musicalidade que lhe permite dar textura à interpretação. A isso juntou uma capacidade cénica elevada e uma grande presença. A sua expressão facial — a única vantagem da transmissão televisiva — dizia-nos quase tudo. Interpretou bem a personagem, sendo uma Desdemona segura da sua inocência e que aceitou com grandeza o seu destino. E teve um último acto extraordinário desde o Salce ao Ave Maria. Fantástica!

Os restantes elementos cumpriram bem nos seus papéis.


Foi, assim, uma récita agradável, com uma encenação para arrumar a um canto, com um elenco masculino apagado e duas estrelas cintilantes: Nézet-Séguin e Yoncheva.

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