sábado, 10 de outubro de 2015

IL TROVATORE, METropolitan OPERA, Nova Iorque, Outubro 2015 / New York, October 2015

(review in English below)

Tive oportunidade de ver ao vivo a ópera Il Trovatore de G. Verdi na Metropolitan Opera, a mesma récita que foi transmitida em MetLive na Gulbenkian e que o camo_opera já comentou aqui.


Na praça em frente à Metropolitan Opera decorria uma muito pequena manifestação contra os cantores russos, por apoiarem a guerra na Ucrânia.


A reposição da encenação de David McVicar, é sempre agradável de ver porque tira o melhor partido do palco rotativo e dá um dinamismo particular a esta ópera sempre difícil de encenar.


Foi um excelente espectáculo, sob a direcção eficaz de Marco Armiliato. Orquestra e coro ao mais alto nível e os solistas foram fantásticos.




O tenor sul-coreano Yonghoon Lee foi um dos bons intérpretes da noite. Teve uma interpretação correcta, cénica e vocal. A voz tem um timbre claro, agradável e ouve-se sempre bem, embora no registo mais agudo perca alguma qualidade. O cantor é alto e magro, o que ajuda, embora não tenha qualquer parecença com um espanhol.


A Anna Netrebko já tem o estatuto de estrela que é aplaudida logo que entra em palco, mesmo antes de começar a cantar. Mais uma vez deslumbrou, aqui no papel de Leonora. Teve uma interpretação em crescendo, começando algo contida, mas revelando todo o esplendor da sua voz na difícil aria D’amor sull’ali rosee, onde foi insuperável. Continua a ser um privilégio ouvir a Netrebko que nunca grita e é detentora de uma voz lindíssima, potente, penetrante e afinada.


A Azucena do mezzo “da casa” Dolora Zajick é um papel que a artista canta com segurança e potência há várias décadas, mantendo uma qualidade aceitável.


Nos papéis secundários estiveram Stefan Kocan como Ferrando (excelente), Maria Zifchak como Ines e Raúl Melo como Ruiz.

Mas foi o baritono Dmitri Hvorostovsky (Conde di Luna) que foi o foco de todas as atenções nesta tarde. É um cantor carismático, detentor de uma bela voz e forte presença em palco. Cantou muito bem, com lirismo e dramatismo adequados à personagem, mas não foi isso que condicionou o que aconteceu.

Em Junho, Hvorostovsky anunciou que cancelaria toda a temporada de verão por lhe ter sido diagnosticado um tumor cerebral. Está em pleno tratamento, em Londres, mas interrompeu-o para vir à Metropolitan opera cantar as primeiras 3 das 10 récitas em que a sua presença estava prevista.
Logo que apareceu em palco, foi alvo de uma grande ovação. (Quando ia começar a cantar, tocou demoradamente um telemóvel!!). Foi sempre muito aplaudido durante o espectáculo mas seria no final que as demonstrações de afecto principais apareceriam. Terminada a ópera, foi longamente aplaudido de pé quando apareceu pela primeira vez nos agradecimentos.




Para além das flores do público, 



quando o maestro já estava no palco, empurrou-o para a frente para uma segunda ovação e foi então brindado com uma chuva de rosas brancas atiradas pelos membros da orquestra.









Atitudes bonitas, do cantor, dos músicos e do público. E não sei se haveria melhor local para a fazer que Nova Iorque, dada a constante generosidade do público para com os cantores.










Uma tarde para recordar.

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Il Trovatore - Met Opera, New York, October 2015

I had the opportunity to see live the opera Il Trovatore by G. Verdi at the Metropolitan Opera, the same performance that was broadcast on MetLive at the Gulbenkian Foundation and that camo_opera already commented here.

In the square in front of the Metropolitan Opera stemmed a very small demonstration against Russian singers, for supporting the war in Ukraine.

David McVicar staging is always nice to see because it takes full advantage of the rotating stage and gives a particular dynamism to this opera always difficult to stage.

It was an excellent performance, under the efficient direction of Marco Armiliato. Orchestra and choir were at the highest level and the soloists were fantastic.

South Korean tenor Yonghoon Lee was one of the good singers of the night. We had a correct approach, scenic and vocal. The voice has a light, pleasant timbre and it was always well heard, although in the upper register it lost some quality. The singer is tall and thin, which helps, but bears no resemblance to a Spanish.

Anna Netrebko already has the star status that is applauded as soon as she comes on stage, even before starting to sing. Once again she dazzled here in the role of Leonora. She had a performance in growing quality, starting contained, but revealing all the splendour of her voice in the difficult aria D’amor sull’ali rosee, where she was unsurpassed. It remains a privilege to hear Netrebko who never shouts and holds a beautiful, powerful, penetrant and tuned voice.

"House" mezzo-soprano Dolora Zajick was Azucena. This is a role that the artist sings with security and power for decades, and she maintains a high quality performance.

In supporting roles were Stefan Kocan as Ferrando (excellent), Maria Zifchak as Ines and Raúl Melo as Ruiz.

But it was Russian baritone Dmitri Hvorostovsky (Count di Luna) who was the focus of attention this afternoon. He is a charismatic singer, owner of a beautiful voice and strong stage presence. He sang very well, with lyricism and drama appropriate to the character. But that was not what has conditioned what happened.
In June, Hvorostovsky announced he would cancel the entire summer season by having been diagnosed with a brain tumor. He is now in full treatment in London, but interrupted it to come to the Metropolitan Opera to sing the first 3 of the 10 performances in which he was scheduled.

Once he appeared on stage, he was presented with a long ovation. (When he would start singing, a mobile phone was heard from the audience!!). He has always been applauded during the performance but the main demonstrations of affection would appear at the end. After the opera, he was received with a long standing ovation when he appeared for the first time. When the maestro was on stage, he pushed him forward to a second ovation and he was then the target of a rain of white roses thrown by the members of the orchestra.

Beautiful attitudes by the singer, the musicians, and the public. I do not know of a better place to do it other than New York, given the constant generosity of the audience towards singers.

An afternoon to remember.


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