José António Miranda deixou este comentário no
blogue. Contudo, dada a sua revelância e qualidade, os Fanáticos da Ópera decidiram
publicá-lo como um texto autónomo. Obrigado José António Miranda!
Também estive presente no dia 7 de Maio na Fundação
Calouste Gulbenkian, mas por se não tratar de ópera não esperava encontrar no
nosso blog notícia do espectáculo. Porém a apreciação publicada leva-me a intervir
também, até porque concordo totalmente com a opinião de Fanático_Um quando diz
que “estava à espera de ficar mais impressionado, o que não aconteceu devido à
projecção simultânea do filme, o que distraiu a concentração na música”.
Não me parece porém que o problema tenha
residido no facto de se ter executado música simultaneamente com a projecção do
filme. Afinal essa deveria ter sido a principal mais-valia do espectáculo ! As razões pelas quais me senti também
defraudado, por comparação com a experiência original de visão do filme, e que
sustentam a minha opinião de que se tratou de um espectáculo frustrado nos seus
objectivos, são três equívocos subjacentes ao modo como tudo se
desenrolou.
1. O espectáculo foi anunciado como um “concerto
para cinema e orquestra” (em rigor deveria ser para cinema, orquestra e coro).
Quem diz cinema diz projecção de imagens numa sala às escuras, não diz
televisão, que pode ser vista numa sala com luz. Ora a colocação da orquestra e do coro no palco,
muito próximos do ecran onde o filme foi projectado, determinou que este fosse
permanentemente banhado por uma luminosidade difusa, a luz reflectida das
estantes dos músicos. A situação agravou-se pelo facto de o lugar do maestro
ter sido exuberantemente iluminado, de modo aliás completamente desnecessário.
Se nas sequências de interiores este pormenor
não teria muita importância, nas belíssimas sequências no espaço, com um fundo
negro pontuado de milhões de astros luminosos dando a ilusão de uma infinita
profundidade, esta circunstância foi fatal: a ilusão perdeu-se por completo, o
negro nunca existiu, o céu foi o de uma noite de lua cheia numa cidade cheia de
luz.
2. Embora anunciado como “concerto para cinema e
orquestra”, o verdadeiro grande intérprete da noite foi apenas o cinema. A
orquestra e o coro, na sua maior parte colocados no palco em condições de poder
ver o filme, passaram assim também a ser espectadores deste. E naturalmente os
seus desempenhos, particularmente a nível expressivo, foram muito prejudicados.
O maestro cumpriu com geral efectividade a
difícil tarefa de sincronização com as imagens, dos músicos com elas
distraídos, mas não mais. Para ele e para os executantes o apelo irresistível
daquelas foi fatal, e sentiu-se.
A agravar este facto não podemos esquecer que a
memória auditiva do filme se refere a gravações de referência por grandes
orquestras mundiais, a Wiener Philharmoniker, a Berliner Philharmoniker, a
Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks, a Filarmónica de Leninegrado, e
nenhuma orquestra distraída a ver filmes pode competir com isso.
3. Finalmente o “concerto para cinema e
orquestra” sofreu também de um problema técnico equivalente ao de uma pequena
desafinação acústica num músico, mas aqui na área visual, que é a do cinema.
A projecção não foi perfeita sob o ponto de
vista técnico, não sei se por deficiente focagem fina, se por inadequada
definição do suporte ou problema do projector. As imagens não tiveram a nitidez
e precisão que de facto têm no original, e isso foi evidente sobretudo nas
sequências de evolução dos vários engenhos espaciais, onde o problema de
luminosidade referido acima tudo agravou.
Perderam-se assim completamente os belíssimos
efeitos de luz e sombra rigorosamente desenhados em detalhe nos modelos das
naves pela iluminação, e tudo apareceu como desenhado num ecran de computador
de má definição.
A poesia e a música existentes nas imagens do filme estiveram assim ausentes do concerto na FCG.
Não admira pois que também eu tenha ficado menos bem impressionado com ele.
José António Miranda 15/05/2015
A poesia e a música existentes nas imagens do filme estiveram assim ausentes do concerto na FCG.
Não admira pois que também eu tenha ficado menos bem impressionado com ele.
José António Miranda 15/05/2015
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