sábado, 30 de maio de 2015

REQUIEM, Verdi, Fundação Gulbenkian, Maio de 2015

(review in English below)

Gulbenkian encerra temporada com um Requiem acelerado, estridente e sem alma!

O Requiem é uma das minhas peças favoritas de G Verdi. Obra de musicalidade única, tem uma força telúrica brutal que, quando bem interpretada, nos transporta para uma dimensão transcendental, independentemente da discussão académica sobre a sua religiosidade. Infelizmente, não foi o que aconteceu no concerto na Fundação Gulbenkian, por culpa do maestro Paul McCreesh.


Foi a pior interpretação deste Requiem que ouvi até hoje. McCreesh imprimiu-lhe um ritmo espalhafatoso e acelerado, com a Orquestra Gulbenkian frequentemente em fortíssimo, sem transmitir o menor sentimento introspectivo de que a obra está imbuída. O Requiem foi dirigido como se da Aida se tratasse. Mais, o maestro conseguiu abafar frequentemente os solistas que eram de qualidade assinalável. Salvou-se o Coro Gulbenkian, o único que não foi arrasado por McCreesh.


O baixo Dimitri Ulyanov foi excelente, exibindo uma voz grave, forte e de invulgar musicalidade. Também ao mais alto nível esteve a mezzo Karen Cargill, de voz marcante e ponderosa. O soprano Dina Kuznetsova foi algumas vezes abafada pela orquestra, mas no final foi muito expressiva. O tenor Norman Reinhardt foi o solista menos forte que, ainda assim, cumpriu com dignidade, apesar de frequentemente a orquestra o ter neutralizado.

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No final, Paul McCreesh teve um gesto de grande simpatia. Agradeceu a presença do público e homenageou a violoncelista Maria José Falcão que tocou pela última vez na Orquestra Gulbenkian, tendo mesmo lido umas palavras elogiosas em português. Foi bonito mas que não faz esquecer as más direcções de que tem sido responsável nos concertos na Gulbenkian.





REQUIEM, Verdi, Gulbenkian Foundation, May 2015

Gulbenkian closes the season with an accelerated and soulless Requiem!

The Requiem is one of my favourite pieces of G Verdi. With a unique musicality, the piece has a brutal telluric force that, when properly interpreted, transports us to a transcendental dimension, regardless of the academic discussion about its religiosity. Unfortunately, it was not what happened at the concert at the Gulbenkian Foundation, conductor Paul McCreesh's fault.

It was the worst performance of Requiem I heard till today. McCreesh imposed a loud and fast pace, with the Gulbenkian Orchestra often in fortissimi without transmitting the slightest introspective feeling that the work is impregnated. The Requiem was directed as if it was Aida. Furthermore, the conductor could often drown out the soloists who were of remarkable quality.
Saved up was the Gulbenkian Choir, the only one that was not overwhelmed by McCreesh.

Bass Dimitri Ulyanov was excellent, displaying a deep voice, strong and with unusual musicality. Also at the highest level was mezzo Karen Cargill, of striking and powerful voice. Soprano Dina Kuznetsova was sometimes drowned out by the orchestra, but in the end was very expressive. Tenor Norman Reinhardt was the least strong soloist who still sung with dignity, although often neutralized by the orchestra.

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In the end, Paul McCreesh had a gesture of great sympathy. He thanked the audience and paid tribute to the cellist Maria José Falcão who last played in the Orchestra Gulbenkian, even having read a glowing words in Portuguese. It was a nice attitude but that does not erase the bad directions that he have been responsible in concerts at the Gulbenkian Foundation.

5 comentários:

  1. Que pena, eu tinha boa impressão de McCreesh, quando ele era visitante - e dirigiu uma sublime Criação de Haydn. Pelos vistos música italiana não é com ele.

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    1. McCreesh como visitante dirigiu As Estações de Haydn.

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    2. Já em 2002, nos saudosos Concertos Portugal Telecom no CCB, McCreesh dirigiu superiormente um inesquecível Saul, com os Gabriele Consort & Players e com solistas fantásticos, incluindo Susan Gritton, Deborah York, Andreas Scholl, Mark Padmore e Neal Davies.
      Que diferença do que faz actualmente!

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  2. Quando se convida um maestro para um concerto esporádico, naturalmente é para dirigir repertório de especialidade. Naturalmente, quando cá esteve convidado durante a era Foster, McCreesh deixou uma impressão insuflada devido à escolha do repertório, conduzindo-o ao corrente posto na Gulbenkian. Infelizmente, este género de trabalho requer esforço constante e repertório alargado e, faça McCreesh o que fizer, estará sempre desconfortável neste posto. Eu gostaria muito de ouvir o Requiem de Verdi mas, depois de umas poucas experiências quase traumáticas que tive com McCreesh nos últimos tempos, já não arrisco. Em regra não discutimos a existência de gestão fraca na Gulbenkian mas este exemplo certamente não revela boa gestão!

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