(review in English
below)
Visitei pela primeira vez a Semperoper de Dresden e,
com sorte, pude assistir à apresentação de uma opera de R Wagner, O Navio Fantasma
(Der Fliegende Holländer).
A encenação de Florentine Klepper, muito vistosa, foi das mais bizarras que
vi. O início é magnífico, com imagens no palco e projecção de uma tempestade
onde voam aves negas, a condizer perfeitamente com a belíssima música da abertura.
Na penumbra vê-se uma criança de costas.
Fotografias de Matthias
Creutziger (Semperoper Dresden)
É Senta em
criança, que acompanha Senta adulta no funeral do pai, Daland. Há sempre 2
Sentas presentes e toda a ópera é o reviver do passado da criança.
Não há navios em
palco mas uma grande empresa de pesca e é nesse meio hostil que Senta vive.
A criança recolhe
uma ave negra morta das que esvoaçam o palco e tem o primeiro encontro com a
figura mística protectora do Holandês, que tem um braço com penas negras.
O pai Daland negoceia
e oferece-a ao Holandês. O 2º acto é totalmente disparatado. As fiandeiras são
mulheres todas vestidas de igual, grávidas de termo, e é a Mary quem faz o
parto a todas, numa cama colocada a meio do palco!
Talvez uma alusão
ao papel menorizado da mulher naquela sociedade, de servir apenas para ser mãe,
mas o efeito é péssimo. Também Erik sai debaixo da cama, noutro momento
ridículo. No dueto com o Holandês, parece ser ele quem poderá salvar Senta, e
não o contrário.
Mas tal não
acontece, no final Daland está no leito de morte, Senta vestida de noiva (de negro)
e todas as restantes grávidas e vestidas de noivas de branco.
Senta liberta-se
do pai (que é enterrado), do Holandês e dessa sua vida traumática de infância.
A ópera termina com
a Senta a partir para uma nova vida de mala na mão.
Dirigiu a Sächische
Staatskapelle Dresden e o Sächischer Staatsopernchor Dresden o maestro Constantin Trinks que nos ofereceu uma excelente audição.
O baixo austríaco
Michael Eder foi um Daland com algumas
dificuldades de afinação no início. Depois melhorou mas ficou sempre aquém do
desejável, nomeadamente na potencia e musicalidade vocais
Senta foi
superiormente interpretada pelo soprano norte americano Marjorie Owens que impôs a sua capacidade vocal e encheu a sala com
a voz poderosa e expressiva.
O tenor austríaco
Bernhard Berchtold esteve bem como Erik
mas por vezes a voz foi submersa pela orquestra.
O contralto
alemão Christa Mayer foi uma Mary de
voz forte e agreste.
Simon Esper, tenor americano, foi um Steuermann muito
agradável, de voz doce, afinada e melódica.
O Holandês foi
interpretado pelo baixo-barítono alemão Markus
Marquardt que nos ofereceu uma interpretação excelente, em potência e
musicalidade vocais, associadas a uma presença em palco inexcedível.
****
DER FLIEGENDE HOLLÄNDER - Semperoper Dresden, May 2015
I first visited Semperoper Dresden and, with luck, could
attend the presentation of an opera by R
Wagner, Der Fliegende Holländer.
The child picks up a dead black bird and has the first
meeting with the protective mystical figure of the Dutchman, which has one arm
with black feathers.
The father Daland negotiates and offers her to the Dutchman.
The 2nd act is completely ridiculous. The spinners are women
all dressed the same, term pregnant, and Mary is the one who delivers all
babies on a bed placed in the middle of the stage! Perhaps an allusion to the
minor role of women in that society, serving only to be a mother, but the scenic
effect is bad. Erik also appears from under the bed, another ridiculous moment.
In duet with Senta, the Dutchman seems to be him who can save Senta, and not the
opposite.
But this does not happen. At the end Daland is on his
deathbed, Senta in a black wedding dress and all other women pregnant and in
white bridal dresses. Senta is liberated from her father (who is buried), the
Dutch and her traumatic childhood life. The opera ends with Senta to leave for
a new life with a suitcase in hand.
****
Sem comentários:
Enviar um comentário