(Fotografia de José Frade)
Texto de José António
Miranda
Música de António Leal Moreira (Ester), Diogo Dias Melgás (Lamentação de
Quinta-Feira Santa) e Sara Ross
(Alentos)
Textos de Gaetano Martinelli (libreto da oratória
Ester) e autor anónimo (Livro das Lamentações, Bíblia)
Direcção musical:
Jan Wierzba
Direcção teatral: Luca Aprea
Cenografia: Luca Aprea e Stefano Riva
Roupas: José António Tenente
Luzes: Miguel Cruz
Assuero: Carolina Figueiredo
Ester: Patrycja Gabrel
Aman: Pedro Cachado
Mardocheo: Manuel Brás da Costa
Harbona: Rita Marques
Athach: Pedro Matos
Orquestra do Estúdio de Ópera da Escola Superior de Música de Lisboa
Coro do Estúdio de Ópera da Escola Superior de Música de Lisboa (Dir coro: Clara Alcobia Coelho)
Cravo: Joana Bagulho
Produção: Escola
Superior de Música de Lisboa (ESML)
Co-produção: São Luiz
Teatro Municipal (Lisboa), IPL
(Fotografia de José Frade)
Uma proposta
inteligente e belíssima e uma demonstração de que não é necessário mobilizar
grandes recursos para encenar e apresentar um espectáculo lírico de qualidade
muito superior àquela que tem em geral sido patenteada nos últimos tempos no
TNSC.
Simultaneamente o
espectáculo revela a sensibilidade cosmopolita da direcção artística do Estúdio
de Ópera da ESML (Nicholas McNair): a ideia subjacente à sua concepção, a de
juntar num único objecto cénico obras de diferentes contextos e épocas, tem
como exemplos recentes William Christie/Phelim McDermott no MET em
2012 (The enchanted Island), Teodor Currentzis/Peter Sellars no Teatro
Real em 2013 (The Indian Queen), Carlos Mena/Joan Antón Rechi na Zarzuela
em 2014 (De lo humano…y divino).
(Fotografia de José Frade)
Um simplicíssimo
dispositivo cénico rotativo serve aqui de cenário para a exposição da oratória
de Leal Moreira, sendo os textos bíblicos da Lamentação de
Melgás apresentados por um coro de ajudantes de cena/espectadores, que de algum
modo funcionam por vezes também como intérpretes cénicos da música de Sara
Ross.
Esta música,
fragmentos de atonalidade que pontuam todo o espectáculo, funciona à perfeição
como argamassa unificadora, ao mesmo tempo que acentua por contraste as
diversidades musicais e as semelhanças narrativas das duas obras
representadas.
Inteligência e
sensibilidade reunidas obtiveram portanto como resultante um espectáculo de
grande qualidade. A preparação cénica dos cantores foi patente demonstrando um
minucioso trabalho de direcção.
(Fotografia de José Frade)
O desempenho vocal dos
solistas foi globalmente de grande mérito, com particular realce para as
intervenções de Carolina Figueiredo,
Rita Marques e Manuel Brás da Costa: um grupo de jovens cantores que poderia sem
problemas apresentar-se neste reportório em outros palcos.
O coro ultrapassou
muito bem as dificuldades da polifonia barroca. Especialmente brilhante foi a
orquestra, que mostrou uma qualidade interpretativa ímpar indiciando
seguramente um cuidadoso labor de preparação, mas reveladora sobretudo do rigor
e da sensibilidade da direcção de Jan
Wierzba.
E assim se pode
ver também aqui uma clara explicitação da habitual realidade doméstica: tem de
ser um palco lírico secundário o local de apresentação para um público em geral
menos informado de um espectáculo de maior qualidade produzido entre nós,
enquanto que ao lado (TNSC), na cena lírica principal se exibem para um público
(por ora ainda) mais conhecedor espectáculos importados de menor valia.
(Fotografia de José Frade)
A habitual
alternativa secular para os nossos melhores protagonistas continua a ser a
emigração, agora de forma explícita incentivada.
José António Miranda, 09/03/2015
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