IL TROVATORE ABRE A TEMPORADA 2014 DE ÓPERAS DO THEATRO
MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE DO BLOG DE ÓPERA E BALLET
O Theatro Municipal de São
Paulo abriu a temporada de óperas 2014 no último dia 08 de Março com Il Trovatore de
Giuseppe Verdi, título esse que
possuí características ímpares na ópera Verdiana. Começando pelo libreto:
História maluca, cheia de reviravoltas e absurdos onde boa parte da ação se
passa antes de subir a cortina. A violência do texto e a falta de coesão estão
presentes em toda a ópera, consegue ser mais confuso que a ópera L'Africaine de
Meyerbeer. Desfilam uma cigana, cavaleiros apaixonados, morte por engano,
assassinato de criança, guerras e sangue por todo lado. Tudo sem nexo que beira
ao absurdo.
Il Trovatore segue em cartaz nos teatros líricos devido à música de
Verdi, essa sim um absurdo de criatividade. Cenas com impacto dramático de alto
nível onde são exploradas a valsa e a mazurca com melodias expressivas. Árias
extensas, duetos carregados de emoção e cenas corais tem música arrebatadora.
Verdi vence o obstáculo de um libreto fraco e pífio compondo música da mais
alta qualidade, melodias que penetram como uma flecha na alma dos espectadores.
A produção do Theatro Municipal de São Paulo mostrou acertos na escolha
dos solistas e algumas derrapadas. Os cenários de Sergio Tramonti são
interessantes, trazem dois blocos que se movem em uma única direção e
caracterizam bem algumas cenas, após o terceiro ato ficam demasiadamente
repetitivos e entediantes. A luz de Pasquali Mari deixou tudo na penumbra, uma
escuridão condizente com o enredo, embora algumas cenas pudessem ter melhor
tratamento. A opção pelo monocromático da luz amarela soa repetitiva demais e
sem criatividade. Os figurinos de Alessandro Ciammarughi optam pelo tradicional
e mostram uma Espanha de antigamente.
A direção de Andrea de Rosa
oscila entre momentos interessantes e alguns absurdos. Utiliza os cenários de
forma criativa explorando todo o espaço cênico. Os personagens são
caracterizados para mostrar as mazelas e torturas que sofrem por amor e o
desejo de vingança. Teatro e canto se unem para tocar o espectador. A ideia de
colocar uma fogueira estilizada no centro do palco é uma bela sacada, nela a
história começa e termina. Fazer Manrico morrer queimado e de pé soa tão
absurda como o libreto, se está no inferno que abrace o capeta.
Susanna
Branchini, foto Internet
Vocalmente os solistas se mostraram de excelente nível, comecemos com a
Leonora de Susanna Branchini,
soprano detentora de bela voz lírico-spinto com agudos sólidos, projeção vocal
enorme, daquelas que enchem o teatro e interpretação cênica convincente. Sua
Leonora esbanja vigor e densidade vocal, mostra uma interpretação moderna da
personagem, teatro e canto unidos em uma inesquecível interpretação. Stuart Neill esteve no Municipal em
2013 cantando Radames da ópera Aida de Verdi, fez um Manrico com belos
agudos, tenor de voz pouco extensa compensa isso com agudos brilhantes e uma
boa sustentação das notas. Interpretação cênica fraca, seu personagem se mostra
sem emoção e consistência.
Alberto Gazale mostrou bons
graves com seu Il Conte de Luna, abusou deles em termos de força e vigor. Sua
voz se mostra sempre consistente colocando credibilidade no personagem. Aliado
a uma boa interpretação cênica fez com que seu personagem fosse sempre regular
ao longo de toda a apresentação.
A dona da noite, a rainha da cocada foi o mezzo-soprano Marianne Cornetti, a mulher arrebentou
como Azucena, sobraram graves extensos e uma vocalidade de timbre impressionante.
Voz escura, densa, arrebatadora e consistente em todos os registros que
sobrevoam a orquestra e chegam limpos à plateia. Interpretação cênica louvável
de uma grande atriz, Marianne Cornetti conhece a fundo sua personagem e a
interpreta com segurança e convicção. Um grande achado essa
mezzo-soprano.
Stuart
Neill,foto Internet
Destaque o mezzo-soprano Ana
Lucia Benedetti, em sua pequena participação mostrou boa musicalidade com
agudos coloridos e um fraseado correto. Fez uma Inez de bom nível cênica e
vocalmente, cantora que entende a importância de fazer papéis menores e se
dedica a eles com afinco, quero muito vê-la cantando personagens de maior
expressão.
Correta, mas correta mesmo a cobrança de R$ 5,00 pelo programa completo. Antes distribuído gratuitamente não era devidamente valorizado pelos espectadores e muitos o descartavam nas lixeiras do centro. Cobrando ele passa a ser valorizado e só quem se interessa em tê-lo paga. Quem não compra recebe um programa menor e bem mais simples.
Correta, mas correta mesmo a cobrança de R$ 5,00 pelo programa completo. Antes distribuído gratuitamente não era devidamente valorizado pelos espectadores e muitos o descartavam nas lixeiras do centro. Cobrando ele passa a ser valorizado e só quem se interessa em tê-lo paga. Quem não compra recebe um programa menor e bem mais simples.
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