(Review in English below)
A ópera trágica em dois
actos Maria Stuarda de Gaetano Donizetti com libreto de Guiseppe Bardari baseado na peça Maria
Stuart de Schiller, faz parte de uma triologia que o compositor dedicou ao
período conturbado dos Tudor em Inglaterra (Anna Bolena, Maria Stuarda e
Roberto Devereux).
Foi estreada no Scala de
Milão em 1835 e, incrivelmente, estreia-se no MET apenas nesta temporada.
(imagens da internet)
A história não tem base histórica
verídica e trata da disputa de poder entre as primas Maria, rainha da Escócia,
e a rainha Elizabeth I de Inglaterra. Poderão ler uma sinopse no site do MET.
A encenação de David McVicar utiliza vestuário de
época detalhado a contrastar com cenários muito simples e pouco recheados de
elementos. Destaca-se a caracterização de Elizabeth muito masculina,
desajeitada e áspera e uma direcção de actores pobre. É uma encenação que segue
o enredo, mas que não enche o olho em nenhum aspecto, chegando a ser até
bastante amorfa.
Elza van den Heever, soprano sul-africana, foi
Elizabeth I. Caracterizada com um estilo muito masculino e desajeitado, por
vezes quase medonho, a sua interpretação foi cenicamente convincente. Quanto à
prestação vocal, em termos interpretativos esteve bem e, embora tenha uma voz
poderosa e tenha estado afinada, a sua voz não tem um timbre especialmente
agradável, sendo, muitas vezes, um pouco áspero.
Joyce DiDonato, meio-soprano norte-americana e muito querida no
MET, foi Maria Stuarda. Embora o papel tenha sido escrito para voz de soprano,
a qualidade vocal e técnica de DiDonato permitiu-lhe assumir este papel que é
vocalmente extremamente exigente, sobretudo no segundo acto. De notar o tremor
das mãos e cefálico que apresentou no segundo acto, a denotar a idade 10 anos
mais avançada em que este acto se passa relativamente ao primeiro. Esteve em
grande nível com excelentes interpretações vocais e cénicas e foi absolutamente
sublime no 2.º acto. Sem dúvida e de
longe, a melhor da noite! Esperamos vê-la em grande forma na FCG no próximo
mês.
Matthew Polenzani, tenor norte-americano, foi Leicester. É verdade que
o timbre da sua voz é agradável, mas isso não faz dele, em minha opinião, um
tenor de alto nível. Interpretativamente, quer vocal, quer cenicamente, é
sempre muito amorfo e não transparece emoção, vida ou entusiasmo. Foi portanto
muito regular e teve uma ou outra falha na abordagens às notas mais agudas.
Joshua Hopkins, barítono, foi um Cecil com um timbre adequado ao
papel e cumpriu bem. Matthew Rose,
barítono, foi um Talbot excelente quer vocal, quer cenicamente, e é dotado de
um instrumento com um timbre muito agradável e potente. Maria Zifchak, meio-soprano, tem um papel menor e cumpriu bem.
Maurizio Benini foi o maestro de serviço e conduziu a Orquestra do MET em mais uma excelente
demonstração da sua qualidade. O Coro do
MET esteve, igualmente, fantástico, como é aliás habitual.
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(Review
in English)
Maria
Stuarda is a tragic opera in two acts by Gaetano
Donizetti with libretto by Guiseppe
Bardari based on Schiller’s play Mary Stuart. It is part of a trilogy which
the composer dedicated to the turbulent period of Tudor’s England (Anna Bolena,
Maria Stuarda and Roberto Devereux) .
It
was premiered at La Scala in 1835 and, incredibly, debuts at MET just this
season.
The
story has no verdical historical basis and addresses the true power struggle
between the cousins Mary, Queen of Scots and Queen Elizabeth I of England. You
can read a synopsis on the MET website.
The
staging by David McVicar uses
detailed classic wardrobe contrasting very simple and empty scenarios. We
highlight the characterization of Elizabeth in a very male, awkward and rough
way and a poor actors’ direction. The scenarios follow well the plot, but it
was not magnificent in any way, even getting to be quite amorphous.
Elza van den Heever,
South African soprano, was Elizabeth I. She was characterized in a very
masculine and clumsy style, sometimes almost ghastly, but her interpretation
was scenically compelling. Respecting vocal interpretation she did well, but,
although she has a powerful voice and has been in tune, her voice has a timbre
not particularly pleasant, and it often a little rough.
Joyce DiDonato,
beloved American mezzo-soprano at MET, was Maria Stuarda. Although the role was
written for soprano voice, DiDonato’s vocal and technical qualities allowed her
to take this role that is vocally very demanding, especially in the second act.
Note the tremor of the her hands and head that she presented in the second act,
denoting the more 10 years old relatively to the first act. She was at great
level with excellent vocal and scenic performances and she was absolutely
sublime in second act. Undoubtedly and by far the best of the show! We hope to see
her in a good shape in the next month at FCG.
Matthew Polenzani,
American tenor, was Leicester. It is true that his vocal timbre is nice, but
that does not make him, in my opinion, a tenor of high standards.
Interpretively, whether vocal or scenically, he is always very amorphous and
not apparent emotion, life and enthusiasm. In spite of these facts, he was very
regular and failed some approaches to higher notes.
Joshua Hopkins,
baritone, was Cecil and he has an appropriate tone to the role he performed
well. Matthew Rose, baritone, was a Talbot
with an excellent vocal or scenic skills and he is equipped with a vocal
instrument with a very pleasant and powerful timbre. Maria Zifchak, mezzo-soprano, has a minor role and performed well.
Maurizio Benini was
the maestro who conducted the MET Orchestra in another demonstration of its
excellent quality. The MET Choir was also fantastic, as is usual in fact.
Concordo com quase tudo o que escreveu. A Joyce DiDonato tem uma extensão vocal invulgar que lhe permite cantar papeis como este. No 2º acto foi excelente, numa abordagem mais intimista, de grande impacto vocal e cénico. O Polenzani não esteve no seu melhor.
ResponderEliminarA minha única discordância prende-se com e encenação, minimalista, mas que achei eficaz, sobretudo no 2º acto.
Caro Fanático_Um: também acho que a encenação foi clássica e muito eficaz, apesar de minimalista. Creio é que lhe faltou algum brio e alguns elementos que tivessem ajudado a exponenciar a interpretações vocais que ouvimos, mas creio que esse facto se terá ficado a dever, em grande medida, à direcção de actores que foi pobre, oferecendo pouca emoção cénica às cenas mais marcantes e claramente de forte índole dramático-trágico. Ainda assim, creio que as interpretações vocais diminuíram esse defeito. Em suma: foi uma encenação eficaz e bonita, mas creio que carecerá, em futuras reposições de alguns ajustes. Fiquei foi muito entusiasmado com Joyce DiDonato, pelo que estou muito espectante em relação à recita que nos vai oferecer na Fundação Gulbenkian no dia 2 de Fevereiro.
EliminarEu concordo com muita coisa, eu achei que a atuação foi em muitas partes exagerada ao extremo, Elizabeth ficou grotesca e a Maria no segundo ato ficou envelhecida demais, ela parece uma venha de 60, ou 70 anos, e isso resultou em algo muito artificial. Apesar de tudo isso achei a cena do cadafalso intensa e muito emocionante, um final digno do drama de Donizetti.
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