(Review in English below)
Assistimos a mais uma transmissão da Metropolitan Opera de Nova Iorque,
desta vez com a grande ópera de Berlioz
— Les Troyens.
Berlioz dedicou-se de corpo e alma a esta
obra, tendo sido responsável pelo libreto a partir da Eneida de Virgílio e pela
música, ambos belíssimos. De notar a grandiosidade da ópera: desenvolve-se em 5
actos e exige uma enorme capacidade de mudanças cénicas, pelo que, regra geral,
só é apresentado nas principais casas de ópera. Aliás, a sua majestade é de tal
modo que Berlioz nunca viu a sua ópera encenada em toda a sua extensão, o que
muito o entristeceu.
(fotos da internet)
A transmissão ontem apresentou algumas falhas
técnicas com pequenos cortes na imagem e no som aqui e ali, mas não foi um
problema de maior.
A encenação de Francesca Zambello é extraordinária. Grandiosa, de enorme impacto
visual, conduz-nos ao longo da ópera sem esquecer os pormenores e captando
sempre a atenção. Além disso, é uma encenação intemporal, o que se adequada
totalmente ao texto que o é igualmente.
A condução musical de Fabio Luisi foi de elevada qualidade, muito clara e viva. O coro do MET esteve excepcional,
desempenhando um papel extremamente importante uma vez que é quase omnipresente.
As interpretações vocais foram, globalmente,
de muito elevado nível.
Deborah
Voigt foi Cassandra.
Cenicamente bem, é um soprano dotada de uma voz poderosa e bem se esforçou por
fazer valer as suas profecias, com excelente projecção e intensidade dramática.
Susan
Graham foi Dido. Dotada de
uma voz de mezzo-soprano com timbre belíssimo e potência assinalável,
interpretou muito bem o seu papel variando entre os registos lírico e dramático
com muita segurança.
Eneias foi Bryan Hymel que substituiu Marcello Giordani e que se estreou no
MET há 10 dias. E muito se agradece a substituição! Hymel é um tenor que
possuiu um instrumento vocal poderosíssimo: o timbre é belíssimo, os agudos são
fáceis e bem sustentados, a potência é imensa, as suas variações entre o
lírico, o dramático e o heróico perfeitas, e as suas capacidades cénicas
extraordinárias. Esteve sublime na sua ária mais exigente, tendo recebido uma
calorosa, prolongada e bem merecida ovação. O melhor da tarde/noite!
Karen
Cargill foi uma Ana (irmã de
Dido) que se apresentou em excelente forma vocal. Eric Cutler como Iopas e Paul
Appleby como Hylas estiveram igualmente em excelente nível, sobretudo este
último que tem um timbre vocal muito bonito.
Os restantes elementos do elenco, onde destacam
Dwayne Croft (Chorèbe) e Kwangchul Youn (Narbal), estiveram
todos em bom nível vocal e cenicamente.
Assistimos, portanto, a uma récita de elevada
qualidade de onde destacamos a excelente encenação e as interpretações
magníficas de Susan Graham e a de Bryan Hymel, este último merecendo o maior
Bravo da récita, não esquecendo a qualidade musical e do texto de Berlioz que
merecem lugar de destaque como uma das mais completas e espectaculares óperas.
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(Review in Engish)
We watched a
broadcast over the Metropolitan Opera in
New York, this time with the great Berlioz’s
opera — Les Troyens.
Berlioz devoted
himself to this work with body and soul, having been responsible for the
libretto from Virgil's Aeneid and music, both beautiful. Note the grandeur of
opera: it develops in 5 acts and requires an enormous capacity for scenic
changes, so generally only appears in major opera houses. Incidentally, his
majesty is such that Berlioz never saw his opera staged in its entire length,
which greatly saddened him.
The broadcast
yesterday showed some technical flaws with small cuts in picture and sound here
and there, but it was not a major problem.
The staging by Francesca Zambello is extraordinary.
Grand, enormous visual impact, leads us along the opera without forgetting the
details and always capturing attention. Furthermore, a scenario is timeless,
which is fully adequate to text that is equally.
Fabio Luisi direction was of high
quality, very clear and vivid. The chorus of MET was exceptional, playing an
extremely important role since it is almost ubiquitous.
The vocal
performances were, overall, at very high level.
Deborah Voigt was Cassandra. Scenically
well, she is a gifted soprano with a powerful voice. She well strove to assert
their prophecies with excellent vocal projection and dramatic intensity.
Susan Graham was Dido. Gifted with a
voice of mezzo-soprano with a beautiful timbre and remarkable power, played her
role very well ranging between lyrical and dramatic registries with confidence.
Aeneas was Bryan Hymel who replaced Marcello
Giordani. And what a grateful replacement! Hymel is a tenor who possessed a
powerful vocal instrument: timbre is beautiful, the highs are easy and well
supported, power is immense, the variations between the lyrical, dramatic and
heroic are perfect and he has extraordinary scenic skills. He was sublime in
his more demanding aria and received a warm, long and well-deserved ovation.
The best of this afternoon / evening!
Karen Cargill was one Anna (sister of Dido),
which appeared in excellent vocal form. Eric
Cutler as Iopas and Paul Appleby
as Hylas were also in excellent level, especially the latter, which has a
pretty vocal timbre.
The remaining
elements of the cast, in which highlight Dwayne
Croft (Chorèbe) and Kwangchul Youn
(Narbal), were all in good level vocal and scenically.
We watch,
therefore, a performance of high quality where we highlight the excellent
staging and magnificent interpretations of Susan Graham and Bryan Hymel, the
latter earning the most deserved Bravos, not forgetting the quality of the text
and music of Berlioz. Les Troyens is one of the most complete and spectacular
operas ever written.
Não pude assistir a estes "troianos" mas vi ao vivo há poucos meses uma récita na royal Opera House em Londres e o Bryan Hymel também cantou o Eneias, também em substituição, nessa vez, do Jonas Kaufmann.
ResponderEliminarNão posso estar mais de acordo com a sua apreciação que fez dele, como também, a seu tempo, escrevi aqui no blogue. É, de facto, um cantor de excepção, pelo menos neste papel, e ainda deveremos vir a ter muitas surpresas agradáveis com ele.
Obrigado pelo relato.
Eu assisti a essa apresentação do MetHD e fiquei impressionada com o Bryan Hymel, realmente magnífico! Foi tudo excelente nessa apresentação!
ResponderEliminarAssisti a essa mesma producao da Royal Opera e de facto o Hymel foi excepcional. Foi para todos nos uma sorte que o Giordani tenha retirado de vez este papel do seu reportorio. escutei-o em outubro passado aqui em Barcelona no Liceu a cantar a La forza del destino e o homem estava pela hora da morte. a voz acusa bastante desgaste e cansaço. Duvido sinceramente se irá cantar a Francesca da Rimini, que é uma opera altamente exigente para todos os cantores. Espero sinceramente que o substituam porque se trata de uma obra que me gosta muito.
ResponderEliminarQuanto a Debora Voigt, achei a cassandra dela proxima da banalidade. Nada da loucura que vemos nas varias interpretaçoes de Caterina Antonacci (uma cassandra que para sempre me marcou! ela ate rebolava no chao!) ou a beleza de timbre de Berit Lindhom, que se pode testemunhar numa fantastica gravaçao dirigida por Sir Walter Colins. Voigt nao se mexia em palco, e o canto n enxeu as medidas. Logo quando Cassandra canta, para mim, algumas das arias e passagens mais bonitas de toda a opera.
Quanto a Susan Graham, extraordinaria. Estou totalmente de acordo.
Quanto a produçao, achei altamente banal. corre bem e tal, mas nao me disse muito.
A de Londres pecou por exagero e alguma falta de bom senso em alguns casos, mas enchia muito mais as medidas :)
Graças a Hymel e a Graham foi possivel disfrutar de um maravilhoso serão!
Caro blogger,
EliminarEstarei no Liceu de Barcelona nas récitas de Domingo (Iolanta) e e seguna-feira (Rusalka). Mantenho o convite para umas tapas e uma conversa pré-ópera. Poderemos combinar hora e local através do email fanaticoum@gmail.com.