A ópera o Castelo do Barba-Azul de Béla Bartók subiu ao palco da Fundação Calouste Gulbenkian no passado dia 24 de Outubro.
Esta ópera em um acto, composta em 1911 e estreada em 1918, com libreto de Béla Balázs, inspirado num conto popular, pode ser encarada como uma viagem ao interior do Duque Barba-Azul. Numa sequência de abertura de portas do seu Castelo pela sua 4ª mulher Judith, onde conhecemos o seu jardim, o seu reino, o seu tesouro… chegamos à 7ª e última porta onde se encontram as suas 3 ex-mulheres, ainda vivas, à qual se junta Judith, terminando assim a ópera.
A música de Bartók é marcadamente envolvente, criando um misto de ambiente sinistro e acolhedor, muito longe de ser incomodativa a ouvidos menos preparados, como outras composições da mesma altura temporal.
O palco da Gulbenkian foi transformado numa produção multimédia que podia facilmente ser um cenário clássico para apresentação numa Casa de Ópera. O Castelo é personificado por estrutura simétrica em forma de pilares, onde são projectadasimagens que refletem o que por detrás de cada porta se vai desvendando. No centro, uma estrutura hexagonal, suspensa por cabo, abre-se em 2 pirâmides quando Judith abre a última porta. Por detrás são projectadas imagens das mulheres de Barba-Azul e é lá que Judith termina a ópera olhando para o palco, pouco antes de tudo escurecer.
Sir John Tomlinson foi o Barba-Azul. Com a sua pose característica e aparência tradicional com cabelo branco penteado para trás e barba acertada, encarna na perfeição o papel, para o qual contribuiu a capa e colete de cabedal negros. A voz mantém a mesma qualidade que já por várias vezes descrevi neste blog. O timbre é característico e os agudos parecem frequentemente em esforço mas saem sem quebrar. Talvez seja pelo timbre vocal e não pela idade da mesma.
Michele DeYoung foi Judith. Excelente qualidade vocal aliada a uma expressão corporal sentida e natural.
Esa-Pekka Salonen dirigiu a Philharmonia Orchestra de forma tão intensa e cativante que chegou a rasgar o casaco na região axilar direita…
Natália Luiza fez prólogo narrado que introduziu, em bom português, o ambiente da ópera.
A anteceder a ópera, podemos escutar a sinfonietta de Leos Janacek. Uma escolha ajustada e coerente.
Mais uma grande noite na Gulbenkian!
The Bluebeard's Castle - Calouste Gulbenkian Foundation - 24 October 2011
The opera Bluebeard's Castle by Béla Bartók was brought to the stage of the Calouste Gulbenkian Foundation on the 24th October.
This one-act opera, composed in 1911 and premiered in 1918, with libretto by Béla Balázs, inspired by a folk tale, can be seen as a voyage into the Duke Bluebeard soul. In a sequence of opening doors of his castle by his 4th wife Judith, where we can meet his garden, his kingdom, his treasure ... we come to the 7th and last door where his three ex-wives, still alive, to which joins Judith, thus ending the opera.
Bartók's music is remarkably engaging, creating a mix of sinister and friendly environment, far from distracting the less prepared ears, like other compositions of the same period of time. The stage of the Gulbenkian was transformed into a multimedia production that could easily be a classic setting for presentation at an Opera House. The castle is personified by the symmetrical structure in the form of pillars, in which are projected images that reflect what is behind each unlocked door. In the center, a hexagonal structure, suspended by cables, opens in two pyramids when Judith opens the last door. Behind are projected images of Bluebeard’s wifes and it is there that Judith ends looking at the stage, just before the opera ends and everything goes dark.
Sir John Tomlinson was the Bluebeard. With his characteristic pose and traditional look with white hair slicked back and a beard, perfectly embodies the role, to which contributed the hood and black leather vest. The voice has the same quality that has repeatedly described in this blog. The sound is distinctive and often appears stressed in the high notes but without breaking out. Maybe it is due to his vocal timbre and not just due to his voice age.
Michelle DeYoung was Judith. Excellent voice quality combined with a true felt natural body language.
Esa-Pekka Salonen led the Philharmonia Orchestra in a so intense and captivating way that he even teared his coat just below his right arm pit…
Natalia Luiza did the narrated prologue in portuguese, which introduced the environment of the opera.
Prior to the opera, we could hear the Sinfonietta by Leos Janacek. A smart and consistent choice.
Another great night at Gulbenkian!
Caro wagner_fanatic,
ResponderEliminarObrigado por este relato tão rico. Os que não puderam ir, como eu, ainda ficam com mais pena...
voces estao em todas!
ResponderEliminarQuando um dia fundar a Opera Metropolitana de Luanda, tambem vos quero cá haha
Realmente, é por coisas como estas que sinto falta de Lisboa
Bem gostaríamos de estar em todas!
ResponderEliminarE suspeito que cada vez estaremos em menos. Confesso ter saudades de uma incursão a NY como a que fez recentemente. Deve ter sido uma experiência fantástica, que felizmente, já vivemos.
Cumprimentos musicais e boa sorte com a Ópera Metropolitana de Luanda!
Reforço o que diz o FanaticoUm: era bom estarmos em todas mas a crise poderá progressivamente empobrecer este blog em experiências no estrangeiro... Mas continuaremos com o que for possível porque a paixão e o amor à Ópera e à Música não dependem de crises economicofinanceiras.
ResponderEliminarCaro fanático,
ResponderEliminarO Barba Azul é um personagem arquetípico da psicologia - tal a força e singularidade das trágicas vivências de sua história! Imagino isso sendo interpretado de forma tão brilhante como você nos descreve. Por certo revolve a alma!
Um grande abraço do atelier