domingo, 16 de outubro de 2011

ANNA BOLENA – Met Live em HD, Fundação Gulbenkian, Outubro de 2011

(Text in English below)

Anna Bolena é uma ópera de Gaetano Donizetti, com libreto de Felice Romani, sobre a condenação à morte por Henrique VIII de Ana Bolena, sua segunda mulher, para se casar com Jane Seymour. O argumento pode ler-se aqui.
A encenação de David McVicar é excelente: clássica e tradicional. Apesar de não trazer novidades, gostei muito. Neste aspecto sou muito conservador e prefiro as encenações clássicas às modernas, sobretudo quando nestas últimas surgem muitos elementos controversos, confusos ou de mau gosto, o que é frequente. Os fatos eram fantásticos.
Achei que o som estava demasiado alto (e amplificado), não permitindo uma apreciação plena e verdadeira do que se ouviu.
O coro foi óptimo e a orquestra excelente, dirigida de forma exemplar pelo maestro italiano Marco Armiliato.
Anna Bolena foi interpretada pelo soprano russo Anna Netrebko. Já aqui escrevi várias vezes quanto admiro esta cantora de excepção e hoje, mais uma vez, esteve a um nível superior. Acho a sua voz de uma beleza ímpar, com uma potência imponente e uns agudos fabulosos. Foi sempre audível sobre a orquestra, a coloratura foi notável, sobretudo no segundo acto. Toda a cena do delírio foi estupenda e na ária Al dolce guidami foi arrepiante. Para mim, Anna Netrebko, no reportório que canta, actualmente não tem rival.
(fotografias da Met Opera)

O meio-soprano Ekaterina Gubanova, outra grande cantora russa, foi uma respeitável Giovanna Seymour. A voz é portentosa e bem timbrada. No registo mais agudo e em esforço, perde alguma qualidade. Mas teve uma interpretação óptima e, cenicamente, esteve igualmente bem, particularmente no diálogo com a rainha (O mia Regina!) em que expressou o seu remorso.


Stephen Costello, tenor americano, foi um Percy (Riccardo) decente mas, para mim, o cantor menos forte de entre os solistas. Acho que saiu beneficiado com o som que foi transmitido. Esteve bem e algumas das suas intervenções foram de inegável qualidade.


Ildar Abdrazakov, baixo russo, foi Enrico. Foi outro dos grandes intérpretes da noite. Voz forte, aveludada, limpa, com uma musicalidade fantástica. Interpretou muito bem o papel de rei tirano. A figura também ajuda.

O meio-soprano americano
 Tamara Mumford foi um Smeton muito interessante. A voz é bonita, forte e bem colocada e a cantora esteve perfeita cenicamente.
Começou da melhor maneira a temporada do Met Live, com uma ópera belcantista italiana em que dominaram e brilharam os cantores russos!

*****



ANNA BOLENA – Met Live in HD, Gulbenkian Foundation, October 2011

Anna Bolena is an opera by Gaetano Donizetti, libretto by Felice Romani, on the sentencing to death by Henry VIII to Anna Bolena, his second wife, to marry Jane Seymour. The plot can be read here.

The staging by David McVicar is excellent: classic and traditional, looking very nice. Although without novelties, I really enjoyed it. In this respect I am very conservative and prefer the traditional to modern staging, especially when the latter includes controversial, confusing, or disgusting elements, which is frequent. The costums were fantastic.

I thought the sound was too loud (and amplified), not permitting a full and true appreciation of what was heard.

The choir was great and the orchestra excellent, conducted in a superb way by Italian conductor Marco Armiliato.

Anna Bolena was interpreted by  Russian soprano Anna Netrebko. I have written several times in this blog how much I admire this exceptional singer. Today, once again, she was at her highest level. Her voice is of unparallel beauty, with an impressive power and fabulous high notes. She was always audible over the orchestra, the coloratura was remarkable, especially in the second act. All the mad scene was wonderful and in the aria Al dolce guidami she was smaching. To me, Anna Netrebko, in the roles she sings, currently has no rival.

Mezzo-soprano Ekaterina Gubanova, another great Russian singer, was a respectable Giovanna Seymour. The voice is portentous and with a nice timbre. In the upper register and in effort, she looses some quality. But she had a great interpretation, and artistically she was also good, particularly in the dialogue with the Queen (O mia Regina!), in which she expresses her remorse.

Stephen Costello, American tenor, was a decent Percy (Riccardo) but to me, he was the less strong performer among the soloists. I think he was benefited from the sound that was transmitted. But he sang well and some of his interpretations were of undeniable quality.

Ildar Abdrazakov, Russian bass, was Enrico. He was another of the great performers of the night. He has a strong, velvety and clean voice, with fantastic musicality. He played well the role of tyrant king. His figure also helps.

American mezzo-soprano Tamara Mumford was a very interesting Smeton. Her voice is beautiful, strong and well used and the singer was artistically very well.

The Met Live in HD season started at its best, with an Italian belcanto opera where Russian singers dominated and enchanted.

*****

15 comentários:

  1. Fanático,

    O padrão de qualidade do Metropolitan é imbatível. Não conhecia essa ópera e ouso dizer que foi um dos melhores espetáculos que já assisti, seja in loco ou em vídeo.

    Anna Netrebko é um fenomeno! Já tinha visto ela muito bem em outros papéis, mas o de hoje foi o melhor.

    Todos os cantores estavam com excelente presença cênica. A montagem é irreparável.

    Só tenho que reclamar aqui do som da sala 1 do Cine Leblon (onde assisti a récita). Estragou boa parte da experiência. O sistema não aguentava os encores ou os metais e distorcia tudo. Foi tão ruim que o pessoal da Mobz (a empresa que traz o Met Opera para o Brasil) ofereceu devolver o dinheiro do ingresso.

    Ainda bem que para as próximas récitas eu comprei ingressos para outra sala de cinema, mais moderna e com som mais apropriado.

    Não esqueci que estou devendo a crítica sobre a Tosca do Municipal do RJ. Assim que eu escreve-la, eu envio!

    Um abraço,

    Eduardo

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  2. No programa original do Met, não fala de Ekaterina Gubanova, mas sim de Garanca. Em Viena, foi Seymour 100%. Mas naturalmente só queriam russos.

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  3. @ Eduardo,
    Desta vez em Lisboa também achei o som demasiado alto, o que causou alguma distorção. Mas foi um espectáculo fabuloso.
    Aguardaremos sem pressa as suas Tosca e Valquiria.
    Abraço

    @ Plácido,
    A Garanca teve que cancelar (com tempo) devido a gravidez. É uma Seymour fabulosa, ouvi-a em Barcelona no ano passado.

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  4. "I am very conservative and prefer the traditional to modern staging, especially when the latter includes controversial, confusing, or disgusting elements, which is frequent."

    Hear hear! I agree wholeheartedly.

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  5. Também gostei muito, FanaticoUm. A Anna Netrebko está a cantar maravilhosamente. Ela diz que é preguiçosa e estuda pouco, mas acho que trabalhou cuidadosamente este papel e o resultado viu-se e ouviu-se.

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  6. A voz de Netrebko adquiriu uma estatura (certamente para os seus detractores) insuspeita. De qualquer modo, estou em crer que o soprano russo, como jamais até ao presente momento, se encontra a trilhar o reportório mais adequado ao seu instrumento. As sucessivas aclamações provam-no.

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  7. Netrebko esteve fabulosa!!! Quando tiver algum deslize em palco saberemos que o início da recta descendente começou mas, até lá, é magia para os nosso ouvidos e olhos.

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  8. Concordo inteiramente com o que escreveu caro FanaticoUm. Tenho pena que o som estivesse demasiado alto.

    Netrebko esteve maravilhosa na ária "Al dolce Guidame".

    Cumprimentos musicais.

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  9. hi dear Fanatico.. I made a small change in .. :)

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  10. @ Wotan
    Richtig!

    @ Gi,
    Concordo consigo, não acredito que ela não tenha preparado cuidadosamente esta interpretação. Nem poderia ser de outra forma, tal a exigência do papel. Maravilhosa, de facto.

    @ Hugo,
    Nunca cantou tão bem como agora, na minha modesta opinião.

    @ wagner_fanatic,
    Já tivémos o enorme privilégio de ouvir a Netrebko ao vivo várias vezes. Ontem foi mais um dia glorioso para nós, por podermos desfrutar da interpretação e para ela, por ter sido capaz de nos brindar com ela.

    @ Alberto,
    Sábado passado alarguei o meu escasso rol de verdadeiros conhecedores da lírica e, por isso, fiquei mais rico. Fico satisfeito por também ter admirado a Netrebko que, imagino, não estará no grupo dos seus cantores favoritos neste reportório que lhe é tão caro.

    @ thamin-6,
    Not a small but a big change Ismail!

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  11. A todos os que, como eu, ficaram rendidos à interpretação da Anna Netrebko, gostaria de os alertar para o seguinte:

    Não percam a Manon de dia 7 de Abril às 17h00 no Met Live na Gulbenkian. Se a Netrebko interpretar o papel como a vi fazer no ano passado (nesta produção) em Londres, preparem-se para assistir a uma das maiores interpretações da vossa vida!
    A Netrebko é simplesmente arrasadora como Manon!
    Depois dir-me-ão de vossa justiça.

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  12. Caro FanaticoUm

    Obrigado!

    Quanto à Manon da Gulbenkian, está, por enquanto esgotada. Se bem que surgem sempre algumas desistências de última hora.
    Cumprimentos

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  13. Fanático,

    Estou pensando em ir a NY em fevereiro. Vi que as récitas de Ana Bolenas estão esgotadas.

    Vou comprar um pacote de 3 operas (outras) e não vou perder a viagem, mas qual a probabilidade de conseguir pelo menos um ingresso na hora H? Ver essa mulher cantar ao vivo seria uma chance única na vida...

    Tem algum macete para conseguir ingresso lá na hora? Que lugares você me indica? Qual é a melhor relação custo x benefício? Meu instinto é comprar "orchestra balance" que parece ser o meião da plateia...

    Um abraço,

    Eduardo

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  14. Caro Eduardo,

    Por pouco não nos encontraremos em NY. Tenho lá um compromisso profissional no início de Março e também conto ir ao Met.

    Em relação aos lugares, só estive em 3 locais:
    Orchestra (Plateia), mas tenha atenção que o Met é muito grande e, nas filas de meio para trás, paga-se muito e vê-se mal.
    Grand Tier, vê-se bem, ao longe, mas é muito caro.
    Balcony, se conseguir a primeira ou a segunda fila (o mais central possível) os lugares são muito bons, vê-se ao longe, é certo, mas o preço compensa.

    Em resumo eu quando vou ao Met ou vou para o Balcony na primeira fila, ou para a Orchestra nas filas da frente (neste caso quando são óperas muito especiais em que acho que a proximidade do palco se justifica muito). Se vir as minhas fotografias das curtain calls do Met, a grande maioria são tiradas do Balcony, primeira fila.

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