Mais uma vez tive
oportunidade de ver a opera de Donizetti
La Fille du Régiment na muito engraçada encenação de Laurent Pelly.
É um daqueles casos em que se transforma uma opera
de segunda categoria num espectáculo excelente.
O maestro Evelino Pidò conduziu a orquestra e
coro da Royal Opera House.
A Marie foi
interpretada pela soprano francesa Sabine
Devieilhe. Teve uma excelente presença em palco, muito ágil, expressiva e
cómica. A voz é agradável, afinada mas relativamente pequena, o que é manifesto
numa personagem vocalmente exigente como é o caso. Foi brilhante no início do
2º acto, na desafinação durante o ensaio de canto com a Marquesa, talvez o seu
melhor momento.
Diz o programa
que é uma digna sucessora da Natalie Dessay. Discordo, apesar da boa
interpretação, não é comparável com a Dessay, essa sim, uma interprete
absolutamente excepcional nesta personagem, que tive o privilégio de ver nesta
produção e neste teatro há mais de 10 anos, contracenando com o Juan Diego
Florez. A Dessay marcou indelevelmente esta produçãoo e penso que não será
possível superá-la.
O Tonio foi o
tenor Javier Camarena que também já
tinha visto interpretar este papel. Em cena é um pouco pesado para o papel mas
neste caso si, estamos face a um cantor absolutamente excepcional, sobretudo no
registo agudo que lhe parece sair sem esforço, com notas estratosféricas sempre
afinadas e num volume que se deve ouvir até fora do teatro. Fabuloso! Como
sempre vi acontecer com ele, repetiu a aria dos 9 dós Ah! mes amis... mas, pela primeira vez na Royal Opera vi um cantor
ser longamente aplaudido de pé em pleno primeiro acto. Um público em delírio
completamente rendido à arte do cantor!
A mezzo albanesa Enkelejda Shkoza fez uma Marquesa de
Berkenfield muito inspirada e, no 2º acto, foi insuperável no registo cómico. A
encenação também ajuda muito.
O bom Sulpice
criado por Pietro Spagnoli foi mais
um intérprete de topo. Voz grande, afinada e sempre bem projectada. E uma
presença em palco muito simpática, protectora e paternalista, como o papel
exige.
Também Donald Maxwell foi óptimo na
interpretação de Hortensius, o incompreendido mordomo da marquesa, inconformado
com a presença militar no seu castelo.
A Duquesa de
Carkentorp é uma personagem que não canta e é habitualmente atribuída a uma
actriz consagrada um a uma grande cantora já retirada. Desta vez foi
interpretada por Miranda Richardson,
uma actriz britânica desconhecida para mim. Já vi bem melhor neste papel.
Foi um
espectáculo muito divertido e agradável que ilustrou bem que a ópera também
pode ser uma festa alegre e muito cómica.
Até o BJ não resistiu a participar no coro J!
*****
LA FILLE DU
RÉGIMENT, Royal Opera House, July 2019
Once again
I had the opportunity to see Donizetti's
opera La Fille du Régiment in Laurent Pelly's very funny production.
It is one of those cases where a second-rate opera becomes an excellent show.
Maestro Evelino Pidò conducted the orchestra
and choir of the Royal Opera House.
Marie was
played by French soprano Sabine
Devieilhe. Shee had an excellent presence on stage, very agile, expressive
and comical. The voice is pleasant, tuned but relatively small, which is
manifest in a vocally demanding character as is the case. She was brilliant at
the beginning of the 2nd act, in the disenchantment during the singing
rehearsal with the Marquise, perhaps her best moment.
It is said
that she is a worthy successor of Natalie Dessay. I disagree, despite the good perfromance,
it is not comparable to Dessay, that yes, was an absolutely exceptional
interpreter of Marie, that I had the privilege to see in this production and in
this theater more than 10 years, opposite Juan Diego Florez. Dessay has
indelibly marked this production and I think it will not be possible to
overcome her.
Tonio was
tenor Javier Camarena who I had also
seen playing this role before. On stage he is a little heavy for the role but
in this case yes, we are faced with an absolutely exceptional singer,
especially in the top register that seems to be sung without effort, with
stratospheric notes always tuned and in a volume that must be heard outside the
theater. Fabulous! As I have always seen with him, he gave an encore the aria
of the nine high Cs Ah! mes amis ...
but for the first time at the Royal Opera I saw a singer receiving a long standing
up applause within the first act. A delirious audience completely surrendered
to the singer's art!
Albanian
mezzo Enkelejda Shkoza was a very
inspired Marquise de Berkenfield and, in the 2nd act, was unsurpassed in the
comic register. The production helps a lot.
The good
Sulpice created by Pietro Spagnoli
was another top performer. Great voice, tuned and always well projected. And a
very nice, protective and paternalistic stage presence, as demanded by the
character.
Donald Maxwell also excelled in the interpretation of
Hortensius, the nonconformist butler of the Marquise, unhappy with the military
presence in his castle.
The Duchess
of Carkentorp is a character who does not sing and is usually attributed to a
consecrated actress or to a great singer already retired. This time was played
by Miranda Richardson, a British
actress unknown to me. I've seen much better in this role.
It was a
very fun and enjoyable performance that illustrated well that the opera can
also be a cheerful and very comical party.
Even BJ could not resist participating in the choir ☺!
*****
Pena os cantores / produções na ROH, serem há anos amplificadas.
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