domingo, 5 de maio de 2019

A DAMA DE ESPADAS / THE QUEEN OF SPADES, Royal Opera House, Londres / London, Janeiro / January 2019



(review in English below)

A ópera A Dama de Espadas de Pyotr I. Tchaikovsky com libreto dos irmãos Modest I. Tchaikovsky e Pyotr I. Tchaikovsky esteve em cena na Royal Opera House de Londres.


O jovem oficial Gherman fica obcecado por Liza, a noiva do seu amigo Príncipe Yeletsky. A Condessa, avó de Liza, conhece uma formula secreta de 3 cartas que garantem sucesso ao jogador. Gherman decide descobrir o segredo, enriquecer e ficar com a Liza. Esta, ao vê-lo, apaixona-se e dá-lhe a chave do quarto da Condessa, através do qual terá acesso ao seu. Combinam um encontro à noite. Gherman confronta a Condessa no quarto, pedindo-lhe o segredo das cartas. Ela morre de medo quando ele lhe aponta uma pistola. Liza chega e fica horrorizada com o que vê. Gherman é assombrado pelo fantasma da Condessa que lhe revela o segredo das 3 cartas e ordena-lhe que case com a Liza. Contudo, a sua obsessão pelas cartas leva Liza ao suicídio. No jogo, Gherman tem duas grandes vitórias e é desafiado pelo Príncipe para um terceiro jogo. Perde porque a carta ganhadora não é o esperado ás, mas sim a Dama de Espadas. Aterrorizado com a visão da Condessa, Gherman suicida-se.


A encenação de Stefan Herheim (já apresentada na Opera de Amsterdão) é vistosa mas muito estranha. A parte positiva é a sala clássica, atraente, com um grande lustre de cristal, onde tudo se passa. A movimentação dos cenários é eficaz e silenciosa. E o guarda roupa é muito bonito, rico e vistoso.
Tudo o resto é bizarro. Logo no início aparece um texto referindo o impacto da homossexualidade na vida do compositor. O próprio Tchaikovsky esteve sempre presente, do início ao fim, bem como um piano onde compunha ou de onde tentava conduzir o desenrolar da acção. Revê-se no príncipe Yeletsky (é o mesmo cantor que faz os dois papéis). O Coro masculino representa a sua imagem replicada por muitos. Até a água contaminada com cólera que bebeu e com que se suicidou aparece nas mãos de todos os seus “clones” do coro.
A ópera começa com uma cena de sexo com um homem (encarnado por Gherman) e a rejeição de um anjo negro da morte, feminino, (Liza). A meio da ópera há uma cena lésbica entre Liza e Paulina e, no final do 2º acto, quando o coro canta na plateia, aparece Catarina a Grande que é ...Gherman vestido de drag queen!! Mais um exemplo do eurotrash num teatro onde, habitualmente, não se vê!



Mas nem tudo foi mau. A direcção musical de Antonio Pappano foi de grande nível, como é habitual, e a orquestra esteve muito bem.



O papel principal de Gherman foi interpretado pelo tenor russo Sergey Polyakov, em substituição do Antonenko. Para mim uma boa notícia pois não suporto o timbre nasalado e agreste do substituído. Mas Polyakov não foi melhor, má técnica, emissão irregular e frequentemente agreste.



Eva-Maria Westbroek fez uma Liza discreta, pouco emotiva em palco, mas vocalmente interessante e sempre bem audível, embora com dificuldades no registo agudo.



Os restantes foram melhores. O barítono búlgaro Vladimir Stoyanov no duplo papel de Tchaikovsky e Príncipe Yeletsky canta pouco mas a sua aria foi lindíssima e interpretada de forma superior. Como Tchaikovsky roçou o ridículo, mas a culpa não foi sua.



A Condessa foi também uma interpretação interessante de Felicity Palmer, já septuagenária mas ainda cantando e interpretando em grande estilo.



O melhor foi John Lundgren como Conde Tomsky. Tem uma voz belíssima com um registo grave marcante e uma boa presença cénica.



Merece também um registo de muito apreço a bela interpretação de Anna Goryachova como Paulina.


Um espectáculo muito vistoso mas desinteressante na Royal Opera.








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THE QUEEN OF SPADES, Royal Opera House, London, January 2019

The opera The Queen of Spades by Pyotr I. Tchaikovsky with libretto by the brothers Modest I. Tchaikovsky and Pyotr I. Tchaikovsky was on scene at the Royal Opera House in London.

The young officer Gherman is obsessed by Liza, the bride of his friend Prince Yeletsky. The Countess, Liza's grandmother, knows a secret formula of 3 cards that guarantee success to the gambler. Gherman decides to discover the secret, to become rich and stay with Liza. When she sees him, she falls in love, and gives him the key to the Countess's room, through which he will have access to her room. They make a date at night. Gherman confronts the Countess in the bedroom, asking her the secret of the cards. She is scared to death when he points a gun at her. Liza arrives and is horrified by what she sees. Gherman is haunted by the Countess's ghost who reveals the secret of the three cards and orders him to marry Liza. However, his obsession with the cards leads Liza to suicide. At the game, Gherman has two big wins and is challenged by the Prince for a third game. He loses because the winning card is not the expected ace, but the Queen of Spades. Terrified at the Countess's vision, Gherman commits suicide.

The direction of Stefan Herheim (already presented at the Amsterdam Opera) is showy but very strange. The nice component is the classic, attractive room with a large crystal chandelier, where everything happens. The movement of the scenarios is effective and silent. And the dresses are very beautiful and rich.
But everything else is bizarre. At the beginning, a text referring to the impact of homosexuality on the composer's life appears. Tchaikovsky himself was always present, from beginning to end, as well as a piano where he composed or from where he tried to conduct the course of action. He is projected in Prince Yeletsky (it is the same singer who does both roles). The male choir represents his image replicated by many. Even the water contaminated with cholera who he drank to commit suicide appears in the hands of all his "clones" of the choir.
The opera begins with a sex scene with a male (incarnated by Gherman) and the rejection of a black angel of death, female (Liza). In the middle of the opera there is a lesbian scene between Liza and Paulina and, at the end of the 2nd act, when the choir sings in the audience, Catherine the Great appears ...as Gherman dressed as a drag queen!! Another example of a Eurotrash in a theater where it has not been common to see!

But everything was not bad. The musical direction of Antonio Pappano was great, as usual, and the orchestra was very good.

Gherman's lead role was played by Russian tenor Sergey Polyakov, replacing Antonenko. For me good news because I can not stand the nasal and harsh tone of the replaced. But Ployakov was not better, he had a bad technic, the voice was irregular and sometimes harsh.

Eva-Maria Westbroek was a discreet, unemotional Liza on stage, but vocally interesting and always well audible, though with difficulties in the top register.

The rest of the cast members were better. Bulgarian baritone Vladimir Stoyanov in the double role of Tchaikovsky and Prince Yeletsky sings little but his aria was beautiful and interpreted in a superior way. As Tchaikovsky brushed the ridiculous, but it was not his fault.

The Countess was also an interesting interpretation of Felicity Palmer, already septuagenarian but still singing and interpreting in style.

The best was John Lundgren as Count Tomsky. He has a beautiful voice with an impressive low register and a good stage presence.

Also worthy of note was the beautiful interpretation of Anna Goryachova as Paulina.

A very beautiful performance to the eyes but not interesting as the opera at the Royal Opera.

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